Mark Farner’s American Band

Com duas passagens anteriores pelo Brasil, finalmente Mark Farner deu o ar da graça no Rio de Janeiro, e esta resenha poderia acabar neste parágrafo, com um simples desfecho: desde a apresentação do Metal Church no Pool Deck do Monsters of Rock Cruise, em 2016, este repórter não saía de um show tão realizado e feliz. Claro, rolou muita coisa legal nesse intervalo de tempo, mas nada que fosse a realização do sonho de alguém que ficou enlouquecido quando ouviu Caught in the Act (1975) pela primeira vez, aos 13 anos, e desde então é um grande fã de Grand Funk – com ou sem o Railroad (clique aqui para ler um especial sobre a discografia do grupo). Mas a euforia só se justifica por uma noite realmente inesquecível, e foi exatamente isso que o guitarrista e vocalista de 70 anos, no comando da Mark Farner’s American Band, proporcionou a todos que compareceram em ótimo número ao confortável Theatro Net Rio (confira a galeria de fotos no fim da matéria).

O vídeo que serviu de abertura, mostrando cenas e feitos do Grand Funk, serviu para elevar a expectativa natural da primeira vez, expectativa que foi às alturas com um início simplesmente arrasador. Sem tempo para respirar, Mark Farner e sua American Band botaram a casa abaixo – mesmo com um som sem o ‘punch’ necessário a um show de rock’n’roll – com Are You Ready, Rock ‘n Roll Soul e Footstompin’ Music, a música que abre Caught in the Act e foi o suficiente para, 32 anos atrás, me derrubar com todo aquele groove fantástico. Mas não deixemos o ceticismo de lado. Obviamente, as atenções eram voltadas a Farner, mas os músicos tinham que passar no teste, afinal, estavam tocando a música que é cria também de uma das melhores cozinhas da história do rock: Mel Schacher (baixo) e Don Brewer (bateria), que hoje mantêm o GFR vivo com o vocalista Max Carl, o tecladista Tim Cashion e o guitarrista Bruce Kulick (sim, o ex-KISS).


Enquanto Bernie Palo (teclados) era discreto e eficiente no papel que originalmente foi de Craig Frost, Lawrence Buckner (baixo) e Hubert Crawford (bateria e vocal) mataram a pau. Buckner fez bonito ao tocar com propriedade todas aquelas maravilhosas linhas criadas por Schacher, e Crawford não se fez de rogado nem mesmo ao assumir o microfone nas faixas em que Brewer é a voz principal do GFR. E ele começou a fazê-lo logo em We’re an American Band, a quarta da noite – veja bem, Farner pôde lançar mão de um hino com apenas 20 minutos de show, sem medo de ser feliz até o a última canção do set. “Há muito amor nessa casa”, disse o líder da banda na primeira vez que se dirigiu à plateia. Na primeira pessoa do singular, digo que esse amor só aumentou nos primeiros acordes de Aimless Lady, uma das minhas músicas favoritas em todos os tempos. Não era Schacher ao lado de Farner, mas ouvir aquelas linhas de baixo ao vivo pela primeira vez foi de arrepiar.

“É um prazer olhar para os seus rostos lindos”, enalteceu o vocalista e guitarrista, pegando uma bebida ao propor um brinde. “Não é o que vocês estão pensando. É ginseng.” Você pode dizer que foi brincadeira, mas foi sério, porque o agudo que Farner deu depois do solo em Paranoid, a joia tocada a seguir, foi de voltar no tempo. Àquela altura eu nem precisava mais do suingue de People, Let’s Stop the War para ficar em pé, pois já havia levantado da cadeira ao cantar o primeiro ‘Are you ready?’. Como ficar sentado em Shinin’ on, na qual Crawford mandou novamente muito bem nos vocais? Claro, quem queria ficar em pé, por questão de educação, foi para as laterais ou para os fundos, uma vez que o teatro tem configuração de cadeiras em filas, mas Heartbreaker foi tão linda, mas tão linda que fez todo mundo levantar para aplaudir.


Uma pequena pausa para ajuste no teclado reservado a Farner, que deu uma zoada tocando O Bife, e Mean Mistreater manteve a beleza no ar, ganhando aplausos efusivos ao fim. “Parece que estou jogando futebol”, brincou Farner. E como segurar a voz – e conter o sorriso na hora do solo – em Bad Time, uma daquelas deliciosas canções mais pop da discografia do GFR? Impossível. Um contraste com a espetacular Sin’s a Good Man’s Brother, cuja parte final da letra soa, quase 50 anos depois, como presságio num Brasil tomado por uma angustiante ignorância – ‘Some folks need an education / Don’t give up, or we’ll loose the nation / You say we need a revolution? / It seems to be the only solution’. E mesmo que a voz de Farner obviamente não seja mais aquela de 1970, o que ele fez em Sin’s a Good Man’s Brother foi para guardar na memória.

“Vocês querem dançar? Então, vamos dançar.” Foi a deixa para The Loco-Motion, e ver Farner dar aqueles passinhos de dança durante o solo – passinhos que, com variações, repetiu aqui e ali durante o show – foi alegria pura. Durante o solo de Crawford, ele ainda ficou no fundo dançando até pegar um par de baquetas e se juntar ao batera, fazendo barulho na caixa e depois na percussão. “Com vocês, Hubert Crawford, diretamente de Memphis, Tennessee; Lawrence Buckner, de Jacksonville, Flórida; e Bernie Palo, de Detroit, Michigan. E eu sou seu irmão Mark”, anunciou Farner – nascido em Flint, Michigan, diga-se –, colocando Buckner para cantar o início de Some Kind of Wonderful e o público para dançar fosse com os pés, no caso dos que permaneciam sentados, ou com os quadris mesmo.

Foi o suficiente, enfim, para fazer uma plateia predominantemente formada de tios para lembrar que estava num show de rock, e Inside Looking Out ajudou bastante. Os fãs começaram a cantar antes mesmo de a banda executar o clássico presente em Grand Funk (1969). E teve Farner batendo palmas para que o acompanhassem, tocando gaita… E com todos em pé, em merecida ovação, o dono da noite anunciou a despedida: “Obrigado por todo esse amor, porque é por isso que vivemos, para quem ama o amor. Eu sou seu capitão e nunca mais vou me esquecer de vocês”, declarou da maneira Poliana mais sincera do mundo. E não tive como cantar I’m Your Captain (Closer to Home) direito, porque é difícil mesmo quando se está lágrimas de emoção nos olhos. Efeito do melhor show de 2019. De fato, inesquecível.

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce


Setlist
1. Are You Ready
2. Rock ‘n Roll Soul
3. Footstompin’ Music
4. We’re an American Band
5. Aimless Lady
6. Paranoid
7. People, Let’s Stop the War
8. Shinin’ on
9. Heartbreaker
10. Mean Mistreater
11. Bad Time
12. Sin’s a Good Man’s Brother
13. The Loco-Motion
14. Hubert Crawford Solo
15. Some Kind of Wonderful
16. Inside Looking Out
17. I’m Your Captain (Closer to Home)

Clique aqui para conferir a resenha no site da Roadie Crew.

Dr. Sin, Azul Limão e ManUNkinD

Fevereiro de 2016. Em sua turnê de despedida, o Dr. Sin lotou o acanhando Teatro Odisseia naquela que seria a última passagem da banda pelo Rio de Janeiro. Maio de 2019. De volta à ativa, mas com Thiago Melo no lugar de Eduardo Ardanuy, o grupo liderado pelos irmãos Andria e Ivan Busic se viu diante de uma casa com menos da metade da sua capacidade – lembra-se do acanhado mencionado acima? Oficialmente, o local comporta 398 pessoas, então o que mudou em pouco mais de três anos? É uma discussão que vem tomando as recentes coberturas de shows no Rio de Janeiro feitas por este repórter, mas vamos conjecturar em cima deste evento.

Andria e Ivan são duas entidades do heavy metal nacional, uma vez que suas trajetórias se confundem com a história do estilo no país. Além disso, o Dr. Sin é e sempre foi o grande nome do hard rock brasileiro. Ou seja, temos aqui razões suficientes para dizer que uma casa como o Odisseia deveria estar cheia, no mínimo cheia, toda vez que o trio passasse por lá. Ou será que os fãs só prestigiam aquilo que vão perder? Ou será que a imagem da banda sem a consagrada formação original ainda não foi bem assimilada por esses mesmos fãs, que deveriam estar eufóricos com o retorno do Dr. Sin?

Um pouco de cada coisa, uma vez que era nítido que as atenções estavam voltadas para Melo, e não havia como ser diferente. Ardanuy é um dos melhores guitarristas que já pisaram no Planeta Terra, assim todos os olhos miravam o novo guitarrista durante Fire, por exemplo, porque a canção de Brutal (1995) tem um solo não menos que antológico. O que aconteceu? Melo mandou algumas notas na trave – em três momentos, para ser mais exato. E o que isso significa? Nada. “Direto do Acre, que existe mesmo…”, brincou Ivan ao anunciar o caçula do Dr. Sin antes de Lost in Space, na qual o acreano fez um solo matador – e a nova música do Dr. Sin ainda contou com a participação de Bruno Sá (Geoff Tate, ex-Allegro) nos teclados. Ah, mas não foi um solo escrito pelo Edu, você pode estar cornetando…


Meu amigo, Melo tirou a espetacular Scream and Shout de letra, e se você já era nascido na época do Hollywood Rock de 1993 – pergunta feita por Ivan aos presentes –, deve lembrar que o solo é nível longínquo passado glorioso de Yngwie Malmsteen. Melo também debulhou no fim de Miracles (que refrão espetacular, diga-se) e Isolated, em momentos feitos especialmente para ele brilhar, e arrancou sorrisos de satisfação e aprovação no segundo solo de Time After Time. Pronto. Se você não saiu de casa porque ficou em dúvida, lembre-se de não marcar outro compromisso para o mesmo dia em que o Dr. Sin voltar ao maltratado Rio de Janeiro. E até lá eu apostaria que Melo estará mais solto no palco, uma vez que a timidez apresentada é absolutamente natural para quem entrou num grupo como o Dr. Sin substituindo alguém como Edu Ardanuy. Mas calma lá que não foi apenas isso. Do começo com Fly Away ao encerramento com Down in the Trenches, esta com direito a discurso de Ivan enaltecendo Melo, houve vários momentos de destaque.

Fosse um individual, como Andria, soberbo baixista, mostrando em Sometimes que canta demais; fosse um coletivo, como a fantástica seção instrumental despejada pelo trio no desfecho de Karma. Emotional Catastrophe, óbvia por se tratar do primeiro hit da banda, divertiu por causa de Ivan imitando David Coverdale, mas o repertório trouxe ótimas surpresas. Em Foxy Lady, um dos muitos clássicos de Deus… Digo, de Jimi Hendrix, Ivan cedou as baquetas para Pedro Mello e foi fazer o papel de frontman, enquanto Melo ficou de espectador enquanto Anderson Gandra assumiu as seis cordas. E se Zero e a pesada Nomad foram bons momentos, Dirty Woman os multiplicou por dez ao mostrar aquilo que o Dr. Sin faz muito bem – hard rock com forte tendência comercial – e explicitar por que rolou apenas um hiato: “Essa é uma banda que nós amamos, que é a nossa vida, por isso nós estamos de volta, e vem disco novo em breve”, resumiu o baterista.

E rolou mais música antes do Dr. Sin. “Temos outro grande retorno. Quanto mais rock no Brasil, melhor”, como Ivan bem lembrou, referindo-se ao Azul Limão, que fazia naquela noite de sábado o primeiro show da volta, marcada pelo lançamento do álbum Imortal no fim do ano passado. Com dois integrantes originais, Marcos Dantas (guitarra) e Vinicius Mathias, a le(ge)ndária banda carioca, um dos embriões do metal na cidade, trouxe o vocalista Renato Trevas e o baterista André Delacroix do Metalmorphose, grupo no qual Dantas esteve até o encerramento das atividades, em 2018 – e a natural decisão de continuar a parceria no Azul Limão se explica no fato de ser este um nome mais relevante.


Algo, aliás, que ficou latente na abertura com Portas da Imaginação, exatamente a primeira canção do primeiro disco, Vingança (1986), que dominou basicamente metade do repertório. O heavy blues Sangue Frio, com o solo cheio de feeling de Dantas, foi a seguinte, logo depois de Trevas apresentar o grupo e marcar território: “O Azul Limão está de volta!”. Viajando mais de 30 anos para frente no tempo, Paranormal foi a primeira amostra de Imortal, e o coro espontâneo do público acompanhou a força do novo material ao vivo – a faixa-título e a emblemática Guerreiros do Metal foram as outras faixas escolhidas –, uma vez que a produção magrinha do CD não faz jus a composições que mereciam um trabalho profissional.

“Essa é do Regras do Jogo. Alguém conhece? Ninguém, né? A letra é atual, apesar de escrita há alguns anos”, disse Trevas antes de Nada a Perder. Única de Ordem & Progresso (1987) no set, Rotina não fez tanto barulho, mas as outras quatro músicas do show valeram a espera. O Grito teve mais um corinho para o público, mas especiais mesmo foram Não Vou Mais Falar; o hino Coração de Metal, com direito a stage diving do vocalista e paradinha para o publico cantar; e Satã Clama Metal (“Vocês estão ao vivo e vão cantar comigo”, bradou o carismático Trevas, com o celular na mão registrando o momento numa ‘live’ para o Facebook). Momentos de abrir o sorriso não apenas de quem já passou dos 40 anos e, adolescente, viveu aquela época, mas também daqueles que só conheciam o Azul Limão pela história do metal nacional.

Dois retornos, uma estreia. A responsabilidade de abrir a noite foi do ManUNkinD, e voltamos ao tópico do início da resenha, porque o quarteto carioca formado Victor Cordeiro (vocal), Fábio Trovão (guitarra e vocal), Renato Croce (baixo) e Bruno Ferreira (bateria) se apresentou praticamente para amigos e familiares. Infelizmente. É o preço que se paga pela batida falta de apoio à prata da casa, exceção feita a nomes consagrados, e um risco que atinge produtora que trabalha com grupos nacionais e não tem cacife para trazer atrações internacionais nem mesmo de médio porte – ou seja, independentemente da inegável qualidade de alguns nomes, consegue trabalhar apenas com bandas gringas de terceiro, quarto ou quinto escalão. Mas o ManUNkinD, que ainda está amadurecendo, não tem nada a ver com isso e deu muito bem o seu recado.


O começo com o heavy rock de Welcome e o groove de Show Me the Way mostraram que a banda tem repertório para chamar atenção. E vale destacar também Home, pelo instrumental caprichado, incluindo o longo solo de Trovão, e o refrão agradavelmente palatável, duas características presentes também em Spread Your Wings, que ganhou a bela sacada de fechar com Ode to Joy, de Ludwig van Beethoven, e foi dedicada a André Rodrigues, o “Desmond Child brasileiro”, segundo o guitarrista. E ainda teve Love and Lies, cheia de mudanças de clima, e uma versão bem legal para The Tower, de Bruce Dickinson, muito bem emulado por Cordeiro. Mas sabe o lance de amadurecer? É exatamente por ainda ter momentos verdes que as melodias vocais de All Gone causaram estranheza, assim como Taunting Cobras, tirando o trabalho de Ferreira, soou estranha a quem é fã de carteira do Savatage, muito em parte porque o vocal não encaixou. Mas são apenas deslizes de quem está no caminho certo.

Por Daniel Dutra | Fotos: Alexandre Cavalcanti

Setlist Dr. Sin
1. Fly Away
2. Karma
3. Lost in Space
4. Time After Time
5. Fire
6. Sometimes
7. Nomad
8. Dirty Woman
9. Isolated
10. Scream and Shout
11. Zero
12. Miracles
13. Emotional Catastrophe
14. Foxy Lady
15. Down in the Trenches

Setlist Azul Limão
1. Portas da Imaginação
2. Sangue Frio
3. Paranormal
4. Nada a Perder
5. Não Vou Mais Falar
6. Imortal
7. Coração de Metal
8. O Grito
9. Rotina
10. Guerreiros do Metal
11. Satã Clama Metal

Setlist ManUNkinD
1. Welcome
2. Show Me the Way
3. Home
4. The Tower
5. All Gone
6. Love and Lies
7. Spread Your Wings
8. Taunting Cobras

Clique aqui para conferir a resenha no site da Roadie Crew.

SOTO

Aquela noite de sábado mostrou bem o abismo que existe entre os públicos de rock pesado e de música pop no Rio de Janeiro. Enquanto o Los Hermanos – é pop, sim, e muito ruim – lotava o Maracanã, um dos maiores vocalistas da história do heavy metal/hard rock tocava num Teatro Odisseia que não chegou a 1/3 de sua (já pequena) capacidade. Mas há uma certeza: Jeff Scott Soto fez um show muito melhor do que o do chatíssimo grupo de barbudos. Para os fãs da trajetória de JSS, então, foi ainda mais especial, uma vez que o repertório não incluiu apenas material do SOTO – completado por Jorge Salan (guitarra), BJ (teclados e guitarra), Tony Dickinson (baixo) e Edu Cominato (bateria) –, mas canções da carreira solo e de algumas das bandas às quais emprestou a voz privilegiada (confira a galeria com 30 fotos do show no fim da resenha!).

Curiosamente, a noite começou com uma canção do novo álbum da sua banda, o ótimo Origami, algo que JSS havia dito a este que vos escreve que não faria – “Provavelmente, você seria a única pessoa na plateia que conheceria as músicas”, brincou o vocalista dez dias antes, durante entrevista para a Roadie Crew. Ainda bem que ele voltou atrás, porque HyperMania ficou ainda melhor ao vivo, e ninguém na plateia pareceu ter ficado assustado com a introdução eletrônica. A modernidade tem forte presença na sonoridade do SOTO, mas é em cima do palco que o material prova de vez se tratar de um grupo de heavy metal de primeira, fato comprovado por Freakshow, extraída do segundo disco, DIVAK (2016).

SOTO


“Vamos voltar a uma época na qual era cool ter um pouco de groove, de funky”, disse ele antes de 21st Century, e a faixa de Beautiful Mess (2009), seu quarto trabalho solo, não apenas manteve o pique em cima do palco como mexeu mais com quem estava na pista. Até os scratches rolaram, diga-se. Mais uma solo, agora de Lost in the Translation (2004), Drowning abriu o ‘open bar’ de JSS. “Tudo bem?”, perguntou em bom português, para depois brincar. “É tudo que eu sei. Não, tem outra coisa: caipirosca!”. Ao coro de “vira, vira, virou”, o vocalista bebeu a iguaria brasileira num só gole e ainda arriscou passos de samba. Era hora de voltar ao SOTO, e Wrath, de Inside the Vertigo (2015), colocou os fãs para soltar um pouco a voz.

Outra de DIVAK, a pesada e melódica Weight of the World destacou o ótimo refrão, reforçado por backing vocals caprichados da banda. Mais uma de Lost in the Translation, a radiofônica Soul Divine foi o pano musical de mais uma caipirosca e de uma constatação: a banda estava se divertindo. O vai e vem entre o SOTO e a carreira solo trouxe a excelente The Fall, com peso e groove convivendo num casamento perfeito, e JSS lembrou que a música, presente em Inside the Vertigo, foi composta por Dickinson, amigo de longa data da banda que substituiu David Z, morto em 14 de julho de 2017 num acidente envolvendo o trailer do Adrenaline Mob, grupo ao qual havia se juntado recentemente.

SOTO


Os fãs do lado melodic rock se esbaldaram com o medley que juntou Watch the Fire, Learn to Live Again e One Love, e foi com razão, porque a amostra do W.E.T. ficou sensacional, incluindo um desfecho com BJ mandando ver na frase ‘One love, one dream, to stand’, que, diga-se, foi contada com vontade também pelos presentes. “Sim, você é um viking”, JSS respondeu (mais uma vez) ao sujeito que insistentemente pedia por I Am Viking, clássico de Yngwie Malmsteen. Depois de virar mais um copo de caipirosca, o vocalista deu o tom da noite ao apresentar os integrantes na base da zoação: lembrou que Dickinson é “o outro americano. Nós entendemos o que vocês falam, mas ele nem tanto”, uma vez que os brasileiros BJ e Cominato estavam em casa; contou a história do acidente no hotel com Salan, que tocou (e tocou muito) com um rombo na cabeça e só foi para o hospital depois do show; e terminou com um “e eu sou o Adam Lambert”.

JSS até deveria estar no Queen + algum vocalista, mas essa é outra história. Mais uma zoação com um fã na plateia, o cara que ficava o tempo inteiro gritando “motherfucker”, e veio Detonate, uma das melhores canções do novo álbum, com direito aos efeitos da versão em estúdio. “Vocês conhecem essa”, disse JSS antes de uma ótima versão de Eyes of Love, de Prism (2002), seu segundo disco solo. O clima continuava o mesmo: o vocalista perdeu a entrada do refrão ao tentar tocar o baixo com o instrumento no corpo de Dickinson, e Cominato mandou a introdução de Where Eagles Dare, do Iron Maiden, no encerramento, arrancando risos do chefe. O público era pequeno, mas fazia tanto barulho quanto se divertia, então JSS pediu silêncio para uma homenagem a David Z. Foi a deixa para Give in to Me, o cover do Michael Jackson que o falecido baixista gravou no fim de 2016 com o SOTO.

SOTO


Cyber Masquerade, de DIVAK, manteve o alto nível musical, mas dai para frente foi basicamente uma sequência de hits. Dickinson ganhou o apelido de Baby Tony porque não conhecia Livin’ the Life, música do fictício Steel Dragon e que faz parte da trilha sonora de “Rock Star” (2001). A banda poderia tocar todas as canções compostas para o filme, mas esta foi uma ótima surpresa – e com JSS, sem o microfone em não, cantando trechos para a plateia repetir em seguida; e zoando Cominato quando este mandou uma na trave… “Vou pegar outra caipirosca” foi o anúncio do vocalista para Risk, instrumental de Salan que antecedeu mais um medley que mexeu com o público: do Talisman.

Pudera, porque foi só coisa fina: Break Your Chains, Day By Day, Give Me a Sign, Colour My XTC, Dangerous, Just Between Us, Mysterious (This Time it’s Serious, Frozen (hit da Madonna regravado em Truth, de 1998), Crazy (clássico do Seal revisitado em Life, de 1995, e que ganhou um ligeiro improviso para ajustes na guitarra) e I’ll Be Waiting, que causou a apoteose de sempre. Teve coro de “hey, motherfucker” do palco para pista, e vice-versa, além de uma defesa involuntária da caipirosca quando JSS pediu a bebida de um fã na plateia: “Jägermeister! Jesus Cristo, isso é uma merda!”, disse ele, fazendo cara feia. Hora do bis, e palhinhas de Run to the Hills (Iron Maiden), We’re Not Gonna Take it (Twisted Sister) e I Love it Loud (KISS) serviram de aquecimento para a íntegra de We Will Rock You, do Queen.

SOTO


É impressionante como a voz de JSS se encaixa bem no material da banda inglesa, mas, novamente, essa é outra história. “Sem guitarra isso não vai funcionar”, brincou o vocalista depois que Stand Up teve de ser interrompida para que o instrumento de Salan fosse finalmente escutado. Todo fingiu que não aconteceu nada, e a faixa mais famosa de “Rock Star” – composta por ninguém menos que Sammy Hagar, vale sempre destacar – foi aquele clímax que todos esperavam e sempre funciona. “Vamos para um boa noite ao estilo Steel Panther”, disse JSS na despedida do SOTO com uma versão a capella de Community Property que fechou uma noite extremamente agradável, com música de alto nível passeando por vários estilos do rock. E felizardos foram os que compareceram para prestigiar.

Por Daniel Dutra | Fotos: Alexandre Cavalcanti e Daniel Croce


Setlist
1. Hypermania
2. Freakshow
3. 21st Century
4. Drowning
5. Wrath
6. Weight of the World
7. Soul Divine
8. The Fall
9. W.E.T. Medley: Watch the Fire / Learn to Live Again / One Love
10. Detonate
11. Eyes of Love
12. Give in to Me
13. Cyber Masquerade
14. Livin’ the Life
15. Risk
16. Talisman Medley: Break Your Chains / Day By Day / Give Me a Sign / Colour My XTC / Dangerous / Just Between Us / Mysterious (This Time it’s Serious) / Frozen / Crazy / I’ll Be Waiting
Bis
17. We Will Rock You
18. Stand Up
19. Community Property

Clique aqui para conferir a resenha no site da Roadie Crew.