Red Fang

Por Daniel Dutra | Fotos: James Rexroad/Divulgação + Divulgação

No variado cardápio da segunda edição do Maximus Festival, que acontece em São Paulo no dia 13 de maio, está o Red Fang, um dos melhores grupos da já não tão nova safra do que se popularizou chamar stoner rock. Em seu 13º ano de estrada e com quatro ótimos álbuns lançados – Red Fang (2009), Murder the Mountains (2011), Whales and Leeches (2013) e Only Ghosts (2016) –, Bryan Giles (guitarra e vocal), David Sullivan (guitarra), Aaron Beam (baixo e vocal) e John Sherman (bateria) têm a oportunidade de alçar voos maiores no Brasil e na América do Sul em geral – o quarteto de Portland, nos EUA, se apresentou em Santiago (Chile) e Rosário (Argentina) antes de uma parada com o Slayer em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E foi para falar sobre isso e mais um pouco que batemos um papo com Giles, e você confere parte dele aqui como aperitivo do que em breve estará nas páginas da ROADIE CREW. Boa leitura e um show ainda melhor.

O Red Fang tocou no Brasil em 2012, então os fãs daqui já não são mais uma surpresa. No entanto, são cinco anos e dois discos desde a primeira vez em que vocês estiveram aqui. Mudou alguma coisa que traga uma nova expectativa?
Sinto-me da mesma maneira de quando fomos aí pela primeira vez, porque é muito empolgante poder voltar a um local tão diferente e tão distante da minha vida normal. Além disso, vamos tocar no Maximus Festival, então imagino que ficaremos diante de muitas pessoas que nunca ouviram a nossa música. Isso deixa as coisas ainda mais excitantes, afinal, temos a chance não apenas de deixar nossos fãs felizes, mas também de conquistar novos. Tenho certeza de que será ótimo.

E desta vez a banda também se apresentou pela primeira vez no Chile, ou seja, creio que são passos importantes para que role uma turnê própria e maior do Red Fang em breve.
Sem dúvida! Espero que isso ajude a abrir as portas para um giro sul-americano mais extenso no futuro. Nunca tivemos a oportunidade de abranger um maior número de países e cidades, então acredito que podemos transformar isso em algo comum. Seria ótimo, porque não precisaríamos novamente esperar cinco anos para voltar (risos).

E seria ideal. Por mais que seja muito bom estar escalado no main stage de um grande festival, creio que lugares menores combinam muito mais com o Red Fang.
Concordo com você. Os shows em casas menores são mais intensos e divertidos para nós. As pessoas enlouquecem com mais facilidade, há cerveja voando pela plateia (risos), é possível sentir melhor a energia do público. Os shows menores são mais vibrantes, sem dúvida. Claro que os festivais são ótimos, mas muitas vezes eu os encaro como uma chance de abrirmos as portas, como agora, e podermos voltar para tocar em lugares menores. Para mim, isso faz sentido. Há uma demanda muito grande de energia quando saímos de nossas casas para tocar tão longe, então precisamos de um festival, especialmente de um que tenha um público selvagem, para fazer com que as pessoas se importem o suficiente para a banda voltar e lotar um clube, por exemplo. Quem sabe?

Red FangRed FangRed Fang
Aaaron Beam, John Sherman, Bryan Giles e David Sullivan (Foto: Divulgação)
Aaron Beam, David Sullivan, John Sherman e Bryan Giles (Foto: Divulgação)
John Sherman, Aaron Beam, Bryan Giles e David Sullivan (Foto: James Rexroad/Divulgação)

A propósito, o Maximus não é um festival exclusivamente heavy metal, cenário no qual o Red Fang se encaixa, e a mistura de estilos é comum em eventos assim na Europa e nos Estados Unidos. Aqui, no entanto, ainda existe certa polêmica, que neste caso envolve até o Slayer abrindo para o Linkin Park. O que acha disso?
Eu sou um grande fã de festivais que tenham essa diversidade. Assistir a shows de bandas do mesmo gênero, uma atrás da outra, pode ser bem cansativo. Fico entediado ao ouvir sempre o mesmo estilo musical, então prefiro também tocar em festivais que tenham essa mistura. Mas é curioso que você tenha levantado a questão dessa maneira, porque numa entrevista mais cedo perguntaram o que eu achava do Linkin Park, e precisei admitir que nunca havia escutado nada deles. Como tive alguns intervalos até falar com você, fui checar o som da banda e tenho de admitir também que não fiquei ofendido (risos). Não é o meu estilo de música, mas não me incomodou. É apenas diferente. Acredito que as pessoas deveriam ter a mente um pouco mais aberta e mantê-la assim, porque nunca se sabe quando você pode gostar de algo que imaginaria que detestaria ao ouvir.

Sem dúvida, mas é complicado fazer com que um público mais conservador entenda isso, principalmente quando envolve a relação de amor e ódio com o chamado new metal.
Sabe, quando eu era mais novo, de alguma maneira a música serviu como um canal para eu ter uma identidade. Fez parte da minha formação e ajudou as pessoas a me compreenderem, eu diria, porque o tipo de música que eu estivesse escutando estava relacionado às minhas emoções, ao meu estado de espírito. Mas hoje estou mais velho e vejo valor em todos os estilos. Ficar preso num mundo musical pequeno serve apenas para atrasar as escolhas que você pode fazer. Há beleza em tudo.

Você tocou num ponto importante, que é o amadurecimento. O radicalismo faz parte da adolescência, da juventude, mas com o tempo aprendemos que é mais fácil ignorar o que não gostamos. Eu não curto Linkin Park, mas se antes eu ficaria reclamando, hoje eu iria ao banheiro ou ao bar durante o show deles.
Claro, é isso mesmo! E posso dizer a você que, como estarei lá, vou assistir ao show deles (risos). Mas não me surpreenderei se muitas pessoas forem embora, até porque os shows no Brasil começam muito tarde. Fico imaginando que o Linkin Park subirá ao palco às três da manhã, porque costumo já estar na cama quando os headliners começam a tocar no seu país (risos) (N.R.: os horários foram divulgados depois desta entrevista, e a atração principal está prevista para 21h).

Obrigado pela entrevista, Bryan, e que o Red Fang realmente consiga abrir mais portas no Brasil depois do Maximus Festival. O espaço final é todo seu.
Mal podemos esperar para ver todos vocês no show, porque tenho certeza de que será sensacional. E também mal posso esperar para conhecer novos lugares e conhecer novas pessoas, então, se você me vir na rua, sinta-se à vontade para falar comigo! (risos)

Mais uma entrevista por Skype, mais uma para falar dos shows que a banda faria no Brasil. Ótima banda de stoner, o Red Fang estava prestes a voltar ao país, então conversei com Bryan Giles por telefone para preparar algo para o site da Roadie Crew. Optei por guardar algumas coisas do papo – que rolou no dia 20 de abril de 2017 e levou 29 minutos – para uma eventual publicação na revista. Como o quarteto anunciou sua terceira passagem por aqui, em março de 2018, o restante da entrevista virou um Cenário publicado três meses antes, em dezembro, na edição 227.

Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.

Brother Firetribe

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Sabe aquele hard rock melódico que atende por AOR? Especialmente, aquele que parece saído diretamente dos anos 80 e que foi trilha sonora de um monte de filmes de ação daquela época? Apresento-lhes o Brother Firetribe, banda finlandesa formada por Pekka Ansio Heino (vocal), Emppu Vuorinen (guitarra), Jason Flinck (baixo), Tomppa Nikulainen (teclados) e Hannes Pirilä (bateria). Em seu quarto disco de estúdio, o ótimo Sunbound (2017), o quinteto apenas confirmou ser atualmente um dos melhores nomes do estilo. Mas enquanto você procura o CD para conferir o trabalho do grupo, vamos passar a palavra a Heino (nota: a entrevista foi realizada no dia 6 de abril de 2017, e uma versão reduzida foi publicada na seção Cenário da edição 229 da Roadie Crew, em fevereiro de 2018. No mês seguinte, a íntegra entrou no site da revista).

Sunbound foi lançado três anos depois de Diamond in the Firepit. Nem é tanto tempo assim para os padrões atuais, mas houve alguma mudança considerável durante esse período?
Musicalmente, não há diferença. Pensando em tudo o que fizemos até hoje, sempre fizemos da mesma maneira. A começar pelo processo de composição, porque escrevemos as músicas de modo espontâneo e depois as lapidamos até que soem suficientemente boas para nós. Aliás, a questão principal sempre foi deixar a nós mesmos satisfeitos, antes de qualquer outra coisa, e tudo o que você escuta nos álbuns é 100% material que surgiu naturalmente. Não ficamos pensando e analisando demais, apenas fazemos aquilo que nos satisfaz e achamos bom. Se as músicas têm boas melodias e são pegajosas, então lançamos. Se as pessoas gostarem, é um bônus. Comparando Sunbound a Diamond in the Firepit, e para mim é difícil fazer isso, porque estou muito ligado às canções, o que vem à mente é a sonoridade do álbum. Os caras que mixaram os discos anteriores (N.R.: além de Diamond in the Firepit, de 2014, também o segundo álbum, Heart Full of Fire, de 2008), Torsti Spoof e Jari Mikkola, se tornaram os sexto e sétimo integrantes do Brother Firetribe, mas ficou claro que eles não poderiam se envolver com o novo álbum, por causa de seus próprios compromissos e situações de vida. Tivemos que procurar alguém que pudesse dar conta desse tipo de música, e nosso velho amigo Mikko Karmila foi um achado. O cara já trabalhou com bandas que vão de Rammstein a Stratovarius e Children of Bodom, e o trabalho que ele fez conosco foi incrível. A banda nunca soou tão bem, mas também acredito que fomos muito felizes no que escrevemos para Sunbound. Adoro Diamond in the Firepit, que tem ótimas canções, mas desta vez sentimos que o clima e o estado de espírito estavam tão bons que, desde o início do processo de composição, sempre que terminávamos uma música éramos motivados a começar a próxima. É por isso que o disco se chama Sunbound, porque durante todo o caminho, da composição à gravação, parecia que estávamos indo em direção ao sol, algo realmente iluminado.

É interessante que você tenha citado o background do Mikko Karmila, porque eu diria que Sunbound é mais pesado que Diamond in the Firepit. Não que seja um disco de thrash metal (risos), mas algo na linha de Help is on the Way, uma canção mais hard rock do que AOR.
Você está no caminho certo, definitivamente. Help is on the Way até poderia estar em Diamond in the Firepit ou Heart Full of Fire, talvez em False Metal (N.R.: álbum de estreia, de 2006, relançado em 2008 como Break Out), mas algumas das músicas de Sunbound têm outro alcance em relação ao que o Brother Firetribe costuma fazer. Por exemplo, Phantasmagoria e Shock, e eu não saberia explicar por que ganharam essa forma. Acredito que elas são um desenvolvimento natural do nosso trabalho.

A música do Brother Firetribe tem um clima alto astral. Parte disso vem de uma sonoridade que remete à trilha sonora de filmes de ação dos anos 80, e não à toa vocês gravaram alguns covers, como Restless Heart no novo álbum…
(rindo) O Brother Firetribe é exatamente isso. Nossas músicas são baseadas nessas trilhas sonoras, basicamente. Todas as vezes que compomos pensamos sempre se o que estamos fazendo dará um empurrão no ouvinte, porque é dar aquela vontade sair por aí correndo (risos). Adoramos as canções dos filmes daquela época, então virou uma tradição ter um desses clássicos em cada disco. Gravamos Mighty Wings, que o Cheap Trick gravou para “Top Gun” (1986); Chasing the Angels, de Mike Reno para “Águias de Aço 2” (1988); Winner Takes it All, de Sammy Hagar para “Falcão – O Campeão dos Campeões” (1987); e agora Restless Heart, de John Parr para “O Sobrevivente” (1987). Fazemos essas versões, mas também procuramos sempre a energia dessas trilhas sonoras para o nosso próprio som.

Sim, porque o Brother Firetribe conseguiu construir a sua própria trilha sonora em Sunbound, com músicas como Taste of a Champion, Give Me Tonight e Don’t Cry for Yesterday. Ou seja, o mais legal é que a banda não precisa dos filmes de Tom Cruise, Sylvester Stallone ou Arnold Schwarzenegger (risos).
E seria maravilhoso se uma delas se tornasse realmente parte de uma trilha sonora. Você mencionou Taste of a Champion, e ela tem uma história curiosa. Estávamos no meio do processo de composição quando uma agência entrou em contato com o Tomppa, porque ela tinha um roteiro para o comercial de uma grande empresa finlandesa do ramo alimentício. Era uma campanha de TV cujo enredo era baseado nos filmes da saga “Rocky”, algo realmente anos 80 e com um orçamento generoso, então a agência precisava de uma canção que encaixasse perfeitamente. O título ‘taste of the champion’ já existia, então escrevemos música e letra em torno dele, mas não era para ser algo do Brother Firetribe. No início éramos apenas eu e Tomppa bolando algo para um comercial, mas ficou tão legal que mostramos aos rapazes, e eles fizeram suas partes rapidamente para transformar a ideia numa música da banda. E o vídeo é realmente muito divertido.


Você falou que as músicas saem naturalmente, e é impressionante como refrãos, backing vocals e melodias pegajosas soam como se vocês fizessem isso exatamente desde a década de 80. Last Forever, Strangled e Heart of the Matter são ótimos exemplos. Como é a criação do som do Brother Firetribe?
E é natural assim desde o primeiro disco. Todas as canções da banda começam numa colaboração entre mim e o Tomppa. Ele traz algumas ideias no teclado, como sequências de acordes e riffs, e eu procuro criar as melodias mais grudentas que puder, tanto para a música como para a letra. Uso um violão para compor e gravo tudo no meu celular, o mesmo que estou usando para falar com você (risos). Depois mando o que fiz para o Tomppa, aí começamos a trabalhar juntos para arranjar as músicas e suas estruturas básicas. As demos que fazemos têm apenas meus vocais, teclados e uma bateria programada, porque o restante dos rapazes escreve e acrescenta suas partes. No geral, o grande lance é que as canções deem liga do início ao fim, então nos preocupamos em fazer com que ela seja contagiante começando pelo verso, passando pela ponte e terminando com o refrão.

O que acontece com Shock, uma balada mais para o lado romântico como aquelas que ouvíamos nos anos 80. Sem querer soar repetitivo, pois acho mesmo que esse toque é o diferencial.
Sim, e é legal porque nunca havíamos feito algo como Shock. Ela é mesmo diferente, e sua introdução é toda do Tomppa. Fiquei entusiasmado quando ouvi, então comecei logo a trabalhar nas melodias e arranjos. O que tinha em mente era levá-la na direção de canções como Give in to Me, do Michael Jackson, e Flesh for Fantasy, do Billy Idol. Esse era o clima que buscamos quando a compusemos, e acredito que alcançamos um resultado muito bom. Adoro essa música.

Aproveitando, gostaria de falar de duas das minhas favoritas em Sunbound. A primeira é Big City Dream, uma música feita para grandes arenas e que, para mim, pode ser a nova I Am Rock do Brother Firetribe.
(rindo) Uau! Obrigado! Também adoro Big City Dream, e devo dizer que ela ganhou vida depois da mixagem final. Até então achávamos que era uma boa canção que começou no violão, mas que era algo básico demais para nós. No começo, não sabíamos como fazer um arranjo para ela, então trabalhamos muito duro para fechar todos os arranjos. Quando a terminamos, vimos que ela boa o suficiente para estar num disco do Brother Firetribe, mas foi apenas depois de mixada, e somente depois que escutamos todo o álbum pronto, que pensamos: “Puta merda! Big City Dream pode ser um hit!” Foi o nosso terceiro single, mas poderia ter sido o primeiro.

E a segunda é Phantasmagoria, que você mesmo mencionou no início. Ela é bem diferente das outras 11 faixas do disco, um cruzamento entre o melodic rock e o épico.
Ela tem uma história interessante, porque surgiu quando estávamos de férias, como banda mesmo. Estávamos em Miami, tomando gin tônica na varanda de um bar, quando Jason mostrou uma de suas demos para nós. Ele puxou o celular e disse: “Escutem isso, rapazes.” Era uma melodia que havia gravado na guitarra. Achei sensacional e pedi que enviasse logo para mim, porque eu começaria a trabalhar nela assim que voltasse para Finlândia. Quando cheguei em casa, abri o arquivo para ouvir e percebi que não era a melodia que havia pedido. Pensei “Que porcaria é essa? Isso aqui é muito ruim, não é o que ouvi” (risos), então tive que vasculhar todas as demos que ele havia enviado antes das férias. No fim das contas, encontrei o arquivo com a melodia que Jason mostrou em Miami e fiquei animado novamente. O que ele fez é a melodia do refrão de Phantasmagoria, e compus o restante da música no violão usando esse trabalho como base ao lado do Tomppa. Escrevi a letra em 20 minutos, dentro de um trem, e depois fizemos a demo exatamente da mesma maneira, apenas com vocal, violão, teclados e bateria programada para que o restante da banda fizesse a sua parte. Mas até o último minuto não sabíamos o que fazer com Phantasmagoria, uma boa música que ainda sentia falta de algo para levá-la a outro nível. Foi aí que surgiu a ideia de um arranjo de cordas, por isso chamamos Torsti Spoof, que atualmente faz arranjos musicais para filmes e tem belíssimos trabalhos no currículo. Ele escreveu um arranjo de orquestra maravilhoso, exatamente o que faltava para Phantasmagoria se destacar. O que Torsti fez foi realmente dar vida à canção.

Vocês regravaram For Better or for Worse no formato acústico como bônus para edição japonesa de Sunbound. É uma canção antiga (N.R.: a original está em Diamond in the Firepit), mas a nova versão ficou com cara de hit para as rádios. Foi essa a intenção?
É muito bom ouvir isso. Obrigado! Havíamos esquecido que o Japão precisa de material exclusivo, então tivemos de tirar uma música do álbum para deixar como bônus do CD japonês, e a escolhida foi Don’t Cry for Yesterday. Ainda assim, não foi o suficiente, só que não tínhamos mais nenhuma canção nova. Como eu toco For Better or for Worse numa versão acústica nos meus shows solo, sugeri aos rapazes que poderíamos fazer o mesmo, acrescentando percussão e algumas outras coisas. E ficou muito bom, bem relaxante e alto astral. Apesar de ser uma regravação, acredito que é algo especial para os fãs.


Indelible Heroes é mais do que uma homenagem a Lemmy, Prince e David Bowie, então a escolha para ser o primeiro single e videoclipe foi ideal. Como surgiu a ideia?
Cara, 2016 foi um ano muito triste por causa da quantidade de ícones que nós perdemos. São pessoas maiores que a vida, porque se você analisar o que acontece hoje em dia no mundo e na música como negócio, ninguém tem mais a oportunidade de se tornar tão grande e ser uma lenda. Não acontece mais isso. O que esses artistas fizeram foi algo único, e eu nunca fiquei pensando que um dia poderiam morrer, pois eles estavam sempre presentes, mas de repente alguns deles começaram a ir embora. Isso realmente mexeu comigo. Quis fazer um tributo para mostrar meu respeito por eles e pelo que deixaram para nós. Acredito que o resultado ficou bem legal.

Sem dúvida, e você meio que respondeu a minha próxima pergunta. A morte de Lemmy ainda mexe com as pessoas, por exemplo, e será sempre assim. É natural que nossos ídolos vão embora, mas também assustador.
Exatamente! Essa é a questão, porque quem vai ficar para dar continuidade ao que eles fizeram? Quem é capaz disso? Ninguém. Nunca haverá alguém como Lemmy, com o status que ele tinha. Claro, não é apenas o Lemmy no mundo do rock e do heavy metal, mas todo mundo o conhece. David Bowie? Prince? O que esses caras fizeram na música foi especial e sem igual, e ninguém jamais vai conseguir duplicar.

E vocês regravaram Hungry for Heaven, música de outra lenda, Ronnie James Dio. Mas o mais interessante é que a canção se encaixa perfeitamente no estilo do Brother Firetribe.
Eu nem lembrava mais disso até o momento em que você trouxa à tona. (risos) Hungry for Heaven foi gravada porque alguém havia nos convidado para participar de um tributo ao Dio, mas não me recordo se foi antes ou depois de sua morte…

… Foi antes, em 2008.
Isso! Você sabe melhor do que eu (risos). Deveria ter entrado nesse tributo, mas não sei o que aconteceu (N.R.: a versão acabou lançada no EP Heart Full of Fire… And Then Some, no mesmo ano). Sabe, Ronnie foi o melhor vocalista de heavy rock que já existiu. Tenho enorme respeito por ele e sou grande fã do Rainbow e da sua própria banda. E foi o que você falou, tínhamos que escolher uma canção que tivesse a ver com o Brother Firetribe. Com todos aqueles teclados, Hungry for Heaven foi a escolha ideal.


Já que falamos de heróis, e você mencionou a importância do Dio como vocalista, quais são suas influências? Quem o inspirou e ainda o inspira?
Cresci ouvindo todas as grandes bandas de hard rock e AOR dos anos 70 e 80, então são elas as minhas maiores influências. Journey, por exemplo, e antes de qualquer outro tenho de citar Steve Perry, porque ele é o melhor de todos. Ninguém consegue superá-lo. Mas a lista continua com Lou Gramm e Foreigner, Joe Lynn Turner, que tem uma voz incrível, David Coverdale e vários nomes óbvios. Mas há alguns mais obscuros, como John Waite, que gravou com o Bad English. Adoro a maneira como ele canta. Não é aquele lance heroico do heavy metal, mas há algo no jeito como ele interpreta as letras, parece que está falando através da música de um jeito bem melódico. Acho maravilhoso. Sou um fã de música em geral, então não me limito apenas ao rock. Escuto muito soul antigo e Frank Sinatra, por exemplo, por isso procuro pegar um pouco de cada coisa para criar um estilo próprio.

O Brother Firetribe tem shows agendados para abril, vai participar de festivais no verão europeu e confirmou algumas datas para o fim do ano. Alguma chance de sair da Europa?
Não no momento, mas estamos procurando por todas as oportunidades possíveis. O Brother Firetribe nunca teve tantos agendados como em 2017, então poder não apenas tocar na Finlândia e em alguns festivais de verão é incrível. Temos uma turnê europeia programada para começar em outubro, então este ano está basicamente cheio. Mas existe alguma chance de novas datas no fim do ano e em janeiro de 2018, por isso qualquer coisa é possível se houver uma demanda. Queremos tocar em qualquer lugar.

E com o Nightwish tirando um período sabático (N.R.: todo o ano de 2017, voltando aos palcos apenas em março de 2018), talvez fique mais fácil ir a outros lugares, como o Brasil, porque o Emppu estará livre.
Absolutamente! Nós temos um ótimo feedback do Brasil, recebemos pedidos de fãs para tocarmos aí, e eu adoraria que isso acontecesse. Adoraria levar nossa música ao vivo para vocês, acredite.

E apesar de as duas bandas serem completamente diferentes, musicalmente falando, o Nightwish é muito popular por aqui. Isso ajuda, além do fato de que Sunbound foi lançado no Brasil.
Sem dúvida. Na verdade, não tem como negar que ter o guitarrista do Nightwish na banda ajuda bastante em qualquer lugar (risos).

Por último, já são oito anos desde o lançamento de Circus Colossus (2009). Como está a situação do Leverage?
Obrigado por perguntar! Cara, já passou todo esse tempo? (risos) Bom, não nos separamos, não sentamos para conversar e decidimos acabar com a banda, mas o que acontece é que colocamos tanto esforço em Circus Colossus, passamos um ano e meio trabalhando nele e fizemos o nosso melhor álbum. Ficamos muito orgulhosos dele e estávamos pronto para trabalhar ainda mais duro depois do lançamento, mas a gravadora (N.R.: Spinefarm Records) praticamente matou o disco ao não fazer absolutamente nada para promovê-lo. Uma situação comum, mas que nos deixou completamente desmotivados. Todos nós fomos fazer outras coisas, e é o que temos feito desde então. Ainda mantenho contato com todos os rapazes, porque os adoro. São músicos incríveis. Podemos voltar a fazer algo juntos um dia, quem sabe?, mas não num futuro próximo. (N.R.: o Leverage tem três discos – Tides, de 2006; Blind Fire, 2008; e Circus Colossus, 2009 – e um EP – Follow Down That River, 2007 – lançados. A banda é completada por Torsti Spoof e Tuomas Heikkinen, guitarras; Pekka Lampinen, baixo; Marko Niskala, teclados; e Valtteri Revonkorpi, bateria).

Obrigado pela entrevista, Pekka, e sinta-se à vontade para uma mensagem final.
Eu é que agradeço pela oportunidade de divulgar o Brother Firetribe. Para mim, é realmente significante estar na Finlândia e poder falar ao telefone com você no Brasil, saber que os fãs brasileiros estão prestando atenção no nosso trabalho. Isso é notável, mesmo. Então, para todos vocês que acompanham o Brother Firetribe, quero dizer que estamos mais do que prontos e dispostos a tocar no seu país em algum momento. Assim como nós estamos fazendo, cruzem os dedos.

Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.

Joe Satriani

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Ok, você já sabe que Joe Satriani foi professor de guitarra de Steve Vai, Alex Skolnick (Testament), Kirk Hammett (Metallica) e Larry LaLonde (Primus, Possessed), entre outros. E sabe também que o nova-iorquino de 60 anos é um dos maiores nomes do instrumento em todos os tempos – se você passou as últimas três décadas em outro sistema solar, pare tudo e vá ouvir Surfing With the Alien, obra-prima lançada em 1987. E Satriani desembarcou novamente no Brasil, desta vez para divulgar seu último disco, o ótimo Shockwave Supernova (2015), em três cidades: São Paulo (dia 7 de dezembro), Curitiba (9) e Porto Alegre (11). Diga-se, acompanhado de uma superbanda formada por Mike Keneally (teclados e guitarra), Bryan Beller (baixo) e Marco Minnemann (bateria). Aproveitamos para bater um papo com o mago das seis cordas, que adiantou detalhes das apresentações, que você fica sabendo aqui, e um pouco mais, detalhes que em breve estarão nas páginas da ROADIE CREW. Boa leitura e, claro, bom show!

Você chega ao Brasil para três shows, dando sequência a um relacionamento que começou a construir com os fãs brasileiros em 1995. Durante esses poucos mais de 20 anos, trouxe até mesmo o G3. Então, depois de tanto e tantas turnês por aqui, qual a expectativa?
Ah, de nos divertirmos! Isso porque sempre que estive no Brasil foi fantástico encontrar com os fãs. Já fiz turnês passando por seis ou sete cidades, em outra oportunidade toquei em apenas duas, mas pelo menos desta vez poderei me apresentar em três. As viagens ao redor do mundo nunca são iguais, muitas vezes elas são caóticas, então aproveito para me desculpar por não podermos ficar mais tempo. Mas estou feliz com a chance de levar a Surfing to Shockwave Tour ao Brasil.

Aproveitando que você tocou no assunto, o Rio de Janeiro, onde vivo, ficou fora mais uma vez. Conheço fãs que obviamente reclamaram, mas vão viajar para vê-lo porque sabem que isso não é culpa sua.
Sim, e nós tentamos tocar no Rio. Sempre digo aos fãs que precisamos ser convidados. Esse é o elemento-chave. Não podemos simplesmente aparecer na sua cidade e exigir que uma casa abra as suas portas para nós (risos). Temos de esperar que um promotor local nos chame para tocar. Algumas vezes esse convite não acontece, o que pode estar relacionado à competição de mercado na cidade, com muitas bandas já agendadas, ou mesmo à falta de lugar para tocar. É complicado, na verdade. Não sei exatamente como as nossas agências trabalham, mas tenho certeza de que o trabalho de organizar turnês é o mais difícil de todos.

Dito isso, os shows no Brasil serão no esquema ‘An Evening With’, com dois sets separados por um intervalo de 15 minutos?
Essa é uma boa pergunta (risos). Tenho certeza de que isso tem a ver com as casas de show, quer dizer, da ideia que cada uma tem para como podemos fazer nosso show (N.R.: em São Paulo, Satriani se apresenta no Espaço das Américas; em Curitiba, no Net Live; e em Porto Alegre, no Teatro Araújo Viana). Não podemos simplesmente subir ao palco e fazer o show da maneira que acharmos melhor. Acredite ou não, temos de levar em conta o horário que o local precisa fechar, as pessoas que lá trabalham, o esquema de transportes da cidade. Quando tocamos no Reino Unido, por exemplo, levamos em consideração os horários dos trens. A mesma coisa no Japão, onde a maioria das pessoas usa transporte público para ir aos shows e depois voltar para casa. Já nos Estados Unidos usa-se pouco o transporte público, então podemos fazer um set maior, tocar por mais tempo. Muitas vezes também somos surpreendidos, assim que chegamos ao local, com a informação de que outra banda se apresentará antes de nós. Realmente não sei responder agora, mas posso dizer que tocaremos por duas horas. Pelo menos, porque pode ser que as casas queiram que toquemos os dois sets. Vamos esperar para ver.

Joe SatrianiJoe SatrianiJoe SatrianiJoe Satriani
Foto: Divulgação
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De qualquer maneira, andei conferindo alguns setlists recentes e notei coisas interessantes. Há os clássicos como Summer Song, Always With Me, Always With You e Surfing With the Alien, músicas novas e outras que não costumam estar sempre presentes, como Flying in a Blue Dream e Big Bad Moon. É o que os fãs brasileiros podem esperar?
Eles podem esperar muita coisa de Shockwave Supernova, mas também músicas de um catálogo de 30 anos que nunca ouviram antes, porque vamos voltar até 1986, quando lancei meu primeiro álbum, Not of This Earth, e viajar até o trabalho mais recente. Geralmente metade da audiência nos shows nunca me viu tocar ao vivo e talvez parte dela nunca mais volte a assistir a um show meu, então é importante que eu toque aquelas músicas que os fãs disseram aos iniciantes que são as melhores, as que eles mais amam. Assim, preciso honrar esses fãs. No entanto, divido o setlist em três categorias: as novas músicas que quero tocar, depois as músicas que são as favoritas dos fãs e que os novatos precisam ouvir e ver ao vivo, então as músicas que deixam os fãs surpresos, uma vez que nunca as toquei ao vivo ou não as toco há dez, 15 ou 20 anos.

E assim todos saem satisfeitos, sem dúvida. Obrigado pelo papo, Joe, e o espaço final é todo seu.
Ah, legal. Tenho de agradecer aos fãs brasileiros por serem ótimos e pessoas maravilhosas todas as vezes que visito o seu país. Para mim, é muito especial ter essa recepção sempre que vou ao Brasil, por isso espero que vocês não passem a ter medo de nós por causa do presidente que acabamos de eleger (risos). Políticos vêm e vão, então precisamos mantê-los na linha porque nós somos o mais importante. Sei que, assim como os Estados Unidos, o Brasil sempre se encontra no meio de problemas políticos e vem enfrentando vários recentemente. Mas vamos todos superar isso.

A entrevista foi realizada no dia 11 de novembro de 2016, para divulgar a turnê que Joe Satriani fez no Brasil no mês seguinte. O tempo estipulado era de 15 minutos, então o material seria apenas para o site da Roadie Crew. Mas o bate-papo com o guitarrista rendeu bem, e a conversa se estendeu por 28 minutos. As perguntas e respostas extras acabaram virando um Cenário, publicado na edição 223 da revista, em agosto de 2017.

Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.

Bruce Kulick

Por Daniel Dutra | Fotos: Rick Gould/Divulgação + Divulgação

O amigo leitor tem noção do que significa KISS Army? E não falo do sentido literal. Não é apenas algo numeroso, é uma questão de devoção. Uma devoção ilustrada pela empolgação com a iminente vinda de Bruce Kulick ao Brasil, desta vez para se apresentar em mais cidades, para mais fãs. O ex-guitarrista em 90% da história do KISS sem maquiagens tem no currículo hits e antologias nos quatro discos que gravou no período em que esteve ao lado de Paul Stanley e Gene Simmons, de 1984 a 1996 – Asylum (1985), Crazy Nights (1987), Hot in the Shade (1989) e Revenge (1992), sem contar o subestimado Carnival of Souls, lançado em 1997, quando o quarteto já estava de volta com sua forma original. Em uma carreira que já ultrapassou quatro décadas, ele coleciona outros grandes discos e outras bandas importantes, mas será nos shows no início de março – Porto Alegre (3), Curitiba (4), São Paulo (5) e Rio de Janeiro (6) – que mostrará por que é tão querido pelos fãs daquele grupo que é o mais quente do mundo. E neste papo com a ROADIE CREW, ele mostrou que a recíproca é verdadeira.

Você já esteve no Brasil antes com o KISS e também sozinho. Agora volta para quatro apresentações passando por cidades onde nunca esteve. Qual a expectativa?
É sempre muito grande porque não costumo ir ao Brasil com tanta frequência, e os fãs são realmente apaixonados pela minha fase no KISS e acompanham minha carreira até hoje. Estive aí pela última vez em 2013, mas novamente apenas em São Paulo. Santos também estava no roteiro, mas era um cruzeiro. Eu estava em alto mar, não necessariamente em cidades brasileiras. Foi bastante divertido, mas saber que agora tocarei em lugares novos é realmente empolgante. Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro, porque eu sempre quis conhecer o Rio! Sei que o KISS tocou na cidade, mas foi com Vinnie Vincent. Voltou depois, mas com a atual formação, só que o show com Vinnie foi o maior da banda (N.R.: dia 18 de junho de 1983, no Maracanã, para um público estimado em 180 mil pessoas). Claro, nunca vou esquecer meu show com o KISS no Monsters of Rock, em 1994, em São Paulo. Há um vídeo muito bom daquela noite (N.R.: foi o DVD bônus do Kissology Volume 3: 1992-2000 na versão da rede americana Best Buy), e lembro que estava entusiasmado por poder fazer parte dessa história. E como nessa e em todas as viagens seguintes ao Brasil, meus fãs e amigos aí sempre foram incríveis. Vocês gostam de verdade do meu trabalho, então será bem divertido.

E na América do Sul você passará por países que nunca visitou, como o Paraguai, certo?
Sim! Meu empresário, que estará comigo na turnê, perguntou a nossos amigos na Argentina se havia outros lugares onde eu poderia tocar, e o Paraguai foi um deles. Não sei muita coisa sobre o país, mas sei que também tem uma base muito forte de fãs do KISS. Então acho que será bem interessante.

Além de músicas do KISS, os fãs brasileiros podem esperar por material da sua carreira solo, do Union ou até mesmo do Grand Funk?
O Grand Funk é a minha banda principal e me mantém bastante ocupado. Temos shows todos os meses, então é sempre difícil encontrar espaço na agenda para turnês como esta que farei na América do Sul. Além disso, não posso me dar ao luxo de ter um grupo americano e falar: “Caras, vamos para o Brasil!” Minha banda de apoio será o Parasite (N.R.: grupo gaúcho que conta com Felipe Piantá, Fernando André dos Santos, Erico Soares e Patrick Vargas), e a situação é tão excitante para mim quanto para ela. É um cover do KISS que poderá tocar com um professor em matéria de KISS, se posso dizer assim, e eu tenho o privilégio de dividir o palco e fazer uma jam com esses músicos. Neste caso, não queria dar a eles um fardo ao chegar e dizer: “Ok, aprendam estas músicas do Audiodog, Transformer e BK3 e mais isso aqui do Union”, especialmente da maneira rápida como a turnê foi organizada. Eu sei que os fãs conhecem meu trabalho solo e gostariam de ouvir algo dele, mas nesta situação prefiro me concentrar em tocar material da minha era no KISS, especialmente para estes mesmos fãs. Ou seja, esse período será a parte mais importante do setlist.

E não é a primeira vez que você usa bandas locais para lhe acompanhar, então creio que já esteja acostumado. Mas no geral, além dessa experiência de tocar especificamente com um grupo cover do KISS, qual a sua opinião sobre os músicos brasileiros?
Há vários músicos incríveis no Brasil, sem dúvida. Sempre fiquei impressionado com o que vi nas minhas passagens pelo país. Mas o mais legal é que com o KISS o mais importante não é ser um virtuoso, mas o que conta é a paixão pela música da banda. Eu realmente curto tocar com esses músicos mais jovens, e também será interessante desta vez. Nunca toquei com o Parasite e não me recordo se conheço os integrantes do grupo, mas já vi tributos muito bons aí.

Um serviço para o fã: você trará merchandising para vender nos shows? Porque, acredite, é uma informação importante para os fãs, principalmente no atual momento. Eu, por exemplo, gostaria muito de ter o Got to Get Back (2015), do KKB, na coleção, mas hoje está complicado comprar online. O dólar está bem valorizado aqui, a taxa de importação é absurda e ainda temos de esperar uma eternidade para o CD chegar.
Sim, farei o que for possível para levar meus produtos comigo, porque sei exatamente o que você está falando. É um problema enviar material para a América do Sul, o que sempre me deixou bastante decepcionado.

Bruce KulickBruce KulickBruce Kulick
Foto: Rick Gould/Divulgação
Foto: Rick Gould/Divulgação
Foto: Divulgação

E espero que sobre algo, porque o Rio de Janeiro é a última parada da turnê (risos).
Então eu vou guardar um CD para você (risos).

Como BK3 foi lançado há quase seis anos, você já está pensando ou mesmo trabalhando num novo disco solo?
Ótima pergunta, porque tem sido muito complicado pensar no que quero fazer para o próximo. Tenho trabalhado em algumas músicas e espero gravar alguma coisa ainda este ano. Espero conseguir me comprometer com isso, porque é incrível o quão ocupado eu fico apenas viajando com o Grand Funk e preparando uma turnê como a que farei no Brasil. Claro, faço muitos trabalhos como músico contratado e anda sou conselheiro do Rock and Roll Fantasy Camp (N.R.: evento mensal que, desde 1999, reúne vários astros do Rock para compor e gravar com os participantes, que no fim do período de seis dias sobem ao palco para uma jam com os ídolos). Mas quero realmente gravar um novo álbum. Espero fazer bastante progresso este ano para lançá-lo em 2017.

>Gostaria de abordar outro lado seu como guitarrista. Seu trabalho no violão é fantástico, como nos solos de Forever, do KISS, e de Save Me, num tributo ao Queen (N.R.: Dragon Attack, de 1997), e em todo o MTV Unplugged. Alguma vez você já pensou em lançar algo com mais ênfase na parte acústica?
Já me perguntaram isso antes, e muito obrigado pelos elogios e por gostar dessa parte do meu trabalho. Eu exercitei um pouco mais esse meu lado acústico quando contribuí com o trabalho Sci-Fi do Dreams in the Witch House ano passado, e a música está no iTunes (N.R.: chama-se The Refugee of Penitence, e Bruce já gravou outras três músicas com o projeto inspirado na obra de H.P. Lovecraft: Unholy Mutation, single lançado em 2016, e Signum Crucis e Nothing I Can Do, do álbum A Lovecraftian Rock Opera, de 2013). Tenho certeza de que gravarei algo acústico no meu próximo disco, mas não sei se gostaria de gravar um álbum inteiro assim. Mas é muito legal que as pessoas notem esse lado e gostem dele.

Você está com o Grand Funk desde 2000. Como é, depois do KISS, fazer parte de outra banda icônica nos Estados Unidos?
Já são 17 anos fazendo shows, e isso é notável. O Grand Funk é uma das bandas clássicas de rock que tem muitos hits incríveis, e é ótimos poder tocá-los ao vivo. Além disso, temos músicas mais novas (N.R.: Bottle Rocket e Lightning and Thunder) que Max (Carl, vocal e guitarra) escreveu com Don (Brewer, bateria). Claro, Don e Mel (Schacher, baixo) estão lá, eu toco guitarra e faço todos os solos, e temos um grande tecladista, Tim Cashion. Lamento que nosso trabalho não seja mais internacional, porque temos feito basicamente a América do Norte, mas é uma banda muito talentosa. Temos uma ótima química e fazemos um grande show. Gostaria de ir com o Grand Funk à América do Sul, pois tenho certeza de que vocês adorariam.

Posso entender por que o Grand Funk não lança um novo disco de estúdio, mas um CD e um DVD ao vivo seriam uma ótima pedida.
Olha, nos cobraram isso quando fizemos o Legends of Rock Cruise, em janeiro deste ano, mas realmente depende do Don e do Mel, que cuidam da parte dos negócios no Grand Funk. Don disse no navio que quer gravar e lançar um DVD ao vivo, e desde então não ouvi mais nada a respeito. Mas como o cruzeiro acabou não tem nem um mês, vamos ver o que acontece (risos). Sei que ele tem muito orgulho do que temos feito, então pode ser que isso se torne realidade.

Muito obrigado pela entrevista, Bruce. Se quiser acrescentar algo, o espaço é todo seu.
É uma longa viagem até o Brasil, e houve muito trabalho com vistos, marcação de voos e toda a preparação para a turnê. Mas os meus fãs e amigos brasileiros são muito especiais para mim. É um orgulho fazer parte de suas vidas, e espero vê-los nos shows.

Sem dúvida. Nos vemos no início março.
E lembre-se que vou guardar um CD para você no show do Rio (risos).

A entrevista foi realizada no dia 18 de fevereiro de 2016, por Skype. E foram 36 minutos de bate-papo não apenas para divulgar o então iminente retorno de Bruce Kulick ao Brasil, onde ele se apresentou tendo como banda de apoio o tributo Parasite. Na pauta estava um pouco da carreira do guitarrista, principalmente o Playlist que foi publicado na edição 209 da Roadie Crew, em junho do mesmo ano. O conteúdo acima foi diretamente para o site da revista.

Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.

Robert Plant

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

Não tem jeito. Enquanto estiver produzindo, em estúdio ou num palco, Robert Plant vai carregar o estigma de ser o vocalista do Led Zeppelin. Não chega a ser uma maldição, obviamente, pois estamos tratando da maior banda de rock de todos os tempos… Bom, eu falo a mesma coisa quando escuto qualquer disco dos Beatles, então digamos que há um empate técnico. Mas a visão no Citibank Hall naquela noite de terça-feira foi a mesma de qualquer show de Paul McCartney: muitas camisas do grupo que o alçou ao estrelato e uma óbvia expectativa por músicas que o fizeram ícones. No entanto, enquanto Sir Paul ainda mantém os clássicos dos Fab Four em versões muito próximas ou iguais às originais – ajudado por um material de reprodução mais fácil, é bem verdade –, Plant teve de reinventar os seus ao longo dos anos.

É com este pensamento que o fã precisa encarar seu ídolo, porque foi exatamente assim que o vocalista se apresentou para cerca de cinco mil fãs no Rio de Janeiro antes de rumar para o Lollapalooza. Na abertura, a cantora/guitarrista St. Vicent teve o privilégio de pisar no mesmo palco que Plant. Apenas e tão somente isso, porque a americana – cujo nome verdadeiro é Anne Clark – e sua banda fizeram um show simplesmente horroroso. Há quem chame aquilo de art rock, mas que arte mal feita, meus caros coleguinhas antenados e modernos. Melhor sorte da próxima vez.

Uma espiadinha nos set lists recentes mostrou que Plant abria os serviços com Babe I’m Gonna Leave You, e coube aí a primeira e única surpresa da noite. A plateia explodiu ao primeiro verso de No Quarter. Agradável surpresa, diga-se, e o vocalista e sua turma – o Sensational Space Shifters formado por Justin Adams e Liam “Skin” Tyson (guitarras), Billy Fuller (baixo), John Baggott (teclados), Dave Smith (bateria) e Juldeh Camara (kologo e ritti, instrumentos de corda) – passaram a alternar canções da carreira solo com o que os fãs realmente queriam ouvir. Ou seja, qualquer coisa do Led Zeppelin.

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Plant começou a privilegiar o bom Lullaby and… The Ceaseless Roar (2014) logo de cara, com a bela Rainbow, que deu sequência a uma Black Dog bem mais arrastada, com uma lacuna no antológico riff de Jimmy Page que dividiu opiniões. Uma vez mais, é a maneira como o vocalista se sente confortável para cantar músicas que gravou quando estava na faixa dos 20 anos. E é desta maneira que ele mostra o grande cantor que ainda é, a despeito do efeito do tempo na garganta. A introspectiva e viajante Embrace Another Fall antecedeu a espetacular Going to California, por razões óbvias em sua versão original, digamos assim. Por isso mesmo capaz de arrancar lágrimas dos olhos de vários dos marmanjos lá presentes.

Little Maggie, com seu acento sulista, bem country mesmo, teve como destaque Juldeh Camara e seu ritti, um violino artesanal africano de apenas uma corda. Interessante, principalmente antes de o show entrar na sua metade rock’n’roll com The Lemon Song e a excelente (e com momentos realmente pesados) Tin Pan Valley, de Mighty ReArranger (2005) – foi a única música própria de Plant que não saiu de seu mais recente trabalho solo. What is and What Should Never Be manteve o esquema (New) Led Zeppelin, enquanto Fixin’ to Die, cover de Bukka White registrado em Dreamland (2002), pavimentou o caminho até o blues de Hoochie Coochie Man, o clássico de Willie Dixon que introduziu o segundo momento mais aguardado da noite. E foi interessante notar que Plant começou a cantar os primeiros versos de Whole Lotta Love na própria Hoochie Coochie Man sem que grande parte da plateia notasse. Foi o preciso que o riff a anunciasse para que houvesse o previsível frenesi.

Who Do You Love, de Bo Diddley, foi inserida no clássico do Led ao mesmo tempo em que Plant fez todo o Citibank Hall levantar as mãos para ficar acenando, numa coreografia funcional. O vocalista, aliás, arriscou algumas palavras em português – “E aí, galera?”, por exemplo –, mas não perdeu tempo jogando conversa fora. Foi econômico ao apresentar a banda e também ao reclamar do trânsito carioca com uma ponta de bom humor – “É muito bom voltar a sua bela cidade e a seu trânsito maravilhoso.” Depois do segundo momento mais aguardado, o bis reservou o que todos esperavam, queriam, ansiavam – tanto que Nobody’s Fault But Mine, que seria a segunda e igualmente agradável surpresa da noite, acabou limada: Rock nd Roll, a música, o hino, o clássico dos clássicos numa versão irreconhecível em seu início, mas que ainda assim levantaria até defunto com seu “lonely, lonely, lonely, lonely time” cantado pelo público com derradeira animação. No resumo da ópera, não tivemos um espetáculo inesquecível, mas o show de um ídolo que sabe viver do passado.

Set list
1. No Quarter
2. Rainbow
3. Black Dog/Arbaden (Maggie’s Baby)
4. Embrace Another Fall
5. Going to California
6. Little Maggie
7. The Lemon Song
8. Tin Pan Valley
9. What is and What Should Never Be
10. Fixin’ to Die
11. Hoochie Coochie Man/Whole Lotta Love/Who Do You Love
Bis
12. Rock and Roll

Steve Hackett

Por Daniel Dutra | Fotos: Lee Millward/Divulgação

Revisitado e estendido. Um dos guitarristas mais importantes da história do rock desembarca no Brasil no início de março para mostrar muito mais do que as raízes de sua carreira musical. Steve Hackett chega com a missão de saciar a sede dos fãs da – para a esmagadora maioria deles, acredite – melhor fase do Genesis, um dos ícones do rock progressivo. Com shows no Rio de Janeiro (dia 8, no Citibank Hall) e em São Paulo (10, também no Citibank Hall), o músico apresentará a Genesis Extended Tour, uma continuação de Genesis Revisited Tour, o giro ao redor do mundo respaldado pelos discos Genesis Revisited II (2012) e Genesis Revisited II: Selection (2013) – e que gerou também o ao vivo Genesis Revisited: Live at the Royal Albert Hall (2014) em DVD, Blu-ray e CD duplo.

“Devido ao sucesso dos shows, estamos estendendo tanto as datas quanto o conceito da turnê. Vamos apresentar um repertório inteiro de Genesis, com as músicas favoritas, como The Musical Box, Dancing With the Moonlit Knight e Supper’s Ready, e somá-las a outros clássicos que são sempre pedidos e a plateia merece escutar… Estou muito animado”, explicou Hackett, que em seguida levará o espetáculo para Argentina e Chile. Uma chance única de viajar no tempo através de muitas das joias contidas em álbuns seminais como Nursery Cryme (1971), Foxtrot (1972), Selling England By the Pound (1973), The Lamb Lies Down on Broadway (1974) e A Trick of the Tail (1976), do período em que integrou a banda inglesa (de 1970 a 1977).

E o melhor: com a guitarra original que deu brilho ao clássico material – Nad Sylvan (vocal), Lee Pomeroy (baixo), Roger King (teclados), Rob Townsend (sax, flauta e percussão) e Gary O’Toole (bateria, percussão e vocais) completam o grupo que ajuda a dar vida às canções. Em bate-papo com a ROADIE CREW por telefone, diretamente de Londres, Hackett falou da expectativa por sua volta ao Brasil, mostrou empolgação com o novo álbum de inéditas (Wolflight) que está para chegar às lojas e, com a singular e agradável cortesia britânica, também fez um resumo de sua rica carreira, incluindo a ligação com nosso país. Você sabia que ele gravou a faixa-título do disco Voo de Coração (1984) do inglês radicado no Brasil Ritchie? Sim, aquele do hit Menina Veneno. Ou que colaborou com Sergio Herval, baterista e vocalista do Roupa Nova? Sim, isso e muito mais.

Daqui a poucas semanas você chega ao Brasil para realizar o sonho de muitos fãs do Genesis, então a pergunta é inevitável. Qual a sua expectativa?
Estou realmente ansioso para tocar no Brasil novamente, pois faz muito tempo que estive aí pela última vez. Já são dez anos (N.R.: um pouco mais do que isso, pois o guitarrista se apresentou em São Paulo no dia 10 de julho de 2001), e o mais legal é que desta vez, além de São Paulo, irei tocar na sua cidade. Faz muito tempo que não vou aí, você sabe (N.R.: com o Genesis em 1977), mas sempre tive grandes momentos no Rio de Janeiro. Os brasileiros são bem conhecidos no mundo por sua paixão pela música, e espero que a plateia também se sinta assim agora, que seja tão entusiasmada como daquela última vez, quando mostrou sua paixão pela música do Genesis.

Você está com um novo disco prestes a ser lançado, mas estendeu a turnê em que passa a limpo a sua era no Genesis. Teremos alguma mudança em relação à primeira parte? O que os fãs podem esperar?
Desta vez levarei ao Brasil realmente apenas o espetáculo Genesis Revisited, e todos poderão ouvir versões autênticas dos clássicos. Algumas músicas têm solos mais extensos, ganharam algumas peculiaridades, porque são outros músicos ao meu lado. Mas se os fãs assistiram ao DVD gravado no Royal Albert Hall, então eles podem ter uma boa noção do que irão presenciar. Será muito similar, contando a história daquela época do Genesis, com os clássicos tocados da maneira como eles gostam de ouvir. E hoje tão bem tocados como no passado.


Você passou os últimos nos regravando antigas pérolas do Genesis e levando o material para o palco, tanto para antigos admiradores como também para uma nova geração de fãs. Isso o influenciou na hora de compor o novo material?
Com certeza! E muito mais do que isso. Peter Gabriel, Tony Banks, Mike Rutherford e eu influenciamos uns aos outros quando começamos a tocar juntos, porque tínhamos uma abordagem musical muito ampla. Todos gostavam de diferentes tipos de música, o que ajudou a formar o estilo único do Genesis, o trabalho que fizemos juntos. Esse estilo foi a junção de vários outros, e acabamos criando algo atemporal. Então, sim, isso me influenciou novamente. Eu queria me envolver novamente com uma banda heterogênea, que fosse da música clássica ao blues, que não tivesse limites. Meu objetivo era não ter nenhuma regra, mas sim a paixão pela música. Conceitualmente, o Wolflight é até world music. Curiosamente, apesar de buscarmos influências nas raízes da música, fazendo algo bem arqueológico, há muita tecnologia envolvida. É uma máquina do tempo, indo ao passado e voltando ao presente.

Esse amplo horizonte musical nunca foi uma novidade em sua carreira, vide as incursões em trilhas sonoras, discos orquestrados de música clássica, de blues…
Os melhores músicos não têm problema algum com isso, não têm problema algum em se aprofundar em diversos estilos. Eles são capazes de assimilar muito bem e transformar tudo em algo próprio. Não há prejuízo nisso. Minhas influências incluem black music, folk, músicas oriental e psicodélica, por exemplo, e qualquer um deveria encarar esse comportamento como um complemento. E tirar o melhor disso.

Então, é isso que encontraremos em Wolflight? Uma mistura de elementos musicais que culminam no estilo Steve Hackett?
Basicamente, sim. Mas também quis fazer algo diferente depois de passar um tempo apenas tocando músicas do Genesis. Foi por isso, aliás, que resolvi gravar um novo disco solo (N.R.: o anterior, Beyond the Shrouded Horizon, foi lançado em 2011). Claro que há elementos similares ao Genesis, mas é diferente. É uma combinação, uma mistura de várias coisas: rock, orquestrações, folk, ópera… De certo modo, há algumas coisas de Beatles, bem do início da banda, quando eles eram mais simples e crus. Imagine tudo isso com uma abordagem rock’n’roll. É um trabalho que quis fazer durante toda a minha vida, com músicos de várias partes do mundo, do Azerbaijão a Inglaterra, Hungria e Armênia. É um álbum bem diverso, mas que acredito ser bem atual. Levei anos para fazê-lo, mas trata-se de algo que representa bem a música mundial.

E entre esses músicos há também nomes ilustres, como Chris Squire, baixista do Yes (N.R.: os dois já haviam feito juntos em 2012 o CD A Life Within a Day, do projeto Squackett).
Eu tenho um longo histórico de convidar as pessoas para participar de meus discos. Mesmo quando estava gravando os Genesis Revisited chamei músicos para colaborar, pessoas de diversos estilos. Rock, pop, música clássica, jazz… Então quando todos se juntam o trabalho torna-se um híbrido interessante. Wolflight tem esse aspecto, o que torna fácil levá-lo a qualquer canto do mundo. Claro, à parte do meu compromisso com a música do Genesis, que é bem popular em todos os lugares, torna-se uma porta de entrada para o meu trabalho solo. Acredite, não tenho tido muitos dias livres (risos).


Você entrou no Genesis quando tinha 20 anos. Hoje, quase 45 anos depois, com todas as mudanças na indústria e no mundo, o que ainda o inspira a compor, gravar e sair em turnê?
Boa pergunta. Minha inspiração é a paixão que tenho pela música. Amo música, simplesmente. Quando ouço algo legal de algum guitarrista, isso logo me inspira a pegar o instrumento e começar a tocar. Quando ouço algo que gosto, fico inspirado a compor, a criar. Sou envolvido com a música de todas as maneiras, inclusive do campo tecnológico, de equipamentos. Gosto de ir a workshops. Estive recentemente num em Paris porque a Marshall estava com um novo amplificador, e eu queria ver de perto. Ainda sou muito ligado a esse tipo de coisa. E também sou muito inspirado pela minha esposa, Jo Hackett, que sempre viaja comigo. Ela também é apaixonada por música, é uma historiadora e compõe comigo para os meus discos. Temos uma parceria em tudo. Além disso, é sempre um prazer conhecer pessoas novas, por isso gosto de sair em turnê.

E você também influenciou um grande número de guitarristas ao longo desse tempo…
Realmente, e isso me deixa muito orgulhoso. Também tive o prazer de tocar com alguns deles, mas gostaria de tocar com todos. Quando for a hora certa, isso vai acontecer. E estarei pronto.

Trata-se de um ciclo, pois você também teve suas influências no início de carreira antes de se tornar uma referência, certo?
Bem no começo, ouvia muito o trabalho de Brian Jones e Keith Richards no Rolling Stones.Também gostava bastante de Eric Clapton, Jeff Beck, Andrés Segovia e, obviamente, Jimi Hendrix. Há um brasileiro que admirava demais, o Raphael Rabello, que infelizmente não está mais entre nós (N.R.: falecido em 1995, com apenas 32 anos). Ele era um violonista fantástico, tinha um incrível senso melódico. Ainda hoje existem guitarristas fabulosos ao redor do mundo, e tem um gosto bastante: Joe Bonamassa. Ele é ótimo.

Obrigado pela entrevista, Steve. E aproveitando que falamos um pouco de sua carreira, parabéns adiantado pelo aniversário em alguns dias (N.R.: Hackett fez 65 anos em 12 de fevereiro, e o papo rolou no dia 3).
Oh, obrigado! Espero ver todos vocês nos shows no Brasil, para celebrarmos a música do Genesis.

Entrevista feita por telefone no dia 3 de fevereiro de 2015, visando à divulgação da turnê que Steve Hackett faria no mês seguinte no Brasil. Vinte minutos disponíveis, 20 minutos utilizados. E tinha caixa para mais. Foi a terceira entrevista feita para a Roadie Crew, publicada diretamente no site da revista. A reedição aqui coincide com o retorno do guitarrista ao Brasil em março deste ano para a Genesis Revisited, Solo Gems & GTR 2018 Tour de Force, que passará por quatro cidades: Porto Alegre (20), São Paulo (22), Rio de Janeiro (23) e Belo Horizonte (25).

Clique aqui para acessar a entrevista original no site da Roadie Crew.

Black Sabbath

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Data: 4 de outubro. Local: Estádio Monumental, em Santiago, Chile. Data: 6 de outubro: Local: Estádio Ciudad de La Plata, em La Plata, Argentina. Depois de passar por Estados Unidos e Canadá, o Black Sabbath teve um mês de descanso antes de descer para a América do Sul e recomeçar um esquema que, mesmo numa turnê relativamente curta, compreende shows dia sim, dia não. A perna brasileira é exatamente assim. Depois do show realizado em Porto Alegre nesta quarta-feira, há mais três pela frente: São Paulo (Campo de Marte, 11), Rio de Janeiro (Apoteose, 13) e Belo Horizonte (Esplanada do Mineirão, 15). A rotina que envolve aeroportos, hotéis e locais das apresentações é, sim, cansativa, ainda mais para senhores que já passaram da casa dos 60 anos. E é ainda mais exaustiva se um deles vem sendo submetido a um tratamento de linfoma há quase dois anos – o câncer foi descoberto em janeiro de 2012, para ser mais exato.

Está explicada a razão por que Tony Iommi não participou da coletiva para a imprensa brasileira, realizada na última terça-feira, 8 de outubro, num luxuoso hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro. O guitarrista já não havia feito a divulgação do novo álbum, o excelente 13, lançado em junho último. Portanto, o fato de ele não estar se sentindo bem no dia, preferindo permanecer no quarto, não significa necessariamente que ele tenha passado mal. Mas vá entender o que se passa na cabeça de quem faz uma manchete assim. Enfim, Ozzy Osbourne e Geezer Butler foram os responsáveis por atender os jornalistas e em 25 minutos divagaram sobre o passado, resumiram assuntos que já foram mais do que explorados (como a ausência de Bill Ward) e proporcionaram respostas interessantes a perguntas interessantes.

Apesar do pedido para que o assunto Tony Iommi não virasse pauta, afinal, não é segredo o seu estado de saúde, houve quem perguntasse o que houve com o guitarrista. Ingenuidade à parte, um dos momentos mais reveladores, digamos assim, foi quando Geezer explicou por que a banda decidiu lançar tão rapidamente um registro ao vivo da atual a turnê. “Tínhamos todas as condições necessárias para realizar a gravação na Austrália”, disse o baixista a respeito de Live… Gathered in Their Masses, que chega às lojas no dia 26 de novembro – no Brasil, será lançado nas versões DVD, Blu-ray e DVD + CD. “Mas resolvemos gravar logo no início porque não sabemos até quando essa turnê vai durar”, completou, deixando clara a preocupação em fazer o máximo possível enquanto Iommi estiver em condições de tocar ao vivo – os shows na Rod Laver Arena, em Melbourne, aconteceram em 29 de abril e 1º de maio, e o set list teve leves alterações em relação ao atual: Loner e Methademic, do novo álbum, saíram para as entradas de Age of Reason (também de 13) e Under the Sun/Every Day Comes and Goes (do álbum Vol. 4, 1972), e Dirty Women (de Technical Ecstasy, 1976).


Tópicos recorrentes também fizeram parte da bateria de perguntas, e a polêmica envolvendo Bill Ward acabou sendo a principal. Rolou a questão contratual (leia-se dinheiro), e meses depois Ozzy deixou claro que o baterista original não tinha condições físicas para aguentar a maratona de turnês. “É claro que eu gostaria muito que ele tivesse gravado o disco, que estivesse aqui, mas isso é o melhor que podemos fazer, e estamos satisfeitos”, resumiu o vocalista. Geezer, por sua vez, também foi educadamente direto ao falar das trocas. “Tommy (Clufetos) já havia tocado com Ozzy, então foi natural tê-lo conosco. E ele está com a banda desde os primeiros shows antes de entrarmos para gravar, mas Rick (Rubin) conhecia o Brad (Wilk, Rage Against the Machine, ex-Audioslave) e preferiu usá-lo no disco.” Sobre o produtor, aliás, o baixista também foi diplomático. “Ele conhece o Ozzy há muito tempo, e já sabíamos que o chamaríamos na hora de gravar um novo álbum.”

Assunto mais comentado nos primeiros dias de semana, a bandeira do Brasil usada por Ozzy durante o show na Argentina abriu as portas para o bom humor que reinou durante a entrevista. “Teve isso?”, perguntou Geezer, olhando para o vocalista. “Eu sei que jogaram uma bandeira do Peru no palco.” Dando de ombros para a polêmica, como alguém que desconhece a acirrada rivalidade entre brasileiros e argentinos, o Madman botou um divertido ponto final na história. “Isso é normal nos shows. Jogam bandeiras no palco, e foi um acidente. Mas o rock é algo universal, não há fronteiras quando falamos de música. Além disso, eu não costumo me lembrar da porra do lugar onde estou mesmo.”

Foi a deixa para Ozzy roubar o show. Perguntado se a música God is Dead? havia trazido para o grupo algum problema com a igreja, o vocalista soltou um “nós não seríamos o Black Sabbath se não houvesse polêmica” – Geezer, por sua vez, tentou minimizar. “Isso acontecia mais no passado. Hoje as coisas são um pouco diferentes.” Passado. Os dois brincaram ao falar das lembranças de quando gravaram o clássico Sabbath Bloody Sabbath, que em 2013 completa 40 anos. “Sim, foi divertido. Havia muitas drogas”, disse o baixista. “E por causa disso eu não me lembro de muita coisa”, completou o vocalista. Presente. Geezer não precisou se esforçar muito para explicar a diferença de sair em turnê agora para quando a banca começou, no fim da década de 60. Estava na cara, na mesa ao lado dos dois: água mineral, chás e frutas. “Vivemos intensamente aqueles anos. Muito sexo, drogas e rock and roll. Mas hoje a rotina é chá, refrigerantes e voltar correndo para o quarto do hotel.”

“Não estarei vivo”, respondeu Geezer sobre o que espera da música daqui a 40 anos. “Mas eu estarei”, rebateu Ozzy, arrancando mais gargalhas. E se o Black Sabbath é hoje uma das poucas bandas de heavy metal que ainda lotam arenas e estádios apenas com o nome, qual o futuro que o vocalista visualiza quando estas poucas bandas, todas com pelo menos 30 anos de carreira, não estiverem mais na ativa? “Sempre ouvimos falar que o rock e o heavy metal vão acabar, mas quer saber? Não vão. Sempre haverá público para as bandas, sempre haverá gente interessada nos discos e nos shows. É por isso que, mais de quarenta anos depois, gravamos um álbum que foi número 1 em vários países”, respondeu o vocalista de maneira bem diplomática. E depois de uma vida cheia de excessos e conquistas, o Madman sabe bem quais foram a melhor e a pior experiência que teve. “A melhor foi quando descobri o LSD. A pior, certamente quando usei LSD”, disse diante de um Geezer Butler que riu e assinou embaixo. “Eu também.”

O Black Sabbath se apresentaria pela primeira vez com Ozzy Osbourne no Brasil, e cinco dias antes do show no Rio de Janeiro houve a coletiva para a imprensa: 8 de outubro de 2013, no Hotel Fasano, em Ipanema. Compareci representando a Roadie Crew, e você também pode ler a matéria original no site da revista. É só clicar aqui.

Marillion

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

“Nós demoramos muito para voltar. Por favor, nos desculpem.” As primeiras palavras de Steve Hogarth ao público carioca numa fria e chuvosa noite de sábado, no meio de um feriadão, nem precisavam soar sinceras. O bom público que compareceu ao Vivo Rio – cerca de duas mil pessoas – já havia sido conquistado com as notas iniciais de Splintering Heart. Na verdade, bastou ver o vocalista em cima de uma caixa de som. Pouco para quem escalou a estrutura de palco no longínquo Hollywood Rock de 1990, estreia do Marillion no Brasil, mas ainda assim bastante eficiente.

O Marillion tinha em mãos um novo álbum para promover, o ótimo Sounds That Can’t Be Made, e outros seis trabalhos da era Hogarth desde This Strange Engine (1997). Há 15 anos sem dar as caras por aqui, havia também a necessidade de lembrar hits (sim, teve Beautiful) e a primeira fase, ainda com Fish. Slainte Mhath abriu os serviços, mas sobraram exemplos de material mais recente. Ninguém reclamou. You’re Gone, Fantastic Place e as épicas Neverland e The Invisible Man mostraram a força da voz de Hogarth, em atuação memorável.

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Em todos os cantos havia quem o acompanhasse cantando letra por letra. Eram os mesmos fãs que passaram a financiar os CDs do quinteto, adquirindo-os em pré-venda quando nem sequer tinham sido escritos ou gravados – sim, o tal crowdfunding que começou a pegar faz pouco tempo no Brasil. Isso explica a boa recepção às novas Sounds That Can Be Made e Power, o que provavelmente aconteceria com The Sky Above the Rain não fossem os problemas com o equipamento do baixista Pete Trewavas – Mark Kelly também sofreu em alguns momentos com seus teclados.

The Great Escape acabou sendo uma surpresa, mas o set list já havia sido rasgado minutos antes, no momento mais emocionante da noite. Todo mundo esperava por Kayleigh, mas o grupo não contava com os fãs levando Lavender a capela na sequência. Entrou no jogo e não parou por aí, atendendo aos insistentes pedidos por Easter antes do fim com a belíssima Sugar Mice, uma dobradinha que rendeu merecida ovação a Steve Rothery. Com habituais bom gosto nos timbres e elegância nos solos, o guitarrista mostrou como se faz para dobrar os masturbadores das seis cordas e colocá-los no bolso. E, depois de uma espera de 15 anos, o Marillion provou em quase duas horas que soube envelhecer com dignidade, mantendo-se relevante e mostrando prazer no que faz.

Resenha publicada na edição 36 da Billboard Brasil, em novembro de 2012.

Andreas Kisser

Por Daniel Dutra | Fotos: Alessandra Tolc + Arquivo Pessoal

Era o começo da década de 90, e o Sepultura começava a ganhar a projeção internacional que alguns anos mais tarde faria dele o grupo brasileiro de rock mais bem-sucedido no exterior. Contrato com gravadora americana, participação na segunda edição do Rock in Rio e o começo das turnês internacionais, tudo isso cercado pelo interesse da mídia estrangeira. E foi nesse furacão que o guitarrista Andreas Kisser viveu um dos momentos mais emocionantes da sua vida. Mas não estamos falando de um show num estádio lotado, com centenas de milhares de fãs gritando o nome da banda.

O palco da história era, sim, um estádio lotado, o Morumbi, e Andreas, um dos mais de cem mil tricolores que, no dia 17 de junho de 1992, gritavam “é campeão” após a cobrança de Gamboa, do Newell’s Old Boys, parar nas mãos de Zetti. O São Paulo conquistava a primeira de suas três Taças Libertadores ao derrotar os argentinos nos pênaltis, por 3 a 2, após devolver o placar de 1 a 0 no tempo normal.

A derrota no jogo de ida, com um gol de Berizzo, fez com que o São Paulo entrasse em campo precisando vencer por dois gols de diferença. Empate, nem pensar. E parte da aflição só acabou aos 21 minutos da etapa final, quando Raí, de pênalti, deixou o confronto igual e garantia, no mínimo, as penalidades máximas. Foi o que aconteceu. Ao lado de Andreas, um repórter e um fotógrafo da Hai Magazine, da Indonésia, o acompanhavam para uma matéria especial sobre o Sepultura. Acabaram conhecendo um pouco mais do que a paixão pela música. Mais do que isso, com muita tensão.

– O primeiro título da Libertadores tinha que ser o mais marcante, e ainda estava acompanhado por um pessoal que fazia uma reportagem sobre o Sepultura. Acabou que consegui ingressos em cima da hora, para a numerada inferior, e com cambista mesmo – lembrou o guitarrista, que não poupou os indonésios da comemoração. Ou quase. – Tive de ficar de babá deles. Um monte de gente invadindo o campo após o jogo, e eu lá, com vontade, mas sem poder deixá-los na mão. Mas teve o lado legal, porque eles puderam registrar a festa no Morumbi, depois na Avenida Paulista. Acabou ajudando na reportagem, e eu apareci na capa da revista com a camisa do São Paulo que estava usando no dia do jogo.


Surpresos e pouco acostumados à paixão que o futebol desperta nos brasileiros, a participação dos indonésios foi restrita. Andreas os deixou no hotel e partiu para a comemoração com os amigos.

– Só que não sou muito de muvuca, por isso voltei para Santo André, onde morava na época. Ainda não era casado, e o Sepultura começava a ter uma carreira internacional. Então, tive mesmo o privilégio de curtir a primeira Libertadores junto com os amigos, comemorar tomando umas cervejas – disse o músico, valorizando um título conquistado numa época peculiar. – Era muito mais difícil vencer a Libertadores, e o Grêmio havia sido o último campeão (em 1983). Depois desse hiato, o São Paulo começou a se tornar o clube do Brasil mais vitorioso do século, não apenas da década de 90 para cá.

A ligação vitoriosa do São Paulo com a Seleção Brasileira

Animado com as lembranças de uma conquista histórica, o músico traça um paralelo do título tricolor com a volta vitoriosa do futebol brasileiro ao cenário mundial – “A conquista representou muito não só para o São Paulo, mas também para o país” – e lembra com carinho de uma figura emblemática: o saudoso técnico Telê Santana, que repetiria o feito com o Tricolor Paulista no ano seguinte, acompanhado dos títulos mundiais contra Barcelona e Milan.

– Uma das coisas mais emocionantes foi ver o Telê fazer parte daquilo tudo, depois das duas Copas perdidas (1982, na Espanha, e 1986, no México), de carregar uma fama de pé-frio. A primeira Libertadores do São Paulo foi um momento importante para a história do clube e do futebol brasileiro, e não à toa foi pré-Copa de 94, quando o Brasil conquistou um título depois de 24 anos. Lá estavam jogadores como Cafu, Raí e Leonardo, e teve muito desse lado psicológico. O Brasil não precisava dessa história de campeão moral, como em 1978 (na Argentina). O Telê faz parte de uma mudança sintomática para a Seleção voltar a ser uma potência respeitada mundialmente.

Politicagem e os dois anos sem títulos

Acostumado a grandes conquistas, Andreas e todos os são-paulinos não sentiram o gostinho de títulos em 2009 e 2010. Um sabor amargo para quem comemorou o inédito tricampeonato brasileiro (2006/2007/2008) na era dos pontos corridos. E o guitarrista tem na ponta da língua a explicação para este pequeno jejum: a diretoria tricolor se preocupou demais em ser uma das forças para a Copa de 2014.

– O São Paulo se prejudicou muito por causa dessa história, de o Morumbi ser ou não o palco do estado para o Mundial. Não dá para negar que houve um pouco de arrogância de diretoria, mas chamar o estádio de ultrapassado é um absurdo.

Andreas defende o Morumbi com unhas e dentes, sem deixar de provocar um recente rival criado pela polêmica do hexacampeonato.

– Quantos títulos importantes foram conquistados lá? Quantos grandes shows foram realizados no Morumbi? Mas é fato que o clube perdeu um tempo precioso, gastou demais em projetos e atrapalhou o futebol. O São Paulo é grande demais, provou ao longo dos anos que tem de estar sempre disputando títulos. Não é que nem o Flamengo, que leva dezessete anos para ganhar um Brasileiro, mas nesse meio tempo fica é brigando para não ser rebaixado.

Andreas KisserAndreas Kisser
Fotos: Arquivo Pessoal
Andreas Kisser com o técnico Ney Franco (à esquerda) em treino do São Paulo em 2013 (Foto: SaoPauloFC.net/Divulgação)

Volta por cima e mais provocação

Com uma tradição em disputar a Taça Libertadores e sempre fazendo grandes campanhas, o Tricolor Paulista recomeça do zero na temporada 2011. O objetivo é voltar à principal competição sul-americana no próximo ano, desta vez sem vê-la escorrer entre os dedos.

– As últimas Libertadores escaparam por detalhes. Aquela para o Fluminense foi a mais dolorida – revelou Andreas, referindo-se ao jogo em 2008 no qual o Tricolor Paulista perdia por 2 a 1, mas se classificava para as semifinais, até Washington marcar nos acréscimos e classificar o time carioca. – Como torcedor, foi a pior derrota. Mas agora tem a Copa do Brasil, que é um título que o São Paulo não tem, ou seja, uma motivação.

Andreas também não escapa da polêmica ao falar do arquirrival Corinthians, principalmente após a derrota para o Fluminense na reta final do Brasileirão 2010 – o Tricolor perdeu por 4 a 1, e uma vitória beneficiaria o Timão, que lutava pelo título com a equipe carioca.

– O São Paulo não precisava vencer, não havia uma necessidade natural de se esforçar para conquistar a vitória, porque precisava beneficiar A ou B. E é estranho falar em entregar quando o Rogério Ceni foi o destaque do time. Além disso, sejamos sinceros, o time do Fluminense era muito melhor. Quem fez feio foi o Corinthians contra o Flamengo (em 2009). O São Paulo honrou a camisa como sempre, ao contrário do Felipe (goleiro que, à época no Timão, ficou parado no meio do gol numa cobrança de pênalti de Léo Moura). Isso é choro de corintiano, que precisa arrumar
desculpas para as cagadas que a diretoria do seu clube faz.

Amenizando: Rogério Ceni, um ídolo como poucos

Andreas esquece os rivais, mas não as glórias são-paulinas, ao falar de um ídolo: Rogério Ceni. O atual capitão tricolor não estava no gol naquela Libertadores de 1992, mas escreveu seu nome conquistando a competição e o Mundial de Clubes da Fifa em 2005, além de se tornar uma verdadeira referência em meio a vários outros títulos.

– Quando o Rogério parar, aí as pessoas vão sentir, entender a importância dele para o Brasil. Porque os são-paulinos já entendem. Marcar mil gols, como o Pelé fez, é muito difícil, mas um goleiro chegar ao centésimo, e tenho certeza de que ele vai chegar lá, também é um feito e tanto. Ele é inacreditável. Nós, tricolores, sabemos da importância do Ceni, e o restante ainda será convencido – afirmou Andreas, dias antes de o camisa 1 marcar o 94º gol da carreira, na vitória por 2 a 0 sobre o Mogi Mirim, na estreia do Tricolor no Paulistão 2011.

Depois de falar com o Paulo Jr. para o Meu Jogo Inesquecível, pintou a oportunidade de correr atrás de um personagem são-paulino para a série. Pensei em novamente deixar tudo em casa, unindo música, futebol e Sepultura. Ou seja, Andreas Kisser era o nome perfeito, e ele aceitou de primeira. Batemos um papo por telefone nos últimos dias de dezembro de 2010, e a matéria foi ao ar em 18 de janeiro de 2011. O resultado foi “Meu Jogo Inesquecível: Libertadores de 92 no coração de Andreas Kisser” – quatro anos depois, o guitarrista e o Republica, acompanhados de Edgar Scandurra, Jair de Oliveira e Meninos do Morumbi, gravaram uma versão rock do hino do São Paulo, e o vídeo ilustra aqui a entrevista.

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