Por Daniel Dutra | Fotos: Rick Gould/Divulgação + Divulgação
O amigo leitor tem noção do que significa KISS Army? E não falo do sentido literal. Não é apenas algo numeroso, é uma questão de devoção. Uma devoção ilustrada pela empolgação com a iminente vinda de Bruce Kulick ao Brasil, desta vez para se apresentar em mais cidades, para mais fãs. O ex-guitarrista em 90% da história do KISS sem maquiagens tem no currículo hits e antologias nos quatro discos que gravou no período em que esteve ao lado de Paul Stanley e Gene Simmons, de 1984 a 1996 – Asylum (1985), Crazy Nights (1987), Hot in the Shade (1989) e Revenge (1992), sem contar o subestimado Carnival of Souls, lançado em 1997, quando o quarteto já estava de volta com sua forma original. Em uma carreira que já ultrapassou quatro décadas, ele coleciona outros grandes discos e outras bandas importantes, mas será nos shows no início de março – Porto Alegre (3), Curitiba (4), São Paulo (5) e Rio de Janeiro (6) – que mostrará por que é tão querido pelos fãs daquele grupo que é o mais quente do mundo. E neste papo com a ROADIE CREW, ele mostrou que a recíproca é verdadeira.
Você já esteve no Brasil antes com o KISS e também sozinho. Agora volta para quatro apresentações passando por cidades onde nunca esteve. Qual a expectativa?
É sempre muito grande porque não costumo ir ao Brasil com tanta frequência, e os fãs são realmente apaixonados pela minha fase no KISS e acompanham minha carreira até hoje. Estive aí pela última vez em 2013, mas novamente apenas em São Paulo. Santos também estava no roteiro, mas era um cruzeiro. Eu estava em alto mar, não necessariamente em cidades brasileiras. Foi bastante divertido, mas saber que agora tocarei em lugares novos é realmente empolgante. Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro, porque eu sempre quis conhecer o Rio! Sei que o KISS tocou na cidade, mas foi com Vinnie Vincent. Voltou depois, mas com a atual formação, só que o show com Vinnie foi o maior da banda (N.R.: dia 18 de junho de 1983, no Maracanã, para um público estimado em 180 mil pessoas). Claro, nunca vou esquecer meu show com o KISS no Monsters of Rock, em 1994, em São Paulo. Há um vídeo muito bom daquela noite (N.R.: foi o DVD bônus do Kissology Volume 3: 1992-2000 na versão da rede americana Best Buy), e lembro que estava entusiasmado por poder fazer parte dessa história. E como nessa e em todas as viagens seguintes ao Brasil, meus fãs e amigos aí sempre foram incríveis. Vocês gostam de verdade do meu trabalho, então será bem divertido.
E na América do Sul você passará por países que nunca visitou, como o Paraguai, certo?
Sim! Meu empresário, que estará comigo na turnê, perguntou a nossos amigos na Argentina se havia outros lugares onde eu poderia tocar, e o Paraguai foi um deles. Não sei muita coisa sobre o país, mas sei que também tem uma base muito forte de fãs do KISS. Então acho que será bem interessante.
Além de músicas do KISS, os fãs brasileiros podem esperar por material da sua carreira solo, do Union ou até mesmo do Grand Funk?
O Grand Funk é a minha banda principal e me mantém bastante ocupado. Temos shows todos os meses, então é sempre difícil encontrar espaço na agenda para turnês como esta que farei na América do Sul. Além disso, não posso me dar ao luxo de ter um grupo americano e falar: “Caras, vamos para o Brasil!” Minha banda de apoio será o Parasite (N.R.: grupo gaúcho que conta com Felipe Piantá, Fernando André dos Santos, Erico Soares e Patrick Vargas), e a situação é tão excitante para mim quanto para ela. É um cover do KISS que poderá tocar com um professor em matéria de KISS, se posso dizer assim, e eu tenho o privilégio de dividir o palco e fazer uma jam com esses músicos. Neste caso, não queria dar a eles um fardo ao chegar e dizer: “Ok, aprendam estas músicas do Audiodog, Transformer e BK3 e mais isso aqui do Union”, especialmente da maneira rápida como a turnê foi organizada. Eu sei que os fãs conhecem meu trabalho solo e gostariam de ouvir algo dele, mas nesta situação prefiro me concentrar em tocar material da minha era no KISS, especialmente para estes mesmos fãs. Ou seja, esse período será a parte mais importante do setlist.
E não é a primeira vez que você usa bandas locais para lhe acompanhar, então creio que já esteja acostumado. Mas no geral, além dessa experiência de tocar especificamente com um grupo cover do KISS, qual a sua opinião sobre os músicos brasileiros?
Há vários músicos incríveis no Brasil, sem dúvida. Sempre fiquei impressionado com o que vi nas minhas passagens pelo país. Mas o mais legal é que com o KISS o mais importante não é ser um virtuoso, mas o que conta é a paixão pela música da banda. Eu realmente curto tocar com esses músicos mais jovens, e também será interessante desta vez. Nunca toquei com o Parasite e não me recordo se conheço os integrantes do grupo, mas já vi tributos muito bons aí.
Um serviço para o fã: você trará merchandising para vender nos shows? Porque, acredite, é uma informação importante para os fãs, principalmente no atual momento. Eu, por exemplo, gostaria muito de ter o Got to Get Back (2015), do KKB, na coleção, mas hoje está complicado comprar online. O dólar está bem valorizado aqui, a taxa de importação é absurda e ainda temos de esperar uma eternidade para o CD chegar.
Sim, farei o que for possível para levar meus produtos comigo, porque sei exatamente o que você está falando. É um problema enviar material para a América do Sul, o que sempre me deixou bastante decepcionado.
E espero que sobre algo, porque o Rio de Janeiro é a última parada da turnê (risos).
Então eu vou guardar um CD para você (risos).
Como BK3 foi lançado há quase seis anos, você já está pensando ou mesmo trabalhando num novo disco solo?
Ótima pergunta, porque tem sido muito complicado pensar no que quero fazer para o próximo. Tenho trabalhado em algumas músicas e espero gravar alguma coisa ainda este ano. Espero conseguir me comprometer com isso, porque é incrível o quão ocupado eu fico apenas viajando com o Grand Funk e preparando uma turnê como a que farei no Brasil. Claro, faço muitos trabalhos como músico contratado e anda sou conselheiro do Rock and Roll Fantasy Camp (N.R.: evento mensal que, desde 1999, reúne vários astros do Rock para compor e gravar com os participantes, que no fim do período de seis dias sobem ao palco para uma jam com os ídolos). Mas quero realmente gravar um novo álbum. Espero fazer bastante progresso este ano para lançá-lo em 2017.
>Gostaria de abordar outro lado seu como guitarrista. Seu trabalho no violão é fantástico, como nos solos de Forever, do KISS, e de Save Me, num tributo ao Queen (N.R.: Dragon Attack, de 1997), e em todo o MTV Unplugged. Alguma vez você já pensou em lançar algo com mais ênfase na parte acústica?
Já me perguntaram isso antes, e muito obrigado pelos elogios e por gostar dessa parte do meu trabalho. Eu exercitei um pouco mais esse meu lado acústico quando contribuí com o trabalho Sci-Fi do Dreams in the Witch House ano passado, e a música está no iTunes (N.R.: chama-se The Refugee of Penitence, e Bruce já gravou outras três músicas com o projeto inspirado na obra de H.P. Lovecraft: Unholy Mutation, single lançado em 2016, e Signum Crucis e Nothing I Can Do, do álbum A Lovecraftian Rock Opera, de 2013). Tenho certeza de que gravarei algo acústico no meu próximo disco, mas não sei se gostaria de gravar um álbum inteiro assim. Mas é muito legal que as pessoas notem esse lado e gostem dele.
Você está com o Grand Funk desde 2000. Como é, depois do KISS, fazer parte de outra banda icônica nos Estados Unidos?
Já são 17 anos fazendo shows, e isso é notável. O Grand Funk é uma das bandas clássicas de rock que tem muitos hits incríveis, e é ótimos poder tocá-los ao vivo. Além disso, temos músicas mais novas (N.R.: Bottle Rocket e Lightning and Thunder) que Max (Carl, vocal e guitarra) escreveu com Don (Brewer, bateria). Claro, Don e Mel (Schacher, baixo) estão lá, eu toco guitarra e faço todos os solos, e temos um grande tecladista, Tim Cashion. Lamento que nosso trabalho não seja mais internacional, porque temos feito basicamente a América do Norte, mas é uma banda muito talentosa. Temos uma ótima química e fazemos um grande show. Gostaria de ir com o Grand Funk à América do Sul, pois tenho certeza de que vocês adorariam.
Posso entender por que o Grand Funk não lança um novo disco de estúdio, mas um CD e um DVD ao vivo seriam uma ótima pedida.
Olha, nos cobraram isso quando fizemos o Legends of Rock Cruise, em janeiro deste ano, mas realmente depende do Don e do Mel, que cuidam da parte dos negócios no Grand Funk. Don disse no navio que quer gravar e lançar um DVD ao vivo, e desde então não ouvi mais nada a respeito. Mas como o cruzeiro acabou não tem nem um mês, vamos ver o que acontece (risos). Sei que ele tem muito orgulho do que temos feito, então pode ser que isso se torne realidade.
Muito obrigado pela entrevista, Bruce. Se quiser acrescentar algo, o espaço é todo seu.
É uma longa viagem até o Brasil, e houve muito trabalho com vistos, marcação de voos e toda a preparação para a turnê. Mas os meus fãs e amigos brasileiros são muito especiais para mim. É um orgulho fazer parte de suas vidas, e espero vê-los nos shows.
Sem dúvida. Nos vemos no início março.
E lembre-se que vou guardar um CD para você no show do Rio (risos).
A entrevista foi realizada no dia 18 de fevereiro de 2016, por Skype. E foram 36 minutos de bate-papo não apenas para divulgar o então iminente retorno de Bruce Kulick ao Brasil, onde ele se apresentou tendo como banda de apoio o tributo Parasite. Na pauta estava um pouco da carreira do guitarrista, principalmente o Playlist que foi publicado na edição 209 da Roadie Crew, em junho do mesmo ano. O conteúdo acima foi diretamente para o site da revista.
Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.