Phil Campbell and the Bastard Sons – The Age of Absurdity

Por Daniel Dutra | Fotos: Dan Sturgess/Divulgação

Depois de apenas uma audição de The Age of Absurdity, dá para dizer que o EP homônimo, lançado em 2016, não chegou nem mesmo a ser uma palinha do que estava por vir. Apesar de bem legais, aquelas cinco músicas não adiantaram o altíssimo nível do primeiro full-length do ex-guitarrista do Motörhead Phil Campbell ao lado dos filhos bastardos Neil Starr (vocal), Todd Campbell (guitarra), Tyla Campbell e Dane Campbell – obviamente, apenas os três últimos são filhos do homem, mas a licença poética pode e deve ser usada sem parcimônia.

Uma coisa, no entanto, Phil Campbell and the Bastard Sons havia entregado: há uma referência aqui, outra ali, mas o quinteto estava bem afastado da banda na qual Phil passou 31 anos de sua vida. Você quer Motörhead? Vai encontrar no espetacular riff do arrasa-quarteirão Ringleader, que abre o CD, mas, convenhamos, é algo cuja marca está registrada também em nome do guitarrista. Ainda tem Gypsy Kiss, com algo de punk rock que Lemmy e companhia faziam ganhar identidade própria, mas para por aí.


Com altas doses de peso, claro, o Phil Campbell and the Bastard Sons faz um rock’n’roll para chamar de seu. Sem firulas e com refrãos grudentos, como nas ótimas Freakshow, Welcome to Hell, Step Into the Fire e Get on Your Knees, esta um daqueles exemplos de canção que não deixam o ouvinte quieto. E sabe os riffs do veterano da turma? Como se rejuvenescido por uma nova geração, mesmo sendo uma que cresceu ouvindo seu trabalho, Phil abriu o arquivo para mostrar um arsenal bem diverso. Em uma mesma música, Skin and Bones, há um riff melhor que o outro. Todos sem fazer nenhuma remissão a não ser ao bom e velho rock’n’roll.

O álbum é dar gosto do início ao fim, mas é impossível não destacar quatro das suas faixas. High Rules, que entrega no refrão o nome do disco, cresce da introdução de baixo (com um som bonitão, é bom ressaltar) a riffs e melodias empolgantes; e a longa e cadenciada Into the Dark, que fecha o trabalho, mostra um grupo olhando com carinho para o rock progressivo, mas sem abandonar sua essência. Talvez seja por isso, aliás, que a música tenha o solo de guitarra que mais chama a atenção em toda a audição.


Dark Days tem um forte acento de blues enriquecido por um gaita esperta, tocada por Todd, um refresco para a curta e grossa Dropping the Needle, uma locomotiva que chega para destruir tudo em menos de dois minutos. Sua letra antidrogas, aliás, também é uma ode ao rock, e é nela que se sobressai o talento de Starr. Apenas os ingênuos esperariam um vocalista que emulasse Lemmy, e o frontman canta os clássicos do Motörhead (procure por vídeos no YouTube) com a personalidade que apresenta o próprio material. Sua voz é mais melódica, mas ele entrega também performances cheias de raiva. Que venho o próximo álbum.

Faixas
1. Ringleader
2. Freak Show
3. Skin and Bones
4. Gypsy Kiss
5. Welcome to Hell
6. Dark Days
7. Dropping the Needle
8. Step Into the Fire
9. Get on Your Knees
10. High Rule
11. Into the Dark
12. Silver Machine (bônus)


Banda
Neil Starr – vocal
Phil Campbell – guitarra
Todd Campbell – guitarra e gaita
Tyla Campbell – baixo
Dane Campbell – bateria

Lançamento: 26/01/2018

Produção e mixagem: Romesh Dodangoda

Black Label Society – Grimmest Hits

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Apesar de os fãs estarem esperando um novo trabalho para 2018, foi meio de surpresa. Quatro anos depois de Catacombs of the Black Vatican, o anúncio do novo álbum do Black Label Society teve esquema completo: enquanto os fãs ainda digeriam a turnê do Zakk Sabbath – projeto de Zakk Wylde com Rob “Blasko” Nicholson (baixo, Ozzy Osbourne) e Joey Castillo (bateria, ex- Queens of the Stone Age), cujo nome entrega o que o trio toca –, Grimmest Hits teve título (que fez muita gente achar que se tratava de uma coletânea), capa, track listing e data de lançamento divulgados de uma tacada só, tudo acompanhado do videoclipe do primeiro single, Room of Nightmares.

Um jeito bem old school, assim como é o próprio 11º disco de inéditas do BLS. Por quê? Bem, as referências ao Black Sabbath estão espalhadas por todo o trabalho, e não é só porque Wylde passou um tempo na estrada tocando joias do pai do heavy metal – algumas que o próprio Sabbath não reivindica faz tempo. Na verdade, a influência se faz presente desde o primeiro disco, Sonic Brew (1999), mas as referências do quarteto – completado por Dario Lorina (guitarra), John DeServio (baixo) e Jeff Fabb (bateria) – estão cada vez mais gritantes.


É impossível não ser atingido pelo déjà vu em The Betrayal, cujo riff de abertura deve ter sido, digamos, surrupiado do baú do Tony Iommi; All That Once Shined, um namoro com o doom metal na intenção de casar, e sabemos qual a fonte de tal subgênero; Disbelief, cujo bend inicial dá um alô a Iron Man; e Bury Your Sorrow, que apresenta o principal: aquela levada imortalizada pelo Sabbath, sem contar o vocal de Wylde pedindo bênção a Ozzy Osbourne.

Mas tudo isso é ruim? Claro que não, até porque desde sempre não é só do lado mais pesado – e do Black Sabbath – que vive o Black Label Society e, principalmente, seu líder. Assim, é muito bem-vindo, novamente, aquele lado sulista de Book of Shadows (1996) e Book of Shadows II (2016), mais calmo do que a grande parte do Pride & Glory. E plugado. The Day That Heaven Had Gone Away e The Only Words não escondem a forte orientação de The Allman Brothers Band, seja no tom da guitarra ou na interpretação vocal, como se Wylde fizessem novas homenagens a Gregg Allman e Dickey Betts . E Nothing Left to Say, por sua vez, tem um quê de Led Zeppelin.


Todas muito belíssimas, mas é o lado nervoso de Wylde que acaba mesmo se sobressaindo. Entre os vários solos de engasgar (ouça Seasons of Falter), às vezes apontando para os exageros que o guitarrista comete ao vivo, e as cacetadas de praxe (como a perfeitamente pesada e melódica A Love Unreal), o BLS ainda se saiu com uma de suas melhores músicas em 20 anos de história: Illusions of Peace tem uma levada que coloca até zumbi para bater cabeça. Coisa que desde Parade of the Dead e Godspeed Hellbound, de Order of the Black (2010), Wylde não fazia com tamanha maestria.

Faixas
1. Trampled Down Below
2. Seasons of Falter
3. The Betrayal
4. All That Once Shined
5. The Only Words
6. Room of Nightmares
7. A Love Unreal
8. Disbelief
9. The Day That Heaven Had Gone Away
10. Illusions of Peace
11. Bury Your Sorrow
12. Nothing Left to Say


Banda
Zakk Wylde – vocal, guitarra e piano
Dario Lorina – guitarra (apenas ao vivo)
John “JD” DeServio – baixo
Jeff Fabb – bateria

Lançamento: 19/01/2018

Produção: Zakk Wylde
Mixagem: John “JD” DeServio, Adam Klumpp e Zakk Wylde

Leather – II

Por Daniel Dutra | Fotos: Luciana Pires/Divulgação

Quase 30 anos depois, Leather Leone chegou ao segundo disco solo. Não exatamente solo, é verdade, porque II é um título sintomático para o sucessor de Shock Waves (1989). A passagem pela América do Sul no fim de 2016, numa turnê conjunta com Rob Rock, levou a vocalista a conhecer seus novos parceiros no crime: os brasileiros Daemon Ross (guitarra), Thiago Velasquez (baixo) e Braulio Drumond (bateria), e a formação é completada pelo guitarrista Vinnie Tex – que, naqueles shows pelo continente, se juntou aos três músicos para completar a banda que também acompanhou a voz do Impellitteri.

Resumindo, o resultado é mesmo um somatório de forças que fez de II um dos melhores discos de heavy metal de 2018. Um trabalho que, diga-se, respira os anos 80, mas com uma produção que o faz passar ao largo do datado, apesar da sonoridade ser nostálgica. Felizmente. Juggernaut, por exemplo, abre o CD com pinta de música feita para igualmente abrir os shows: é uma porrada na cara, cheia de solos cortantes (o início técnico e virtuoso parece saído de alguma sessão instrumental do Racer X ou Cacophony) e um refrão simples e bom de cantar.

The Ousider e Lost at Midnite reduzem um pouco a marcha, mas só para mostrar o lado bem tradicional do metal da época de ouro, com riffs de guitarra em destaque – a segunda, inclusive, faz bom uso do tradicional recurso de cantar em cima do riff principal. Inspirada pela passagem de Leather pela poluída Bogotá, capital da Colômbia, Black Smoke adiciona mais peso à fórmula, e The One junta todos os predicados musicais das três anteriores e volta a acelerar o ritmo.

O nível continua alto em canções como American Woman, que tem um baita instrumental, e em duas canções que mostram a garganta poderosa de Leather, Sleep Deep e Let Me Kneel, esta com uns backing vocals bem legais para o nome da música no refrão – e se você se incomodar vez ou outra com os vibratos da vocalista, então não conhece o trabalho da Voice of the Cult com o Chastain, seja nas décadas de 80 e 90, seja no retorno à ativa nos anos 2010, quando gravou mais dois álbuns com David T. Chastain, Surrender to No One (2013) e We Bleed Metal (2015).

Porque, afinal, são eles parte do charme das três melhores faixas do álbum. Quase uma ‘power ballad’, Annabelle faz bonito com um instrumental cujas quebradas comandadas pelos bumbos foram uma bela sacada – e não, a música não fala da boneca que é uma das estrelas da franquia “Invocação do Mal”, apesar de a letra ter sido baseada numa criança, digamos, assustadora; Hidden in the Dark é irmã mais bonita de Juggernaut, com refrão e solo que acompanham à altura a ótima performance da Leather; e a contagiante Give Me Reason fecha II mostrando o encontro perfeito entre o rock’n’roll e o heavy metal.

Faixas
1. Juggernaut
2. The Outsider
3. Lost at Midnite
4. Black Smoke
5. The One
6. Annabelle
7. Hidden in the Dark
8. Sleep Deep
9. Let Me Kneel
10. American Woman
11. Give Me Reason

Banda
Leather Leone – vocal
Vinnie Tex – guitarra
Daemon Ross – guitarra
Thiago Velasquez – baixo
Braulio Drumond – bateria

Lançamento: 13/04/2018

Produção: Rodrigo Scelza e Vinnie Tex
Mixagem: Stawek e Wojtek Wieslawski

Shaman

Por Daniel Dutra | Fotos: Luciana Pires

Dá para dizer sem medo: a passagem do Shaman pelo Rio de Janeiro, em sua pequena turnê de reunião com a formação original, foi o show nacional mais aguardado pelos fãs cariocas de heavy metal em 2018. Doze anos e dez meses depois da última apresentação na cidade – no dia 10 de fevereiro de 2006, no Circo Voador –, Andre Matos (vocal e piano), Hugo Mariutti (guitarra), Luis Mariutti (baixo), Ricardo Confessori (bateria) e Fábio Ribeiro (teclados) tiveram público de atração internacional, o que atualmente é um feito diante do cenário de crescente míngua – com capacidade para 4.000 pessoas, a casa podia não estar lotada, mas recebeu um grande (e exemplar) número de fãs sedentos para ouvir na íntegra os álbuns Ritual (2002), principalmente, e Reason (2005).

E ninguém foi embora arrependido. Nem com um pingo de arrependimento sequer, mesmo. Depois que o telão passou um vídeo com sessões de gravação de Reason e depoimentos de Matos, a banda entrou mandando ver com a excelente Turn Away, que instantaneamente se tornou um dos melhores momentos da primeira parte do show. Foi uma das que contaram com participação efetiva da plateia, que ainda tinha o seu refrão na cabeça. Claro, o repertório não era surpresa para ninguém, mas foi interessante notar como o segundo álbum da banda ressonou nas pessoas mais de uma década depois, porque à época do seu lançamento o rompimento com a sonoridade do disco de estreia foi um choque para quem só consegue enxergar power metal melódico pela frente.

Bom, de 2005 para o 2018 o panorama não mudou, e talvez tenha sido por isso que a banda deu dez sem sair de cima, sem falatório e intervalos que pudessem arrefecer os ânimos. A faixa-título manteve os fãs cantando o refrão – na verdade, a palavra que dá nome à canção e ao álbum – e, no fim, resultou num coro de “Shaman! Shaman” que arrancou um sorriso de Luis. More, cover do Sisters of Mercy que então havia dedurava a vibe musical mais pesada, soturna e simples da banda, ficou ótima novamente, mas foi a bela Innocence que mostrou o que os fãs realmente gostaram em Reason. De longe, a balada foi o momento de maior participação na primeira metade da noite.

Até porque o restante serviu para os fãs curtirem o fato de o Shaman estar de volta. E se a contemplação serviu para uma parte finalmente dar ao disco o devido crédito – meu amigo, Reason é bom demais! –, então está valendo. Mas deu para sacar como Scarred Forever é uma baita música? A temperatura realmente baixou em In the Night, Rough Stone e Iron Soul, mas estas duas últimas são sensacionais. Sempre foram. Trail of Tears deu uma animada, muito em parte pelo trabalho de Hugo, responsável por um solo matador e um riff fantástico na parte mais pesada da canção. Aplausos mais que merecidos, e que se repetiram ao fim de Born to Be, somados a um coro que arrancou um grande sorriso de Matos.

Novo intervalo, mais um vídeo, agora com sessões de ensaio e gravações de Ritual, antes de os fãs explodirem completamente de felicidade. Para isso, bastou a introdução Ancient Winds começar em alto e bom no PA, porque daí para frente todos terminaram de completar a viagem no tempo – muitos de volta à adolescência. Era outro show. De fato, um novo show. Here I Am foi um êxtase completo, e Distant Thunder testou a condição cardíaca de cada um presente na casa. Foi tão lindo que não deu nem para ouvir a voz de Matos nas três primeiras frases da letra, já que havia milhares de vozes na pista fazendo o mesmo. E no refrão? Foi de arrepiar.

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Os gritos de “Shaman! Shaman!” só foram silenciados porque Matos se dirigiu aos fãs pelas primeira vez naquela noite de domingo, para um agradecimento a um público, o carioca, que apoiou a banda desde o início. E quem lembra dos shows no Metropolitan sabe que isso é a mais pura verdade. Com uma flauta andina, o vocalista, maestro e mestre de cerimônias deu início a For Tomorrow, que obviamente contou com a participação ativa da plateia, assim como a sensacional Time Will Come. A melhor surpresa da noite, no entanto, ficou por conta de uma participação surpresa bem especial: Marcus Viana, devidamente reverenciado por Matos.

E a presença do violinista, compositor e mentor do Sagrado Coração da Terra em Over Your Head – que, lembre-se, contou com ele em sua gravação original de estúdio – acabou se tornando também um dos momentos mais divertidos da noite, ironicamente em virtude de problemas técnicos que quase não permitiram o encerramento da canção. “Isso foi de propósito, mas ele está preocupado pra caralho”, brincou Matos, com Viana explicando que no seu planeta esse tipo de coisa não acontece, porque a “força elétrica é substituída pela força mental”. “Vocês nunca viram uma coisa dessas”, retomou a palavra o vocalista, explicando que o público do Rio era o primeiro a assistir ao Shaman com o veterano músico mineiro nessa volta, uma vez que ele já estava na cidade quando, no dia anterior, a banda se apresentou em Belo Horizonte.

Viana permaneceu no palco para Fairy Tale, mas novamente o som do seu instrumento teimou em não sair no início da canção. “O que você faz quando isso acontece no seu planeta?”, perguntou Matos, enquanto o violinista se encaminhava em direção ao técnico de som. “Hi, vai levar um esporro!”, disse o vocalista, arrancando risos no palco e na plateia. Enfim, Fairty Tale, a balada que colocou uma banda brasileira de metal na trilha sonora de novela da Rede Globo, foi tocada. E causou uma catarse. Acredite, havia muita gente chorando de emoção.

Blind Spell até baixou um pouco a bola. Natural depois de momentos completamente espontâneos e especiais, mas Ritual e sua ótima melodia de teclado reaqueceu os privilegiados fãs cariocas, contemplados com um encerramento que entrou para a história. “Estamos chegando ao fim, mas isso não significa que não podemos voltar ao Rio”, disse Matos, pela primeira vez desde a volta deixando no ar a possibilidade de o Shaman continuar de onde parou em 2006 – e o show na cidade foi o último dos oito realizados em 2018. Imagine a cara de felicidade (e de incredulidade) dos fãs depois que a ficha caiu…

Depois da apresentação de cada músico que estava no palco, com a esperada ovação a Jesus, quer dizer a Luis Mariutti, a banda trouxe Viana de volta, e foi ele quem iniciou no violino o riff de Pride, num momento simplesmente espetacular. “É hora da porradaria, então pode abrir a roda”. Matos pediu, e os fãs atenderam com vontade redobrada. Foi uma festa que terminou com o vocalista na guitarra, e Hugo no papel de frontman. A imagem de um show inesquecível mesmo para quem anda mantinha a esperança de um retorno, e os que tinham e os que não tinham essa esperança se juntaram em uníssono no coro “Ô, o Shaman voltou! O Shaman voltou!”, um canto que saiu das arquibancadas dos estádios de futebol para uma casa de show, deixando o vocalista visivelmente emocionado e colocando um enorme sorriso de satisfação em toda a banda. Que o tempo tenha providenciado um recomeço para o Shaman, uma nova história para Hugo, Luis, Confessori e Matos. O metal brasileiro agradece.

Antes, a plateia foi entretida pelo Rec/All, banda liderada pelo vocalista Rod Rossi. Contando com um álbum na praça, homônimo e ainda com cheiro de novo para os padrões do metal nacional (foi lançado em 2017), o grupo contou com a ajuda do guitarrista Diogo Mafra e do baixista Raphael Dafras, ambos do Almah e do Rebirth of Shadows de Edu Falaschi, uma vez que, no mesmo dia, os titulares Marcelo Barbosa e Felipe Andreoli estavam com o Angra em Salvador – o batera Pedro Tinello (Almah) completa a formação. Depois de uma introdução com o tema de “The Walking Dead”, o quarteto entrou com Running in Her Veins para começar a brigar com o som.

Rec/AllRec/AllRec/AllRec/AllRec/All

Era praticamente bateria e baixo soterrando o vocal e a guitarra, que até conseguiu se fazer presente no solo, uma vez que as bases eram quase inaudíveis. A situação até melhorou um pouco iHate, que tem um puta refrão, mas o que mais chegava aos ouvidos era Tinello massacrando a bateria. Difícil dizer se a plateia estava mais quieta para tentar captar as músicas ou porque a maioria não era familiarizada com o trabalho do Rec/All, mas o fato é que Angels and Demons, cover do Angra que entrou como bônus na versão japonesa do CD, animou os presentes, que cantaram a melodia principal da música.

Isso deu uma animada, na verdade, porque a canção seguinte, Blind, arrancou aplausos e gestos de aprovação. Mas ajudou o discurso de Rossi sobre o metal carioca, trazendo à memória bandas como Nordheim, Sigma 5, Thoten e Imago Mortis (as três primeiras há anos inativas, e a última dando adeus), e o convite a Luiz Syren, vocalista da Syren e velho batalhador da cena local, para um dueto que acabou se tornando o melhor momento do show. Para fechar, uma versão de Cemetery Gates, do Pantera, que ficou honesta na medida do possível, musicalmente, mas valeu a homenagem a Mário Linhares, vocalista do Dark Avenger falecido em dezembro de 2017.

O som até estava melhor, mas mesmo que estivesse perfeito o óbvio ficaria na cara de qualquer um: emular o som e o peso que Dimebag Darrel tirava da guitarra é tarefa para poucos. Ainda assim, um show que pode ter atiçado a curiosidade de quem nunca havia escutado o Rec/All, que, diga-se, acabou sendo penalizado pelo atraso de meia hora e precisou cortar três músicas do set: Indestructible; Rio Riots, que emendaria em Rainbow in the Dark, do DIO; e Pegasus Fantasy (Saint Seya) – faz sentido, acredite, uma vez que Rossi está inserido no mundos dos animes e já gravou temas de “Dragon Ball Kai” e “Cavaleiros do Zodíaco: Ômega”.

Setlist Shaman
1. Turn Away
2. Reason
3. More
4. Innocence
5. Scarred Forever
6. In the Night
7. Rough Stone
8. Iron Soul
9. Trail of Tears
10. Born to Be
Intervalo
11. Ancient Winds
12. Here I Am
13. Distant Thunder
14. For Tomorrow
15. Time Will Come
16. Over Your Head
17. Fairy Tale
18. Blind Spell
19. Ritual
20. Pride

Setlist Rec/All
1. Intro / Running in Her Veins
2. IHate
3. Angels and Demons
4. Blind
5. Cemetery Gates

Angra, Massacration & Tuatha de Danann

Por Daniel Dutra | Fotos: Luciana Pires

O Angra quebrou o protocolo ao retornar ao Rio de Janeiro num curto intervalo de tempo, menos deis meses depois de seu último show na cidade. Saindo do Circo Voador para a Fundição Progresso, uma casa bem maior, a banda renovou o interesse em uma nova apresentação da mesma turnê ao transformar a noite num minifestival, dando a Tuatha de Danann e Massacration a missão de aquecer o público. Um combo interessantíssimo, uma vez que, musicalmente, os dois grupos mais agregam do que dividem os fãs que basicamente queriam curtir apenas e tão somente power metal melódico.

Com um atraso considerável no cronograma – os portões não abriram na hora marcada, e ainda rolava passagem de som enquanto o público entrava no local –, coube ao Tuatha de Danann fazer as primeiras honras. E apesar de o som ter atrapalhado mais os músicos do que a plateia, a banda mineira fez um belíssimo show. Primeira faixa de Dawn of a New Sun (2015), o disco da volta, We’re Back abriu também a apresentação de 45 minutos, e a resposta que veio da pista pode ser resumida como um “esperamos que vocês continuem por aqui e não vão mais a lugar algum”.

Apresentando dois novos integrantes aos cariocas – o guitarrista Julio Andrade substituiu Rodrigo Berne, e o batera Rafael Salobreña assumiu as baquetas de Rodrigo Abreu –, Bruno Maia (vocal, guitarra, flauta e mandolin), Giovani Gomes (baixo e vocais) e Edgard Brito (teclados) ainda contaram com as participações mais que especiais de Roger Vaz no violino e de Alex Navar na gaita de fole. O mais importante, no entanto, é que a essência do grupo de Varginha não se perdeu: todos brilham intensamente. Como Vaz na ótima Rhymes Against Humanity, que tem instrumental e melodias vocais de tirar o chapéu; ou como Gomes, que mata no peito os vocais rasgados no clássico Tan Pinga Ra Tan.

“Estou morrendo”, brincou Maia, por causa do calor, antes da excelente The Brave and The Herd, cuja letra está mais atual do que nunca em virtude do momento do país e dos quatro anos que se avizinham. Clássico do segundo disco, como anunciou o vocalista e multi-instrumentista, The Last Words foi a única amostra de The Delirium Has Just Began… (2002) e mostrou o talento de Andrade nas seis cordas. Hora de voltar ainda mais no tempo, e Us, do EP Tuatha de Danann (1999), veio com uma recordação de Maia: “Um de nossos primeiros shows fora de Minas Gerais foi no Rio, lá no Garage”.

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Boa e agradável lembrança antes de um momento muito aguardado pelos fãs – porque foi ótimo reparar que havia um bom número de admiradores da banda, diga-se: a execução de material de Trova di Danú (2004). Assim, Believe: It’s True!, principalmente, e Land of Youth foram um bálsamo para quem não pôde ver o Tuatha de Danann em 2015, no acanhado Teatro Odisseia. Antes do encerramento festivo com a ótima The Dance of the Little Ones, outra de Tingaralatingadun (2001), Maia lembrou que o grupo “não teve tempo de passar o som direito”, se desculpando porque estava “tudo capenga”.

O talento passou por cima dos obstáculos, mas então que o Tuatha de Danann volte em breve ao Rio para um show completo, porque as novas músicas recém-divulgadas – The Tribes of Witching Souls e Your Wall Shal Fall, de um EP a ser lançado em breve (procure por elas no YouTube, porque a primeira tem lyric video, e a segunda ganhou um videoclipe bem bacana) – mostram que os mineiros continuam trazendo com maestria a música celta para o mundo do pop, do prog e do metal.

Detonator (vocal), Metal Avenger (guitarra solo), Headmaster (guitarra base desplugada), El Muro (baixo) e El Perro Loco (bateria). A formação ao vivo do Massacration subiu ao palco para entreter e irritar. Entreter aqueles que levam na esportiva a zoação com os estereótipos do heavy metal, e assim conseguem se divertir com as piadas (ou boa parte delas), e irritar aquela parcela significativa que ratifica o conservadorismo do público de rock pesado – um conservadorismo que vem ultrapassando até mesmo a barreira da música, infelizmente.

Mas se você se encaixa no primeiro grupo, então saiba que, apesar de uma forçada de barra aqui e ali, e também considerando a exagerada duração de 65 minutos, o show arrancou boas risadas. A começar por Metal is the Law, que abriu a apresentação provando que não cansa nunca ver um monte de headbangers cantando “Ai, ai, ai, em cima, embaixo, puxa e vai” e fazendo a coreografia do corinho que surgiu entre torcedores das seleções de vôlei e virou sinônimo de uma geração de torcedores de grandes eventos. E é inegavelmente engraçada a inserção de “Atirei o pau no gato” no solo de Metal Milkshake, que contou também com cosplay de Michael Jackson e a menção a Billie Jean.

É um humor muito mais agradável do que, claro, os excessos preconceituosos de qualquer tipo. Ou de piadas realmente sem graças, como em The Mummy, a “música do faraó de 2.000 anos” – “Para quem está morto, até que ele está bem vivo” soou como gracinha daquele tiozinho que deseja se enturmar. E foi depois disso que Headmaster – o comediante Adriano Pereira, que fazia o personagem Joselito no programa Hermes e Renato – finalmente chegou para fazer o show, já que tinha perdido a hora ao passar na Vila Mimosa. E vá lá que foi engraçado mesmo o momento em que cantou o rap em homenagem ao local (se você não é do Rio, pesquise no Google).

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E assim seguiu o show de Detonator e companhia – em tempo: Bruno Sutter é inegavelmente um cantor talentoso e, mais que isso, merece muito crédito por ser um empreendedor que corre atrás de verdade –, numa sequência de altos e baixos. Depois da dispensável The Bull, foi possível se divertir novamente com Metal Glu-Glu – meu amigo, Mallandrovsky era bom demais! –, a ponto de o público entrar na brincadeira com gritos de “Puta que pariu! É a melhor banda do Brasil”. Let’s Ride to the Metal Land (The Passage is R$ 1,00), por sua vez, até teve bons momentos, como a tirada de onda com Roberto Carlos com um “Não para, não para, não para”, adaptação de parte da letra de Amigo.

Em Evil Papagali, Detonator foi para a bateria depois de demitir El Perro Loco, identidade de Ricardo Confessori (Shaman, ex-Angra), que havia tirado a máscara na música anterior. A música colocou o público para cantar o refrão, mas engraçado mesmo foi o diálogo entre Headmaster – “Olha, não é o Aquiles Priester?” – e o próprio vocalista – “Não é o Aquiles, seu burro. É o Ricardo.” E foi com Confessori de volta à bateria e com um monte de mulheres no palco, as Massacretes, que o Massacration levou a música que tem o seu nome.

Começava assim o ápice da apresentação. O público não se furtou de gritar “Lindo, tesão, bonito e gostosão” para Detonator, mas o melhor veio mesmo com Metal Massacre Attack (Aruê Aruô), cujo refrão continua sendo uma boa piada, e Metal Bucetation. Principalmente esta última, que representa muito bem a ideia do Massacration: são fãs zoando aqueles estereótipos do metal, não oportunistas, e isso explica o fato de o clássico maior da banda ser uma mistura de Helloween (repare bem: tem um trecho de The Dark Ride) com Manowar (mas sem as tanguinhas e os corpos besuntados de óleo).

O Angra havia prometido o seu melhor show no Rio de Janeiro em toda a história. Bom, isso vai da perspectiva ou da idade de cada fã, mas é verdade que a apresentação foi muito superior à do Circo Voador, no dia 31 de maio (clique aqui e saiba como foi). O setlist, que privilegiou ØMNI com sete músicas e deixou ainda mais para trás a primeira fase da banda, foi o primeiro responsável, mas o principal foi mesmo Fabio Lione. Se na apresentação anterior ele sofreu com problemas no seu retorno, a ponto de se irritar como poucas vezes vi um músico se irritar no palco, desta vez, com tudo em ordem, o que o italiano cantou foi covardia.

Isso se refletiu no show, uma vez que Lione, Rafael Bittencourt (guitarra e vocal) e Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) pareciam estar nas nuvens. Em reta final da turnê em 2018 – depois do Rio, serão apenas mais quatro apresentações, em Juiz de Fora, Belo Horizonte, São Paulo e Salvador, totalizando 103 datas no ano –, o clima era de tal leveza que os risos entre os integrantes eram fáceis. Newborn Me e Travelers of Time deram a arrancada, mostrando uma nova era que consegue se sobressair a alguns momentos do passado, como Waiting Silence, que foi tocado em seguida – a bem da verdade, a banda poderia começar a explorar outras canções de Temple of Shadows (2004).

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“Depois de seis anos, o Brasil é a minha segunda casa. Aqui é diferente. Obrigado!”, agradeceu Lione. “E nesta noite teremos algumas surpresas.” Antes, no entanto, um clássico obrigatório, e Nothing to Say previsivelmente colocou a casa abaixo, apesar de o cansaço do público já ser sentido, graças ao atraso em toda a programação. Por não ser uma das novidades prometidas, Insania agradou, mas não tanto quanto Caveman, que fez bonito com seu groove brasileiro. E se era para surpreender resgatando algumas joias, então o quinteto acertou na mosca com Acid Rain.

Mas teve solo de bateria, felizmente curto, mas que provou ser desnecessário a partir do momento em que os fãs, em vez de absorver os detalhes da técnica de Valverde, se impressionam mais quando ele roda baquetes. Assim como Insania, Black Widow’s Web também não foi uma estreia para os cariocas, mas se considerarmos que finalmente Lione pôde cantá-la sem brigar com o retorno, principalmente na hora de reproduzir os guturais originalmente gravados por Alissa White-Gluz (Arch Enemy), vale dizer que valeu como se fosse a primeira vez. E que
música sensacional!

A prog Upper Levels até deu uma esfriada na plateia, no caso porque é necessário prestar atenção no intrincado instrumental, mas a maravilhosa Spread Your Fire funcionou como despertador. A riqueza de detalhes de ØMNI – Silence Inside surtiu o mesmo efeito de Upper Levels nos fãs, e foi aí que Lione precisou intervir. “Quero que vocês cantem com a força do coração, da alma”, disse ele antes de colocar o público para acompanhá-lo no que para ele são meros exercícios para aquecer a voz. “Porque a banda vai descansar um pouco.” E tirou onda até com um fã na fila do gargarejo, na zoação mesmo: “Não quero ninguém enfartando esta noite, e assim você vai acabar morrendo”.

Mais uma inédita de ØMNI no Rio, The Bottom of My Soul trouxe Bittencourt nos vocais e deu um descanso para Lione, que voltou para dar um show particular em Morning Star, talvez a melhor das surpresas da noite. Viu como é bom, na hora de pinçar algo da obra-prima The Temple of Shadows, fugir um pouco de Waiting Silence ou Angels and Demons? O sorriso no rosto continuou com Magic Mirror, talvez a melhor das músicas do novo álbum, uma daquelas obras de rara felicidade. E se o show terminasse aí, teria valido a pena, até porque o bis foi aquele que a maioria dos presentes – senão todos – já testemunhou algum dia. Mas não só por isso.

Na volta para o palco, Bittencourt soltou um “obrigado ao público e ao ex-integrantes, presentes de alguma maneira no show”, mas Rebirth só foi tocada depois de uma desnecessariamente longa apresentação da banda – já era madrugada de sábado, e sorte dos que estavam ali e não precisariam acordar cedo. Mas Rebirth foi funcional como sempre e teve ajuda da contemporânea Nova Era, que mais uma vez transformou Carry on em coadjuvante de luxo, mostrar como o Angra pode, com trocadilho mesmo, renascer a cada mudança de fase.

Setlist Angra
1. Newborn Me
2. Travelers of Time
3. Waiting Silence
4. Nothing to Say
5. Insania
6. Acid Rain
7. Caveman
8. Bruno Valverde Drum Solo
9. Black Widow’s Web
10. Upper Levels
11. Spread Your Fire
12. ØMNI – Silence Inside
13. The Bottom of My Soul
14. Morning Star
15. Magic Mirror
Bis
16. Rebirth
17. Carry on/Nova Era

Setlist Massacration
1. Metal is the Law
2. Metal Milkshake
3. The Mummy
4. Metal Dental Destruction
5. The Bull
6. Metal Glu-Glu
7. Let’s Ride to the Metal Land (The Passage is R$ 1,00)
8. Evil Papagali
9. Massacration
10. Metal Massacre Attack (Aruê Aruô)
11. Metal Bucetation

Setlist Tuatha de Danann
1. We’re Back
2. Rhymes Against Humanity
3. Tan Pinga Ra Tan
4. The Brave and The Herd
5. The Last Words
6. Us
7. Believe: It’s True!
8. Land of Youth
9. The Dance of the Little Ones

Liberation Fest 2018: Arch Enemy, Kreator & Excel

Por Daniel Dutra | Fotos: Gustavo Maiato

Assim como o Solid Rock, o Liberation Fest é outra esperança para os fãs cariocas de rock pesado – principalmente por ser tratar de um evento da única produtora especializada que ainda mantém o Rio de Janeiro como rota obrigatória. Em sua segunda edição, o festival voltou ao Circo Voador com dois nomes de peso e dois de escalão inferior. Ou quase, porque o Walls of Jericho não pôde se apresentar na cidade. Uma tempestade de neve provocou o cancelamento de vários voos na Costa Leste dos Estados Unidos, e a vocalista Candace Kucsulain não conseguiu chegar a tempo. Os outros integrantes – os guitarristas Chris Rawson e Mike Hasty, o baixista Aaron Ruby e o baterista Dustin Schoenhofer – já estavam no Rio, assim a banda conseguiu se apresentar em São Paulo no dia seguinte, uma vez que Candace embarcou num voo posterior.

Coube ao veterano Excel dar o pontapé inicial. Com 35 anos de estrada, incluindo dois hiatos (em 1993 e de 1996 a 2011), o grupo californiano de crossover foi, na verdade, uma novidade para a maioria dos presentes. Com tanto tempo de carreira, é possível questionar por que o quarteto não anda de mãos dadas com pares como D.R.I. e Suicidal Tendencies. Mas aí você olha a discografia e percebe que há apenas três discos de estúdio, e o mais recente foi lançado em 1995 (Seeking Refuge). E seis anos depois da segunda volta, a banda liderada por Dan Clements continua optando apenas por se apresentar ao vivo – único integrante da formação original, o vocalista tem ao lado o veterano Shaun Ross (baixo) e os novatos Alex Barreto (guitarra) e Michael Cosgrove (bateria).

Enfim, a julgar pelo show na famosa lona, não será assim que a o interesse será renovado ou despertado. Tudo bem que o som embolado não ajudou, mas o Excel não empolgou muito. Com um crossover que passeia pelos anos 80 e anos 90 – quando boa parte das bandas do estilo adicionou um pouco mais de groove à sonoridade –, o grupo chegou a apresentar uma música nova, Shadow Winds, mas não deixou de soar genérico, sem aquele algo a mais que torna especial o Suicidal Tendencies, por exemplo – a turma de Mike Muir, aliás, é uma enorme influência aqui. De qualquer maneira, o publicou aplaudiu, até como reconhecimento ao esforço do quarteto no palco, e chegou a abrir algumas rodas mais para o fim. Afinal, a intenção era se divertir.

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A coisa ficou séria mesmo no ato seguinte, porque o Kreator foi simplesmente destruidor. Meu amigo, que massacre! Daqueles para atrapalhar a vida dos fotógrafos, uma vez que não havia pit. Sem se apresentar no Rio havia 26 anos – desde a noite com Dorsal Atlântica e Korzus na quadra da Estácio de Sá (sim, a escola de samba), em abril de 1992 –, a banda alemã começou com Phantom Antichrist, e bastou para ganhar o jogo. Os gritos em uníssono de “Kreator! Kreator!” provaram que nem mesmo um setlist calcado na fase mais recente seria motivo para reclamação. Sim, nove das 13 músicas foram retiradas de Violent Revolution (2001) para frente, sendo que seis destas saíram dos dois últimos trabalhos, Phantom Antichrist (2012) e Gods of Violence (2017).

E daí? Hail to the Hordes é de 2017 e fez os fãs castigarem os pulmões no refrão, assim como aconteceu em Enemy of God, mas com um agravante: a pista virou um pandemônio. Culpa de Mille Petrozza. “E bom estar de volta depois de tantos anos”, agradeceu o vocalista e guitarrista antes de fazer o pedido. “Quero um mosh pit com massacre ao estilo brasileiro.” Claro, as rodas só assustariam quem não está acostumado ou não entende que aquilo é diversão, não violência. Mais uma do CD mais recente, Satan is Real contou com uma iluminação a rigor, predominantemente vermelha, e um efeito de fumaça muito bem casado com o refrão.

Visualmente, causou o impacto desejado, até porque a banda ajudava bastante. Jürgen “Ventor” Reil espancava a bateria com a maestria habitual, o baixista Christian Giesler agitava alucinadamente, e o guitarrista Sami Yli-Sirniö até mantinha uma postura mais sóbria, mas nem mesmo ele resistiu a Civilization Collapse. O finlandês acompanhou o sorriso no rosto de Petrozza, que pediu nova roda e foi atendido com um mosh pit cavalar. People of the Lie foi uma lindeza só, e Flag of Hate fez o líder do Kreator novamente se despir da pose de sisudo com os fãs gritando o nome da banda alemã. “Estamos no Rio de Janeiro, então espero muito barulho”, disse ele, aproveitando para reger todos que estavam na pista – “vocês aqui na frente, vocês aí atrás!” – e também na arquibancada.

Depois de passar por Coma of Souls (1990) e Endless Pain (1985), o Kreator adiantou um pouco o passado até Outcast (1997). A versão matadora de Phobia foi muito bem recebida pelos fãs, e um mais exaltado conseguiu subir no palco logo em seguida, Gods of Violence, para um stage diving sinistro. Sério, espero que o cara tenha ficado bem. E a catarse na plateia fez Petrozza novamente se soltar – “Muito obrigado, Rio! Vocês são fantásticos!” – antes de um breve discurso. “Quantos de vocês estiveram no show em 91?”, perguntou o líder, errando o ano. “Fãs old school, fãs new school, todos estão certos. Nós somos o Kreator, e vocês, no Rio de Janeiro, são a horda do caos.” Foi a deixa para Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite), responsável pela roda mais animal da noite (como se ainda fosse possível) e um empolgante momento pula-pula no refrão.

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“Dedicamos essa próxima música a Vinnie Paul, Dimebag Darrell, Fast Eddie Clark, Phil Animal Taylor, Lemmy Kilimister e a todos que nos deixaram. Muito obrigado! E boa noite”, disse Petrozza antes de Fallen Brother, última antes de um bis para guardar para sempre na memória. Violent Revolution, um clássico instantâneo, reiniciou a catarse e antecedeu a “última chance de vocês matarem uns aos outros”. Pleasure to Kill foi o desfecho de um show fantástico, uma aula de thrash metal que não pode demorar mais tantos anos para acontecer. “Nós vamos voltar. Veremos todos vocês na próxima turnê”, prometeu Petrozza, que se juntou a Ventor, Giesler e Yli-Sirniö para agradecer a aula que veio da plateia.

Curiosamente, a edição carioca do Liberation Fest foi a única em que o Arch Enemy se apresentou como atração principal – apesar de as duas bandas terem feito um set com a mesma duração, uma hora e 15 minutos, como preza uma turnê de co-headliners. Assim, uma dúvida virou certeza antes de o grupo sueco entrar no palco: muita gente foi ao Circo Voador para ver o Kreator, e uma parcela razoável foi embora antes dos primeiros acordes de The World is Yours. Se a pista estava infernal de cheia durante a apresentação da banda alemã, agora ela estava confortável. E não que a casa tenha ficado vazia. Muito pelo contrário, porque os headbangers cariocas fizeram daquela noite de sexta-feira uma exceção e compareceram em ótimo número.

E quem ficou assistiu a um Arch Enemy afiado e pilhado tentando manter o nível da atração anterior. Não conseguiu, mas ainda assim fez um show quase tão bom quanto o de 2015, na mesma casa. Apostando nos dois discos com Alissa White-Gluz – foram cinco músicas de War Eternal (2014) e quatro de Will to Power (2017), ou seja, nove das 14 do set –, o quinteto provou de vez que conseguiu se manter relevante com a troca de vocalistas, até porque Khaos Legions (2011), o último trabalho com Angela Gossow, mostrou claros sinais de uma fórmula cansada. The World is Yours estava na ponta da língua dos fãs, mas é claro que o material mais antigo, mas nem tão mais antigo assim, era o que causava verdadeiro êxtase. E Ravenous foi um delírio muito bem-vindo, jogando um eventual cansaço do público a escanteio.

Stolen Life ficou maravilhosa ao vivo, mas foi com War Eternal que a plateia voltou a agitar com vontade. Para manter o clima, My Apocalipse botou todo mundo para pular ou babar com a parede sonora criada pelas guitarras de Michael Amott e Jeff Loomis. A dupla é monstruosa, e a cozinha formada por Sharlee D’Angelo (baixo) e Daniel Erlandsson (bateria) é o complemente perfeito para o instrumental muito técnico da banda, mas ao vivo é impressionante como Alissa domina as ações. Com bandeira na mão durante, ela comanda o público com extrema facilidade, o colocando para cantar o coro e o preparando para The Race: “Parece que vocês estão prontos para uma música mais rápida”. Sim, estavam, e a energia emanada do palco para a plateia e vice-versa foi sensacional.

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Uma ebulição no momento certo, porque a sequência seguinte deu uma esfriada nos ânimos, graças também aos intervalos entre as músicas que deram uma quebrada na dinâmica da apresentação. Os fãs ainda reagiram bem a You Will Know My Name, mas ficaram contemplativos em The Eagle Flies Alone e First Day in Hell, que foram precedidas pela instrumental Intermezzo Liberté. Ainda assim, First Day in Hell ficou espetacular ao vivo e teve como bônus o “bang your fucking head” berrado por Alissa para acordar o público. Funcionou a contento, mas o roteiro do show pedia para atrapalhar.

Mais uma instrumental, Saturnine surgiu nos PAs como um desnecessário interlúdio. Felizmente, As the Pages Burn é uma música maravilhosa, então ajudou a colocar o show em seu devido lugar. E é necessário fazer o registro: como pode uma voz poderosa como aquela sair de uma vocalista daquele tamanho? Alissa simplesmente arregaçou, contando ainda com ao auxílio de Amott e Loomis em backings que fizeram um interessante contraponto. Para fechar a noite, antes do bis que todo mundo sabia que iria rolar, o hino We Will Rise, que, convenhamos, merecia um retorno melhor dos fãs. Mais empolgação, mesmo.

Avalanche iniciou o bis e, graças a sua levada, fez abrir as rodas na pista. Seria a deixa para a banda emendar algum clássico, mas não foi o que aconteceu. Teve um curto solo de Loomis antes de Snow Bound, que nada mais é do que um solo de Amott. Imagine se esses dois momentos tivessem dado lugar a Dead Bury Their Dead ou Dead Eyes See No Future, por exemplo… Seria um bis para valer o ingresso, porque o quinteto se despediu com Nemesis, que causou êxtase nos fãs, que largaram as mãos nas palmas e soltaram a voz no coro. Mas foi, no geral, um show para sonhar com uma volta na próxima turnê.

Setlist Arch Enemy
1. The World is Yours
2. Ravenous
3. Stolen Life
4. War Eternal
5. My Apocalypse
6. The Race
7. You Will Know My Name
8. Intermezzo Liberté
9. The Eagle Flies Alone
10. First Day in Hell
11. As the Pages Burn
12. We Will Rise
Bis
13. Avalanche
14. Jeff Loomis Guitar Solo
15. Snow Bound
16. Nemesis/Fields of Desolation

Setlist Kreator
1. Phantom Antichrist
2. Hail to the Hordes
3. Enemy of God
4. Satan is Real
5. Civilization Collapse
6. People of the Lie
7. Flag of Hate
8. Phobia
9. Gods of Violence
10. Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)
11. Fallen Brother
Bis
12. Violent Revolution
13. Pleasure to Kill

Setlist Excel
1. My Thoughts
2. Wreck Your World
3. Your Life
4. Split Image
5. Insecurity
6. Never Denied
7. Shadow Winds
8. Social Security
9. Spare the Pain

Solid Rock II: Judas Priest, Alice in Chains & Black Star Riders

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

Um é pouco, dois é bom, então que venha o terceiro Solid Rock, depois o quarto, o quinto… A despeito de a segunda edição no Rio de Janeiro ter passado para um lugar menor – da Jeunesse Arena para o Metropolitan – e da manutenção do esquema de promoção de ingressos (leve dois, pague um), fica a torcida para e a esperança de que o festival se consolide de vez. E sem levar em consideração os nomes escalados, houve um avanço no esquema de 2017 para 2018, o que começou a ficar na cara logo na primeira atração da noite.

Se no ano anterior o Tesla teve direito a um set de apenas meia hora – uma pena, é bom ressaltar (clique aqui e saiba como foi) –, desta vez o Black Star Riders abriu os serviços com 45 minutos de um show matador (algo que as duas bandas tiveram em comum). Sem o guitarrista Damon Johnson, que anunciou sua saída para ficar mais tempo com a família, Ricky Warwick (vocal e guitarra), Scott Gorham (guitarra), Robbie Crane (baixo) e Chad Szeliga (bateria) contaram com a ajuda de Luke Morley (Thunder) no giro pela América do Sul – Johnson ainda fará os últimos shows da turnê até o fim do ano, no Reino Unido, antes de passar a palheta para Christian Martucci (Stone Sour) – e meteram um enorme sorriso no rosto daqueles que chegaram mais cedo para vê-los.

O quinteto entrou no palco com as ótimas Black Jack e All Hell Breaks Loose, suficientes para ganhar o público, uma vez que muita gente não conhecia a banda – principalmente os fãs de Alice in Chains que desde cedo se aglomeraram no gargarejo da Pista Premium. Mas quem conhecia não apenas pôde atestar o poder de fogo do Black Star Riders, mas também começou logo a matar a sede de Thin Lizzy. Jailbreak veio a seguir, e foi emocionante ver e ouvir os legítimos herdeiros de Phil Lynott fazendo justiça a um dos muitos clássicos do saudoso e genial irlandês. Meu amigo, e à esquerda do palco estava a lenda Scott Gorham!

The Killer Instinct, faixa-título do segundo disco, de 2015, foi uma continuação à altura do legado, e a reação dos fãs – e de quem já estava virando fã – durante o solo dobrado meteu um sorriso no rosto de Warwick. Morley fez bonito ao lado de Gorham nas guitarras gêmeas que se tornaram marca registrada do Thin Lizzy e são reprisadas com louvor no BSR, diga-se, mas o grupo mostrou enorme coesão. É possível lamentar a ausência de Jimmy DeGrasso, porque falta em Szeliga um toque mais marcante em sua performance, mas isso foi compensado com as presenças de palco de Crane – os anos tocando com Ratt, Vince Neil e Lynch Mob, por exemplo, ajudaram muito na postura hard rock – e Warwick.

Heavy Fire, que dá nome ao terceiro e mais recente CD, lançado ano passado, ficou impecável ao vivo, principalmente considerando as diferentes passagens instrumentais, e When the Night Comes in confirmou seu potencial para hit. E talvez tivesse sido uma boa apresentar mais material novo – Dancing With the Wrong Girl cairia muito bem –, uma vez que o álbum de estreia, All Hell Breaks Loose (2013), cedeu cinco das dez músicas do set. De qualquer maneira, Before the War, Kingdom of the Lost – anunciada por Warwick como “um pouco de heavy metal irlandês para vocês” – e Bound for Glory, que encerrou a apresentação, foram irresistíveis. E entre elas, com Warwick largando a guitarra e virando um frontman de fato e de direito, The Boys Are Back in Town foi de deixar muito marmanjo de olhos marejados.

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Muitos fãs de Alice in Chains não sabiam o que esperar do BSR, mas podem se sentir privilegiados por terem visto Scott Gorham e companhia mantendo a chama acesa. E também por terem assistido à banda de Seattle apagar aquele show modorrento de 2013, no Rock in Rio. Na verdade, William DuVall (vocal e guitarra), Jerry Cantrell (guitarra), Mike Inez (baixo) e Sean Kinney (bateria) mostraram que funcionam muito melhor num lugar menor. Ou fechado, porque o Metropolitan – que hoje, depois de um sem-número de ‘naming rights’ ao longo dos anos, atende oficialmente por Km de Vantagens Hall – não é necessariamente pequeno: comporta um público de 8.450 pessoas.

Tirando o hype na época do Hollywood Rock, talvez mesmo aquele show no já longínquo ano de 1993, com a formação original, tivesse sido melhor num local indoor. O fato é que o Alice in Chains fez uma bela apresentação em uma hora e 15 minutos – menos tempo que o Cheap Trick na primeira edição do Solid Rock, vale lembrar –, mesclando muito bem passado e presente. A fase com DuVall, que já rendeu três discos, cedeu cinco músicas (1/3 do set), e foi com Check My Brain, de Black Gives Way to Blue (2009), que o grupo abriu os serviços. Bem recebida, a canção do primeiro álbum da volta antecedeu Again, de Alice in Chains (1995), último trabalho de inéditas antes do encerramento das atividades, em 2002.

Um começo sem nenhum clássico, pois em seguida foi a vez de Never Fade, uma das melhores de Rainier Fog (2018), o novo e melhor disco com o atual vocalista. Mas isso não importou muito, pois a trinca arrancou da plateia um efusivo coro com o nome da banda, momento que DuVall agradeceu com um simpático (e engraçado) “Tamo junto”. E parecia roteiro de filme, porque Them Bones surgiu como um capítulo para manter o astral lá em cima. E conseguiu com sobras. Êxtase dos fãs, cara de poucos amigos de quem sempre torceu o nariz, e não deixa de ser curioso que as duas músicas seguintes foram uma amostra de como o grupo pode ser incluído com justiça no rol do rock pesado.

Dam That River, de Dirt (1992), é heavy metal de primeira; e Hollow, de The Devil Put Dinosaurs Here (2013), ganhou um peso descomunal ao vivo. Seria preciso explicar aos insatisfeitos que os dois primeiros trabalhos do Alice in Chains – Facelift (1990) e Dirt – são metal até o talo, e são ótimos, mas de nada adiantaria, porque em seguida veio Nutshell, do EP Jar of Flies (1994). Hit e muito bonita, ela até poderia fazer parte da obra mais intimista do Pearl Jam, por exemplo, mas é aí que residiria a birra. E quem torce o nariz ainda perderia o belíssimo solo de Cantrell, guitarrista cujo bom gosto e talento são diretamente proporcionais à sua postura blasé no palco – e por falar em blasé, fica o registro da lamentável atitude da banda ao proibir o pit aos fotógrafos, que tiveram de se virar para registrar a banda da ‘house mix’.

No Excuses, mais uma de Jar of Flies, colocou à prova o talento de Kinney, que carregou a música nas costas com um criativo trabalho percussivo. E aí chegoou We Die Young, e eu poderia dizer que o clássico provocou um êxtase na casa, que o riff é genial et cetera, mas o fato é que se trata de uma baita música. E muito, mas muito funcional. Passado e presente voltaram a andar juntos com Stone e It Ain’t Like That, ambas com peso para dar e vender, mas o (certamente) mais esperado e (talvez) melhor momento da noite estava guardado para logo depois. Man in the Box foi apresentada numa versão tão maravilhosa que ficou difícil para The One You Know, a segunda e última canção cedida por Rainier Fog.

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Ficou impossível, na verdade. O clima deu um esfriada considerável, e mesmo Inez, que tem uma puta presença de palco (ele passou um bom tempo na estrada com Ozzy Osbourne e Zakk Wylde, lembra?), parecia anestesiado. Nada que Would? não resolvesse, porque ficou simplesmente fantástica. “Este é o nosso último show até o próximo ano”, disse DuVall, agradecendo ao público e à equipe da banda, “aqueles que fazem acontecer, mas que nunca são vistos por ninguém”. Foi a deixa para a ótima Rooster encerrar um show que valeu o ano musical dos fãs do quarteto, tanto que muitos deles foram embora em seguida.

Sim, ao primeiro sinal de War Pigs no PA, as duas pistas estavam mais confortáveis para quem foi assistir às três bandas. Melhor para quem foi prestigiar especialmente o Judas Priest, que vive um momento realmente único em seus quase 50 anos de carreira: lançou um dos discos mais bem falados do heavy metal em 2018, o aclamado Firepower, e caiu na estrada sem Glenn Tipton, que há anos vem lidando com a Doença de Parkinson e agora não tem mais condições físicas de encarar uma longa turnê. De fato, uma ausência que deixou um enorme buraco, mas que rendeu mudanças no palco. Voluntariamente ou não, algumas para melhor, outras nem tanto.

Cortina no chão, Rob Halford (vocal), Richie Faulkner e Andy Sneap (guitarras), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) entraram rasgando com Firepower, a forte faixa-título do novo álbum. Previsível, porque ela nasceu para isso, mas a sequência foi para maltratar o fã das antigas: sem sair de cima, Running Wild se destacou ainda mais com um empolgado Travis cantando a sua letra; o riff matador de Grinder anunciou a bênção em forma de música; e Sinner fez Faulkner largar o dedo sem dó nem piedade. Foi um início tão fantástico que só depois deu para entender o que estava acontecendo…

Era o lado bom da apresentação, que teve outro de seus episódios em The Ripper. O telão – que enriquecia um palco caprichadíssimo – mostrava recortes de jornal e animações sobre Jack, O Estripador, só que Travis novamente roubou a atenção, como se aproveitasse a oportunidade enquanto os fãs olhavam para as imagens. E não chamou a atenção porque é um baterista de técnica acima da média. Isso todos já sabem. Foi pela repetição de mais uma cena improvável: mais do que cantar a letra da música, ele aproveitou o trecho “I’m a devil in disguise” para fazer chifrinhos com os dedos à frente da testa.

Meu amigo, se você já assistiu a algum show do Judas Priest, mesmo que em DVD, sabe que o batera normalmente toca como se estivesse esperando dar o horário para ir embora. Então, foi uma agradável surpresa vê-lo tocar ao mesmo tempo em que genuinamente mostrava que estava curtindo demais o que estava fazendo. Como a sua empolgação em Desert Plains, que ficou no meio das novas Lightning Strike e Never Surrender, que merece uma menção à parte. “Essa música é sobre a comunidade heavy metal, é sobre força e energia para mudar o que não gostamos”, disse Halford, sem fugir de um trocadilho. “É sobre defender a fé e não desistir nunca.” Nem precisava de todo esse discurso, pois Never Surrender, a melhor música de Firepower, soou mais maravilhosa ao vivo. E nem conto que Travis dividiu os backing vocals com Faulkner.

Turbo Lover colocou o público para cantar o refrão, assim como fez The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) – que o Fleetwood Mac já deveria ter cedido para o Judas Priest, em cartório e com firma reconhecida –, apesar do desnecessário (e chatíssimo) joguinho de eu-canto-e-depois-vocês-cantam, entre Halford e fãs, antes de seu início. Não dá para vencer sempre, e Night Comes Down deixou claro a grande derrota: a diferença abissal entre Faulkner e Andy Sneap. Alguém vai dizer que o renomado produtor foi guitarrista do falecido Sabbat, mas como guitarrista ele é um renomado produtor. Não bastasse a lacuna deixada por Tipton, por sua gigantesca importância, a banda optou pelo mais simples. O show deve continuar e continuou, mas com uma parte que não funciona.

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A bonita Rising from Ruins mostrou-se agradável também ao vivo, e dá até para descontar a imagem de Halford com o sabre de luz de Kylo Ren, porque a transição entre o silêncio e o esporro foi com a espetacular Freewheel Burning, um arregaço que emocionou por trazer de volta a lembrança de um pré-adolescente vidrado em frente à TV assistindo ao videoclipe que costumava passar num antigo programa. Foi por isso, não pelas imagens de Ayrton Senna no telão, uma vez que este mesmo pré-adolescente já era fã de Nelson Piquet – e ultrapassou as raias do ridículo a homenagem ao falecido tricampeão de Fórmula 1 ter sido usada por oportunistas como resposta a Roger Waters. A intenção de Halford e cia. não era essa, obviamente, e vale ressaltar que a produtora das duas turnês é a mesma. Ah, bobinhos…

De volta à programação normal, You’ve Got Another Thing Comin’ foi o primeiro sinal de que a festa estava chegando ao fim. E foi também mais uma constatação da falta que Tipton faz, uma vez que aquelas emblemáticas coreografias ao lado de Faulkner (e antes ao lado de K.K. Downing) ficaram em sua maioria apenas no imaginário. Sneap estava lá no fundo ao lado de Hill, enquanto Faulkner e Halford – cuja garganta vai muito bem, obrigado – comandavam as ações. Correria pelo palco nunca foi o forte do Judas Priest, e as performances de Hill são emblemáticas nesse sentido, mas dava para arrumar um guitarrista não apenas mais talentoso, mas também mais carismático. Como o próprio Faulkner, um garoto que se juntou a veteranos e mostrou desde o início que se sentia em casa. Hoje, ele domina as ações com gosto.

Enfim, o ronco do motor de uma Harley-Davidson anunciou Hell Bent for Leather, com Halford entrando no palco pilotando a moto e, para não perder o costume, cantando o clássico inteiro sentado no banquinho. “O que vocês querem ouvir?”, bradou Travis. A resposta era óbvia, mas ainda assim o público devolveu com vontade o pedido por Painkiller, que depois de todos esses anos segue sem enjoar, ainda mais com uma novidade, digamos assim: Faulkner jogou Sneap para escanteio e assumiu os solos recheados de arpejos.

Sneap, no entanto, teve seus minutos de fama como guitarrista do Judas Priest em Electric Eye, que abriu o bis, tocando o solo de maneira correta (justiça seja feita, ele também segurou bem as bases durante todo o show). Talvez por causa do cansaço pela quantidade de tempo em pé, talvez pela hora (era domingo, e muita gente tinha que acordar cedo no dia seguinte), os ânimos tinham esfriado um pouco na plateia. Não era o caso de parecer um enterro, mas aquela reta final recheada de joias merecia uma resposta mais quente.

Ainda assim, mesmo que num desfecho óbvio e provavelmente ao menos uma vez já visto pela grande maioria, Breaking the Law e Living After Midnight arrancaram os últimos resquícios de força dos fãs que encheram o Metropolitan (sim, continuou cheio mesmo depois de parte dos fãs do Alice in Chains debandar). “Nós somos o Judas ‘puta madre’ Priest!”, agradeceu Halford, e o coro dos fãs em uníssono gritando o nome da banda, coro puxado pelo próprio Metal God, mostrou que ele estava perdoado por achar que falamos espanhol. E porque, prós e contras, foi um puta show de metal.

Setlist Judas Priest
1. Firepower
2. Running Wild
3. Grinder
4. Sinner
5. The Ripper
6. Lightning Strike
7. Desert Plains
8. No Surrender
9. Turbo Lover
10. The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)
11. Night Comes Down
12. Rising from Ruins
13. Freewheel Burning
14. You’ve Got Another Thing Comin’
15. Hell Bent for Leather
16. Painkiller
Bis
17. The Hellion/Electric Eye
18. Breaking the Law
19. Living After Midnight

Setlist Alice in Chains
1. Check My Brain
2. Again
3. Never Fade
4. Them Bones
5. Dam That River
6. Hollow
7. Nutshell
8. No Excuses
9. We Die Young
10. Stone
11. It Ain’t Like That
12. Man in the Box
13. The One You Know
14. Would?
15. Rooster

Setlist Black Star Riders
1. Bloodshot
2. All Hell Breaks Loose
3. Jailbreak
4. The Killer Instinct
5. Heavy Fire
6. Before the War
7. When the Night Comes in
8. The Boys Are Back in Town
9. Kingdom of the Lost
10. Bound for Glory

British Lion

Por Daniel Dutra | Fotos: Alex Cavalcanti

Dois dias depois, Black Star Riders, Alice in Chains e Judas Priest tocariam na cidade. Na semana seguinte, seria a vez de Kreator e Arch Enemy. Com uma agenda assim, qual era a aposta para o show do British Lion no Rio de Janeiro? A banda não caiu no gosto dos fãs do Iron Maiden, então apenas a presença de Steve Harris seria forte o suficiente para encher o Circo Voador? A resposta parecia óbvia: um público tão reduzido que fez com que o acesso às arquibancadas fosse fechado, afinal, era necessário juntar na pista todos os que se aventuraram na Lapa naquela noite de sexta-feira. Para ficar menos feio, mesmo.

Tudo bem. Vale lembrar que o Rio não apenas vive uma crise econômica acima da média nacional, como também vem se tornando um cemitério para shows de heavy metal, mas ainda assim era a oportunidade de ver Steve Harris bem mais de perto do que o usual. E foi o que valeu a pena, apesar de a banda – completada por Richard Taylor (vocal), Grahame Leslie e David Hawkins (guitarras) e Simon Dawson (bateria) – fazer valer a máxima do “quem sabe faz ao vivo”. Lançado em 2012, o homônimo álbum de estreia serve para pegar poeira na estante de nove entre dez fãs que o compraram, mas o show foi divertido.

A abertura foi com a dobradinha inicial de British Lion, e enquanto This is My God colocou os fãs para cantar o refrão, até porque a música ganhou videoclipe à época, Lost Worlds escancarou o grande problema do quinteto: o instrumental pode até ser legal, mas quando começa a melodia vocal… Para completar, o gogó do esforçado Taylor não ajuda muito. Com um set 100% autoral, o grupo aproveitou a primeira vez em solo brasileiro para mostrar material novo – apenas duas (Karma Killer e The Lesson) das dez faixas do ‘début’ ficaram fora, diga-se.

Não que importasse tocar o que ninguém conhecia, pois as atenções estavam voltadas para Harris, que fez a plateia a pular, bater palmas e cantar o corinho de Father Lucifer; e também comandou os gritos dos fãs durante a paradinha em The Burning. E o efeito foi o mesmo em Spit Fire, novo single que já tem clipe no YouTube e, muito em parte por causa de sua introdução lenta e dedilhada, bem poderia ser uma música da Donzela de Ferro. Curiosamente, aliás, o British Lion alcança melhores resultados quando foge do hard ‘n’ heavy calcado nos anos 70 que se propõe a fazer. Foi o que aconteceu com The Chosen Ones e These Are the Hands, que possuem um acento do pop britânico e confirmaram ao vivo o status de duas das três melhores canções de British Lion.

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Deu para empolgar, o que não aconteceu com as novas Bible Black e Guineas and Crowns, principalmente a primeira, com um início instrumental desnecessariamente longo (uma síndrome do Iron Maiden que parece estar pegando o British Lion) e a performance irregular de Taylor. Outra recém-saída do forno, Last Chance renovou a esperança com um corinho que funcionou bem no começo e um refrão bem legal, o suficiente para fazer os fãs gritarem o nome da banda ao fim, o que se estendeu para Us Against the World, esta mais familiar ao público.

Mais uma nova, Lighting, e outra antiga, Judas, foram apenas mais do mesmo até Taylor apresentar os inquietos Leslie e Hawkins e o seguro Dawson, ser apresentado por Leslie e proferir corretamente um “por último, mas não menos importante, o chefão!”. Ovacionado pelos presentes – que soaram como uma multidão que havia lotado a casa –, Harris agradeceu com um sincero sorriso no rosto e fazendo o ‘Hammers’, gesto com os braços cruzados utilizado por jogadores e torcedores do West Ham, seu time de coração – claro, a correia do baixo também era a tradicional do clube inglês.

“Essa foi a última música”, havia dito Taylor, para depois enaltecer os fãs. “Mas nós vamos ficar.” Quebrando o protocolo do bis, o quinteto continuou no palco para as duas últimas canções do set. Let it Roll, do UFO, deu lugar a A World Without Heaven, mas foi interessante ver que aquele que poderia ter sido o melhor momento da noite – o cover de uma das bandas favoritas de Harris, fã de carteirinha de Pete Way – acabou se tornando realmente um dos melhores momentos da noite. Porque A World Without Heaven, que tem uma ótima seção instrumental, acabou tendo a melhor recepção entre todas.

A bem da verdade, foi todo o bis. Porque Eyes of the Young pegou carona na empolgação, colocou todo mundo para soltar a voz no coro e fechou a trinca das melhores faixas do primeiro disco, justamente as que possuem uma inclinação para o pop inglês. No fim, os novos gritos do nome da banda fizeram justiça a uma apresentação honesta e, principalmente, à imagem de Harris, que continua deixando os fãs com brilho nos olhos com sua inigualável presença de palco, cantando todas as letras e fazendo aquela que é uma das poses emblemáticas do heavy metal: o pé no retorno com o baixo apontado para o público. Testemunhar essa imagem bem de perto… Só isso já valeu a noite.

Setlist
1. This is My God
2. Lost Worlds
3. Father Lucifer
4. The Burning
5. Spit Fire
6. The Chosen Ones
7. These Are the Hands
8. Bible Black
9. Guineas and Crowns
10. Last Chance
11. Us Against the World
12. Lighting
13. Judas
14. A World Without Heaven
15. Eyes of the Young

Max & Iggor Cavalera

Por Daniel Dutra | Fotos: Daniel Croce

Alguém anotou a placa? Este era o sentimento do público que compareceu em bom número ao Circo Voador naquela quinta-feira, véspera de feriado. Escorados por Marc Rizzo (guitarra) e Mike Leon (baixo), também integrantes do Soulfly, Max e Iggor Cavalera passaram por cima de todo mundo, sem dó nem piedade, ao revisitar canções de Beneath the Remains (1989) e Arise (1991). Curiosamente, a união dessas joias lapidadas com o Sepultura resultou numa apresentação bem superior àquela que teve Roots (1996) tocado na íntegra, em dezembro de 2016. E para isso contribuiu não apenas o repertório, mas principalmente a energia dos irmãos Cavalera: enquanto o Iggor tocou com pegada e vontade que há muito tempo não se via, Max estava lindamente possuído pela energia que emanava na casa.

Energia que se fez presente logo de cara. Pudera, como resistir a uma abertura com Beneath the Remains e Inner Self? A catarse inicial ganhou forma em rodas insanas e nas muitas vozes que, regidas por Max, cantavam os refrãos. Dois clássicos que, principalmente o segundo, até hoje se fazem presentes nos shows dos irmãos ou do Sepultura, mas o mais interessante da noite eram as músicas que raramente (e infelizmente) ganham uma chance fora de turnês específicas. Como esta chamada de Return Beneath Arise. Assim, foi especial reviver Stronger Than Hate e seu refrão preciso; cantar Mass Hypnosis já no comecinho, sob o ritmo do bumbo; e, mais do que qualquer coisa, bater cabeça com a espetacular Slaves of Pain, uma das maiores criações da formação clássica do Sepultura. Que riff e refrão fabulosos!

“Abre a roda, porra!”, bradou Max antes de Primitive Future. E abriu-se a roda, que virou trenzinho na introdução pré-gravada de Arise para se transformar, já com a fúria sonora sendo despejada, numa roda de proporções ainda maiores. “Puta que pariu, Rio de Janeiro!”, agradeceu Max, com um sorriso infantil no rosto – sim, de alegria infantil de quem guarda boas e antigas memórias daquele palco: desde 1987, quando o Sepultura saiu do Caverna II para lançar Schizophrenia no Circo Voador. Os gritos de “Cavalera! Cavalera!” antecederam a obviamente ovacionada Dead Embryonic Cells, mas mostraram mesmo como é bom escutar as duas pérolas que abrem Arise sem que elas virem uma única canção. Não cansa nunca.

“Essa é uma das minhas favoritas”, disse o vocalista e guitarrista ao anunciar Desperate Cry, outro clássico extraído do quinto trabalho gravado com o Sepultura. E uma das favoritas dos fãs, também. A rigor, as três principais músicas de Arise foram apresentadas em sequência, mas é louvável que o pique não tenha caído com as duas canções que vieram a seguir. Começando por Altered State, na qual um alucinado Max agitou como nos velhos tempos diante de uma congregação que obedeceu rapidamente o pedido de “mãos para cima”. E veio Infected Voices, “uma porrada só que está lá no finzinho de Arise, então abre a roda, Hell de Janeiro!”. E abriu-se a roda, mais uma vez, num clima que já não contagiava apenas uma banda afiadíssima no palco – fiel escudeiro de Max, o ótimo Rizzo ganhou uma companhia à altura em Leon, que agitava sem parar. Só que olhos mais atentos percebiam, no canto esquerdo do palco, a matriarca Vania Cavalera vibrando a cada instante. No lado direito, atrás da parede de amplificadores, havia até roadie tocando até ‘air drums’…

Max & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor CavaleraMax & Iggor Cavalera

Àquela altura, vários fãs tinham subido no palco para mergulhar de volta na pista, por vontade própria ou com uma mãozinha da equipe técnica. Em Orgasmatron, porém, um fã pediu para não ser devolvido involuntariamente, e Max, ao perceber, o puxou para perto, o abraçou e cantou com ele o refrão do clássico do Motörhead que o Sepultura tomou para si há quase 30 anos. Antes do ‘stage diving’, como forma de agradecimento, o fã se ajoelhou aos pés do guitarrista e vocalista, que ouviu os gritos de “Pula! Pula!”… “Vocês me seguram? Na boa mesmo? Eu tô gordão!”, brincou Max, atacando de frontman apenas com o microfone em mãos: “Lemmy vai ouvir vocês lá de cima ou lá de baixo”. Foi a deixa para uma versão arrebatadora de Ace of Spades, e o saudoso Lemmy não apenas ouviu os fãs se esgoelarem. Ele viu Max se jogar na plateia e ser devolvido ao palco depois de um seguro ‘crowd surfing’. Antológico.

“Se vocês querem mais, então têm que gritar!”, e os fãs deram um jeito de encaixar “Cavalera” no tradicional “Olê! Olê! Olê”. Não que tenha sido isso a razão para a banda voltar, mas ajudou a melhorar ainda mais o clima de um bis que não foi nada protocolar. Foi matador. Tão matador que a genial Troops of Doom foi uma entrada de luxo. “O bicho vai pegar!”, disse o mestre de cerimônias e entidade do metal nacional. E pegou. Prato principal, Refuse/Resist contou com fã cantando sozinho parte da letra, com a permissão de Max, e um ‘wall of death’ lindo de ver. Sobremesa, Roots Bloody Roots eletrificou o Circo Voador e fez Max resumir o que estava acontecendo: “Que noite maravilhosa, Rio de Janeiro!”. Dá tempo para um cafezinho? Então toma um rápido medley de Beneath the Remains com Arise para fechar uma noite memorável. Poucas vezes as lembranças de um passado foram tão presentes e atuais.

Vale registrar que a festa começou com a apresentação do paulistano Endrah e terminou com o show do carioca Enterro. Formado por Relentless (vocal), Covero (guitarra), Adriano Vilela (baixo) e Henrique Pucci (bateria e aniversariante do dia), o Endrah apresentou seu deathrashcore num show para um público que ainda chegava ao Circo Voador. Com pouca gente no local, a recepção foi fria, mas atenta ao som técnico e cheio de convenções instrumentais – algumas vezes, com informações até demais – do quarteto. Mas os aplausos ao fim foram merecidos, até pela ótima performance de Relentless, que não para quieto um segundo.

O Enterro deveria ter tocado na sequência, mas o cronograma fez com que o equipamento do grupo começasse a ser desmontado a tempo de os irmãos Cavalera começarem a tocar no horário previsto (22h30). E sabe o mais legal de tudo? Não teve mimimi, treta ou vitimização. “Gostaria que vocês ficassem mais um pouco para ver uma banda que gosto muito, o Enterro. Eles não puderam tocar antes, mas vão fazer o show agora”, disse Max antes de deixar o palco. Muita gente ficou, e Kaffer (baixo e vocal), Doneedah (guitarra) e Cävaal (bateria) – Ozorium (guitarra) não pôde ficar, por isso a banda se apresentou como trio – fizeram uma apresentação pesadíssima para mostrar seu black metal (com death, diga-se) a um público cansado, mas que encontrou forças para agitar.

Setlist
1. Beneath the Remains
2. Inner Self
3. Stronger Than Hate
4. Mass Hypnosis
5. Slaves of Pain
6. Primitive Future
7. Arise
8. Dead Embryonic Cells
9. Desperate Cry
10. Altered State
11. Infected Voices
12. Orgasmatron
13. Ace of Spades
Bis
14. Troops of Doom
15. Refuse/Resist
16. Roots Bloody Roots
17. Beneath the Remains / Arise