Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Poucas bandas conseguem, hoje em dia, ser consideradas referências de um estilo ao mesmo tempo em que ainda se destacam no cenário heavy metal. Uma delas, sem sombra de dúvida, chama-se Helloween. Não apenas o pai do que chamamos de metal melódico – e 90% das bandas do estilo não aprenderam a lição –, o grupo é um dos melhores do rock pesado. Há muitos anos, diga-se de passagem. Responsáveis por clássicos absolutos, como as duas partes de Keeper of the Seven Keys, os alemães já passaram por poucas e boas em quase 20 anos de carreira. Há aproximadamente dois anos, o guitarrista Roland Grapow e o baterista Uli Kusch foram demitidos, e assim começou a novela sobre os substitutos. Henjo Richter (Gamma Ray) disse não, e as seis cordas foram parar nas mãos de Sascha Gerstner (ex-Freedom Call), mas as baquetas foram a principal dor de cabeça. Mark Cross (ex-Metalium) foi anunciado como novo batera, mas uma doença chamada mononucleose, causada pelo vírus Epstein-Barr, o deixou impossibilitado de continuar as gravações do novo álbum, Rabbit Don’t Come Easy. Mikkey Dee foi chamado para ajudar, gravou dez das 12 faixas do disco e seguiu dando sequência à sua carreira ao lado de Lemmy e Phil Campbell no Motörhead. Ainda em recuperação e sem previsão de alta, Mark perdeu o posto para Stefan Schwarzmann (ex-Accept, UDO e Running Wild), que chegou para gravar b-sides e acabou ficando definitivamente.
No início de abril, o vocalista Andi Deris e o guitarrista Michael Weikath estiveram em São Paulo para divulgar Rabbit Don’t Come Easy, que tem lançamento mundial para 5 de maio – Markus Grosskopf (baixo) completa a atual formação. Tivemos a oportunidade de bater um ótimo papo por telefone com Deris, que se mostrou bastante sincero – uma qualidade que para muitos chega a ser um defeito – e não deixou assunto algum sem esclarecimento: rasgou elogios a Gerstner, falou (e muito!) dos problemas com Grapow e Kusch, lembrou-se de Michael Kiske e enalteceu a volta do Helloween a seu estilo único e consagrado, entre outros assuntos. Divirtam-se.
Olá, Andi. Como estão sendo os dias no Brasil?
Bastante corridos. Estou cansado, mas com um belo copo de café brasileiro à minha frente. Isso torna as coisas mais fáceis (risos).
Então, vamos às perguntas. Depois dos problemas nos últimos dois anos, como podemos dizer que o Helloween está hoje? O que mudou do disco anterior, The Dark Ride (2000), até o novo trabalho, Rabbit Don’t Come Easy?
Exatamente o que prometemos aos nossos fãs. The Dark Ride foi uma experiência. Depois de seu lançamento, fizemos questão de dizer que o Helloween voltaria a ser a banda que todos conhecem. O “Happy Happy Helloween” está de volta (risos), e com um guitarrista sensacional. Tenho de admitir que sou um grande fã do Sascha Gerstner.
E como vocês chegaram até ele?
Na verdade, foi uma recomendação do Charlie Bauerfeind, nosso produtor. Ele trabalhou com o Freedom Call, banda em que o Sascha tocava, e nos disse que tínhamos de chamá-lo, pois trata-se de um guitarrista extraordinário, uma grande pessoa e que se encaixaria perfeitamente no Helloween. Ele é bem mais novo que nós (N.R.: tem 26 anos), passou dez dias de experiência conosco na Alemanha e provou ser a escolha certa.
E Sascha compôs três músicas (N.R.: Open Your Life, Sun 4 the World e Listen to the Flies) para o novo disco, o que significa que vocês o deixaram bem à vontade e confiante. Isso também fez como que ele desse um novo gás ao Helloween?
O Sascha é dez anos mais novo que eu e o Markus e tem 14 anos a menos que o Weiki. Isso significa que ele cresceu ouvindo Helloween e minha ex-banda, Pink Cream 69, então você realmente pode colocar dessa maneira. Quer dizer, não foi nem o caso de ser um novo sopro na banda, mas uma verdadeira tempestade (risos). Ele adora nossa música e veio com toneladas de ideias. Chegamos até mesmo a botar um freio nele, pois estava prestes a explodir (risos). Sascha é incrível, e você pode perceber tudo isso quando ele toca. É o melhor guitarrista que já ouvi, e é isso que estávamos precisando. Não digo isso porque ele está tocando comigo, até porque nunca me referi ao Roland dessa maneira. Tenho certeza de que, estando ou não no Helloween, seu futuro e carreira serão brilhantes. Estou realmente feliz por tê-lo na banda, principalmente porque gostamos dele como pessoa, e ele se deu muito bem com o Weiki. Parecem até mesmo um casal (risos).
Isso é importante, sem dúvida. Não apenas porque é preciso haver uma boa química numa dupla de guitarristas, mas também porque estamos falando de Michael Weikath.
E agora eu realmente sei disso. Quando entrei no Helloween, fiquei maravilhado ao fazer parte de uma banda com dois guitarristas. Pensei: “É isso mesmo!”, pois no Pink Cream 69 havia apenas um guitarrista (N.R.: Alfred Koffler). Apesar de eu gravar as partes de violão quando necessário, não éramos exatamente uma dupla. No Helloween eu precisei de dois anos para perceber que Roland e Weiki não gostavam um do outro, afinal, nunca ensaiavam juntos, não se encontravam ou se falavam direito.
É surpreendente que Michael e Roland tenham ficado tanto tempo numa mesma banda (N.R.: aproximadamente 11 anos).
Sim, definitivamente era muito estranho. Muita gente ficava surpresa depois de perguntar quem havia tocado guitarra nessa ou naquela música, pois eu respondia “eu e o Weiki”. Perguntavam como era possível se eu sou apenas o vocalista, aí eu explicava que éramos nós que escrevíamos as músicas, assim, quem mais então poderia tocar? Roland estava sempre interessado apenas no que ele compunha, ou seja, uma ou duas canções. E não era culpa nossa, mas apenas o fato de que ele não trazia à banda mais do que isso.
A situação piorou quando Roland gravou seus dois discos solos (N.R.: The Four Seasons of Life, em 1997, e Kaleidoscope, 1999)?
O que era exceção virou regra durante a pré-produção de Better Than Raw (1997), quando Roland apareceu com apenas um riff e esperava que dele nós fizéssemos uma música. Eu simplesmente disse que trabalharia em algo que eu escrevi, não numa ideia que havia sobrado de seu disco solo. A minha música entraria no álbum, pois eu não construiria nada tendo como ponto de partida alguma sobra do que ele estava fazendo.
Por isso o título do novo álbum é bem explicativo, tendo em vista os problemas que vocês tiveram com Roland e Uli. O processo que culminou com a saída deles começou antes ou depois da última turnê?
Na verdade, o problema com Roland começou há três anos e meio. Para ser sincero, eu e Uli estávamos querendo tirá-lo da banda naquela época, mas foi o Weiki quem deu a ele uma segunda chance. Só que não adiantou muita coisa, e, para piorar, Uli ainda foi para o lado do Roland. A situação acabou se invertendo, e tivemos de fazer algo, pois cedo ou tarde eles precisariam sair. Naquelas circunstâncias, as coisas já não funcionavam mais, a química havia ido para o inferno. Depois do show no México (N.R.: no início de agosto de 2001, quando Deris ficou bastante gripado e algumas apresentações foram canceladas), decidimos que o Helloween deveria ser uma banda feliz novamente. Eu não quero jogar toda a responsabilidade em cima dos dois, mesmo porque há sempre os dois lados da moeda. Simplesmente não estava mais dando certo.
Então, o ambiente conturbado internamente influiu para que The Dark Ride fosse um disco mais, digamos, pesado e sombrio?
Honestamente, nós tínhamos de colocar a banda de volta aos trilhos. E havíamos sido bem claros quando dissemos que o álbum anterior seria apenas uma experiência. Naquela época sentimos que era necessário lançar um álbum mais sombrio. Além disso, havia muita gente reclamando e perguntando por que fazíamos sempre o mesmo estilo de música, ou seja, provamos que isso é besteira. Agora é diferente, pois estamos num ótimo momento, e você está certo: o título do diz tudo, pois foi bem difícil tirar o coelho da cartola (risos). O novo disco mostra a todos que o “Happy Happy Helloween” está de volta e definitivamente não tem nada a ver com The Dark Ride. É possível perceber isso logo ao olhar para a capa.
Voltando ao Sascha, o vocalista do Freedom Call, Chris Bay, deu uma versão no mínimo curiosa para a saída dele da banda. O principal motivo teria sido a falta de vontade de ficar muito tempo excursionando, além de o metal não mais atraí-lo mais, então Sascha cortou o cabelo e começou uma banda pop. Como vocês lidam com esse tipo de comentário?
(N.R.: rindo) Ele não deve saber que o Sascha foi uma recomendação do Charlie. Se pudesse imaginar que hoje seu ex-guitarrista está tocando no Helloween, acredito que não teria falado uma merda como essa. A maior prova de que isso é besteira está justamente no Charlie, que conhece todo mundo no Freedom Call e nos mostrou que Sascha é totalmente apaixonado por metal. Chris Bay disse uma grande mentira (N.R.: na edição de setembro de 2002 da revista Roadie Crew), afinal, nosso produtor sabe o que é melhor para nós.
Com a doença de Mark Cross, Mikkey Dee teve de completar o álbum. Ele vem fazendo um trabalho relativamente simples nos últimos dez anos, com o Motörhead, mas todos sabem que ele é um baterista extraordinário, e acredito que ele se encaixaria muito bem no Helloween. Vocês chegaram a pensar em convidá-lo para ser um membro efetivo? Ou mesmo chegaram a fazê-lo?
Não, apenas aconteceu de nós conhecermos o Mikkey há bastante tempo. Você sabe, o Motörhead e o Helloween já tocaram em mesmos festivais (N.R.: incluindo o Monsters of Rock de 1996, em São Paulo). Tínhamos perdido cinco semanas e meia por causa do problema com o Mark, então precisávamos de um baterista que pudesse gravar rapidamente e que fizesse um grande trabalho, por isso ligamos para ele. Foi na base da amizade, mesmo. O Mikkey se juntar ao Helloween nunca foi colocado em questão. Resolvemos chamá-lo porque era a decisão mais acertada, diplomaticamente falando. Primeiramente, porque ele é um fã da nossa música. Segundo, ele toca numa banda que é, no mínimo, tão grande quanto o Helloween. Assim, por que ele sairia do Motörhead?
E vocês não esconderam que ele apenas estava ajudando…
De jeito algum. Não sabíamos se o Mark iria se recuperar a tempo, pois ele havia gravado apenas duas músicas, Listen to the Flies e Don’t Stop Being Crazy. Mikkey chegou, gravou cinco e ainda ficamos com sete para terminar. Depois disso, Mark foi para casa para tentar se recuperar, sendo que depois de um mês ele deveria voltar e tentar finalizar o álbum. Obviamente, isso não aconteceu, e tivemos de ligar novamente para o Mikkey, porque não queríamos usar um baterista desconhecido. Foi uma situação complicada, e sabíamos que fazendo isso as especulações sobre o novo baterista do Helloween começariam, ainda mais porque à época o Mark não estava fora. De qualquer maneira, eu concordo com você: ele é fantástico. Mikkey chegou ao estúdio sem a menor ideia do que teria pela frente, mas pegou as músicas com muita rapidez e fez um trabalho impressionante.
E como vocês acharam o Stefan Schwarzmann?
Acidentalmente (risos). Nós temos uma tradição de gravar b-sides (N.R.: músicas que entram apenas nos singles ou são usadas como bônus) e precisávamos de alguém para tocar bateria, já que o Mikkey estava no Japão com o Motörhead, assim não poderíamos contar com ele para isso. Weiki queria gravar Fast as a Shark, do Accept, e Markus sugeriu que chamássemos o Stefan, já que ele tocou na banda. Ligamos para ver se havia interesse, e ele acabou gravando suas partes no estúdio caseiro do Markus, que, por sua vez, nos lembrou que ele estava sem nenhuma banda no momento.
A “culpa” de tudo foi do Markus, então? (risos)
Sim, foi. Na verdade, Stefan estava para sair de uma banda chamada Skew Siskin, ou havia acabado de sair, eu não sei… Enfim, Markus soube disso e fez o convite, e ele disse que adoraria ter uma oportunidade de se juntar ao Helloween. Passamos um tempo juntos, e o resultado foi óbvio: Stefan é o novo baterista.
Tenho uma pergunta um pouco difícil e entenderei se você não quiser respondê-la. Em uma entrevista recente, Roland disse algumas desagradáveis a seu respeito. Além de acusá-lo de ser a principal razão por que ele e Kusch foram demitidos, afirmou que o Helloween não toca músicas mais antigas porque você não é capaz de cantá-las…
(N.R.: interrompendo)… Eu não consigo entender isso. Nós tocamos muitas músicas antigas, algumas que as pessoas consideram difíceis de cantar. Infelizmente, não dá para agradar a todos. Estou na banda há quase dez anos e já gravei cinco álbuns (N.R.: Deris não inclui o duplo ao vivo, High Live, de 1999, e o disco de covers, Metal Jukebox, de 1999), então temos muita coisa para tocar de todas as fases.
E por que todo mundo que sai do Helloween sempre fala que houve problemas de relacionamento com o Michael Weikath. É tão difícil assim trabalhar com ele?
Se é complicado lidar com o Weiki, deve ser porque ele quer manter o Helloween vivo. Não é difícil, e eu nunca tive problemas com ele, isso porque eu me esforço para cumprir minha tarefa como um fã da banda. Eu adoro o Helloween que está em Rabbit Don’t Come Easy, e será fácil entender os motivos quando você escutar o novo álbum. Muitas respostas estão nele, e dá para entender o motivo por que certas pessoas não estão mais conosco (N.R.: Deris refere-se a Kusch e Grapow). Pode confiar em mim, é fato que voltamos ao “Happy Happy Helloween” como nunca antes.
Há alguma música no novo álbum que sintetize isso? Alguma preferida ou que você ache que ao vivo transmitirá esse sentimento?
(N.R.: pensativo) Essa é uma pergunta difícil, porque é como ter de dizer qual filho eu mais amo (risos). Depende do meu estado de espírito, se estou a fim de ouvir algo mais heavy metal, speed, thrash ou melódico. Particularmente, acho que todas as músicas trazem os elementos típicos do Helloween. Digo isso respaldado pela opinião de todos que já ouviram o disco, pois os comentários têm sido extremamente positivos. Tenho certeza de que você irá adorar o novo trabalho.
Para falar a verdade, o único álbum que eu realmente não gosto é o Chamaleon. Mesmo o The Dark Ride, que não agradou a muitos fãs e até mesmo a vocês, eu acho um grande disco.
Mas foi divertido fazer o The Dark Ride, apesar de ser um trabalho que não deveria mesmo ter continuidade. Infelizmente, algumas pessoas (N.R.: Deris novamente se refere Kusch e Grapow) não estavam dispostas a colocar o Helloween em seu lugar de direito, por isso eu entendo os motivos de Weiki e Markus quando decidiram dar um basta na situação. O curioso é que eu não participei da decisão final justamente porque estava me recuperando de uma gripe para podermos cumprir os shows no México e na Colômbia. Claro, fiquei sabendo das discussões e, honestamente, não posso imaginar com exatidão como aconteceu. Em minha opinião, foi uma situação de dois contra dois, e chegou a um ponto em que Weiki disse que sairia da banda.
Mas ele é sinônimo de Helloween, não dá para imaginar a banda sem ele.
Você está certo, é o que também penso. Encontrei o Uli depois de um tempo, e ele veio com aquele papo de que eu não disse nada, não fiquei do lado deles. Minha resposta foi simples: “Não posso evitar nada a partir do momento em que se discute a saída do Weiki. Sinceramente, assim não havia como vocês ficarem”. Vamos falar sério, o Helloween sem o Weiki é uma piada de mau gosto. A situação é simples: havia quatro membros originais. Um está morto (N.R.: Ingo Schwichtenberg, que teve sérios problemas de depressão e acabou cometendo suicídio em 8 de março de 1995), e o outro é o líder do Gamma Ray (N.R.: Kai Hansen). Assim, dois ainda estão na banda, sendo que Weiki é extremamente importante, e todos nós sabemos disso. Ele é capaz de pegar uma música minha, da época do Pink Cream 69, e transformá-la numa do Helloween apenas porque está tocando guitarra nela.
Sem dúvida, ele e Kai Hansen criaram algo único.
Exatamente! E é o que devemos guardar, por isso não entendo essas discussões, assim como não entendo o motivo por que tanta gente ainda faz comparações com Michael Kiske.
O assunto certamente deveria ter morrido com o passar dos anos, mas agora acredito que ganhará força com a volta definitiva de Kiske à música, não?
Sim, mas o máximo que podemos fazer é respeitá-lo no que diz respeito a isso. Ele não quer mais fazer heavy metal, mas música pop. Eu não entendo por que as pessoas se importam tanto com o que Michael Kiske está fazendo ou não. Ele é um grande cantor e faz pop rock, e isso não é ruim. É apenas a decisão dele. No entanto, as pessoas têm de entender que o Helloween voltou a ser uma banda de metal em 1994…
… Você já vai antecipar a minha próxima pergunta (risos). Como foi entrar no Helloween num momento tão difícil, ou seja, com a banda tendo sido demitida da EMI depois do fracasso comercial do Chamaleon (1993)?
Vamos colocar da seguinte maneira: quando ouço alguns fãs mais antigos dizendo que gostariam que o Michael voltasse, eu apenas pergunto onde eles estavam quando o Chamaleon fracassou. Se houvesse tantos fãs naquela época, o disco teria sido bem-sucedido. Tenho de ser honesto com você e admitir que eu gosto do álbum, mas não sob o nome Helloween. Há músicas muito boas, algumas que fariam muito sucesso com o Bon Jovi (risos). Mas eu pergunto: onde estavam os fãs? Hoje, eles não podem dizer “Ah, nós adoramos o Chamaleon e fizemos com que vendesse milhões”. Não, eles sumiram na época, e o disco vendeu praticamente nada.
Sempre digo que foi o pior momento da história do Helloween.
Sim, a banda estava morta. Depois de oito anos, posso dizer àqueles que querem saber a verdade: o Helloween estava falido. Veja bem, o Pink Cream 69 era a banda revelação na Alemanha e estava vendendo bastante, fazendo muito dinheiro quando eu decidi sair para apostar minhas fichas numa banda que estava falida. Depois de tanto tempo eu posso falar isso.
Master of the Rings (1994) é um disco espetacular, lançado realmente quando as pessoas não acreditavam mais no Helloween. Com tudo isso que conversamos, sendo você um compositor extremamente ativo, podemos dizer que você tem uma grande parcela de crédito na volta da banda aos bons tempos?
Eu espero que as pessoas realmente pensem assim. Sei que definitivamente tenho uma parte importante dos méritos nesse processo, e fico feliz que a maioria dos fãs goste do que fazemos hoje, não do que a banda fazia na época do Chamaleon. Mas às vezes penso: “O que esses caras estão falando?”, pois se alguns fãs querem o Michael de volta, tudo bem, então eles querem o Helloween fazendo pop rock. Na verdade, eu não dou a mínima para esse assunto, pois o Helloween é meu hobby. Eu amo a banda, é o que eu mais gosto de fazer na vida, mas minha máquina de dinheiro não é o Helloween, mas minhas empresas (N.R.: como o estúdio Mi Sueno, em Tenerife, na Espanha, onde foram gravados The Dark Ride e Rabbit Don’t Come Easy, além de várias sessões de Better Than Raw e Metal Jukebox).
E qual seu disco favorito do Helloween?
Nossa, isso é difícil. (N.R.: pensativo) Definitivamente, Keeper of the Seven Keys Part II (1988), Time of the Oath (1996) e Rabbit Don’t Come Easy. Bom, no momento minha resposta é 100% o novo disco (risos), pois ele é um pouco de cada um dos discos que eu falei.
E como estão os planos para a turnê? Quando veremos o Helloween novamente no Brasil?
Pelo que eu sei até o momento, em agosto estaremos em alguns países do Leste Europeu e depois viremos ao Brasil. A turnê sul-americana já está marcada para setembro.
Isso é ótimo. Não sei se você soube, mas ontem (N.R.: 6 de abril) o Shaman tocou no Rio de Janeiro, e um dos momentos mais aguardados do show era sua presença e a do Michael Weikath em Eagle Fly Free. Como vocês não puderam ir, por causa dos vários compromissos de divulgação, os fãs cariocas ficaram um pouco desapontados.
Não fiquem! Certamente tocaremos no Rio, não há dúvida disso, pois nós realmente queremos. Eu amo Copacabana e água de coco! (risos). Peço desculpas aos fãs, mesmo porque a participação em São Paulo foi acidental. Quer dizer, foi uma experiência ótima, mas não estava em nossa agenda, então imagine os outros shows com o Shaman… Foi coincidência estarmos na cidade no mesmo dia. A banda estava gravando um DVD e nos convidou, por isso apenas dissemos “Sim, vamos nos divertir”. Como eu estava muito bêbado, foi realmente o que fiz (risos).
Sobre sua carreira solo, você lançou dois álbuns (N.R.: Come in from the Rain, de 1997, e Done By Mirrors, 1999) e parou por aí. Tem planos para mais algum?
Na verdade, não. Tenho andado muito preguiçoso para isso, além de estar bastante ocupado com meu estúdio em Tenerife e minha companhia de vídeo. Fora isso, hoje minha atenção está voltada principalmente ao Helloween, não sei se conseguiria arranjar tempo para gravar um novo disco solo. Eu nem tenho muita vontade também, mas se um dia voltar a fazer, gostaria de gravar com Mikkey Dee e Warren DeMartini (N.R.: guitarrista do Ratt e agora também no DIO). Esse seria um projeto interessante.
Nos seus dois discos as músicas não têm nada a ver com o Helloween, o que é ótimo, afinal, não faria sentido lançar algo fora da banda. Enfim, que tipo de música você costuma ouvir nos dias de folga, em casa?
Sempre as coisas clássicas, de KISS a Judas Priest e Aerosmith. Hoje em dia, gosto muito do Spiritual Beggars (N.R.: banda de Michael Amott, guitarrista do Arch Enemy e ex-Carcass). Fiquei assustado quando ouvi a banda pela primeira vez, há dois anos. Fiquei pensando “Opa, eles estão fazendo algo muito à frente do seu tempo”, mas hoje fico feliz que o som esteja sendo aceito com mais facilidade.
Para terminar, gostaria de citar alguns vocalistas e ter sua opinião a respeito de cada um. Pode ser?
Sem problema. Vamos lá!
Paul Stanley, já que você é um grande fã de KISS.
(N.R.: rindo) Eu diria que ele está muito bem. Como sempre.
Ronnie James Dio.
(N.R.: rindo bastante) Meu Deus, onde eu estava com a cabeça na hora em que você perguntou o que eu costumo ouvir? (risos) Ronnie é um dos meus favoritos em todos os tempos, seja no Rainbow, no Black Sabbath ou em sua própria banda.
Ian Gillan (Deep Purple).
Algumas vezes ele é ótimo. Em outras não.
Geoff Tate (Queensrÿche).
Sempre ótimo.
Bruce Dickinson (Iron Maiden).
Eu poderia dizer que às vezes ele está muito bem, algumas vezes não. Mas isso seria mentira (risos). Bruce nunca está mal, pode ter dias apenas razoáveis (risos). Eu adoro Iron Maiden, cresci ouvindo a banda.
Robert Plant (Led Zeppelin).
Absolutamente bom no passado, mas não gosto muito dele hoje em dia.
Ray Gillen (ex-Badlands e Black Sabbath).
Era para ter sido um grande vocalista, mas se perdeu no meio do caminho. Não sei por que motivos. Enfim, não entendo por que ele não foi adiante na carreira. Uma pena que tenha morrido antes de alcançar o reconhecimento e sucesso que merecia. Era uma promessa.
Jeff Scott Soto (Talisman).
Nunca fui muito fã dele, mas é definitivamente um grande músico.
Muito obrigado pela entrevista, Andi, e espero vê-los em setembro no Brasil.
Sim, e eu é que agradeço. Gostaria de dizer que se você realmente ama o Helloween, do jeito que a banda tem de ser, tem minha palavra que irá adorar o novo álbum. Os fãs brasileiros foram os responsáveis pela recepção mais calorosa que tive em toda a minha carreira, e isso não foi há muito tempo, mas em 1996, quando tocamos pela primeira vez no Brasil (N.R.: no Monsters of Rock). Eu lamento por não sabermos, antes disso, da legião de fãs que temos no país. Tenho de admitir que é uma vergonha, mas, agora que sabemos, iremos tocar aqui sempre que pudermos.