SOTO

Teatro Odisseia – Rio de Janeiro/RJ – 04/05/2019

Foto: Daniel Croce

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Aquela noite de sábado mostrou bem o abismo que existe entre os públicos de rock pesado e de música pop no Rio de Janeiro. Enquanto o Los Hermanos – é pop, sim, e muito ruim – lotava o Maracanã, um dos maiores vocalistas da história do heavy metal/hard rock tocava num Teatro Odisseia que não chegou a 1/3 de sua (já pequena) capacidade. Mas há uma certeza: Jeff Scott Soto fez um show muito melhor do que o do chatíssimo grupo de barbudos. Para os fãs da trajetória de JSS, então, foi ainda mais especial, uma vez que o repertório não incluiu apenas material do SOTO – completado por Jorge Salan (guitarra), BJ (teclados e guitarra), Tony Dickinson (baixo) e Edu Cominato (bateria) –, mas canções da carreira solo e de algumas das bandas às quais emprestou a voz privilegiada (confira a galeria com 30 fotos do show no fim da resenha!).

Curiosamente, a noite começou com uma canção do novo álbum da sua banda, o ótimo Origami, algo que JSS havia dito a este que vos escreve que não faria – “Provavelmente, você seria a única pessoa na plateia que conheceria as músicas”, brincou o vocalista dez dias antes, durante entrevista para a Roadie Crew. Ainda bem que ele voltou atrás, porque HyperMania ficou ainda melhor ao vivo, e ninguém na plateia pareceu ter ficado assustado com a introdução eletrônica. A modernidade tem forte presença na sonoridade do SOTO, mas é em cima do palco que o material prova de vez se tratar de um grupo de heavy metal de primeira, fato comprovado por Freakshow, extraída do segundo disco, DIVAK (2016).

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“Vamos voltar a uma época na qual era cool ter um pouco de groove, de funky”, disse ele antes de 21st Century, e a faixa de Beautiful Mess (2009), seu quarto trabalho solo, não apenas manteve o pique em cima do palco como mexeu mais com quem estava na pista. Até os scratches rolaram, diga-se. Mais uma solo, agora de Lost in the Translation (2004), Drowning abriu o ‘open bar’ de JSS. “Tudo bem?”, perguntou em bom português, para depois brincar. “É tudo que eu sei. Não, tem outra coisa: caipirosca!”. Ao coro de “vira, vira, virou”, o vocalista bebeu a iguaria brasileira num só gole e ainda arriscou passos de samba. Era hora de voltar ao SOTO, e Wrath, de Inside the Vertigo (2015), colocou os fãs para soltar um pouco a voz.

Outra de DIVAK, a pesada e melódica Weight of the World destacou o ótimo refrão, reforçado por backing vocals caprichados da banda. Mais uma de Lost in the Translation, a radiofônica Soul Divine foi o pano musical de mais uma caipirosca e de uma constatação: a banda estava se divertindo. O vai e vem entre o SOTO e a carreira solo trouxe a excelente The Fall, com peso e groove convivendo num casamento perfeito, e JSS lembrou que a música, presente em Inside the Vertigo, foi composta por Dickinson, amigo de longa data da banda que substituiu David Z, morto em 14 de julho de 2017 num acidente envolvendo o trailer do Adrenaline Mob, grupo ao qual havia se juntado recentemente.

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Os fãs do lado melodic rock se esbaldaram com o medley que juntou Watch the Fire, Learn to Live Again e One Love, e foi com razão, porque a amostra do W.E.T. ficou sensacional, incluindo um desfecho com BJ mandando ver na frase ‘One love, one dream, to stand’, que, diga-se, foi contada com vontade também pelos presentes. “Sim, você é um viking”, JSS respondeu (mais uma vez) ao sujeito que insistentemente pedia por I Am Viking, clássico de Yngwie Malmsteen. Depois de virar mais um copo de caipirosca, o vocalista deu o tom da noite ao apresentar os integrantes na base da zoação: lembrou que Dickinson é “o outro americano. Nós entendemos o que vocês falam, mas ele nem tanto”, uma vez que os brasileiros BJ e Cominato estavam em casa; contou a história do acidente no hotel com Salan, que tocou (e tocou muito) com um rombo na cabeça e só foi para o hospital depois do show; e terminou com um “e eu sou o Adam Lambert”.

JSS até deveria estar no Queen + algum vocalista, mas essa é outra história. Mais uma zoação com um fã na plateia, o cara que ficava o tempo inteiro gritando “motherfucker”, e veio Detonate, uma das melhores canções do novo álbum, com direito aos efeitos da versão em estúdio. “Vocês conhecem essa”, disse JSS antes de uma ótima versão de Eyes of Love, de Prism (2002), seu segundo disco solo. O clima continuava o mesmo: o vocalista perdeu a entrada do refrão ao tentar tocar o baixo com o instrumento no corpo de Dickinson, e Cominato mandou a introdução de Where Eagles Dare, do Iron Maiden, no encerramento, arrancando risos do chefe. O público era pequeno, mas fazia tanto barulho quanto se divertia, então JSS pediu silêncio para uma homenagem a David Z. Foi a deixa para Give in to Me, o cover do Michael Jackson que o falecido baixista gravou no fim de 2016 com o SOTO.

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Cyber Masquerade, de DIVAK, manteve o alto nível musical, mas dai para frente foi basicamente uma sequência de hits. Dickinson ganhou o apelido de Baby Tony porque não conhecia Livin’ the Life, música do fictício Steel Dragon e que faz parte da trilha sonora de “Rock Star” (2001). A banda poderia tocar todas as canções compostas para o filme, mas esta foi uma ótima surpresa – e com JSS, sem o microfone em não, cantando trechos para a plateia repetir em seguida; e zoando Cominato quando este mandou uma na trave… “Vou pegar outra caipirosca” foi o anúncio do vocalista para Risk, instrumental de Salan que antecedeu mais um medley que mexeu com o público: do Talisman.

Pudera, porque foi só coisa fina: Break Your Chains, Day By Day, Give Me a Sign, Colour My XTC, Dangerous, Just Between Us, Mysterious (This Time it’s Serious, Frozen (hit da Madonna regravado em Truth, de 1998), Crazy (clássico do Seal revisitado em Life, de 1995, e que ganhou um ligeiro improviso para ajustes na guitarra) e I’ll Be Waiting, que causou a apoteose de sempre. Teve coro de “hey, motherfucker” do palco para pista, e vice-versa, além de uma defesa involuntária da caipirosca quando JSS pediu a bebida de um fã na plateia: “Jägermeister! Jesus Cristo, isso é uma merda!”, disse ele, fazendo cara feia. Hora do bis, e palhinhas de Run to the Hills (Iron Maiden), We’re Not Gonna Take it (Twisted Sister) e I Love it Loud (KISS) serviram de aquecimento para a íntegra de We Will Rock You, do Queen.

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É impressionante como a voz de JSS se encaixa bem no material da banda inglesa, mas, novamente, essa é outra história. “Sem guitarra isso não vai funcionar”, brincou o vocalista depois que Stand Up teve de ser interrompida para que o instrumento de Salan fosse finalmente escutado. Todo fingiu que não aconteceu nada, e a faixa mais famosa de “Rock Star” – composta por ninguém menos que Sammy Hagar, vale sempre destacar – foi aquele clímax que todos esperavam e sempre funciona. “Vamos para um boa noite ao estilo Steel Panther”, disse JSS na despedida do SOTO com uma versão a capella de Community Property que fechou uma noite extremamente agradável, com música de alto nível passeando por vários estilos do rock. E felizardos foram os que compareceram para prestigiar.

Por Daniel Dutra | Fotos: Alexandre Cavalcanti e Daniel Croce


Setlist
1. Hypermania
2. Freakshow
3. 21st Century
4. Drowning
5. Wrath
6. Weight of the World
7. Soul Divine
8. The Fall
9. W.E.T. Medley: Watch the Fire / Learn to Live Again / One Love
10. Detonate
11. Eyes of Love
12. Give in to Me
13. Cyber Masquerade
14. Livin’ the Life
15. Risk
16. Talisman Medley: Break Your Chains / Day By Day / Give Me a Sign / Colour My XTC / Dangerous / Just Between Us / Mysterious (This Time it’s Serious) / Frozen / Crazy / I’ll Be Waiting
Bis
17. We Will Rock You
18. Stand Up
19. Community Property

Clique aqui para conferir a resenha no site da Roadie Crew.