Dio – Killing the Dragon

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Ronnie James Dio é quase uma unanimidade entre os fãs de heavy metal. Respeitado por todos e considerado por muitos o melhor vocalista do estilo em todos os tempos, já emprestou seu talento ao Black Sabbath – com o qual gravou a obra-prima Heaven and Hell, por exemplo – e ao Rainbow, do ex-Deep Purple Ritchie Blackmore – nos três primeiros álbuns e no soberbo ao vivo On Stage.

Em sua carreira solo, com a banda sob a alcunha de Dio, começou lançando dois álbuns indispensáveis à coleção de qualquer banger que se preze: Holy Diver e The Last in Line. Mesmo depois da saída do guitarrista Vivian Campbell (hoje no Def Leppard), com Craig Goldy e Rowan Robertson passando pelas seis cordas, o vocalista manteve uma sequência de bons trabalhos. Mas…

Ao fim de sua segunda passagem pelo Sabbath, em 1993, Dio retomou seu grupo mas não foi feliz. Com o questionável Tracy G na guitarra, para muitos os discos Strange Highways e Angry Machines servem apenas para acumular poeira na estante. A parceria chegou ao fim e o trem voltou para os trilhos com Magica, que trouxe Goldy de volta à banda. O álbum recebeu elogios de crítica e fãs, mas estes ainda reclamaram – sem razão, diga-se de passagem – do ritmo arrastado das músicas.


Agora, com Killing the Dragon, todos estão felizes. Dio retoma o estilo dos primeiros álbuns e brinda a todos com seu melhor trabalho desde Sacred Heart, de 1985. Nem mesmo a saída de Goldy, que preferiu ficar fora do esquema gravações/turnê para se dedicar à família, atrapalhou. Doug Aldrich (ex-Lion, House of Lords, Hurricane e Bad Moon Rising), responsável por ótimos riffs e solos melhores ainda, assume tranquilamente o posto de melhor guitarrista que Dio já teve em sua banda.

Se não trazem nada de extraordinário, as dez faixas do trabalho ao menos são um oásis dentro da mesmice que impera no rock pesado, pois têm propriedade. Along Comes a Spider, Scream (lembrando Holy Diver), Rock & Roll (à la Led Zeppelin), Better in the Dark, Push, Before the Fall (com ótima participação do tecladista Scott Warren, que poderia ter sido mais bem aproveitado), Guilty e a faixa-título são absolutamente contagiantes.

Killing the Dragon traz a mesma cozinha do álbum anterior, o baixista Jimmy Bain e o batera Simon Wright (ex-AC/DC), mas, como sempre, a voz de Dio é o maior destaque. Do alto de seus 60 anos – discutíveis, pois muitos afirmam que o vocalista nasceu em 10 de julho de 1940, não 1942, mas o próprio não confirma nem desmente –, ele continua dando um show. Mestre ontem, hoje e sempre, Dio mostra que cantar não se resume a falsetes e agudinhos cada vez mais desnecessários e irritantes.

Resenha publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002.

Angra – Hunters and Prey

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

A primeira coisa a fazer depois de ouvir Hunters and Prey é lamentar o fato de o novo trabalho do Angra ser um miniálbum. Sim, porque o gosto de quero mais é inevitável. No entanto, é um prazer ratificar de vez que Edu Falaschi (vocal), Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria) mantêm o alto nível de Rebirth, o ponto de partida da “nova” formação da banda. Melhor ainda que as surpresas se fazem presente de forma mais do que convincente.

O disco abre com Live and Learn, a tradicional faixa mais rápida e que tem tudo para virar um clássico instantâneo entre os fãs, com um trabalho impecável de guitarras. Traz a qualidade de sempre, mas até aí nada de novo. É a partir de Bleeding Heart que as coisas começam a ficar muito interessantes. A música, apesar de ter saído com bônus de Rebirth no Japão, é uma balada como o Angra há muito não faz. Na verdade, desde Reaching Horizons, que saiu no EP Freedom Call, de 1996, mas é do início dos anos 90 e deu nome à primeira demo tape do grupo.

Com a excelente faixa-título o jogo já está ganho. Hunters and Prey conta com arranjos elaborados e várias doses de música regional do Brasil – principalmente do Nordeste, como o baião –, enaltecendo ainda mais o excepcional trabalho de Priester e as belas linhas de baixo de Andreoli. A música ainda ganhou uma versão em português, Caça e Caçador, que surpreende pela boa adaptação da letra ao ritmo. Eyes of Christ vem logo em seguida e mostra uma faceta inédita do Angra, um som mais hard e que remete aos dois primeiros discos de Ronnie James Dio, Holy Diver e The Last in Line. E dá-lhe mais uma excelente performance de Edu.

Rebirth e Heroes of Sand (por que não também Millennium Sun?) aparecem em belíssimas versões acústicas. Mama, cover do Genesis, completa o disco apresentando uma versão bem fiel à original. Como bônus, uma faixa interativa com screensaver, wallpapers, muitas fotos e o videoclipe da música Rebirth. Enfim, desde já Hunters and Prey é candidato a um dos melhores CDs de 2002, provando o porquê de o Angra ser considerado por muitos a melhor banda de metal melódico do mundo, por mais que existam várias do estilo em cada esquina dos países europeus.

Um show para o Rio de Janeiro ver e aplaudir

Dando sequência aos shows que já foram parar na Europa e na Ásia, o Angra chegou ao Rio de Janeiro pela segunda vez desde o lançamento de Rebirth – sétimo show na cidade desde 1992. No dia 20 de julho, mais de 2.500 fãs – recorde da banda em palcos cariocas – compareceram ao Clube Aliados Campestre, em Campo Grande, Zona Oeste da cidade, e assistiram a um show com poucas mudanças em relação ao de dezembro do ano passado, no falecido Garden Hall.

De novidade, a esperada inclusão de Hunters and Prey e as belas versões de Reaching Horizons, apenas com Rafael Bittencourt no violão e voz, e Bleeding Heart, com Edu Falaschi cantando acompanhado por Kiko Loureiro nos teclados. Fora isso, o de sempre. O público com as músicas novas na ponta da língua, a desnecessária Metal Icarus (do erro chamado Fireworks) e o fim apoteótico com Nothing to Say e Carry on, além de The Number of the Beast, o cover da vez do Iron Maiden.

Mais do que o show corretíssimo e empolgante, as constatações de sempre. É uma pena que Loureiro, guitarrista de extremo bom gosto e técnica invejável, não acompanhe o pique dos outros membros da banda (foi constrangedora sua falta de ânimo ao apresentar Falaschi). Enquanto isso, Rafael Bittencourt, corretamente apresentado como maestro; Aquiles Priester, mais uma vez inacreditável; Felipe Andreoli, matando a pau com o baixo de seis cordas; e Falaschi, cantando muito e bem mais à vontade, mostraram como se faz.

No mais, que o sucesso do show faça com que a Hora Alternativa, produtora do evento, traga mais bandas para tocar no Rio, que está à beira da falência no que diz respeito ao heavy metal. Ironicamente, ficou provado que há e sempre houve público na cidade, mas que os bangers cariocas colaborem e façam da elogiável iniciativa dos novos promotores algo frequente.

Resenha publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002. Aqui, a análise do disco veio acompanhada de um relato sobre o show de lançamento. Breve e sem fotos.

Hannibal

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

O Infierno não existe mais. Depois de lançar seu primeiro e ótimo CD homônimo, abrir a turnê brasileira do Sepultura e ser um dos destaques do Abril Pro Rock em 2001, a banda formada por Henrique Zumpichiatti (vocal), Denner Campolina (baixo), André Moraes (guitarra) e Alex Fonseca (bateria) entra numa nova fase. Sob o nome Hannibal, o som perdeu peso, mas manteve a qualidade, e consequentemente o momento é ideal para que venha o sucesso e o reconhecimento. Uma resposta ao preconceito que cercou o grupo, começando com o contrato assinado com a Seven Music, distribuído pela Sony, para o lançamento de duas músicas, Contato e a nova Estrangeiro, numa coletânea.

“O nome era um problema à parte, mas nós mesmos já queríamos a mudança. Gente muito importante no cenário havia falado que não chegaríamos a lugar algum se continuássemos como Infierno, ficaríamos sempre no underground”, disse André em entrevista no início de julho, quando a banda estava quase adotando o nome Insomnia. “Quando começamos, a ideia era ter algo associado a tecnologia e modernidade do nosso som. Pensávamos que a música seria o mais importante, mas aconteceu o contrário. Todos os paradigmas referentes a inferno ganharam mais destaque. Teve gente que pensou que a banda era de black metal”, completou Henrique.

Além do nome, outra polêmica que envolvia o grupo era a constante associação ao new metal, estilo adorado e detestado com a mesma intensidade pelos fãs de heavy metal. “Isso só incomodava a partir do momento em que rolava preconceito, porque existe mesmo, principalmente em São Paulo”, diz Denner, referindo-se ao estado que mais consome rock pesado no Brasil. “Eu fiquei surpreso quando soube que não tínhamos entrada lá, pois sempre fomos bem recebidos quando tocamos na cidade”.

André mostra que também não se preocupava com o rótulo. “Nós não somos uma banda de metal. Temos uma bagagem musical não apenas de música pesada. Todos têm experiência em outras frentes, por isso há uma união de estilos”, diz o músico responsável por trilhas sonoras como as dos filmes “Avassaladores” e “No Coração dos Deuses”, este com a participação de Andreas Kisser e Igor Cavalera, do Sepultura, e Mike Patton, ex-Faith No More. Além disso, Denner é contrabaixista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, além de já ter gravado com Legião Urbana e o próprio Sepultura, entre outros; e o exímio e respeitado batera Alex já acompanhou Pepeu Gomes e Lobão, por exemplo, além de ter feito parte do excelente Cheiro de Vida.


A justificada segurança que a banda tem em seu trabalho é mostrada quando o assunto é a aliviada no som. “Nós somos músicos, queremos ganhar a vida fazendo música, atingir o maior número possível de pessoas. Mas isso não significa que vamos nos vender na intenção de ficarmos milionários da noite para o dia“, diz Henrique. “Se vender é tocar pagode. Nada contra o estilo, mas é o caminho mais fácil para o sucesso”, provoca André, entre risos e aprovação de todos.

“Imagine se o Los Hermanos tivesse sempre de gravar uma nova Ana Júlia. As pessoas criam expectativas, mas o músico precisa de liberdade para criar”, Denner dá o exemplo. “O que nós fizemos antes saiu naturalmente, assim como agora. Há músicas que lembram o Infierno (N.R.: Gol e Rumba), assim como outras são mais acessíveis (N.R.: Estrangeiro e a excelente Eu Não Sei)”.

As mudanças, no entanto, foram mesmo por causa do mercado. “A pior nota que recebemos foi o 7,5 da Rock Brigade, que é uma revista conservadora. O jornal O Globo nos deus quatro dos cinco quadradinhos, e fomos eleitos pelo GloboNews.com (N.R.: na editoria Diversão & Arte) como banda revelação do ano passado”, lembra André. “Tanto que faremos uma versão em inglês do primeiro disco. Foi uma ideia que eu passei ao Carlos Trilha e ao Fernando Morello, nossos produtores, porque eles têm um caminho para mandar o trabalho para o exterior”, finaliza Denner, comprovando que qualidade não faltava ao Infierno. Qualidade esta que agora está a serviço do Hannibal.

Entrevista originalmente publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002.

Jerry Cantrell – Degradation Trip

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Quando Jerry Cantrell lançou seu primeiro disco solo, Boggy Depot, em 1998, o Alice in Chains já se encontrava em stand by em decorrência dos problemas do vocalista Layne Staley com as drogas. Quatro anos depois, Cantrell retorna com o ótimo Degradation Trip, e o disco é dedicado Staley, encontrado morto em sua residência, em Seattle, no dia 19 de abril. O motivo? Um coquetel de cocaína e heroína.

A estreia solo de Cantrell, no entanto, aconteceu em 1996, quando contribuiu com a música Leave Me Alone para a trilha sonora do filme “O Pentelho” (com Jim Carrey). No mesmo ano, o ainda em atividade Alice in Chains lançava seu último registro, o Unplugged gravado pela MTV. Resumindo a viagem no tempo, o guitarrista dá sequência ao legado sonoro da melhor banda da famigerada safra grunge.

Degradation Trip não foge do estilo pesado e arrastado, que, claro, tem como referência aquilo que foi criado pelo Black Sabbath. Mas a veia Alice in Chains é latente nas harmonias vocais, como em Psychotic Break, Mother’s Spinning in Her Grave (Glass Dick Jones) e Hellbound. Nenhuma surpresa, já que Cantrell era a força por trás do instrumental e das melodias do grupo.


As lembranças de Staley, assim como seu vício em heroína, ainda vêm implícitas nas letras de Locked on – “Locked on – what’s the deal / Faded rock star, push and needle / You don’t know, well that’s right / You do your thing / I’ll live my life” – e Bargain Basement Howard Hughes – “Stubborn bastard, hard head knocking / We had our good years too / Though apart, you’re still in my heart / I’d give anything for you”. Mas as 14 faixas que compõem o trabalho não são, digamos, depressivas.

As belíssimas Solitude e Give it a Name, esta com um quê de Beatles, se distanciam da melancolia, assim como Gone, que passa raspando de ter um maior acento country. She Was My Girl tem uma levada bem para cima, e Spiderbite é heavy metal de primeira linha. Anger Rising, com a participação do ex-guitarrista do Queensrÿche Chris DeGarmo, e Angel Eyes são mais dois destaques num trabalho recheado de bons momentos.

Em vez de se cercar de vários convidados – como os baixistas Les Claypool (Primus) e Rex Brown (Pantera), que participaram de Boggy Depot –, Cantrell teve em Mike Bordin (bateria) e Robert Trujillo (baixo), da banda de Ozzy Osbourne, a cozinha perfeita para poder desfilar seu talento como guitarrista e compositor. No fim das contas, mais um motivo para fazer de Degradation Trip uma ótima pedida para quem gosta de boa música.

Resenha publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002.

Ozzy Osbourne em todas as frentes

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Ozzy Osbourne certamente não precisava do reality show The Osbournes, sucesso incomparável da MTV americana, para se tornar, digamos assim, mais conhecido. Arrancar com os dentes a cabeça de um morcego semimorto pensando que o mesmo fosse de borracha – perguntem se ele estava doidão em cima do palco… – foi o suficiente para fazê-lo ter seu nome gravado na memória de qualquer um, até daqueles que não lembram ao menos se já escutaram alguma de suas músicas.

Príncipe das Trevas e Madman são exemplos de como as pessoas carinhosamente se referem a Ozzy. Com o cheiro de hipocrisia no ar, há os que o consideram o anticristo e gostariam mesmo que ele fosse para o quinto dos infernos. Mas estes são os mesmos que dizem que KISS significa ‘kids in Satan Service’ – sim, pode rir – e acusam a banda de pregar o nazismo por causa dos “SS” em seu logo – claro, eles não lembram que Gene Simmons é judeu e sua mãe escapou de um campo de concentração durante a II Guerra Mundial. Só bate palmas para esse tipo de coisa quem acredita que maçã é fruto proibido.

The Osbournes não serviu apenas para comprovar que Ozzy está pagando pelos excessos cometidos com as drogas e o álcool durante anos e anos a fio. Mais do que isso, mostrou que ele é um pai de família como outro qualquer, muitas vezes tão bobo – e não por causa das sequelas, que fique bem claro – que muita gente deve ter se perguntado como ele pode ser tão ordinário, e digo isso sem ser pejorativo. Em cima do palco Ozzy é louco, mas apenas por causa dos fãs, da interação que faz nascer toda essa loucura. E os fãs são sinceros: Ozzy Osbourne é foda!

O (novo) interesse que o reality show fez despertar já rendeu frutos. Para a família Osbourne, especula-se que US$ 20 milhões por uma nova temporada de dez episódios. Para a imensa legião de fãs, o CD e o DVD Live at Budokan, que capturam um dos shows da turnê de Down to Earth, mais precisamente o gravado em 15 de fevereiro deste ano na tradicional casa de shows em Tóquio, no Japão. E independentemente de qual formato você escolher – o álbum tem uma música a menos, Suicide Solution –, pode ter certeza de que vale cada centavo investido.


O show, apesar de mais curto que o habitual, é simplesmente espetacular. Claro que as 14 músicas não são suficientes, falta muita coisa, mas esse é um preço a se pagar quando se tem repertório para três horas de show… E com os fãs cantando a plenos pulmões. De Down to Earth temos Junkie e as excelentes That I Never Head e Gets Me Through – não, não tem Dreamer –, e da fase anos 90, as indefectíveis Mama I’m Coming Home e I Don’t Wanna Change the World, além, é claro, da obrigatória e maravilhosa No More Tears. Pois é, nada do Ozzmosis (cadê Perry Mason? Ou My Jekill Doesn’t Hide?), e, voltando alguns anos, mesmo o irregular No Rest for the Wicked poderia ser representado com Miracle Man ou Crazy Babies.

Mas reclamar para quê? O show começa com I Don’t Know e termina com Paranoid, única música do Black Sabbath no set list e, óbvio, responsável por um encerramento apoteótico. No recheio, a agradável surpresa Believer, que não era tocada ao vivo há mais de dez anos, e as óbvias Mr. Crowley, Bark at the Moon e Crazy Train, que levam os japoneses ao delírio. Além disso, é Ozzy quem as está cantando… Bom, 99% overdub, mas quem se importa? As mãos tremem, ele não fica mais se arranhando alucinadamente e, mais do que nunca, o teleprompter o auxilia com as letras das músicas. Mas o Madman ainda se diverte, arrisca os tradicionais “pulos do sapo”, não cansa de berrar ‘go fucking crazy!’ e domina a plateia como poucos.

Ozzy é Ozzy, e isso significa que de bobo ele não tem nada. Sempre cercado de músicos no mínimo competentes, desde 1996 é acompanhado pelo baixista Robert Trujillo (ex-Suicidal Tendencies) e pelo baterista Mike Bordin (ex-Faith No More). Sóbrio na parte musical, Trujillo tem uma presença de palco, digamos, peculiar, enquanto Bordin massacra a batera e enche os olhos (o que não é novidade para quem o conhece do FNM). Mas não há como fugir do óbvio, que neste caso atende pelo nome de Zakk Wylde.

Ozzy sempre revelou guitarristas extraordinários, como Randy Rhoads – gênio que morreu prematuramente em 19 de março de 1982, aos 25 anos – e Jake E. Lee. Em 1988, então com 21 anos, Wylde foi o escolhido para substituir Lee e ocupou o espaço de Rhoads junto a Ozzy numa “relação de pai e filho”, como o próprio Wylde costuma dizer. Apesar de ter ficado fora da banda de 1994 a 2000, período em que foi substituído por Joe Holmes, gravou todos os discos de estúdio de Ozzy, já que no hiato mencionado houve apenas turnês. Depois de 14 anos – incluindo seus projetos solos, como o excelente Black Label Society, que já chegou ao quarto disco, sendo um ao vivo –, Zakk Wylde construiu, com toda justiça, a reputação de melhor guitarrista de heavy metal da atualidade. Assista ao show e descubra o porquê.

Relançamentos e lavagem de roupa suja

O sucesso de The Osbournes não fez apenas com que Live at Budokan pegasse carona, já que o DVD tem como extra um ‘behind the scenes’ de meia hora com imagens dos passeios de Ozzy, banda e família no Japão. Além disso, a Sony Music relançou toda a discografia do Madman, incluindo fotos inéditas, letras e as eventuais bonus tracks. Para completar, os dois primeiros álbuns, Blizzard of Ozz e Diary of Madman, tiveram bateria e baixo regravados por Bordin e Trujillo, o que resultou em mais um capítulo da briga que envolve Bob Daisley e Lee Kerslake, baixista e baterista que originalmente participaram dos discos.

Daisley e Kerslake – que depois do lançamento do segundo álbum foram substituídos por Rudy Sarzo e Tommy Aldridge, respectivamente – movem uma ação judicial contra Ozzy Osbourne, alegando que não receberam os valores corretos dos royalties pelas vendagens dos discos e pela execução das músicas (das quais também são autores) em rádios, programas de TV e shows. A decisão de regravar suas partes nos relançamentos, evitando assim que ambos tivessem maior participação financeira, revoltou Daisley, que em comunicado oficial resolveu jogar muita coisa no ventilador.


“Eu já esperava que fizessem algo para nos desrespeitar, mas não que insultassem à memória de Randy Rhoads. É uma vergonha, pois ele não está entre nós para opinar sobre o que deveria ser feito. É o vigésimo aniversário de sua morte e os álbuns saem dessa maneira. Sua mãe (N.R.: Delores Rhoads) está decepcionada”, afirma Daisley, que volta sua carga contra Ozzy. “Ele não sabe tocar um instrumento sequer, não é o músico que todos pensam. No máximo aparecia com boas ideias de melodias, mas geralmente as músicas já estavam prontas. Nem as letras ele escreve. No Black Sabbath era o Geezer (N.R.: Butler, baixista), e na sua banda, como Randy e Lee não cuidavam dessa parte, eu era o responsável.”

Daisley não só afirma que as músicas de Blizzard of Ozz foram escritas por ele e Rhoads, com Lee ajudando em Diary of a Madman, mas que escreveu todas as letras destes dois discos mais as de Bark at the Moon (cujas músicas são de autoria de Jake E. Lee, apesar de o guitarrista não ter sido creditado) e The Ultimate Sin. O baixista encerra a nota mais uma vez mostrando sua revolta com os relançamentos. “Eles não colocaram ao menos um adesivo dizendo que não é a banda original, que não são as gravações originais! As pessoas podem comprar os discos por ignorância, por não saberem de nada, mas perguntarão ‘mas que porra é essa?’ quando escutarem em casa.”

Da parte de Ozzy e Sharon Osbourne, sua mulher e empresária, não houve nenhum pronunciamento. Com os problemas de saúde de Sharon, operada em 3 de julho de um câncer no cólon e submetendo-se a tratamento de quimioterapia, Ozzy não está mesmo preocupado com tanta baixaria. “Sempre pedi a Deus que eu morresse antes da minha mulher, mas a vida sempre encontra uma maneira de lhe sacanear”, disse o Madman, em estado de choque, depois de receber a notícia.

Matéria originalmente publicada na edição 86 do International Magazine, em agosto de 2002.