Por Daniel Dutra | Foto: Daniel Moreira/Divulgação
O que esperar do Uganga depois de Opressor (2014), quinto disco da banda mineira? Como em time que está ganhando não se mexe, Gustavo Vazquez seguiu na produção, e a responsabilidade do sexteto – então formado por Manu “Joker” (vocal); Christian Franco, Thiago Soraggi e Maurício “Murcego” Pergentino (guitarras); Raphael “Ras” Franco (baixo e vocal) e Marco Henriques (bateria e vocal) – para Versus aumentou com o financiamento oriundo do Wacken Foundation, organização sem fins lucrativos idealizada em pelos produtores do Wacken Open Air, com apoiadores do calibre de Alice Cooper; e do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, casa do grupo.
O Uganga, no entanto, não sentiu a pressão e gravou um álbum que você não apenas tem de ouvir, mas precisa escutar diversas vezes para absorvê-lo, tamanha a riqueza de detalhes e inserção de diferentes sonoridades no autoproclamado thrashcore do grupo. A introdução instrumental Anno Domini apresenta alguns toques orientais, mas nada que vá sair chutando o balde logo de cara, porque a faixa-título vem a seguir numa veia thrash metal trazendo a reboque riffs lancinantes e aqueles coros à la Exodus. Cheia de nuances e mudanças de clima, ora para mandar o fã entrar na roda, ora para machucar seu pescoço, Medo deixa o ouvinte anestesiado para a quarta faixa.
Com as participações do vocalista do Witchhammer, Casito Luz, e do saxofonista Marco Melo, O Abismo é uma viagem por parte da musicalidade de Servus. O começo dedilhado dá o clima; a seção doom no meio, durante os solos, revigora a canção; e as mudanças de andamento no fim, com algo meio Lamb of God para apoiar os vocais rapeados, fazem dela uma das melhores do CD. O nível continua alto na psicodélica e progressiva Dawn, que peca por ser muito curta (pouco menos de dois minutos). Até aqui você já está deliciado com a salada de estilos, mas Hienas mostra que tem espaço para mais. Os funcionais riffs palhetados acompanhando os dois bumbos são a entrada para um interessante jogo de vozes – coros, um vocal limpo e etéreo e outro mais forte – e, principalmente, para a bem sacada participação do grupo chileno de rap Lexico (e parte da ótima letra está em espanhol).
Há o encontro do punk rock com o metal nas empolgantes 7 Dedos (Seu Fim), com um baita refrão, e Lobotomia, com mais uma letra que merece atenção; e você encontra scratches em Couro Cru, que vai da porradaria à calmaria com facilidade, além de uma instrumental de respeito em Imerso e o passeio entre o heavy rock e o doom em Fim de Festa. Mas nada se compara às músicas que fecham o CD. Com as vozes da dançarina e cantora pernambucana Flaira Ferro e de Luiz Salgado, E.L.A. é um primor em três minutos e 43 segundos de um eletrônico carregado pelo violão, com scratches, melodias vocais hip hop e referências de música popular brasileira. E Depois de Hoje…, que traz como convidado o espiritualista Sr. Waldir, é a continuação arrastada e hipnótica da faixa anterior, formando um belíssimo casamento. Servus é um trabalho para ser apreciado sem moderação.
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Faixas
1. Anno Domini
2. Servus
3. Medo
4. O Abismo
5. Dawn
6. Imerso
7. 7 Dedos (Seu Fim)
8. Couro Cru
9. Hienas
10. Lobotomia
11. Fim de Festa
12. E.L.A.
13. Depois de Hoje…
Banda
Manu “Joker” – vocal
Christian Franco – guitarra
Thiago Soraggi – guitarra
Maurício “Murcego” Pergentino – guitarra
Raphael “Ras” Franco – baixo e vocal
Marco Henriques – bateria e vocal
Lançamento: 2019
Produção: Manu “Joker” e Gustavo Vazquez
Mixagem: Gustavo Vazquez