Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Não há dúvida de que o Dream Evil é um dos melhores nomes do heavy metal na atualidade. Apesar do pouco tempo de vida, a banda conquistou um sem-número de fãs e deixou a imprensa especializada de queixo caído com seu álbum de estreia, o maravilhoso DragonSlayer (2002). Depois de shows bastante elogiados, incluindo uma apresentação já considerada antológica no Wacken Open Air, na Alemanha, o grupo voltou ao estúdio para gravar o excelente e ainda mais pesado Evilized, lançado este ano pela Century Media (incluindo o Brasil). Considerado revelação de 2002 na grande maiorias das revistas e sites de metal, além de ter DragonSlayer incluindo entre os melhores discos do ano, o grupo sueco segue para se manter no topo. Contando com os experientes Snowy Shaw (bateria) e Fredrik Nördstrom (guitarrista, além de produtor de bandas como Arch Enemy, HammarFall, Soilwork e In Flames), o quinteto ainda tem os talentos de Peter Stålfors (baixo), Niklas Isfeldt (vocal) e Gus G. (guitarra). E foi com o novo maestro das seis cordas que conversamos para conferir como anda a nova turnê e falar um pouco sobre o passado e futuro do grupo.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que não me lembro da última vez que uma banda me impressionou tanto, principalmente com um disco de estreia. Isso também aconteceu com muita gente, e o Dream Evil acabou sendo apontado como o grande novo nome do metal em 2002. Vocês esperavam por isso em tão pouco tempo?
Não esperávamos mesmo tamanho sucesso com nosso primeiro trabalho. Claro, DragonSlayer é um ótimo álbum, mas algumas coisas que aconteceram ano passado foram além de nossas expectativas. É ótimo ter o reconhecimento que conquistamos.
Evilized foi lançado não muito tempo depois. Como foi o trabalho nesse intervalo de tempo? Foram usadas sobras, quero dizer, as ideias já existiam ou o processo de composição aconteceu na estrada mesmo?
DragonSlayer foi gravado no início de 2001, mas só foi lançado no meio de 2002 porque ficamos bastante tempo negociando com gravadoras. Assim, sentimos que era a hora certa quando começamos a gravar Evilized, porque dois anos já haviam passado até voltarmos ao estúdio para criar e gravar novas músicas.
Uma das coisas que mais gosto no Dream Evil é o sentimento bem anos 80, já que hoje a grande maiorias das bandas segue a linha do metal melódico. A música passou a ter poucos riffs de guitarra, muitos teclados e canções com dois bumbos o tempo inteiro, mais rápidas que a velocidade da luz. Para vocês, a velha escola surgiu naturalmente? Vocês tentaram evitar esses elementos mais novos e modernos?
Bem, realmente procuramos nos afastar desses estúpidos clichês que boa parte das bandas de power metal usa. O que nós queremos são os clichês de alta qualidade (risos). E como somos todos fãs de bandas como o Scorpions, incorporamos elementos dos anos dourados do rock’n’roll em nossa música.
Evilized mostra um trabalho de composição mais coletivo. Stålfors escreveu a faixa-título, Shaw veio com três músicas, e você, Nördstrom e Isfeldt continuaram o trabalho realizado em DragonSlayer. Como vocês trabalham na hora de juntar as ieéias, como uma linha vocal de Isfeldt numa canção sua, por exemplo?
Se eu tenho uma música pronta, Niklas praticamente trabalha suas partes vocais em cima da melodia que eu apresento. Obviamente, ele faz um trabalho bem melhor do que eu nesse sentido (risos). Alguém também pode ter apenas um riff e Niklas aparece com a melodia vocal. Em outra situação, ele pode vir com uma canção inteiramente pronta. Como você pode ver, nós trabalhamos de uma maneira pouco ortodoxa na hora de compor. Todos estão um pouco envolvidos no trabalho do outro (risos).
DragonSlayer é um álbum conceitual, o que explica as letras sobre dragões e afins. Em Evilized, além de as músicas estarem ainda mais pesadas e diretas, as letras tratam de assuntos mais concretos. Isso já estava planejado?
Não, nós não tínhamos ideia de como seriam as letras para o novo álbum. Elas surgem do nada, e todas as vinte músicas que escrevemos para fazer Evilized têm assuntos completamente diferentes dos que estão no primeiro disco. Entretanto, há três ou quatro canções que partilham de ideias e conceitos gerais sobre pesadelos e sonhos malignos.
A música Children of the Night é um tributo ao Scorpions? Porque, intencionalmente ou não, lembra a segunda grande fase da banda alemã, ou seja, os primeiros anos da década de 80.
Você está certo. No começo, Children of the Night já era uma canção de rock muito legal e melódica. Depois, com a ponte escrita pelo Snowy, ela começou a soar como Scorpions, e o refrão é espetacular. Fiz aquela introdução de guitarra intencionalmente, com uma homenagem ao Scorpions. Sei que muita gente tem associado a música a grandes canções como Rock You Like a Hurricane e Big City Nights.
Outro lance clássico do Dream Evil são as baladas, e Losing You e Forevermore são ótimas. As bandas de metal escrevem baladas muito melhores que as dos grupos pop, então não é o curioso que muita gente tenha preconceito em relação ao estilo, mas ao mesmo tempo adore suas baladas, inclusive as rádios que as tocam bastante?
Sim, concordo com você. Parece que as baladas do metal podem ser mais mainstream que o próprio mainstream (risos). No nosso caso, Fredrik é o grande responsável por isso no Dream Evil. Ele tem toneladas de baladas ao piano (risos), e todas têm uma boa resposta. As baladas já viraram uma marca registrada em cada álbum que fazemos.
Assim como o Dream Evil, Niklas também foi uma grande surpresa. Ele se sobressai na atual cena não apenas por possuir uma ótima voz, mas por saber explorá-la muito bem, sem apelar a todo instante para aqueles agudinhos irritantes?
Niklas normalmente canta em tons bem altos, mas tem uma voz tão forte e cristalina que não precisa de agudos. Acredito que ele tem qualidades que são muito difíceis de encontrar nos dias de hoje.
Obviamente, todos na banda têm suas pró´rias influências. Mas quais são os grupos e guitarristas que você mais gosta, aqueles que você cresceu ouvindo?
Minha banda favorita é o Scorpions, e os guitarristas, Michael Schenker, Uli Jon Roth e Yngwie Malmsteen. Não costumo ouvir muita coisa mais atual, na verdade, mas o novo disco do Impelliteri, System X (2002), é muito bom. Bom, também curto algumas novas bandas como Pagan’s Mind e Lost Horizon.
Fredrik é um produtor renomado e um nome bem conhecido na cena metal. Snowy é um dos melhores bateristas do rock pesado e tem bastante experiência. Como tem sido para você trabalhar com músicos como eles?
Devo dizer que tem sido bastante educativo. Tenho aprendido muitas coisas, e eles têm me ajudado bastante em minha carreira. Sou agradecido por isso.
Você vem sendo considerado um novo guitar hero, e sei que não é muito fácil responder de maneira pessoal, mas você concorda que é um dos guitarristas mais talentosos na nova geração?
(risos) É mesmo uma pergunta difícil. Bom, sei que as pessoas têm se referido a mim como um jovem guitar hero. É muito legal que, ao redor do mundo, exista quem aprecie e entenda o que eu faço. Há muitos músicos talentosos por aí, e acredito que sou um deles. Entretanto, sempre me dizem que existe algo especial na minha música e na maneira como eu toco guitarra. Não sei exatamente o que é, mas estou me sentindo muito bem com isso (risos)
Tenho o primeiro disco do Firewind, Between Heaven and Hell (2002), e, para ser honesto, o comprei depois de conhecer o Dream Evil, porque fiquei interessado no seu trabalho. Para as duas bandas você escreve riffs muito bons, mas no Firewind seu estilo é muito mais virtuoso. É intencional?
Você tem razão, porque o Firewind é uma banda mais orientada pela guitarra, além de ser mais pesada e rápida que o Dream Evil. Escrevo todas as músicas, por isso tenho a possibilidade de tocar um instrumental mais técnico. Honestamente, não penso muito nisso. Sempre tento usar as notas certas quando faço um solo ou uma melodia. De qualquer maneira, sempre acabo tocando com um pouco mais de técnica e velocidade no Firewind.
Como surgiu a oportunidade de tocar com o Old Man’s Child e o Dies Irae? Houve alguma participação especial depois dessas?
Quando o Dies Irae estava gravando o Naïve (2001) no Studio Fredman (N.E.: de propriedade de Fredrik Nördstrom), recebi um convite para fazer um solo e apareci apenas para fazer isso. Com o Old Man’s Child foi diferente. Soube que eles estavam indo gravar no mesmo estúdio e pedi ao Fredrik para avisar que, se precisassem de qualquer ajuda com os solos, eu estava à disposição. Os caras da banda acharam uma boa ideia e me chamaram para tocar em algumas músicas. O novo disco deles, In Defiance of Existance (2003), é muito bom, e eu sou grande fã da música do Galder. Foi uma honra ter tocado com músicos como ele e Nick Barker. Fora isso, recentemente participei com um solo no novo trabalho do Rob Rock, o que também foi uma experiência única, pois pude tocar com um dos melhores vocalistas do metal e ainda trabalhar com o Roy Z.
O Dream Evil fez poucos shows depois do lançamento do primeiro disco, mas as resenhas foram positivas. Foi consenso que parecia um grupo veterano no palco. Agora, como está sendo a turnê, incluindo as apresentação com o HammerFall e o Masterplan? Como vocês têm escolhido o set list?
Obrigado pelas palavras gentis. Na turnê HammerFall/Masterplan nós tivemos de encurtar o set, já que tínhamos apenas trinta e cinco minutos no palco. Incluímos algumas coisas músicas do Evilized, como Children of the Night, Fight You Till the End e Made of Metal, e o restante foi do DragonSlayer: Chosen Ones, The Prophecy, Heavy Metal in the Night e Chasing the Dragon.
O escritório sul-americano da Century Media vem fazendo um ótimo trabalho no Brasil, onde também lançou os dois CDs do Dream Evil. Como ambos rapidamente entraram na lista de favoritos dos fãs e da imprensa, há planos para um turnê brasileira?
Ainda não recebemos nenhuma oferta para tocar no Brasil, mas adoraríamos tocar no seu país. Seria incrível, porque sempre recebemos muitas mensagens dos fãs brasileiros.
Obrigado por responder a essas perguntas, Gus, e espero ver o Dream Evil em breve no Brasil. Sinta-se à vontade para deixar um recado aos fãs daqui.
Obrigado a todos pelas mensagens, carinho e apoio. Vocês são os escolhidos. (N.E.: o guitarrista faz referência à música Chosen Ones, do álbum de estreia). Espero realmente vê-los nesta turnê. Stay Evil.
Uma das várias entrevistas publicadas para o site Disconnected, esta com Gus G. foi feita em maio de 2003, mas por e-mail, uma vez que os slots disponíveis para fazer por telefone não batiam com o meu tempo livre. O Dream Evil estava promovendo o seu segundo álbum, Evilized, e já era uma das favoritas da casa, então quis fazer mesmo que tivesse como retorno respostas lacônicas. Felizmente, não foi o caso. Originalmente, mantive os “Hahaha”, os emoticons e a exclamações do guitarrista, mas desta vez fiz uma nova edição, substituindo o primeiro recurso e excluindo os dois últimos.