Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Quando alguém aparece com algo diferente, é normal que um monte de gente aproveite o vácuo para se aproveitar, e é aí o que negócio fica saturado. Para o esvaziamento é um pulo. Na música não chega a ser diferente. O Helloween surgiu em meados dos anos 80 com o power metal melódico, algo que a banda alemã continua, apesar de um deslize ou outro, fazendo muito bem até hoje. Só que vários grupos foram na onda, e a coisa ganhou uma proporção que ultrapassou o limite do suportável, pois em cada esquina dos mais diferentes países da Europa brotava um novo nome do estilo em busca do sucesso. O gênero foi mesmo popular no rock pesado, mas a quantidade de banda ruim era impressionante.
Formado pelo guitarrista Thomas Youngblood, o Kamelot precisou apenas da mudança de vocalista – saiu Mark Vanderbilt, entrou Roy Khan – para trilhar o caminho que o levaria ao posto de melhor banda desse power metal melódico, agora com toques sinfônicos. E chega a ser irônico que o diferencial tenha vindo de uma banda americana, com a adição de um norueguês para assumir o microfone. É bom ressaltar: assim como os Estados Unidos, a Noruega não tem tradição no estilo. Pelo contrário, é o berço de muitas bandas de black metal e foi um país fortemente marcado pelos problemas causados pelos seguidores do estilo (o movimento Inner Circle, queima de igrejas e coisas do tipo).
Ser o melhor no mar de mediocridade (sendo condescendente com os grupos que restaram e ainda têm algum cartaz) não significa tanto assim, por isso o Kamelot está onde está porque fez mesmo por merecer. E as coisas aconteceram passo a passo, com a recompensa vindo cinco discos depois. Lançado em 2005, a obra-prima The Black Halo abriu definitivamente as portas para o Kamelot. Reverenciado pela imprensa especializada, o grupo fez mesmo uma turnê mundial (sim, passou até pelo Brasil) e finalizou o ciclo com um espetacular DVD duplo, One Cold Winter’s Night, acompanhado do CD homônimo (também duplo).
Não à toa, o novo álbum, Ghost Opera, foi lançado cercado de expectativas. Todas foram superadas. Com a efetivação do tecladista Oliver Palotai, o Kamelot voltou a ser um quinteto – Casey Grillo (bateria) e Glenn Barry (baixo) completam a formação – e mostrou que entrosamento não é problema num time tão bem azeitado. Depois da introdução Solitaire, a maravilhosa Rule the World causa o mesmo impacto de March of Mephisto, um dos clássicos do disco anterior. Nada de bumbos à velocidade da luz, mas sim um riff esperto, teclados bem sacados e um andamento empolgante andando lado a lado com um trabalho vocal em que não há cabe nenhuma crítica negativa – Khan, diga-se, é o melhor dos “pupilos” de Geoff Tate (Queensrÿche), tanto nos trejeitos vocais como em cima do palco.
Os elementos básicos do metal melódico aparecem em Up from the Ashes, Silence of the Darkness e na faixa-título, mas usados com elegância e sem exageros. Ou seja, estão lá as quebras de ritmo e um trabalho mais inteligente de guitarra. Khan aproveita para dar um show em Anthem, enquanto Amanda Sommerville ajuda a dar brilho a Mourning Star, Ghost Opera e Love You to Death (muito, muito bonita), e Simone Simons (Epica) empresta sua bela voz à ótima Blücher. A qualidade do material é tanta que até mesmo a faixa bônus da belíssima edição digipack, The Pendulous Fall, é de tirar o fôlego – e esta mesma edição vem com um DVD com o making of e o videoclipe de Ghost Opera (a música).
Resenha escrita para a edição 135 do International Magazine, de agosto de 2007, mas que acabou não sendo publicada.