Por Daniel Dutra | Fotos Divulgação
Desde que se juntou ao Deep Purple, em 1994, Steve Morse se mostrou mais ativo do que nunca. Além das várias e constantes turnês ao lado de Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice e Jon Lord (de 2003 para cá, Don Airey), o guitarrista gravou três discos de estúdio ― Purpendicular (1996), Abandon (1998) e Bananas (2003) ― quatro duplos ao vivo ― Live at the Olympia ’96 (1997), Total Abandon (1999), In Concert With the London Symphony Orchestra (2000) e Live at the Rotterdam Ahoy (2001) ― e vários DVDs. Com o Dixie Dregs, lançou o ao vivo California Screamin’ (2000) ao mesmo tempo em manteve a Steve Morse Band na ativa com três discos ― Structual Damage (1995), Stressfest (1996) e Split Decision (2002). Como se fosse pouco, Morse resolveu lançar alguns trabalhos como artista realmente solo. Teve o DVD Sects, Dregs & Rock’n’Roll (2003), mas o mais bacana é mesmo o projeto Major Impacts, cujo segundo volume acaba de ser lançado.
Em vez de apenas gravar covers como forma de homenagem a seus músicos e grupos favoritos, o guitarrista resolveu lançar dois álbuns em que o tributo seria em forma de composições próprias, só que todas calcadas no estilo dos ídolos. O primeiro CD, que chegou às lojas em 2000, reverenciou Cream, Jimi Hendrix, Jeff Beck, Eric Johnson, Alex Lifeson (Rush), The Byrds, Jimmy Page (ex-Led Zeppelin), John McLaughlin, Rolling Stones, Mountain, George Harrison (ex-Beatles), Allman Brothers, Kansas e Yes.
Mais uma vez acompanhado do baixista Dave LaRue e do baterista Van Romain ― ambos da Steve Morse Band, diga-se de passagem ―, o guitarrista volta a fazer bonito em Major Impacts 2, um disco totalmente agradável, e mostra o porquê de conquistar prêmio atrás de prêmio nas revistas especializadas. Em Tri County Barn Dance e Ghost of the Bayou, por exemplo, ele dá uma amostra de seu bom gosto em canções tipicamente country. Predominantemente acústica, a primeira é uma homenagem ao Blue Grass, e a segunda, a Cajun.
Morse ainda passeia pelo rock progressivo com a excelente Organically Grown, cujos teclados entregam a referência explícita a Emerson, Lake & Palmer, e Abracadab, seu tributo ao Genesis ― sem os resquícios de música pop do período em que Phil Collins tomou as rédeas da banda. Antes mesmo de chegar ao rock propriamente dito, o guitarrista lembra Johan Sebastian Bach em Air on 6 String, cujo título já entrega: uma canção comandada pela guitarra e nada mais. E não precisava mais do que isso, mesmo…
Fazendo menção a grupos irlandeses como Bothy Band e Chieftains, Morse apresenta sua influência de música celta na belíssima Cool Wind, Green Hills, com dedilhados inspirados. Na semiacústica Wooden Music, as honras vão para Crosby, Stills, Nash & Young, mas é em Where Are You? que os riffs ganham força. Não é necessário esforço algum para identificar The Who logo nos primeiros acordes. Aliás, o legal é mesmo ouvir o CD pela primeira vez sem tentar identificar as músicas pelo encarte, uma vez que a ordem é diferente da que está na contracapa, e as referências a cada uma delas estão em simbologia.
12 Strings on Carnaby St. traz mais uma homenagem a Jeff Beck e Jimmy Page, em nome do Yardbirds, mas desta vez se refere também ao pop britânico de bandas como Hollies e Small Faces (esta pela citação do clássico Itchycoo Park). Leonard’s Best, uma das melhores do álbum, é realmente puro Lynyrd Skynyd, assim como Errol Smith entrega no próprio nome a influência de Aerosmith. Também um dos pontos altos do CD, a faixa ainda lembra trechos de Walk This Way, Love in an Elevator e Sweet Emotion. A ótima Motor City Spirit foi escrita com as idéias fincadas em Ted Nugent, Deep Purple e Spirit. Já a suingada Zig Zags é o tributo de Morse ao ZZ Top. Mais dois exemplos de que vale a pena dar uma bela conferida em Major Impacts 2.
Resenha publicada na edição 102 do International Magazine, em maio de 2004.