Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Alguém lembra que o último trabalho inédito do Black Sabbath, chamado Forbidden, lançado em 1995? Que o álbum foi gravado por Tony Martin (vocal), Neil Murray (baixo), Cozy Powell (bateria) e, claro, Tony Iommi? Talvez não, mas certamente muitos se lembram de Reunion, duplo ao vivo lançado três anos depois para celebrar a turnê realizada pela formação original da maior banda de heavy metal de todos os tempos.
Como é inegável a importância do que fizeram juntos Iommi, Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bill Ward, foi lançada mais uma pérola para os fãs. No dia 20 de agosto chegou às lojas o CD duplo Past Lives, com gravações ao vivo da década de 70, ou seja, diversão garantida. O álbum saiu ainda numa versão limitada, em digipack, com pôster colorido e uma palheta que obviamente nunca chegou perto de Iommi ou Butler. Mas o que importa mesmo é a música. Então, vamos a ela.
O primeiro CD nada mais é que a remasterização de Live at Last, disco lançado em 1980 e que não contou com o aval da banda. À época, o Sabbath colhia os frutos do excepcional Heaven and Hell, primeiro trabalho sem Ozzy nos vocais, e sua ex-gravadora, NEMS, resolveu lançar ao vivo em questão e relançar a discografia do grupo, tirando proveito de sua renovada popularidade. Com Ronnie James Dio na voz principal, a banda não se fez de rogada e declarou que o trabalho era um bootleg, eufemismo escolhido a dedo para dizer que não fazia parte da discografia oficial.
Hoje, nada disso importa. Os fãs têm Live at Last em suas coleções, mas mesmo assim não pularão direto para o outro CD de Past Lives. O disco é ótimo não apenas por conter eternos clássicos da banda. Sweet Leaf, Children of the Grave, War Pigs e Paranoid são sempre destaques, mas o que dizer de músicas como Tomorrow’s Dream, Cornucopia e Wicked World, na qual a banda se aventura pelo jazz? Se alguém ainda não conhece o show realizado em 1973, em Manchester, na Inglaterra, a oportunidade bate à porta.
Um dos grandes méritos de Past Lives é logo percebido no CD 2. Não há músicas repetidas, nada de incluir outra versão de Paranoid apenas por se tratar de um grande marco. Claro, a história da banda é recheada de clássicos, então encontramos mais alguns deles: Sympton of the Universe, Iron Man, Black Sabbath, N.I.B. e Fairies Wear Boots. No entanto, as músicas que completam o trabalho nunca poderão ser relegadas ao rótulo de “lado B”, já que são infinitamente melhores que o trabalho de bandas que pretensamente – culpa da mídia ou não, pouco importa – carregam a palavra “metal”.
O disquinho abre com uma ótima versão para Hand of Doom, da obra-prima Paranoid (1970), segundo disco do grupo. Do primeiro álbum (1969), homônimo, temos Behind the Wall of Sleep, enquanto Sabotage (1975) é representado também por Hole in the Sky e pela sensacional Megalomania, que finalmente saiu do circuito de bootlegs para um lançamento oficial. Infelizmente, Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die! (1978) foram ignorados, sendo que ao menos a faixa-título do último merecia registro.
Em cima de um palco, todos sabemos do potencial dos hoje senhores de Birmingham. Das interpretações alucinadas de Ozzy aos riffs maravilhosos do mestre Iommi, passando pela intuição de Ward e a técnica de Butler, os fatos se juntam para torná-los insuperáveis. Apesar de os quatro lembrarem do Black Sabbath como uma banda de hard rock, principalmente por causa das influências de blues, Past Lives é a prova definitiva que o grupo definiu o caminho do heavy metal. O estilo não seria nada e muito menos teria metade das bandas surgidas nas últimas três décadas não fosse o que eles começaram em 1969.
Resenha publicada na edição 88 do International Magazine, em outubro de 2002.