Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce
“Honestamente, acho que eles deveriam mesmo mudar de nome, porque há uma enorme, realmente enorme diferença para o início (da banda). Mas se é o caminho que querem seguir, tudo bem. E eles estão felizes com os novos integrantes, então boa sorte. Todos nós estamos no lugar certo.” Foi com as palavras de Jesper Strömblad, o cara que fundou o In Flames, na cabeça que fui ao Circo Voador assistir à estreia do grupo sueco no Rio de Janeiro, oito anos depois de sua primeira e até então última passagem pelo Brasil. Nunca adotei o estilo viúva, muito menos acho que alguém fora do círculo interno tem o direito de dizer quando e se uma banda tem de encerrar as atividades ou mudar de nome, mas…
Com um público que compareceu de maneira decepcionante, apesar de a casa ter naturalmente recebido aquela parcela de fãs de carteirinha que sabiam cantar qualquer coisa, Anders Fridén (vocal), Björn Gelotte e Niclas Engelin (guitarra), Bryce Paul (baixo) e Joe Rickard (bateria) subiram ao palco para ratificar uma coisa: é pegar ou largar este In Flames sem nenhum integrante original e com apenas dois da mais clássica das formações, Fridén e Gelotte. Isso ficou claro no momento em que duas canções de Battles (2016) abriram a noite, e foram nada menos que seis faixas do mais recente trabalho.
“Eu nunca disse que Battles é uma merda. Não foi isso mesmo que falei, apenas que é um disco… Eles avançaram por uma direção muito diferente”, disse Strömblad, que atualmente está no Cyhra ao lado do baixista Peter Iwers, também ex-In Flames – numa estranha ironia, a banda lançou seu primeiro álbum, Letters to Myself, no mesmo dia em que seus ex-colegas tocavam para os cariocas. E Strömblad está certo, porque Drained e Before I Fall, apesar de bons riffs aqui e ali e das palmas da plateia puxadas por Fridén, são uma pálida lembrança daquela banda que foi um dos pilares do death metal melódico oriundo de Gotemburgo.
A prova de que Battles é provavelmente o disco mais difícil de engolir foi que os ânimos começaram a melhorar com Everything’s Gone, graças às passagens mais velozes, e Take This Life, muito bem recebido e com o refrão cantado com vontade pelos fãs. E reparou que não estamos falando de material dos anos 90? Exatamente. Na primeira pausa para falar com o público, Fridén teve como resposta o “Olê! Olê! Olê! Insira aqui o nome da banda!” tradicional em terras sul-americanas, e o sorriso no rosto dos músicos continuou na empolgação dos fãs, que vibraram com Trigger (haja pula-pula) e, principalmente, Only for the Weak, infelizmente a única de Clayman (2000) – e não rolou nada, absolutamente nada de Whoracle (1997) e Colony (1999), lamentavelmente.
A boa Dead Alone baixou a empolgação, e Darker Times simplesmente não funcionou, mas a surpresa mesmo foi a recepção abaixo do esperado a Drifter (reforçando os backings pré-gravados), apesar da roda aberta a pedido do vocalista. Foi neste momento que vieram à tona as lembranças daquele grupo empolgado e empolgante do ao vivo Used & Abused: In Live We Trust (2005), mas que em sua atual encarnação faz a postura mais blasé ser facilmente confundida com abatimento se não rolar alguma conexão com os fãs. Mas justiça seja feita, Engelin, o sósia de Lee Altus (Exodus, Heathen) agitava constantemente e sempre tentava alguma resposta da plateia.
Moonshield e a instrumental The Jester’s Dance, de The Jester Race (1996), também não animaram, e a segunda ainda ficou marcada por um fato curioso: com Fridén e Gelotte fora do palco, ela foi terminada por Engelin, Paul e Rickard, as três caras “novas” do In Flames – bom, Engelin nem tanto, pelo seu histórico com a banda – no lugar de quem gravou a canção há mais de 20 anos: os guitarristas Strömblad e Glenn Ljungström, o baixista Johan Larsson e, lembre-se, Gelotte, que à época era baterista.
“Hoje nós estivemos em Copacabana, e tenho de dizer que o lugar é superestimado. Não tinha sol”, disse Fridén em novo intervalo, na primeira das suas duas sessões de stand up comedy, arrancando gargalhadas da maioria antes de fingir que estava falando sério. “E nunca mais voltaremos lá. As bebidas até que são boas, mas muito caras.” Claro, e alguém deveria ter explicado a ele a diferença entre a Suécia e a selva em que vivemos. De volta à musica, Save Me me fez lembrar que refrão grudento com a expressão ‘somebody save me’ só mesmo o tema de “Smallville”.
Entre a insossa Alias e a inexpressiva Here Until Forever, Fridén deu a receita para quem quiser fazer como o In Flames e ter uma carreira longeva: cerveja e heavy metal. A fraca The Truth veio a seguir, e só pude pensar que eles devem estar consumindo aquelas cervejas brasileiras produzidas em larga escala com arroz e milho. Deliver Us melhorou o clima e abriu espaço para um dos melhores momentos da noite, com The Mirror’s Truth e a maior roda aberta na pista até então.
Mesmo um pouco abaixo, The Quiet Place se destacou a ponto de colocar todo o Circo a entoar um sonoro “Olê! Olê! Olê! In Flames! In Flames”, arrancando palmas e sorrisos de toda a banda. “Sabe, acho que a introdução do nosso próximo álbum tem de ser esse canto”, exclamou Fridén, para êxtase dos fãs, que aumentaram o volume do coro até o vocalista ter de pedir silêncio para anunciar o fim com, sem trocadilho, The End. Talvez por causa de seu videoclipe, talvez pelo alto astral que tomou mesmo conta do lugar, foi um encerramento que figurou nos bons momentos de um show que teve outros abaixo da média. Bem no padrão atual do In Flames.
Quem teve a missão de aquecer o público foram os cariocas do Reckoning Hour, e JP (vocal), Philip Leander e Lucas Brum (guitarras), Cavi Montenegro (baixo) e Johnny Kings (bateria) só não se saíram melhor porque o som, exageradamente alto e consequentemente distorcido, atrapalhou a ponto de dar vontade de voltar em casa para pegar o protetor auricular esquecido no escritório.
Mas improvisando a proteção com um guardanapo, deu para curtir o material mais recente, do segundo álbum, Between Death and Courage (2016). Misguided, Condemned to Failure, Eye for an Eye e a faixa-título não apenas reforçam o trabalho de guitarras, bem além de riffs realmente bons, mas o vocal de JP, que transita com facilidade pelo gutural e limpo, este último efetivamente o destaque do death metal melódico do grupo.
Clique aqui para acessar a resenha no site da Roadie Crew.
Set list In Flames
1. Drained (Battles, 2016)
2. Before I Fall (Battles, 2016)
3. Everything’s Gone (Siren Charms, 2014)
4. Take This Life (Come Clarity, 2006)
5. Trigger (Reroute to Remain, 2002)
6. Only for the Weak (Clayman, 2000)
7. Dead Alone (Soundtrack to Your Escape, 2004)
8. Darker Times (Sound of a Playground Fading, 2011)
9. Drifter (Reroute to Remain, 2002)
10. Moonshield (The Jester Race, 1996)
11. The Jester’s Dance (The Jester Race, 1996)
12. Save Me (Battles, 2016)
13. Alias (A Sense of Purpose, 2008)
14. Here Until Forever (Battles, 2016)
15. The Truth (Battles, 2016)
16. Deliver Us (Sound of a Playground Fading, 2011)
17. The Mirror’s Truth (A Sense of Purpose, 2008)
18. The Quiet Place (Soundtrack to Your Escape, 2004)
19. The End (Battles, 2016)
Set list Reckoning Hour
1. The Wakening
2. Misguided
3. Condemned to Failure
4. Eye for an Eye
5. Newborn Generation
6. Into the Uprising
7. Between Death and Courage