Steve Vai – Live at the Astoria London

Favored Nations | Importado | 2004

Foto: Divulgação

Steve Vai – Live at the Astoria London

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Todo mundo já sabe que os DVDs são a nova menina dos olhos das gravadoras – isso até a pirataria atingi-los com a mesma força que bateu nos CDs. Alheios aos problemas do mercado fonográfico, os fãs se veem diante de uma enxurrada de lançamentos e, consequentemente, de dor no bolso. Para os amantes da guitarra e da música instrumental, nenhum título foi tão aguardado em 2003 como Live at the Astoria London, DVD duplo de Steve Vai lançado por sua própria gravadora, a Favored Nations.

Claro, Steve Vai é o melhor e mais criativo guitarrista da atualidade. Não apenas no aspecto técnico, vale ressaltar, mas também no domínio do instrumento e dos efeitos. Ou seja, pela habilidade de explorar (e bem) todos os recursos – o cara é um guitarrista completo. Além disso, é um presepeiro (leia-se ‘showman’) da melhor qualidade e um compositor brilhante. Para completar, ainda montou um verdadeiro ‘dream team’: Billy Sheehan (baixo), Virgil Donati (bateria), Tony MacAlpine (teclados e guitarra) e Dave Weiner (guitarra) – este, o pupilo que acompanha Vai desde a turnê do álbum The Ultra Zone (de 1999). O único inexperiente, digamos assim.

Pronto. Juntou a fome com a vontade de comer, só que o diretor Phil Woodhead e o editor Brandon Sanders servem um prato mal temperado e frio. Sim, a direção e a edição das imagens são irritantes, com efeitos de quinta categoria e tomadas que não privilegiam os músicos – mostrar Vai bebendo água enquanto Donati sola é de doer, coisa de quem acha que está inovando. Ainda assim, o repertório foi tão bem escolhido, e a performance do quinteto é tão espetacular, que os impropérios dirigidos a Woodhead (o sobrenome cai como uma luva) e Sanders são deixados de lado.


Duvida? A apresentação começa com Shyboy, composição de Sheehan de sua época no Talas. É simplesmente lindo ouvir novamente os duelos do baixista com Vai, idênticos aos que dupla fez em Eat ‘Em and Smile (1986), o fantástico o segundo trabalho solo do ex-vocalista Van Halen David Lee Roth. Depois de mais de duas horas, a festa chega ao fim com The Attitude Song, com a participação de Eric Sardinas, guitarrista que lançou seu terceiro álbum, Black Pearls (2003), pela Favored Nations. Ponto para Vai, afinal, ele não faz papel de ditador e dá grande destaque a todos os músicos. E isso inclui MacAlpine e Weiner, que desfilam técnica em momentos individuais (Dave’s Party Piece, por exemplo) ou dobrando temas e solos durante as canções.

E Live at the Astoria London ainda apresenta algumas surpresas muito agradáveis, a começar por uma versão instrumental de Down Deep Into the Pain, do subestimado Sex & Religion (1993), álbum com Devin Townsend nos vocais. Depois, Chamaleon – do primeiro disco solo de Sheehan, Compression (2001), também lançado pela Favored Nations – e os covers para Fire e Little Wing, de Jimi Hendrix, completam o bônus dentro de um trabalho que passa a limpo a carreira de Vai. A obra-prima Passion and Warfare (1990), claro, tem maior presença, com as sempre excelentes Liberty, Erotic Nightmares e The Animal, além de uma bela surpresa, a espetacular Blue Powder, na qual Sheehan reproduz fielmente os slaps – recurso que nunca foi sua praia – de Stu Hamm.

E For the Love of God… Bem, o que os críticos que fizeram a lista dos cem melhores guitarristas, publicada na Rolling Stone, fumaram? A onda foi forte, pois incluir Kurt Cobain e ignorar Steve Vai é coisa de quem estava vendo elefante voador rosa com bolinhas azuis. Azar o deles se nunca escutaram as belíssimas Whispering a Prayer e Bangkok ou as excelentes The Crying Machine e Jibboom (um show de Vai e Sheehan!).

Nos extras, todos no segundo disco, temos biografia de cada músico, uma discografia completíssima de Vai (Frank Zappa, David Lee Roth, Whitesnake e participações em tributos, trilhas sonoras, discos de outros artistas…), cenas de backstage, entrevistas e a banda ensaiando Giant Balls of Gold e Erotic Nightmares. Woodhead e Sanders tentaram estragar, mas Live at the Astoria London vale cada centavo dos fãs.


Resenha publicada na edição 101 do International Magazine, em abril de 2004.