Sixty-Nine Crash – Postcards from the Black Sun

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Do álbum de estreia, Louder! (2014), até Postcards from the Black Sun, o Sixty-Nine Crash mostra que não ficou imune a algumas mudanças que modernizaram o hard rock – mudanças que, para ficar apenas em dois exemplos, atingiram bandas como a finlandesa Santa Cruz, em seu segundo e homônimo disco, de 2015; e a sueca H.E.A.T, que também dividiu opiniões com Into the Great Unknown (2017). O novo trabalho do grupo carioca – formado por Jay B Roxx (vocal e guitarra), Davis Ramay (guitarra) e Andy Carvalho (baixo) – deixa o lado festivo do estilo, incluindo as pitadas de sleaze, para cair num lado mais pesado e sombrio, de afinações mais baixas e experimentalismo.

Nada muito radical, no entanto, pois a banda soube trabalhar muito bem a passagem para uma sonoridade mais atual. Se as baladas não podem faltar, o lado mais tradicional se faz presente em Always Love You, enquanto a emotiva Heaven’s Cry vai para um caminho menos convencional – a letra desta última é o principal exemplo de como o álbum foi uma catarse para B Roxx, que escreveu sozinho todas as canções (à exceção de Burning Bridges, da qual Ramay é coautor). O resultado é exatamente o que se espera de baladas hard rock: ambas são muito bonitas. E ao equilibrar as dez faixas entre o conservador e o moderno, o Sixty Nine-Crash acertou ao pesar logo de cara a balança a favor da novidade, digamos assim. We Don’t Need Heroes abre o CD mostrando o que a capa e conceito visual entregam, porque é pesada e carrega nos loops.


E se a ótima Bleeding Heart também apresenta loops e ruídos, além de flertar com o pop moderno, Warfield é mais direta, mas se destaca por um refrão bem forte. As três primeiras faixas têm a companhia da já citada Heaven’s Cry, e é a partir daí que o passado começa a dar as caras. Give Me a Sign ainda carrega doses mais generosas de peso, mas reata com o hard rock tradicional a ponto de Ramay transitar entre o rock’n’roll e o virtuosismo mais melódico em ótimos solos de guitarra. Not Afraid to Die, por sua vez, mostra ao ouvinte uma das melhores características do estilo, seja qual for o rumo que ele segue: um baita refrão com direito a um corinho para ficar grudado na cabeça.

Burning Bridges e Crack Me Open receberam o mesmo benefício, ou seja, a facilidade de fazer o fã cantar, mas ao mesmo fundem o hoje com o amanhã – a primeira tem aquela pegada mais moderna, e a segunda mete mais um baita solo para satisfazer a velha guarda. Propositadamente, o desfecho de Postcards from the Black Sun é com uma música que soa como se fosse oriunda daquela efervescente Los Angeles dos anos 80. Sem concessões, All Lies Are True é viciante até o talo. Tudo isso com uma produção impecável, que faz você jurar que a bateria não é programada – mas nada de MIDI ou de recursos eletrônicos, vale ressaltar. Mergulhe sem medo, porque a viagem é garantida.


Faixas
1. We Don’t Need Heroes
2. Warfield
3. Bleeding Heart
4. Heaven’s Cry
5. Give Me a Sign
6. Not Afraid to Die
7. Burning Bridges
8. Crack Me Open
9. Always Love You
10. All Lies Are True

Banda
Jay B Roxx – vocal e guitarra
Davis Ramay – guitarra
Andy Carvalho – baixo

Lançamento: 01/11/2018

Produção: Celo Oliveira

Khadhu Capanema – Inverno Mineiro

Por Daniel Dutra | Fotos: Vitor Marcel/Divulgação

Inverno Mineiro mostra outro lado de Khadhu Capanema, que mergulhou na própria história e em suas raízes musicais para criar uma sonoridade mais distante daquela feita pelo Cartoon. O fato de as músicas terem sido compostas entre 2016 e 2017 até mostra uma proximidade estrutural com V (2017), álbum mais recente da banda, mas o primeiro disco solo do músico multi-instrumentista vai além ao ser um trabalho realmente acústico. Em uma rica mistura de estilos – que faz do próprio Cartoon uma banda rotulada de rock progressivo por falta de um novo termo –, as 12 músicas passeiam muito mais pelo folk e pela Música Popular Brasileira. E é uma pena que provavelmente não vá chegar ao grande público de MPB, diga-se (ao menos, não no próprio país).

Com letras em português, algo que Khapanema não fazia desde o álbum de estreia do Cartoon, Martelo (1999), Inverno Mineiro tem um alto astral que pode ser traduzido na faixa que abre o CD, Cinco Sorvetes, que chama a atenção pelo casamento do violão como piano, além de ser boa de cantar; em Deixa Brilhar, cuja letra é suficientemente inteligente para evitar o clima de pregação; e Valerá, enriquecida pelo Hammond do convidado Raphael Rocha. Esse mesmo clima positivo não desaparece em canções mais introspectivas, como Já Não Me Importo e Mais Claro Que o Sol, que cresce em emoção em determinados momentos e tem novo destaque para a dobradinha violão/piano.


Todas cinco apresentam outro aspecto do disco: beleza, e uma beleza que se destaca ainda mais no violão e voz (que baita melodia vocal) na infelizmente curta 20 Anos; na relaxante faixa-título; e em Por Uma Noite, que acerta em cheia numa combinação perfeita de instrumental – com solo de saxofone e uso de Wurlitzer – com vocal. No caso, o coral formado pelas vozes de Guilherme Castro, André Godoy, Raphael Rocha, André Marquez, Lorena Amaral e Marcelo Cioglia. Os seis também brilham em Num Canto do Quarto, que fica sensacional de vez com os arranjos de corda, uma levada quase tribal da bateria com a percussão e outro solo de sax.

Com uma bonita orquestração de fundo, Lâmina apresenta um toque de blues, que pediu por um solo bem legal de violão e foi atendido. Ouro Branco, por sua vez, tem um quê de Beatles – e isso sempre faz bem, principalmente quando executado à altura – que deixa a letra autobiográfica ainda mais agradável, porque pode trazer à tona boas lembranças da infância de qualquer um. E tem Chaves do Universo, que se torna a favorita em Inverno Mineiro com arranjo de metais, melodia vocal perfeita e linha de baixo se juntando a todos os outros predicados sonoros. É o resumo de um trabalho muito bonito e agradável.

Faixas
1. Cinco Sorvetes
2. Já Não Me Importo
3. Deixa Brilhar
4. Inverno Mineiro
5. Lâmina
6. Por Uma Noite
7. Ouro Branco
8. Chaves do Universo
9. 20 Anos
10. Mais Claro Que o Sol
11. Valerá
12. Num Canto do Quarto

Músicos
Khadhu Capanema – vocal, violões, baixo, gaita e esraj
Marcelo Ricardo – bateria e vocais
Christiano Caldas – piano e teclados
Paulo Santos – percussão
Fractal Orquestra:
Thiago Rocha Mello – violino
Samuel Gomide – violino
Rômulo Salobreña – viola
Rodrigo Garcia – violoncelo
Renato Savassi – saxofone e flauta
Renison Oliveira – trompete
Pedro Aristides – trombone

Lançamento: 23/08/2018

Produção: Khadhu Capanema
Mixagem: Guilherme Rancanti e Khadhu Capanema

Living Louder – Corsair

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

O Living Louder está entrando no seu terceiro ano de vida, mas se tem algo que o power trio paulista quer mostrar é que não há tempo a perder. Um ano depois do lançamento do autointitulado trabalho de estreia, Ricardo Cagliari (guitarra e vocal), Eduardo Assef (baixo) e Gustavo Gomes (bateria) soltaram Corsair, que apresenta uma evolução impressionante. Não que Living Louder não fosse um bom disco, pelo contrário, mas o segundo capítulo dessa história é, de fato, muito melhor. A começar pela ótima produção, mais orgânica, grave e até mesmo agradavelmente suja. A sensação é de escutar um daqueles vinis muito bem gravados quatro ou cinco décadas atrás – diga-se: a arte da capa, com uma imagem envelhecida, apresentando sinais de desgaste, passa essa mensagem.

Musicalmente, o trio acrescentou groove, muito groove ao seu som. Elemento fundamental às grandes bandas dos anos 60 e 70, ele é escancarado logo na faixa-título, que abre o CD. Entra a bateria, depois o baixo, vêm os riffs e até um toque de slide numa música que tem bastante de Led Zeppelin. Ponto para o Living Louder. O suingue tem forte presença também na ótima An Ace Up My Sleeve, cujo destaque fica para um belo duelo old school entre guitarra e baixo; ou no hard rock de Raw Meat, na qual Caglieri capricha nos solos (com slide, inclusive) por cima de uma cozinha caprichada com a linha melódica de Assef e a levada de Gomes. E cabe mais um adendo em relação à produção: o baixo e do bumbo ganharam um som bonitão, daqueles deliciosamente gordurosos.


São baixo e bateria, aliás, que se destacam no rockão Shoot to Kill Me, mas novamente com a companhia luxuosa de solos matadores (Caglieri larga os dedos sem dó). O disco apresenta heavy rock saído da década de 70 em Life Row; e uma interessante mistura de andamentos em Sweet Spot, que tem estrutura mais reta como base para duas passagens instrumentais bem legais: a primeira entre a ponte e o refrão, e a segunda no solo. E está aí, também, a evolução entre os dois trabalhos, porque essa maior dinâmica aparece em Deliver Us from Evil, que vai do começo hipnótico até o heavy metal, algo meio doom à la Black Sabbath; e em Half a Mind, cujo violão com slide no início entrega algo mais blues antes de a música se transformar num hard rock com melodia vocal caprichada.

E numa banda cujas referências são claras, é interessante notar que a identidade própria vai se moldando ao redor delas. Dá para sacar um pouco de Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye (Steam) e Layla (Derek and the Dominos) nas melodias iniciais de My Private Wallontown – muito de leve, como as sete notas que trazem à mente o antológico tema escrito por Eric Clapton, mas não é coincidência que os dois clássicos sejam de 1969 e 1970, respectivamente. Mas as coincidências pegam um DeLorean e vão para os anos 80 em Running Errands With Mr. D, que tem uns vocais com trejeitos de James Hetfield – e para aqui qualquer semelhança com o Metallica – e, guardadas as devidas proporções, algo de Primus. Não apenas no título, porque há umas convenções aqui e ali no instrumental, mas principalmente na ótima e funkeada melodia vocal que encerra a música. Uma das melhores de Corsair, um álbum sob medida para quem curte rock’n’roll.


Faixas
1. Corsair
2. Deliver Us from Evil
3. An Ace Up My Sleeve
4. Sweet Spot
5. My Private Wallowtown
6. Half a Mind
7. Life Row
8. Raw Meat
9. Shoot to Kill Me
10. Running Errands With Mr. D

Banda
Ricardo Cagliari – guitarra e vocal
Eduardo Assef – baixo
Gustavo Gomes – bateria

Lançamento: 19/10/2018

Produção: Gustavo Gomes

Black Stone Cherry – Family Tree

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Chris Robertson (vocal e guitarra), Ben Wells (guitarra), Jon Lawhon (baixo) e John Fred Young (bateria) ainda carregavam as espinhas da adolescência quando formaram o Black Stone Cherry em 2001, sem esconder as raízes do que, nas palavras de Young, forma a sua “singular sonoridade americana de rock’n’roll” – sim, tem um detalhe importante aí: a banda nunca mudou de formação. A referência é ao acento sulista que sempre rondou o quarteto, mas Familly Tree não esconde a influência resgatada por Black to Blues (2017), um EP que completou o caminho que o quarteto havia voltado a trilhar em Kentucky (2016).

Não à toa esse mesmo caminho começou com a volta ao Barrick Recording Studio, em Glasgow, no estado de Kentucky, onde o grupo deu vida ao primeiro álbum, autointitulado, em 2006. Obviamente, nada disso quer dizer que Between the Devil & the Deep Blue Sea (2011) e Magic Mountain (2014) são trabalhos ruins – pelo contrário, até porque estão neles algumas das melhores canções do Black Stone Cherry, como Blame it on the Boom Boom e Me and Mary Jane, para citar apenas duas –, mas as nuances mais modernas foram definitivamente deixadas de lado no sexto álbum, que forjou 13 músicas muito agradáveis para quem curte rock movido a grandes riffs, solos (com slide, muito slide, mas também de gaita…) e refrãos (e como tem refrão bom no disco…).


Daria para resumir o CD em Dancin’ in the Rain, que tem como convidado o guitarrista e vocalista Warren Haynes (Gov’t Mule e ex-The Allman Brothers Band). Uma das melhores faixas, com um casamento entre as vozes de Robertson e Haynes que alcança a perfeição no refrão – fora os solos de guitarra, obviamente. Mas Family Tree é muito mais que isso. Há canções que escancaram a identidade construída pelo quarteto ao longo dos anos. Se Bad Habit é o típico arrasa-quarteirão que funciona como cartão de visitas, outras na mesma linha apresentam singularidades que as tornam únicas.

Enquanto Burnin’ acrescenta um toque mais pop, principalmente no refrão, e tem um solo dobrado simples e bonito, Carry Me on Down the Road traz um sotaque sulista mais forte. You Got the Blues, por sua vez, engana ao ser mais rock’n’roll do que o blues que o título faz imaginar, e I Need a Woman é cheia de groove e abusa da guitarra slide, mas destaca também um solo cheio de feeling e wah-wah e os backings do filho do Robertson, de 5 anos. Family Tree mesmo é um disco de rock cheio de detalhes, alguns escancarados como o ótimo piano em New Kinda Feelin’, que esconde uma leve menção a Third Stone from the Sun, de Jimi Hendrix; ou a percussão em Get Me Over You que pode remeter ao Mardi Grass, a tradicional festa carnavalesca de Nova Orleans.


Ou o trabalho de guitarra na contagiante Southern Fried Friday Night, com talk box e um solo curto e virtuoso – raridade, uma vez que os solos seguem um caminho de poucas notas e muito feeling. Como o com slide na faixa-título, uma música belíssima sem precisar ser balada, e o Hammond ajuda muito no resultado final. E são esses detalhes que deixam o álbum musicalmente mais rico. My Last Breath, por exemplo, tem um Wurlitzer caprichado, cortesia de Kevin McKendree – responsável por toda sorte de teclados, diga-se – e os lindos backings de Bianca Byrd e Sandra Dye.

As meninas, aliás, são um toque mais que especial. Elas brilham também em James Brown – com esse título, imagine se não é uma baita canção –, mas é em Ain’t Nobody que o bicho pega. Canção formidável e apontando para o gospel, com o qual o Black Stone Cherry já havia flertado antes, seu refrão é tão sensacional que ganhou uma versão 2.0 no fim, com Bianca e Sandra brilhando de mãos dadas com os solos matadores de Robertson e Wells.


Faixas
1. Bad Habit
2. Burnin’
3. New Kinda Feelin’
4. Carry Me on Down the Road
5. My Last Breath
6. Southern Fried Friday Night
7. Dancin’ in the Rain
8. Ain’t Nobody
9. James Brown
10. You Got the Blues
11. I Need a Woman
12. Get Me Over You
13. Family Tree

Banda
Chris Robertson – guitarra e vocal
Ben Wells – guitarra
Jonathan Lawhon – baixo
John Fred Young – bateria

Lançamento: 20/04/2018

Produção: Black Stone Cherry
Mixagem: Chris Robertson

Ghost – Prequelle

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Prequelle figurou como o melhor disco de heavy metal de 2018 em vários lugares mundo afora, e isso não é nenhum exagero, acredite. Principalmente se a eleição for um compilado das escolhas individuais, porque é muito difícil deixar o quarto álbum de estúdio do Ghost fora de qualquer lista – a posição, claro, varia de acordo com o gosto pessoal, afinal, lista é como resenha: opinião. Mas o interessante de tudo é que a banda liderada por Tobias Forge conseguiu romper uma barreira num mundo conservador como o do rock pesado, porque as referências de música pop – mas pop mesmo, como Pet Shop Boys, que teve It’s a Sin regravada para uma edição exclusiva do CD – foram bem aceitas. Felizmente, porque o grupo está conseguindo, guardadas as devidas proporções, manter um pouco de metal no mainstream.

Mas, enfim, o fato é que Prequelle é bom demais, e chega a ser curioso que Forge tenha conseguido elevar ainda mais o nível do Ghost depois das polêmicas com ex-integrantes e do fim do mistério da sua identidade. Apesar de o Papa Nihil ainda estar presente, conceitualmente, Forge deu fim a uma linhagem de Papas – depois dos Papa Emeritus I, II e III – e surgiu com a figura do Cardinal Copia. Acabou o segredo, mas o teatro ainda funciona muito bem. Assim como a música da banda sueca. Depois da introdução Ashes, por exemplo, vem uma trinca arrasadora.


Rats tem uma levada sensacional, enriquecida por um baita riff heavy rock e uma ponte bem pop, que abre caminho para um refrão simples e um corinho funcional. Mais uma com um riff maneiríssimo – e desta vez o trabalho de guitarra acompanha solos bem sacados –, Faith tem umas paradinhas à la King Diamond no refrão, além de ir do pop ao metal com facilidade depois do primeiro refrão. Para fechar, See the Light soa como um pop prog dos anos 80, com uma melodia vocal viciante. As três canções são ótimas e mostram que é tudo muito bem construído, muito bem pensado.

Mas nem tudo são flores. Pro Memoria, por exemplo, é um tanto quanto cansativa em seus quase seis minutos de duração. Ironicamente, sua melodia serve de base para a excelente instrumental Helvetesfönster, uma peça progressiva com a participação de Mikael Åkerfeldt (Opeth) no violão – um dos vários convidados no disco, é bom ressaltar, mas definitivamente o mais conhecido. E por falar em instrumental, o Ghost acerta de novo com Miasma, que tem cara de trilha sonora de filme e detalhes que realmente fazem a diferença: os teclados de Salem Al Fakir, o solo de sax de Gavin Fitzjohn e um riff que lembra, intencionalmente ou não, Beat it, de Michael Jackson.


A rigor, apenas Pro Memoria e Witch Image não se destacam tanto. Esta última, na verdade, por ser quase uma Dance Macabre, mas ser um déjà vu de uma das melhores obras do Ghost merece perdão: esta trata-se de um hard pop dos anos 80, com um refrão irresistível e enorme jeito de hit. Maravilhosa. Sabe aquela pessoa que odeia heavy metal ou faz carinha de nojo porque o Ghost é, vá lá, satânico? Coloque Dance Macabre para ela ouvir e diga que é uma nova banda americana que estourou nas rádios dos EUA e da Europa. Depois, emende com Life Eternal – bonita, muito bonita! – e, em seguida, mostre a capa de Prequelle. Pronto. Você vai poder lembrá-la pelo resto da vida do erro que é o preconceito.

Faixas
1. Ashes
2. Rats
3. Faith
4. See the Light
5. Miasma
6. Dance Macabre
7. Pro Memoria
8. Witch Image
9. Helvetesfönster
10. Life Eternal

Banda
Cardinal Copia
Group of Nameless Ghouls
Papa Nihil

Lançamento: 01/06/2018

Produção: Tom Dalgety
Mixagem: Andy Wallace

Saxon – Thunderbolt

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Não é de hoje que o Saxon vem mostrando uma regularidade impressionante, mas parece que a banda entrou rejuvenescida na década de 2010, numa escalada que resultou em seu melhor álbum no mesmo período. Curiosamente, Biff Byford (vocal), Paul Quinn e Doug Scarratt (guitarras), Nibbs Carter (baixo) e Nigel Glockler (bateria) foram enaltecidos ao lado de outros grupos veteranos do heavy metal que soltaram novos trabalhos em 2018. Muito justo, até porque Thunderbolt é o melhor entre todos os lançados pelos quarentões (ou quase cinquentões) no ano que passou.

É só ouvir a faixa-título para perceber o poder de fogo dos ingleses. É metal tradicional de excelência, com um refrão pronto para os shows. Aliás, não falta material feito especialmente para os pés, garganta e pescoço dos fãs. Quer mais um refrão poderoso? Fique com a ótima e animada Speed Merchants. Quer mais animação? Escute Roadie’s Song, baita canção – e homenagem, sacou o titulo? – com três ingredientes saborosos: paradinhas para a plateia se esgoelar num grito de “hei!”; as viradas mágicas de Glockler; e um grande riff de guitarra, porque, lembre-se, aqui é heavy metal.


E é riff que você quer? Então fique com The Secret of Flight, que ainda traz de quebra uma baita melodia vocal e um solo de dar gosto, ou com duas das melhores canções de Thunderbolt: Sniper e Predator, porque elas são mesmo espetaculares, daquelas que têm um andamento tão contagioso que fazem você começar a bater cabeça sem perceber. A última, diga-se, ainda conta com Johan Hegg, do Amon Amarth, dividindo o microfone com Byford, e o resultado da união de duas vezes tão distintas, mas poderosas, ficou bom demais.

Claro, há momentos mais comuns, como a cadenciada A Wizard’s Tale, ou não tão comuns assim mesmo dentro da obviedade. É o caso da épica Nosferatu (The Vampires Waltz), cujo previsível clima fantasmagórico e assustador no instrumental foi feito com maestria. Tanto que a sua versão crua, que entrou no CD como faixa bônus, tem uma sonoridade mais metal, mas em boa parte do charme. Charme que não falta a Sons of Odin, muito graças ao bonito refrão e a um tema de guitarra cheio de feeling.


Por último, é impossível não reservar um parágrafo apenas para They Played Rock and Roll. Ela empata no pódio das melhores faixas de Thunderbolt, ao lado de Sniper e Predator, mas dá para dizer que leva vantagem num eventual desempate: é especial, e seu videoclipe, emocionante. O título lhe diz alguma coisa? Exatamente. Por razões sentimentais, pode ser a faixa para apresentar Thunderbolt, e ajuda o fato de ser arrasadora, fazendo jus aos homenageados Lemmy Kilmister e seu Motörhead. É um tributo a caráter – musicalmente, a canção tem a mesma estrutura rock’n’roll à la Motörhead –, remetendo à turnê que as duas bandas fizeram juntas no fim dos anos 70, início dos 80. Para ouvir sem parar.

Faixas
1. Olympus Rising
2. Thunderbolt
3. The Secret of Flight
4. Nosferatu (The Vampire’s Waltz)
5. They Played Rock and Roll
6. Predator
7. Sons of Odin
8. Sniper
9. A Wizard’s Tale
10. Speed Merchants
11. Roadie’s Song
12. Nosferatu (The Vampire’s Waltz) [Raw Version] (bônus)


Banda
Biff Byford – vocal
Paul Quinn – guitarra
Doug Scarratt – guitarra
Nibbs Carter – baixo
Nigel Glockler – bateria


Lançamento: 02/02/2018

Produção e mixagem: Andy Sneap

U.D.O. – Steelfactory

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Depois de Decadent (2015), Udo Dirkschneider deu um tempo no material autoral e caiu na estrada para dar um adeus aos inúmeros clássicos que gravou com o Accept. A turnê rendeu dois discos ao vivo – Live – Back to the Roots (2016) e Live – Back to the Roots – Accepted! (2017) , com a banda levando seu sobrenome –, e o retorno do baixinho às atividades com o U.D.O. foi marcado pelo lançamento de Steelfactory. Mas o 16º álbum de estúdio traz o vocalista e banda – Andrey Smirnov (guitarra), Fitty Wienhold (baixo) e Sven Dirkschneider (bateria) – soando mais Accept do que nunca.

Claro, a voz de Udo será sempre associada ao grupo alemão, mas aqui é o instrumental que traz mesmo as referências, porque, por incrível que pareça, nem mesmo o ótimo Animal House (1987) soa tão parecido – e olha que as composições do álbum de estreia são assinadas por Accept e Deaffy, o pseudônimo de Gaby Hoffmann, esposa de Wolf e empresária do quinteto. E entre as 15 faixas do CD, considerando as duas que entraram como bônus na versão digipack, essas referências são gritantes em pelo menos seis delas, como Tongue Reaper, que abre o disco chutando a porta: é rápida e tem um refrão forte.


Trata-se, na verdade, de um recurso que a ex-banda de Udo vem utilizando desde a volta, em 2009. Mas não é só de velocidade que se trata, já que a cadenciada One Heart One Soul fala a mesma língua. Mas se você ainda não está convencido, ouça Hungry and Angry – xerox colorida, autenticada e com firma reconhecida em cartório – ou Rising High – qualquer semelhança com Aiming High não parece ser mera coincidência. Pronto, agora pode fazer por você mesmo a associação ao passado na ótima Make the Move, que apresenta o grande destaque de Steelfactory: Smirnov, em um de seus solos de tirar o fôlego.

O guitarrista russo ainda incorpora Wolf Hoffmann, digamos assim, em Blood on Fire. Sabe os temas clássicos que o líder do Accept mete em algumas músicas? Tipo Für Elise, de Ludwig van Beethoven, em Metal Heart? Para não ficar tão descarado, o que rola no solo da melhor canção do novo álbum é o tango La Cumparsita, de Carlos Gardel. Ficou sensacional. E quando digo que Smirnov é, individualmente, o destaque, há outros exemplos: Eraser e The Devil is an Angel mostram muita técnica, e In the Heat of the Night apresenta versatilidade no violão bem encaixado entre as guitarras e um solo muito bonito.


Aliás, vale citar que o russo gravou todas as guitarras, uma vez que, segundo Udo, os outros guitarristas – primeiro o finlandês Kasperi Heikkinen, depois o brasileiro Bill Hudson – foram demitidos por não jogarem para o time. Dee Dammers foi anunciado como quinto membro, enquanto Wienhold deu adeus ao U.D.O. depois de 22 anos, sendo substituído por Tilen Hudrap. Com os dois novos integrantes, o grupo já está apresentando músicas como Keeper of My Soul, que tem uma ótima melodia vinda diretamente do Oriente Médio, algo que se repete em Raise the Game, e bem poderia acrescentar no repertório Rose in the Desert, que respira um pouco do hard rock dos anos 80, ou a balada The Way, cuja letra é praticamente uma biografia de Udo Dirkschneider – sem soar como uma despedida (como pode parecer), mas como um aviso de que ainda há mais por vir. Afinal, Steelfactory já está dominando o setlist, com sete músicas, e, claro, não tem mais Accept nos shows.

Faixas
1. Tongue Reaper
2. Make the Move
3. Keeper of My Soul
4. In the Heat of the Night
5. Raise the Game
6. Blood on Fire
7. Rising High
8. The Devil is an Angel (bônus)
9. Hungry and Angry
10. One Heart One Soul
11. Pictures in My Dreams (bônus)
12. A Bite of Evil
13. Eraser
14. Rose in the Desert
15. The Way


Banda
Udo Dirkschneider – vocal
Andrey Smirnov – guitarra
Fitty Wienhold – baixo
Sven Dirkschneider – bateria

Lançamento: 31/08/2018

Produção e mixagem: Jacob Hansen

Metal Allegiance – Volume II – Power Drunk Majesty

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Lembro-me de Mike Portnoy, em 2015, dando um teaser nas redes sociais do que seria o projeto mais extremo da sua carreira, com blast beats e por aí vai. Não demorou para a empreitada se revelar o supergrupo Metal Allegiance, idealizado pelo baixista Mark Menghi, que também havia recrutado David Ellefson (baixo, Megadeth) e Alex Skolnick (guitarra, Testament). Contando com vocalistas convidados, o quarteto levou a festa dos palcos para o estúdio, no mesmo ano, mas o disco de estreia, autointitulado, ficou devendo. É bem legal, sem dúvida, mas aquém da expectativa diante dos nomes envolvidos.

Introdução feita, a coisa mudou de figura com Volume II – Power Drunk Majesty. O roteiro é basicamente o mesmo: o quarteto continua compondo todas as músicas para que outros famosos emprestem a voz – e alguns até mesmo escrevem as letras –, e um ou outro ás da guitarra ainda dá o ar da graça em duelos com Skolnick. Porem, o fato é que o segundo álbum nasceu vários degraus acima. A principal diferença? Empolga do início ao fim. Não há uma música mais ou menos, e a primeira já entrega algo especial.


The Accuser começa com Skolnick fazendo o fã lembrar-se de Signs of Chaos, o solo que abre The Ritual (2002), quinto álbum do Testament. Depois, o pau come solto, o guitarrista divide solos com Andreas Kisser, e Trevor Strnad (The Black Dahlia Murder) ajuda a transformar tudo num thrash metal de primeira. O guitarrista do Sepultura ainda aparece na empolgante Mother of Sin, que tem algo de Slayer no riff da primeira parte cadenciada; um ótimo trecho instrumental cadenciado no meio, antes dos solos, e outro pronto para abrir roda na plateia; e, mais importante, uma interpretação matadora de Bobby Blitz (Overkill).

E por falar em guitarristas convidados, a banda foi mais econômica em Volume II – Power Drunk Majesty. Apenas três, em vez dos oito de Metal Allegiance, e Kisser é o único que deu bis. No entanto, as outras duas estrelas também são muito bem-vindas, a começar por um cara que muito lá atrás foi professor de Skolnick. Joe Satriani está em Power Drunk Majesty (Part II), cujo instrumental mais pesado contrasta não apenas com seu estilo, mas também com a voz angelical de Floor Jansen (Nightwish), que também solta a garganta com raiva e enriquece um dos melhores refrãos do álbum.


Em King With a Paper Crown, Skolnick e Nita Strauss (Alice Cooper) debulham em passagens instrumentais mais progressivas, mas a música é de uma riqueza de dar gosto: cheia de groove, tem umas paradinhas muito bem sacadas, principalmente quando Portnoy preenche alguns espaços com os bumbos. O microfone ficou a cargo de Johan Hegg (Amon Amorth), cuja voz soa ainda mais poderosa com os backings de Mark Osegueda, que, diga-se, é um dos dois cantores que reprisaram participação. Com uma performance de tirar o chapéu, mais uma vez, o vocalista do Death Angel está nas ótimas Power Drunk Majesty (Part I) – cuja passagem instrumental levada pelo baixo, no fim, remete levemente àquela de Rime of the Ancient Mariner, do Iron Maiden – e Impulse Control, na qual Skolnick também arrasa com riff e solos sensacionais.

O outro gogó com título de sócio-proprietário é Troy Sanders (Mastodon), que aparece em Liars & Thieves, canção com umas repetições instrumentais quase hipnóticas. Todas estas linhas já deveriam ser suficientes para fazê-lo ter Volume II – Power Drunk Majesty na coleção, mas anote aí três músicas que vão convencê-lo a comprar o CD assim que acabar de ler esta resenha: Terminal Illusion, com Mark Tornillo (Accept), e Bound By Silence, com John Bush (Armored Saint) são aquele heavy metal injetado na veia que faz qualquer um abrir o sorriso; e Voodoo of the Godsend é uma música especialmente feita para Max Cavalera (Soulfly e Cavalera Conspiracy), que escreveu a letra com várias referências a um passado já distante. E sua interpretação ficou animal. Convencido?


Faixas
1. The Accuser
2. Bound By Silence
3. Mother of Sin
4. Terminal Illusion
5. King With a Paper Crown
6. Voodoo of the Godsend
7. Liars & Thieves
8. Impulse Control
9. Power Drunk Majesty (Part I)
10. Power Drunk Majesty (Part II)


Banda
Alex Skolnick – guitarra
Mark Menghi – baixo
David Ellefson – baixo
Mike Portnoy – bateria

Convidados
Bobby Blitz – vocal
Floor Jansen – vocal
Johan Hegg – vocal
John Bush – vocal
Mark Osegueda – vocal
Mark Tornillo – vocal
Max Cavalera – vocal
Trevor Strnad – vocal
Troy Sanders – vocal
Andreas Kisser – guitarra
Joe Satriani – guitarra
Nita Strauss – guitarra

Lançamento: 07/09/2018

Produção: Alex Skolnick e Mark Menghi
Mixagem: Mark Lewis

Michael Schenker Fest – Resurrection

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

A ideia de juntar os três vocalistas originais do MSG, Gary Barden, Graham Bonnet e Robin McAuley, foi tão legal que o projeto rumou dos palcos para o estúdio. Com a adição de Doogie White, a voz do Michael Schenker’s Temple of Rock, o guitarrista alemão criou Resurection, o primeiro álbum de inéditas do Michael Schenker Fest. E como Chris Glen (baixo), Ted McKenna (bateria) e Steve Mann (teclados) completam a formação, tenha certeza de que o som é exatamente o heavy rock clássico que você esperava. No entanto, absolutamente atual e relevante para os dias de hoje.

Curiosamente, cada vocalista tem sua história muito bem representada em cada uma das músicas a que emprestou o talento e garganta. Pegue Everest, uma das duas com a voz de Bonnet, por exemplo. Ela poderia muito bem estar em Assault Attack (1982), o único disco que gravou com o Michael Schenker Group. O segundo frontman do MSG ainda brilha em Night Moods, uma das canções que, no geral, são uma viagem no tempo até a sonoridade do grupo nos anos 80, mas com uma roupagem atual que não assusta. E quase todos foram privilegiados com essa fusão.


Responsável pela fase mais bem-sucedida do MSG, comercialmente falando – à época, a banda mudou de nome para McAuley Schenker Group e gravou três discos de estúdio, Perfect Timing (1987), Save Yourself (1989) e M.S.G. (1991) –, McAuley resgata em Time Knows When it’s Time um pouco do lado acessível que fez muita gente torcer o nariz no fim daquela década. Injustamente, porque repare bem no ótimo refrão da canção e lembre-se que ele e Schenker fizeram muito isso no passado. Mas se é para abraçar o lado mais tradicional, fique com Heart and Soul, que ainda conta com a participação de Kirk Hammett (Metallica).

Único a gravar três músicas sozinho, White mostra a ponte entre o ontem e o hoje em The Girl With the Stars in Her Eyes, enquanto Anchors Away é uma bela continuação do trabalho que vinha realizando com Shenker no Temple of Rock – depois de gravar apenas um canção no homônimo CD de estreia, em 2011, ele assumiu o microfone de vez em Bridge the Gap (2013) e Spirit on a Mission (2015), E é White que, curiosamente, por ser o novato da turma de vocalistas, está na melhor música de Resurrection, a viciante Take Me to the Church.


Talvez não à toa, sejam bem mais tradicionais, digamos assim, as duas faixas com Barden – que, ainda jovem no fim dos anos 70, teve a missão de ser o vocalista da nova empreitada daquele genial e genioso ex-guitarrista do Scorpions e do UFO. Messing Around e Living a Life Worth Living, são aquele rock’n’roll movido a riffs de guitarra como se fazia lá no início do MSG, então você pode ouvi-las pensando em The Michael Schenker Group (1980), MSG (1981) e Built to Destroy (1983), o que diz muita coisa em relação à qualidade de cada uma.

Aliás, rock’n’roll movido a riffs e solo de guitarras… Os vocalistas são um atrativo, mas a festa tem dono (com o perdão do trocadilho). Schenker dá espaço para os convidados aparecerem, mas mostra brilho próprio do primeiro ao último seguinte, literalmente. Como na instrumental Salvation, na qual deixa um gostinho de quero mais ao largar o dedo justamente quando a canção vai acabando em fade out – e que timbre maravilhoso de guitarra o dele! O mesmo acontece em The Last Supper, uma das duas faixas com Barden, Bonnet, McAuley e White juntos, e um hard de primeira grandeza que acaba fazendo o fã pedir mais. E é Schenker quem salva a outra com as quatro vozes, porque Warrior não entusiasmou tanto quando foi lançada como primeiro single, mas nem de longe mostra o que é Resurrection. Ainda bem.


Faixas
1. Heart and Soul
2. Warrior
3. Take Me to the Church
4. Night Moods
5. The Girl With the Stars in Her Eyes
6. Everest
7. Messin’ Around
8. Time Knows When it’s Time
9. Anchors Away
10. Salvation
11. Livin’ a Life Worth Livin’
12. The Last Supper

Banda
Gary Barden – vocal
Graham Bonnet – vocal
Robin McAuley – vocal
Doogie White – vocal
Michael Schenker – guitarra
Chris Glen – baixo
Ted McKenna – bateria
Steve Mann – teclados

Lançamento: 02/03/2018

Produção: Michael Schenker e Michael Voss-Schoen
Mixagem: Michael Voss-Schoen