A cerveja pode ser o combustível ideal para fazer com que o Tankard lance discos com regularidade, afinal, Andreas “Gerre” Geremia (vocal), Andreas Gutjahr (guitarra), Frank Thorwarth (baixo) e Olaf Zissel (bateria) não vivem apenas da banda. Com o line-up estabilizado desde 1999, a banda vem desde então numa sequência de lançamentos que mantém intacta a integridade de um dos nomes do Big 4 do thrash metal germânico. De “Kings of Beer” (2000) a “R.I.B.” (2014), o legado foi mantido vivo com trabalhos sempre acima da média, mas comemorar 35 anos de fundação parece ter mexido com Geremia e Thorwarth, únicos integrantes da formação original.
Não que tenha acontecido uma guinada radical, pois “One Foot in the Grave” em momento algum é capaz de assustar o fã. Pelo contrário, são grandes as chances de impressionar. A começar pela produção, agora a cargo do baterista do Perzonal War, Martin Buchwalter, que tem no currículo trabalhos de mixagem, masterização e engenharia de som com Destruction, Architects of Chaoz e Suidakra, entre outros. O resultado prático da mudança foi um som mais orgânico, e Gutjahr e Zissel acabaram sendo beneficiados.
“Pay to Pray” e “Arena of the True Lies” abrem os serviços destacando os riffs palhetados e um bumbo bem na cara, mas vão além. Ambas mostram uma abordagem lírica mais séria e crítica – enquanto a primeira fala da exploração religiosa, a segunda mete o dedo na ferida dos boatos que causam um verdadeiro estrago depois que ganham a internet, mundo que antes das redes sociais era basicamente alimentado com futebol e putaria. E as duas faixas deixam claro, também, que “One Foot in the Grave” é um disco nervoso de thrash metal.
Com seu refrão simples e eficiente, “Don’t Bullshit Us!” não tira o pé do freio e prepara o terreno para a excelente faixa-título, que tem um baita riff e o instrumental mais bem trabalhado do CD. O trabalho de dois bumbos fica em evidência em “Syrian Nightmare” e “Lock ‘Em Up!”, acompanhadas na porradaria por “Sole Grinder”, que bem podem ser um aquecimento para “The Evil that Men Display” e “Northern Crown (Lament of the Undead King)”, duas pérolas do heavy thrash, com esta última tendo como bônus um início mais doom metal e refrão com coros.
Com arranjo de cordas no início e no fim, “Secret Order 1516” entrega o que a sua duração (mais de sete minutos) adiantava: temos um épico à la Tankard pedindo passagem para se tornar um clássico – e por falar em clássico, repare na capa que Alien, mascote da banda, está de volta.
Para terminar, três dicas: espere alguns segundos após os últimos acordes de “Sole Grinder” para ouvir a simulação de um canto de torcida (lembre-se: os caras são torcedores do Eintracht Frankfurt); confira a versão ‘deluxe’, que conta com um CD bônus ao vivo gravado no Rock Hard Festival, em 2016; e curta “One Foot in the Grave” com uma boa cerveja na mão, não aquelas com arroz e milho. Afinal, isso aqui é thrash metal ‘hergestellt in Deutschland’.