Dream Evil e Soilwork largam na frente

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Fim do primeiro trimestre, então está encerrado o período de lançamentos que infestam as lojas no início do ano. Sempre há várias opções no mundo do rock pesado, e os destaques acabam pipocando por todos os lados. De praias diferentes, Dream Evil e Soilwork colocaram seus novos trabalhos na praça, e aqui você fica sabendo por que eles dispararam na frente entre os melhores.

O fenômeno Dream Evil

Muita coisa mudou no cenário heavy metal nos últimos dez anos. Os Estados Unidos abraçavam com cumplicidade o estilo, gerando inúmeras bandas e dando aval para o sucesso comercial em todo o mundo. O início dos anos 90 marcou a volta ao underground, por assim dizer, e a Europa tornou-se o berço. Os números, salvo raras exceções, não atingiam mais atingiam a casa dos milhões de álbuns vendidos, mas curiosamente houve uma profusão de bandas surgindo ao mesmo tempo em que o preconceito – sem fundamentos, diga-se de passagem – diminuiu.

Hoje, é praticamente impossível conhecer tudo que é lançado, a não ser que você tenha muita grana ou contatos com gravadoras, lojistas e imprensa especializada. Há muita coisa que não merece atenção, realmente, mas vez ou outra aparece uma banda que deixa todo mundo na cena de queixo caído. É o caso do Dream Evil, banda sueca que começou despertando interesse por causa das presenças do guitarrista Fredrik Nordström – proprietário do Studio Fredman e produtor de grupos como Arch Enemy, HammerFall e In Flames – e do exímio baterista Snowy Shaw – mais conhecido por substituir o insubstituível Mikkey Dee na banda de King Diamond, ponte que o levou também para a primeira formação da volta do Mercyful Fate.

A espera pelo primeiro disco, DragonSlayer, foi pequena e transformou a curiosidade em rasgados elogios. Apesar da capa e das letras sobre espadas e dragões, o trabalho é simplesmente primoroso e revelou dois novos talentos: o excelente vocalista Niklas Isfeldt e guitarrista-prodígio Gus G., natural da Grécia e um verdadeiro ás das seis cordas. O resultado foi assistir à escalada do Dream Evil com menos de um ano de vida: DragonSlayer marcou presença nas listas de melhores CDs de 2002, e o grupo foi eleito a revelação do ano nas principais revistas especializadas.


Sem descanso, a banda voltou ao estúdio, e em janeiro de 2003 chegou às lojas europeias Evilized, que a Century Media lançou recentemente no Brasil (assim como fez com o trabalho de estreia no ano que passou). Se alguém falou em “prova do segundo disco”, esqueça. O novo álbum já nasceu obrigatório. Mais madura, com letras menos fantasiosas e um instrumental mais pesado, a banda coloca-se definitivamente entre as melhores surgidas no metal nos últimos tempos. Shaw continua dando aula, Gus G. continua impressionando com riffs e solos fantásticos, e Isfeldt… Bom, o que dizer de um vocalista de timbre agradável e bonito e que ignora totalmente o artifício dos pavorosos agudos? Resta apenas dar os parabéns.

O mais legal de Evilized é que toda a banda – incluindo o baixista Peter Stålfors – participou do processo de composição, já que DragonSlayer estava praticamente pronto por Nordström e Isfeldt quando o line up foi fechado. Assim, o que encontramos no álbum é um trabalho coeso e maduro, apoiado na dobradinha qualidade/experiência dos músicos. Para completar, os poucos resquícios de metal melódico presentes no trabalho anterior são coisa do passado, pois as 12 músicas são sinônimo da energia e refrãos empolgantes do metal da década de 80 com uma sonoridade atual – leia-se a excelente produção de Nordström. Break the Chains, By My Side e Fight You ‘Till the End são a trinca de abertura, não deixando pedra sobre pedra e fazendo você assobiar as melodias logo na primeira audição. A faixa-título mostra que o Queensrÿche fez escola, trazendo todos os elementos presentes nos primeiros discos do grupo precursor do prog metal: belas linhas vocais, um grande trabalho de guitarra e um andamento contagiante.

Além de ser um dos melhores bateras do atual cenário, Shaw revela-se um compositor de primeira linha com Invisible e a maravilhosa Bad Dreams, a melhor música do disco e que ao vivo promete ser um arrasa-quarteirão. Em Forevermore temos a indefectível balada (lembra-se da citada veia anos 80?), sem exageros e longe do esquema meloso das escritas por Jon Bon Jovi, por exemplo. Uma das influências da banda vem à tona na excelente Children of the Night, que muito bem poderia ter sido composta pelo Scorpions e estar no mesmo patamar da clássica Big City Nights.

As oito faixas já valeriam o investimento, mas Live a Lie e Fear the Night, ambas com riffs simples e eficientes, e The End, que lembra os bons momentos do finado Europe, são ótimas. E se não está suficiente para você, Made of Metal traz aquele sentimento bacana do Manowar de músicas como Kings of Metal e Metal Warriors (bons tempos…). Assim como DragonSlayer, Evilized é essencial para quem gosta de heavy metal tradicional de qualidade, para quem quer o que de melhor o estilo produz.


Soilwork: metal como o metal deve ser

Felizmente, bandas como o Dream Evil não são o único oásis encontrado no rock pesado, que tem produzido um sem-número de bandas inexpressivas ou que soam da mesma maneira – invariavelmente tentando copiar (sem sucesso) o que foi iniciado (com maestria) pelo Helloween em 1987. Uma alternativa a quem não aguenta tanto marasmo está no que vem sendo chamado de death metal melódico. A melodia adicionada ao rótulo pode assustar, mas as bandas do “novo” estilo têm mostrado criatividade para não realizar um trabalho repetitivo, resgatando a simplicidade e empolgação do heavy metal.

Grupos como Arch Enemy, preparando o sucessor da obra-prima Wages of Sin; In Flames, em turnê para divulgar o excelente Reroute to Remains; e Chlidren of Bodom, que acaba de lançar o ótimo Hate Crew Deathroll, são três dos melhores nomes da atualidade. O Soilwork já garantira seu lugar na lista com os álbuns A Pedrator’s Portrait (2001) e Natural Born Chaos (2002), mas agora ratifica de vez sua posição com a pérola Figure Number Five, lançado pela Nuclear Blast com distribuição da Century Media em terras tupiniquins.


Muito peso, técnica apurada a serviço do feeling e músicas que fazem com que você não consiga ficar quieto. Rejection Role abre o CD de maneira espetacular e mostra de cara o grande destaque do disco: Björn “Speed” Strid, dosando com perfeição vocais agressivos – no melhor estilo Phil Anselmo (Pantera) e Burton C. Bell (ex-Fear Factory) – e limpos – de característica própria, dando vida aos excepcionais refrãos encontrados em todas as músicas.

Henry Ranta (bateria), Ola Flink (baixo), Sven Karlsson (teclados) e a excelente dupla de guitarristas formada por Peter Wichers e Ola Frenning não ficam atrás. São responsáveis por um instrumental poderoso, que deixa irresistíveis músicas como Overload (que riff sensacional!), Figure Number Five, Stangler, Light the Torch, Cranking the Sirens, Brickwalker e The Mindmaker (impressionante como Wichers e Frenning são uma usina de grandes riffs). Mais cadenciada, Departure Plan dá o tempo necessário para retomar o fôlego, enquanto Distortion Sleep e Downfall 24 pisam no freio, mas mantêm o peso (mas não, você não encontrará nenhum compasso 1/1 à velocidade da luz no disco). Não apenas um excelente disco de metal, Figure Number Five é mais uma obra para trazer de volta a velha força do estilo.

Artigo publicado na edição 92 do International Magazine, em abril de 2003.

Black Sabbath – Never Say Die

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Você tem algum DVD do Black Sabbath? Olha que há boas opções. Pode começar com Last Supper, dedicado à volta da banda com sua formação original, em 1997, para a turnê batizada de Reunion (que infelizmente não passou pelo Brasil). Lá fora foram lançados no formado digital os dois volumes de History of Black Sabbath, divididos nos períodos 1970-1978 e 1978-1992. No entanto, com um pouquinho de sorte, você pode encontrar ambos em alguma banca de jornal perto de sua casa – desde que não tenham sido recolhidos, afinal, trata-se de pirataria. Caso ache que vale correr atrás – e também o risco – antes que acabe a mamata…

Agora, se três títulos não são suficientes para saciar sua fome de Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward – e Ronnie James Dio, Vinnie Appice… –, saiu do forno, pela primeira vez em DVD, o antológico e essencial Never Say Die, gravado em 1978. Claro, estamos falando da formação clássica da banda mais importante e influente da História do heavy metal, mas o vídeo vale por muito mais que isso. Trata-se de um registro de uma fase conturbada do grupo, que desencadearia na saída definitiva de Ozzy e, pouco tempo depois, na entrada de Ronnie James Dio.


Alegando problemas pessoais, o vocalista abandonou o barco em 1977, sendo substituído por Dave Walker (ex-Fleetwood Mac). A segunda formação do Sabbath não chegou a gravar, mas deu início ao processo de composição do álbum Never Say Die! nos cinco meses em que contou com Walker – outubro de 77 a janeiro de 1978. Depois de uma única apresentação, no programa Look Here!, da BBC em Midlands, no qual tocaram Junior’s Eye, o grupo se restabeleceu com a volta de Ozzy e começou as gravações do novo disco. Os problemas, no entanto, estavam longe de terminar.

Ozzy se recusou a cantar algumas músicas que já estavam prontas. Assim, Iommi e Butler incluíram a instrumental Breakout, e Ward assumiu os vocais em Swinging the Chain (algo que ele já havia feito no álbum anterior, Technical Ecstasy, de 1976, com a belíssima It’s Alright). Disco na praça, turnê a caminho e nova despedida. O último show aconteceu no dia 11 de dezembro de 1978, e Ozzy foi despedido no início do ano seguinte – ou pediu demissão, dependendo do ponto de vista. Em março, Dio assumiu o microfone, e a mudança atingiu também o tecladista que acompanhava o grupo: Don Airey (hoje no Deep Purple) deu lugar a Geoff Nichols (até hoje fazendo o pano de fundo musical).

Independentemente de tudo isso, e vamos ao que interessa, Never Say Die mostra o Black Sabbath como as pessoas estavam acostumadas a ver… Bom, apesar de ser muito esquisito ver Ozzy à direita e Iommi no centro do palco. Como os fãs não tinham nada a ver com o mau clima interno, a banda mandava ver no que sabia fazer melhor: tocar clássicos inesquecíveis como Sympton of the Universe (que abre o show), War Pigs, Snow Blind, Black Sabbath, Children of the Grave e Paranoid. Claro, tem o solo de Ward depois de Dirty Woman; tem Never Say Die, uma das melhores composições do grupo; tem a climática introdução de Iommi para Electric Funeral; e tem a ótima Rock and Roll Doctor, um aula do que o próprio nome anuncia.


Musicalmente, é um bálsamo, mesmo admitindo as históricas desafinadas de Ozzy, compensadas pelo mestre Tony Iommi, o maior guitarrista base do rock pesado em todos os tempos (e isso é um elogio). Uma pena que os recursos do DVD não tenham sido explorados. Não há extras, e o ganho de qualidade de imagem e som nem é tão grande. Para os padrões da época, Never Say Die já estava um passo à frente. Se levarmos em consideração que o DVD tem apenas o show em sua duração original (uma hora), é pouco. Mas se levarmos em conta a importância do Black Sabbath para a história do rock, é um item com lugar garantido na coleção.

Resenha publicada na edição 92 do International Magazine, em abril de 2003.

OSI – Office of Strategic Influence

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Os superprojetos reunindo músicos de grandes nomes do rock progressivo e do rock pesado tornaram-se uma constante nos últimos anos. Attention Deficit, Explorer’s Club, Platypus, The Jelly Jam, Jughead, Transatlantic e Liquid Tension Experiment são exemplos de como a mistura dá certo. Mesmo com um ótimo leque de opções, ainda há como gerar enorme expectativa nos fãs. Não foi diferente quando, no fim de 2002, Jim Matheos (guitarrista do Fates Warning), Kevin Moore (tecladista do Chroma Key e ex-Dream Theater) e Mike Portnoy (baterista do Dream Theater) anunciaram que haviam juntado forças no estúdio. O time ainda ganhou o talento do ótimo baixista Sean Malone (Gordian Knot) e a participação especial do vocalista Steve Wilson (Porcupine Tree). O nome da seleção? OSI.

Músicos de talento inquestionável, certeza de encontrar um público cativo nos fãs das bandas envolvidas. Mas o álbum de estréia, Office of Strategic Influence, muito provavelmente deve ter deixado muitos deles falando “nossa, que disco esquisito!”. Quem esperava um crossover entre Transatlantic e Liquid Tension Experience deu com os burros n’água. Em comum, apenas a veia progressiva, mas não espere encontrar solos de guitarra e teclado. São tão raros que você nem lembra que ouviu. Também não há passagens de virtuosismo explícito, pois o negócio são as viagens e os pequenos detalhes em todas as músicas. Ah, sim! As influências de Pink Floyd estão sempre presentes… E também por isso Office of Strategic Influence é genial!

Com Matheos e Moore assinando todas as faixas – à exceção, claro, dos covers presentes no CD bônus –, não dava para esperar menos que isso. Hello, Helicopter!, Memory Daydreams Lapses, Horseshoes and B-52’s e a belíssima Dirt from a Holy Place trazem todos os elementos mencionados, com melodias esquisitas, simples ou complexas. Só elas já valeriam o álbum, mas tudo fica mais bonito com o que está por vir. The New Math (What He Said), a faixa que abre o disco, lembra One e Pieces of Me, do último trabalho do Fates Warning, o excepcional Disconnected (2000); When You’re Ready é puro Floyd da época Waters/Gilmour; e ShutDOWN, com Wilson nos vocais, é uma prova da incrível parede de riffs criada pelo guitarrista, que aqui não escondeu ter decorado a cartilha de Tony Iommi.


Fora ShutDOWN, Moore faz as vezes de vocalista e consegue um ótimo resultado, sempre com interpretações calmas que encaixaram perfeitamente nas músicas. As provas estão em OSI, na excelente Head e em Standby (Looks Like Rain), na qual se ratifica o perfeito entrosamento com Matheos. Como compositor, este é o responsável direto pelo posto do Fates Warning: o de melhor grupo de progressive metal da atualidade. Office of Strategic Influence acaba sendo uma continuação de seu trabalho com Ray Alder (vocal), Mark Zonder (bateria), Joey Vera (baixo) e o próprio Moore, que desde 1997 participa da banda como músico de estúdio. Presente na edição dupla e limitada do álbum, The Thing That Never Was é uma obra-prima de quase 14 minutos, ofuscando até mesmo as versões para Set the Controls for the Heart of the Sun (Pink Floyd) e New Mama (Neil Young).

Bom, eu não me esqueci de Mike Portnoy, ainda mais porque há o que falar além do chavão “talento diretamente proporcional ao tamanho do ego”. Em sua performance mais contida em muito anos, consegue resultados melhores que no último trabalho do Dream Theater, o irregular Six Degrees of Inner Turbulence (2002). Não existem presepadas de quem escreve “lead drums” na ficha técnica de um encarte de CD, mas uma atuação detalhista, precisa e, consequentemente, impressionante. Mais um ponto para Moore e Matheos, que sabem se comportar quando são os donos da bola.

Resenha publicada na edição 92 do International Magazine, em abril de 2003.

Michael Kiske (SupaRed)

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Quase uma década depois de sua saída do Helloween, Michael Kiske está de banda nova. Uma das maiores vozes do heavy metal reuniu um time de desconhecidos – Sandro Giampietro (guitarrista e braço-direito), Aldo Harms (baixo) e Jurgen Spiegel (bateria) – para formar o SupaRed, que lançou em janeiro último seu homônimo álbum de estreia. Mas não espere uma volta às raízes do power metal germânico, porque SupaRed segue o caminho mostrado nos dois discos solo de Kiske, Instant Clarity (1996) e Readiness to Sacrifice (1999), aquele hard rock com acentos mais pop. Mas quem melhor para falar do trabalho se não o próprio mentor? Em uma conversa franca, o vocalista falou de sua carreira solo, do primeiro CD de sua nova empreitada, dos dez anos longe dos palcos e, claro, de seu antigo grupo.

Quais as diferenças entre o SupaRed e seus dois discos solo?
Há uma grande diferença, pois eu estava inseguro quando gravei Instant Clarity e Readiness to Sacrifice. Na verdade, eu não sabia o que queria fazer, nem mesmo se gostaria de ser um figura pública no meio musical. É difícil explicar nestes termos, mas tinha uma conexão com a filosofia de vida que eu havia adotado. Agora, com o SupaRed, eu estou melhor comigo mesmo, mais maduro, sei o que quero e do que sou capaz sem precisar me enganar.

E quando você percebeu que estava na hora do SupaRed, ou seja, de voltar à ativa com uma banda de verdade?
Foi algo que eu realmente não decidi, apenas aconteceu. Se antes eu estava lidando comigo mesmo, por isso fazer álbuns solo foi o mais óbvio, hoje eu estou mais aberto para o mundo, mais interessado no cenário musical. Assisto à MTV com frequência e ouço do novo rock americano à música pop, que sempre foi a minha favorita. Tenho certeza de que esse sentimento positivo me ajudou a ultrapassar naturalmente a barreira de artista solo para voltar a ser integrante de uma banda, algo que sempre tentei fazer, mas apenas não era o momento certo.

Mas você sabe que todas as atenções estarão voltadas a você. Ao menos no início.
Sim, claro, porque eu sou o único da banda com uma história, conhecido há alguns anos no cenário. Certamente serei o foco das atenções, ainda mais que escrevi quase todo o álbum sozinho, e isso aconteceu sem imposição. Cheguei a trabalhar em conjunto com o Giampietro, e juntos tivemos algumas ideias legais, mas não boas o suficiente. Para o próximo disco isso certamente irá mudar, pois uma boa música tem de ser aproveitada, independentemente de quem a escreva.

Você tem noção de que muitas pessoas estavam esperando um material mais pesado?
Elas julgam meu trabalho de maneira injusta, isso porque olham apenas para o passado. É parte do problema da cena heavy metal, principalmente na Europa, onde as coisas não são muito produtivas. Fica difícil permitir que a criatividade se torne uma realidade, que o público conheça a música que você faz com paixão. Depois de 15 anos nesse ramo, percebo que muita gente não dá a mínima se o que você faz é honesto, a não ser que o que você faz se encaixe em seus gostos pessoais.

Se a música é boa, não importa o estilo, e é isso que acontece com o primeiro disco do SupaRed. Quais foram suas inspirações?
É assim mesmo que eu encaro as coisas! Minhas inspirações vão além da música que ouço, porque elas vêm de desafiar meus demônios no dia a dia para tentar encontrar respostas… E eu tenho muitas dúvidas! (risos) Não sou do tipo que fica dormindo e sonhando. Questiono muita coisa e não quero apenas ficar acreditando, também quero saber. Por isso, me inspiro na filosofia e na ciência e encontro belas respostas. Fico surpreso com o que descubro para não ter apenas de acreditar em tudo. Enfim, tudo que acontece em minha vida passa para a minha música.


O álbum é bem equilibrado, com músicas mais rock e algumas baladas. Let’s Be Heroes, por exemplo, é belíssima e uma das minhas favoritas. Essa mistura representa sua musicalidade?
Há uma progressão desde as primeiras músicas, e eu concordo com você, pois esse equilíbrio descreve bem o meu processo de composição. Let’s Be Heroes é um bom exemplo da minha musicalidade, sem dúvida.

Há dez anos você não se apresenta ao vivo. Por quê? Haverá uma turnê do SupaRed?
Bom, na verdade eu não subi num palco durante todo esse tempo simplesmente porque não quis. Estava decepcionado com muitas coisas e bastante inseguro. Não queria voltar a ser uma figura pública, e fazer um show não me deixaria confortável. Como as coisas mudaram bastante e agora estou numa banda, tocar ao vivo é necessário até mesmo para criar o próximo disco. Queremos muito fazer uma turnê, mas depende basicamente da vendagem do álbum. Se as pessoas não o comprarem, provavelmente não haverá shows ou até mesmo um segundo trabalho.

Eu espero que venda bem, então, pois tenho certeza de que os fãs querem muito vê-lo tocando ao vivo novamente.
E eu adoraria, especialmente no seu país! Quero dizer, sei que na América do Sul o Brasil é onde o rock encontra-se especialmente vivo. É quase religioso, e isso é muito excitante. Vejo uma beleza muito grande quando as pessoas são apaixonadas dessa maneira. Isso é ótimo!

Você tem ideia da quantidade de vocalistas que o citam como influência? Tem noção de que é considerado um dos melhores do rock em todos os tempos?
Olha, eu percebi isso recentemente, pois fiquei muito tempo afastado do cenário musical. Sinceramente, achava que ninguém se lembrava de mim, mas quando passei a conversar com gente do mundo inteiro fiquei surpreso ao saber disso. Ser uma influência para outras pessoas é obviamente interessante, mas acredito que há certo exagero. Claro, toda vez que gravo um disco eu acho que ele é o melhor do mundo (risos), mas não bom o suficiente para que todos o copiem (risos). Seria muito melhor que as pessoas olhassem para frente e tentassem coisas novas, achar uma identidade musical própria. Não há nada errado com a inspiração vinda de um trabalho ou de outro artista, mas estacionar naquilo que já foi feito é um tanto quanto chato, não acha?

Sim, por isso mesmo gostaria de saber o que você acha do heavy metal hoje em dia?
Nossa, a cena metal ficou muito chata! (risos) Nos anos 80 tudo era mais legal, havia muitas bandas que eram criativas e faziam algo bastante excitante, traziam qualidade ao estilo. Hoje em dia são bandas como Limp Bizkit que fazem algo diferente, tornando-se mais interessantes do que muita coisa tradicional. Há muitas cabeças ditando o que deve acontecer, o que torna a cena muito pequena e restrita à Europa, por exemplo. Ficou muito repetitivo e cansativo, consequentemente. Por isso passei a me interessar por diversos outros estilos de música.

Falando de passado e presente, você cresceu ouvindo que bandas e quais você mais curte hoje em dia?
Eu tinha 12 anos quando comecei, pedindo a meus pais um violão no Natal. Gostava de música folk e, principalmente, Elvis Presley, minha grande influência desde os oito anos de idade. Depois, descobri os Beatles e aprendi todas as músicas, mas a fase durou até eu conhecer o heavy metal, começando com Iron Maiden e Judas Priest aos 16 anos. O Queensrÿche foi muito importante para mim, especialmente por causa do Geoff Tate. Tecnicamente, Bruce Dickinson, Rob Halford e Ronnie James Dio também foram, claro. Fora isso, escutava muito Black Sabbath e os primeiros discos do Metallica. Como você pode ver, obviamente eu era fascinado pelos grandes vocalistas na década de 80, assim não poderia deixar de ouvir metal, pois é dele que saem os melhores.

É difícil imaginá-lo ouvindo Iron Maiden nos dias de hoje?
Não, às vezes eu mato as saudades de álbuns como The Number of the Beast, Piece of Mind e Powerslave. Aliás, o Iron Maiden voltou a ser uma banda interessante, principalmente ao vivo. Bruce Dickinson voltou a cantar muito bem, e fiquei surpreso com o DVD do show gravado no Rock in Rio. Bom, meu gosto musical mudou bastante, e hoje ouço bastante U2, fiquei feliz pela maneira como eles voltaram a fazer rock no último disco (N.R.: All That You Can’t Leave Behind), além do jeito como se apresentam ao vivo. É a melhor banda do mundo, e, em minha opinião, Bono Vox é o melhor vocalista da atualidade. Também estou muito interessado numa cantora chamada Martina McBride, ótima compositora que faz uma mistura bem legal de country, rock e pop e ainda possui uma das melhores vozes que já escutei. A Faith Hill tem canções muito boas. Tudo bem que eu não gosto de todo seu trabalho, mas ela é muito bonita e tem uma voz sexy (risos).


Eu não queria fazer nenhuma pergunta específica sobre o Helloween, mas é inevitável. Recentemente, você disse que não pretende tocar nenhuma música de sua ex-banda. Já mudou de ideia?
Eu não acho que deva tocar alguma música do Helloween, principalmente porque estou em outra banda agora. Se a cena musical não fosse tão neurótica, não haveria problema, mas é muito importante que o SupaRed seja reconhecido por seu próprio trabalho. Muitas vezes o passado torna-se um problema, por isso faço questão de chegar e dizer “esta é minha banda, e é isso que faremos agora”. De qualquer maneira, isso depende do local onde iremos tocar. Eu adoraria que no Brasil as pessoas forem ao show por causa do SupaRed, sem esperar por algum material do Helloween.

Na verdade, perguntei porque você escreveu sozinho algumas das melhores músicas do Helloween. We Got the Right é uma delas, e acredito que poucos vocalistas são capazes de cantá-la. Não seria interessante tocar seu material, não canções como Eagle Fly Free?
Muito obrigado pelos elogios! Entendo o que você quer dizer, e realmente seria interessante. Eu sinto saudade das músicas antigas, sinto saudade até mesmo de cantar Eagle Fly Free! Mas não é o caso de um vocalista solo em turnê, mas de uma banda como um todo. Seria estranho para os outros integrantes ter de tocar músicas antigas do Helloween, mesmo sabendo que eles topariam se assim eu quisesse.

Obrigado pela entrevista, Michael, foi um prazer.
Eu é que agradeço. É sempre um prazer conversar com alguém que mostra entusiasmo no que está fazendo. Foi um papo extremamente agradável. Muito obrigado!

Entrevista publicada na edição 91 do International Magazine, em março de 2003.

Rush

Por Daniel Dutra | Fotos: Reprodução

Não há dúvida de que 2002 foi uma temporada no mínimo interessante. Do Brasil pentacampeão mundial de futebol a um país com otimismo e esperança reacesos com a eleição de Lula, houve felicidade para todos (ou quase). Na música não poderia ser diferente. Está certo que, entra ano e sai ano, surgem bandas que são apontadas como a salvação desse tal de rock’n’roll que tanto gostamos. Tudo bem que houve uma febre de grupos e cantores agora fabricados até mesmo por programas de TV, mas pelo menos a decadência das ‘boy bands’ tornou-se realidade. Enfim, coisas boas, coisas ruins e o acontecimento do ano: finalmente o Rush aportou em terras brasileiras.

Já não era sem tempo. Aliás, diga-se de passagem, houve tempos melhores. Quem escreve estas linhas está longe de ser um fã ‘die hard’ do trio canadense. Longe disso, acredito que o fabuloso Rush – subjetivamente falando, claro – acabou no Signals (1982), inclusive. Aí se vão duas décadas. De 1982 até novembro do ano passado – quando a banda tocou em Porto Alegre (20), São Paulo (22) e Rio de Janeiro (23) –, foram mais oito álbuns (sem contar coletâneas e os tradicionais ao vivo). Somando tudo temos um apanhado de boas canções, mas a grande maioria está muito abaixo do esperado de quem um dia lançou obras-primas como Fly By Night (1975), 2112 (1976), Hemispheres (1978) e Moving Pictures (1981). Mas e daí? Em cima do palco, Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart são imbatíveis. Juntos, precisam de poucos minutos para deixar grupos formados por fãs de carteirinha, como o Dream Theater, parecendo iniciantes num sarau.

E foi exatamente o que aconteceu numa noite de sábado, no Maracanã. Foram 50 minutos de atraso até que as luzes se apagassem e a introdução com o tema de “Os Três Patetas” – usado pela última vez na turnê do Presto (1989) – saísse dos amplificadores. Nos telões, a primeira amostra do humor peculiar dos músicos – ou seria do peculiar humor canadense? – ao aparecerem as imagens de Lee como Moe; Peart como Larry; e Lifeson como… Brad Pitt! Mas antes que alguém pudesse pensar “sobrou para o Curly”, os três iniciaram com Tom Sawyer. O que os mais de 40 mil fãs presentes ao Maracanã estavam vendo e ouvindo não era a abertura de “Profissão Perigo”, tema de um McGyver que um dia foi herói de muitos deles na adolescência. E não é qualquer grupo que pode abrir um espetáculo de três horas e dez minutos com Tom Sawyer.

Sabe uma daquelas boas canções da “nova fase” do Rush? Distant Early Warning foi a segunda do set list, acompanhada de New World Man, Roll the Bones (muito bem recebida) e Earthshine. Bastava olhar para o lado e perceber que não faltava quem soubesse qualquer verso destas, mas o que dizer quando Peart tocou as primeiras notas de YYZ? Em 30 anos da carreira, o sorriso no rosto de Lee mostrava que a reação da platéia, cantando a melodia de uma música instrumental e pulando ao seu ritmo, era algo novo e fascinante. E mostravam-se absolutamente hipnotizados todos aqueles que já ouviram YYZ o suficiente para decorá-la de trás para frente.

Para acalmar os ânimos, The Pass. Para provar que a música ainda vale a pena, Bravado. Não que esta seja uma grande composição, mas Lifeson a torna memorável com seu belíssimo solo. Seguindo a escola de um dos maiores mestres no assunto – David Gilmor, do Pink Floyd –, uma aula de melodia e bom gosto nas (poucas e lentas) notas. The Big Money, uma das melhores da banda nos últimos 20 anos, antecedeu uma surpresa mais do que agradável no fim do primeiro set. Era hora de saudosismo. Incluída no repertório devido ao seu sucesso por aqui, Closer to the Heart já não era novidade, mas The Trees e Freewill foram tesouros desenterrados (em substituição a Vital Signs e Between Sun & Moon). Três dos maiores clássicos do Rush em sequência e a sensacional Natural Science para depois Lee anunciar o intervalo de 20 minutos (esquema de apresentação que o guitarrista Joe Satriani e o ex-Pink Floyd Roger Waters, por exemplo, também vêm adotando há alguns anos).


Faixa de abertura de Vapor Trails (2002), o novo trabalho do grupo, One Little Victory iniciou bem o segundo set, principalmente por causa do ótimo trabalho de Peart e pelos efeitos. Sim, o dragão no telão e a pirotecnia foram, ao lembrarmos da apresentação como espetáculo visual, os melhores momentos do show. No entanto, o maior espaço reservado ao material mais recente valeu mesmo por causa da excelência técnica do trio. A pesada Driven, Ghost Rider (que substituiu Ceiling Unlimited), Secret Touch, Dreamline e Red Sector A fizeram as atenções ficarem voltadas às performances individuais. Assim como sua voz única e inconfundível, Lee tem na lista de marcas registradas a precisão de cantar, tocar e manusear pedais de teclado ao mesmo tempo. A prática leva à perfeição, está certo, mas é de impressionar graças às linhas de baixo ao mesmo tempo bonitas e complexas que ele escreve.

Do lado esquerdo do palco, Lee fez tudo o que os fãs já esperavam. Do outro, Alex Lifeson acabou roubando o show. Subestimado por muita gente, já que tecnicamente não aparece tanto quanto seus companheiros, o guitarrista tocou tudo e mais um pouco. Sem apelar para malabarismos, Lifeson foi o grande destaque individual da noite: belos timbres, belos solos e bom gosto a toda prova nas melodias que cria nas seis cordas. Nada que não esteja em qualquer disco do Rush, mas algo que boa parte dos fãs já havia esquecido.

A instrumental Leave That Thing Alone acaba explicando o porquê de Lifeson ser injustamente relegado a segundo plano. A música, que só fica interessante mesmo depois de uns dois minutos, antecede um dos momentos mais esperados do show: The Rhythm Method, o solo de Neil Peart. Há razão de ser. O baterista é hors-concours não à toa e, depois de quase 30 anos, está ainda melhor. Seu solo é uma demonstração de técnica ímpar, mas usada em função do ritmo que a própria música (sim, música!) tem no nome. A utilização de seu kit é perfeita, culminando com uma homenagem ao seu grande ídolo, Buddy Rich. Mas qual o diferencial? Peart está distante daquele baterista de movimentos rígidos de outrora. Está mais solto e tocando de uma maneira bem mais bonita, resultado das aulas com o lendário Freddy Grubber, também professor de feras como Steve Smith e Vinnie Colaiuta.

Uma bela versão acústica de Resist foi a porta de entrada para o túnel do tempo. De volta a 1976, o trio emendou 2112 (na verdade, Overture e Temple of Syrinx), e, vergonha de quê?, não foi possível segurar as lágrimas – de emoção mesmo, não de uma nova demonstração do tal humor. Se em A Show of Hands (1989) as vítimas foram Lee e Lifeson, desta vez os dois ficaram esperando que Peart, com o corte proposital de som logo no início da música, perdesse o tempo (o que obviamente não aconteceu).

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Limelight veio depois, mas foi La Villa Strangiato que voltou a emocionar todo e qualquer fã. Execução perfeita, um jazz improvisado, Lifeson cantando e dizendo que é muito fácil cantar, Lee apresentado como “garoto de Ipanema” (um doce para quem adivinhar o que o baixista tocou em seguida), e Peart, como Milton Banana. Tudo num só fôlego até o apoteótico fim com a maravilhosa The Spirit of Radio. Fim? Não, e o bis ainda teve By-Tor and the Snow Dog (com Cygnus X-1 servindo de introdução) e Working Man. A chuva que caiu cinco minutos depois de os três se despedirem espantou apenas o forte calor. A alma dos fãs já estava lavada, como poderá ser conferido no DVD gravado naquela noite de sábado.

Sim, o Rush no Brasil foi o grande acontecimento da música no país em 2002. Tudo bem, houve quem reclamasse da duração do show e do intervalo, como se fossem surpresas. Bom, por isso mesmo reclamaram que tudo foi cansativo para quem não é fã dos canadenses – mas, ora bolas, o que uma pessoa que não gosta da banda foi fazer no Maracanã? Com três décadas de carreira e um sucesso conquistado apenas e tão somente com a música, não de marketing e hits em rádios, o Rush faz shows para os fãs. Estes têm a certeza que Lee, Lifeson e Peart não entrarão chapados no palco e com seus instrumentos desafinados. Não, eles também não cospem nas câmeras de TV, tampouco colocam o pau para fora em rede nacional. Respeito é algo que todo fã deveria exigir. Mas há gosto para tudo. A democracia é uma bênção.

Resenha publicada na edição 90 do International Magazine, em janeiro de 2003.

Ratos de Porão

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

O Ratos de Porão lança seu novo disco, Onisciente Coletivo, para não apenas provar ter uma das trajetórias mais interessantes do rock brasileiro, mas principalmente ratificar sua importância no cenário musical. Por telefone, entrevistamos o vocalista João Gordo – que segue ao lado de Jão (guitarra) e Boka (bateria), trio que agora conta com Fralda no baixo – e com menos de cinco minutos de conversa a pauta foi deixada de lado. O que se seguiu foi um papo bem-humorado sobre os mais variados assuntos.

Podemos começar falando sobre o novo disco, lançado cinco anos depois do último trabalho…
… Esse negócio de cinco anos é furada, porque gravamos muita coisa (N.R.: o período abrange os anos em que o grupo não lançou um trabalho completo de inéditas). O último disco cheio havia sido o Carniceria Tropical, de 1998 (N.R.: de 1997, na verdade). Ele saiu no mundo inteiro e foi bastante elogiado. Chegamos a fazer três turnês, incluindo até a Europa.

Sim, durante esse tempo houve outros lançamentos, mas nenhum álbum de inéditas.
Pois é, nós andamos um tempo tocando direto e demoramos para compor, além de eu quase ter morrido por causa de um problema de saúde. Acabou que fizemos o Guerra Civil Canibal, com covers e algumas inéditas; o Sistemados pelo Crucifa (N.R.: regravação do primeiro disco, Crucificados pelo Sistema); e o Só Crássicos (N.R.: coletânea). Gravamos também vários tributos… Pô, nem lembro mais, é muita coisa (risos).

Mas por que tanto tempo até o Onisciente Coletivo?
Demoramos porque só ensaiávamos uma vez por semana. Afinal, não temos estúdio e precisamos ficar pagando para ensaiar. Complica porque há o lado financeiro de cada um na banda.

E como foi o processo de composição, então?
Não tem ideia, nós só vamos compondo. Rola de uma hora ficar empacado, não sair nada. De repente sai um monte de música, principalmente com o Jão e o Boka. Aliás, eles nem precisaram de mim. As letras vêm depois da música. Sempre foi assim, e dessa vez foi até meio abortado (risos). Eu pego uma fitinha com as bases e fico cantando em cima.

Você não deixou passar em branco os atentados de 11 de setembro. No entanto, em músicas como Terror Declarado e Próximo Alvo você aborda o assunto com outra perspectiva. Você não teme críticas por apontar uma culpa dos EUA?
Eu apenas narrei os fatos. Escrevi “Qual o próximo alvo na América?” e também “Qual o próximo alvo da América?”. Em Terror Declarado eu falo em árabe “Mawetuhom Yaa Halaawa”, que significa “nós vencemos, eles morreram”. Não estou tomando partido de ninguém, não.

O Ratos sempre foi crítico com a situação no Brasil. O que você acha do país atualmente?
É um momento de transição. O Lula pegará uma bomba muito grande, e com qualquer passo errado as críticas serão imensas (N.R.: a entrevista foi realizada no dia 25 de outubro, ou seja, dois dias antes do segundo turno). Haverá muita vigilância. Em quatro anos ele não conseguirá mudar o Brasil. É que nem a Marta (N.R.: Suplicy, petista e prefeita de São Paulo), que pegou só a casca, já que o (ex-prefeito) Celso Pitta destruiu a cidade. Não há como consertar tudo rapidamente.

E os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso?
O FH até tentou, mas virou capacho do FMI. Ele parece ser um cara honesto e de boas intenções, só que se rendeu. A mesma coisa pode acontecer com o Lula por causa da Alca (N.R.: Área de Livre Comércio das Américas). Isso acaba virando Cuba, mas eu falo no bom sentido (risos).


Voltando à música, como foi assinar com uma gravadora que pode trabalhar bem a banda no Brasil?
O Ratos existe há 20 anos e quase nunca parou de tocar um mês sequer. Sinto-me feliz por termos chegado até aqui, lançando o 14º disco, mesmo que seja contando um monte de porcaria (risos). Hoje eu ainda me encontro em cima do muro, com um pé no mainstream, por causa da MTV, e o outro atolado no underground.

E ainda existem os radicais falando que você se vendeu?
Olha, eu não me vendi, fui comprado (risos). Pô, estou com 40 anos e antes da MTV eu era tão fudido como os que me criticam. Quem fala mal é porque tem dor de cotovelo, não percebe que no meu programa (N.R.: Gordo a Go-Go) eu aproveito para zoar. Faço merchandising porque posso me arrepender depois, ficar velho e chorando pelas oportunidades que não aproveitei. E atire a primeira pedra quem recusar um cachê de R$ 80 mil para falar algumas besteiras numa propaganda. Eu não sou trouxa, não posso recusar uma proposta assim.

E levou muito tempo para conquistar algo?
Meu, o Ratos é uma instituição, mas nós ralamos muito. Ainda assim, ao mesmo tempo em que tocamos para 60 mil pessoas na Espanha (N.R.: no Festival Viña Rock), ficando em hotel cinco estrelas, em outros lugares da Europa nós dormimos no chão. Aliás, os espanhóis dão muito valor às bandas locais, não tem a inveja que rola aqui.

Mas de uns anos para cá, bandas nacionais com um som mais pesado têm tido mais entrada em rádios.
Sim, mas as gravadoras acharam um filão. Cada uma pegou um clone do Raimundos e esqueceu que existem várias bandas boas e desconhecidas por aí. Para um grupo como o Ratos é ainda mais difícil. Brasileiro gosta de blá blá blá alegre, não quer ouvir crítica, seja com ou sem palavrão.

E como rolou com a Century Media?
Ela é uma gravadora de heavy metal, pensa alto por natureza. Para a galera do metal tudo tem de ser superprodução, muito bem feito, um megaevento. A Century Media sabe da história do Ratos, do valor que a banda tem. Nós batemos à porta dela porque sabíamos que no Brasil seremos bem trabalhados, já que no resto do mundo temos contrato com Alternative Tentacles, à exceção de Espanha e Portugal, onde a Pick Generation nos lança. Todas elas nos pegaram porque sabem da nossa importância, como influenciamos muitas pessoas. Nós nem tentou procurar grandes gravadoras. Elas não entendem nada de rock, não querem saber do histórico de um grupo. Vendeu menos de cem mil cópias, não presta.

Mas esses números geralmente não duram para sempre, ainda mais nessa época de bandas pré-fabricadas. Não há mais uma carreira regular.
Pois é, podemos não subir, mas também não caímos. Mantemos a média, nunca venderemos mais que 20 mil cópias (risos).

E os problemas de saúde? A turnê foi adiada para o início de 2003 porque você será submetido a uma cirurgia, certo?
Sim. Tive flebite na perna esquerda, uma pré-trombose. Na verdade, em junho nós chegamos a fazer shows na Europa para divulgar o novo disco. Foram 15 num ritmo animal (N.R.: 12 na Alemanha e o restante em Portugal, Áustria e Suíça). Em algumas cidades foi aquilo que eu te falei, dormindo no chão, em lugares sujos. No início é legal para caralho, mas a partir da terceira ou quarta vez você cansa, percebe que as pessoas são sempre as mesmas, só estão mais velhas e bêbadas. Os caras ficam cada vez mais chatos, e as minas, mais feias (risos). Enfim, eu voltei doente, então nós paramos por um tempo. Não dá mais para passar por isso.

Para encerrar, você está sabendo do projeto de revitalização do Circo Voador? Pergunto porque o Ratos esteve diretamente envolvido com a situação que causou o fechamento.
Meu, tem de reabrir! É um patrimônio cultural do Rio de Janeiro. Aquilo foi foda, uma tremenda ignorância. Eu não sou da cidade e não sei direito o que aconteceu, mas foi uma palhaçada (N.R.: no fim de 1996, Luiz Paulo Conde foi comemorar ao lado do Circo Voador sua eleição à prefeitura da cidade, na noite em que o Ratos de Porão se apresentava. Acabou saindo do local sob vaias e protestos do público. No dia seguinte, César Maia, padrinho político de Conde e terminando seu primeiro mandato como prefeito, alegou que a casa não tinha isolamento acústico e mandou fechá-la). Nós tocamos mais de 30 vezes lá e até hoje nos arrependemos de não termos gravado o CD ao vivo no Circo. No Brasil, nosso público mais fiel é o carioca. Nossos melhores shows sempre são no Rio.

Entrevista publicada na edição 90 do International Magazine, em janeiro de 2003.

Yngwie Malmsteen – Attack!!

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Não é preciso ouvir o novo trabalho de Yngwie Malmsteen, Attack!!, para chegar à conclusão de que o maior problema do guitarrista é ele mesmo. O disco apenas ratifica o que todos que conhecem sua carreira já sabem, principalmente quem a acompanha desde o início. Em 1984, com 21 anos, o sueco impressionou com seu álbum de estréia, Rising Force. Não houve quem não ficasse de queixo caído com o que ele fazia com as seis cordas, criando um novo estilo, redefinindo a maneira de tocar guitarra no rock e, principalmente, no heavy metal. A velocidade era usada com inteligência; a influência de música clássica e barroca era aliada de maneira belíssima a um instrumental, digamos, mais pesado; e as composições eram um primor.

O impacto foi o mesmo em que arriscou comprar o vinil no Brasil, onde foi lançado quase dois anos depois. À época, o segundo disco, Marching Out (1985), já era encontrado em lojas especializadas em sua versão importada, e houve correria para conseguir uma cópia. Trilogy (1986), o trabalho seguinte, deu as caras por aqui quando o ex-Alcatrazz já era um fenômeno, de revelação a melhor guitarrista do ano em inúmeras publicações em todo o mundo. Hoje, ele continua sendo respeitado por sua contribuição à guitarra, mas tornou-se um músico extremamente chato, além de um sujeito de ego superinflado e detestado por boa parte da imprensa.

Attack!! – seu 18º disco, o 14º de inéditas – é mais uma prova cabal de tudo isso. São 15 músicas num álbum muitas vezes cansativo, poucas vezes realmente interessante. Ruim? Não, apenas indiferente. Provavelmente irá agradar ao fã mais recente, mas isso não basta. A primeira música, Razor Eater, seria melhor não fosse um dos três ou quatro solos que Malmsteen vem repetindo ao longo dos anos. Em Rise Up e Valley of Kings o autoplágio segue para as melodias vocais, absurdamente semelhantes. Assim, bastam três músicas para se perceber como o talento de Doogie White é desperdiçado.

Excelente vocalista, fato comprovado em sua passagem pela última encarnação do Rainbow de Ritchie Blackmore, White esteve com um pé no Iron Maiden. Na verdade, só não substituiu Bruce Dickinson porque aquele concurso foi mesmo uma armação para promover ainda mais o grupo inglês (como se isso fosse preciso). Em Attack!!, White se esforça – ou é indiretamente forçado – a cantar como Mark Boals, o ex-vocalista predileto de Malmsteen. O guitarrista é responsável por todas as músicas e letras, incluindo as linhas para voz, e aí você imagina como seria saudável se houvesse espaço para que outros membros pudessem compor. Mas o máximo que o ego de Malmsteen permite é a inclusão de um engenheiro de som, Tom Fletcher, responsável também pela mixagem. Ainda bem, pois quando o sueco se meteu a fazer toda a produção – em Alchemy (1999) e War to End All Wars (2000), os dois álbuns anteriores –, o resultado foi desastroso.

Enquanto White não realiza um trabalho com personalidade própria, é ainda mais difícil entender o que faz Derek Sherinian no disco. Tecladista de técnica bastante apurada e de grandes ideias (faça um favor a você mesmo e ouça o Planet X, banda instrumental que Sherinian tem ao lado de Virgil Donati e Tony MacAlpine), aqui ele serve apenas de pano de fundo musical. Não há um momento sequer digno de registro. Azar de seu substituto na turnê, Joakim Svalberg, que trocou os vários momentos Jon Lord que tinha com Glenn Hughes e Joe Lynn Turner para trabalhar para Malmsteen (sim, “para” e não “com”) – o próprio guitarrista assumiu o baixo nas gravações, o que é de praxe, e o batera Patrick Johansson completa a cozinha. Atualmente também de praxe, soltou a voz numa canção, Freedom isn’t Free.

Não, eu não me esqueci da música, mas a instrumental Baroque & Roll é uma desnecessária “releitura” da clássica Far Beyond the Sun, e Air, um tema em cima de vários temas de Bach, seria a melhor faixa do CD se Malmsteen a tivesse mantido acústica, da maneira que costuma apresentá-la nos shows. Tudo bem, tudo bem. In the Name of God, Valhalla, Iron Clad e a faixa-título são audíveis, mas Attack!! só vale mesmo pelas ótimas Ship of Fools, Stronghold e Touch the Sky. Para um padrão Malmsteen que já dura mais de dez anos, normal. Para um trabalho com 15 músicas, é muito pouco. A escolha é sua.

Resenha publicada na edição 90 do International Magazine, em janeiro de 2003.

Audioslave – Audioslave

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Você se lembra dos lançamentos que ouviu em 2002? Já fez a tradicional lista dos melhores do ano? Pois bem, tire qualquer um dela e inclua o CD de estreia do Audioslave. Lançado em novembro, o disco que leva apenas o nome da banda foi um verdadeiro presente de Natal e justificou toda expectativa em torno da união dos remanescentes do Rage Against the Machine – o guitarrista Tom Morello, o baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk – com o ex-vocalista do Soundgarden, Chris Cornell.

Quando Zack de la Rocha anunciou sua saída do Rage Against the Machine, em outubro de 2000, a grande dúvida era como seria possível substituir o carismático frontman. O RATM parecia ser o tipo de banda que não funcionaria sem um de seus ingredientes, algo plausível se levarmos em consideração não o direcionamento musical da banda, mas o temático. Rocha não era necessariamente um vocalista e, sejamos sinceros, deixava muito a desejar na hora de acompanhar o instrumental do grupo. Em vez de cantar, ele discursava. Claro, sua metralhadora verbal não era dispensável, fazia parte de um todo e era inteligente no contexto político e social que o RATM adotou desde o início. Mas chegava uma hora que cansava.


Do outro lado, Chris Cornell havia lançado um trabalho solo depois que o Soundgarden encerrou as atividades, em 1997, o bom Euphoria Morning (1999). Sempre foi reconhecido como um ótimo vocalista e, ao contrário de Rocha, é adepto de letras mais pessoais, abrangendo conflitos, relacionamentos e perdas algumas vezes de maneira até abstrata. Poucos meses depois da ruptura no RATM, os boatos davam conta de uma união de forças dos três que ficaram com um dos ex-representantes da safra grunge. Mas a coisa demorou a engatar. Cornell chegou a abandonar o barco pouco depois de a banda, ainda sem nome, ser confirmada para o Ozzfest, mas voltou atrás e o supergrupo começou a tomar forma.

Felizmente, as diferenças de estilo entre Cornell e Rocha sepultaram o RATM. Com um novo vocalista de influências distintas, manter a alcunha seria uma atitude apenas e tão somente comercial. Civilian foi o primeiro nome a ser divulgado mundo afora, mas o quarteto fechou como Audioslave e agora chega às praças com seu disco de estreia. E que disco! Audioslave é um primor musical, uma mistura perfeita do que Soundgarden e RATM tinham de melhor. Pesado e acessível ao mesmo tempo, o álbum foi previamente anunciado pelo primeiro single, a excelente Cochise (responsável por um videoclipe espetacular).


A música abre o CD mostrando logo de cara quem são os maiores destaques da banda: Cornell e Morello. O primeiro está cantando uma barbaridade, numa mistura perfeita de técnica e feeling, e o segundo vale por meia dúzia de guitarristas, com riffs arrebatadores e ruídos e esquisitices que roubam todos os lugares que deveriam ser preenchidos por solos (e neste caso não foram, ainda bem). O trabalho dos dois faz com que Show Me How to Live e Set it Off tornem-se músicas maravilhosas, permeadas de peso e groove (cortesia também de Commerford nas quatro cordas).

Claro, há resquícios de RATM em vários pontos, assim como What Your Are e Bring Em Back Alive remetem ao Soundgarden. Mas a síntese não traz apenas resquícios de Black Sabbath, como em Gasoline, ou experimentalismos à la Led Zeppelin (uma referência muitas vezes percebida), como em The Last Remaining Light. Há sons retos e com refrãos fortes (Exploder e Light My Way), outros mais difíceis (Hypnotize) e também baladas, um lado inexistente no RATM e aqui mais bem explorado que no Soundgarden. Like a Stone, I Am the Highway, Getaway Car e Shadow on the Sun são muito bonitas, ideais para levar qualidade às emissoras de rádio. No entanto, não espere algo como a fórmula encontrada pelo Red Hot Chili Peppers, por exemplo. No Audioslave, tanto a banda quanto o disco, há de sobra o que vem faltando a muito grupo por aí: tesão para compor e gravar. Enfim, tesão para fazer música.


Resenha publicada na edição 90 do International Magazine, em janeiro de 2003.

Primal Fear

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

O Primal Fear estava a caminho do Brasil para a sua segunda turnê no país – em dezembro de 2002, passando por Porto Alegre, Blumenau, Curitiba e São Paulo –, então rolou a chance de bater um papo com o vocalista Ralf Scheepers, que á época tinha, além do fiel escudeiro Mat Sinner (baixo), a companhia dos guitarristas Stefan Leibing e Henny Wolter e do baterista Klaus Sperling. Com um quarto álbum, Black Sun, na rua há oito meses, a rápida conversa (20 minutos) ganhou rumos diferentes, e aqui você encontra a versão editada que foi publicada à época.

Qual a principal diferença da banda do primeiro álbum (N.R.: homônimo, de 1998) para o mais recente trabalho, Black Sun?
Nós passamos por muita coisa, experiências de turnês e gravações, coisas que se refletem no modo de compor. No primeiro disco estava tudo muito fresco, apenas nos juntamos e fizemos as músicas. Com o tempo, aprendemos o estilo um do outro e começamos a soar melhor como conjunto. O que você ouve com a sequência do trabalho é sempre uma evolução.

E você concorda que o Primal Fear foge do estilo adotado por bandas como o Stratovarius? Quero dizer, as raízes são mais dos anos 80, o grupo faz um som mais direto…
Cada integrante do grupo tem um background diferente. Nós crescemos ouvindo metal na década de 80, bandas como Saxon, Iron Maiden e Judas Priest. Nós ainda amamos o som daquela época, mas o que fazemos sai de nossos corações. É difícil dizer que fazemos esse ou aquele tipo de música.

Ainda assim, o que eu considero importante é que o Primal Fear tem um estilo diferente de sua ex-banda, o Gamma Ray. Isso não significa que suas raízes são realmente mais distantes do metal melódico?
Para mim é muito complicado comparar. Tive grandes momentos com o Gamma Ray, mas hoje o melhor que posso fazer é compor com quem tem o mesmo sentimento que eu a respeito da música. Não há dúvida de que eu era feliz com o Gamma Ray, mas sou muito mais feliz agora com o Primal Fear, que não tem nada ou quase nada a ver com o que fiz no passado. Gosto do que estou fazendo agora. Isso é o mais importante.

É interessante você falar isso, levando em consideração o tipo de som pesado que faz sucesso nos EUA e que os americanos acabam exportando para o mundo inteiro.
Você está falando do new metal (risos). As pessoas têm o hábito de dizer que é heavy metal apenas porque a música tem uma guitarra distorcida, mas eu não vou julgá-las por isso. Todos fazem o que gostam, é apenas uma questão de gosto a pessoa comprar um disco de determinada banda.


Isso pode fazer com que ela queira descobrir a fonte de tudo, quais são as bandas que deram origem ao rock pesado, não?
O fã é muito bem informado hoje em dia, então sempre terá oportunidade de descobrir as raízes do metal. Basta querer.

O Primal Fear é uma das poucas bandas do metal contemporâneo que ainda não lançou um CD ou um DVD ao vivo. Está nos planos algo desse tipo?
Gravamos muitos dos nossos shows da turnê europeia. Como tocamos em festivais, registramos muitas cenas com uma câmera profissional e lançaremos um DVD ainda este ano. Não pensamos num álbum ao vivo, pois o DVD trará nosso show. O próximo disco será mesmo de estúdio.

Alguma coisa que você possa adiantar sobre o novo álbum?
Iremos nos juntar depois do Natal para dar sequência ao processo de composição, às idéias que já temos. Black Sun é o disco mais pesado que gravamos, mas acredito que haverá mudanças, algo mais na linha de nosso primeiro trabalho. O que posso prometer aos fãs é que será um álbum puramente Primal Fear, puramente metal. É algo que não mudamos.

Para terminar, gostaria de sua opinião a respeito de alguns vocalistas. Podemos fazer um pingue-pongue?
Sim, claro!

Ronnie James Dio.
Conheci o Ronnie quando tocamos na Espanha em 2002. É uma pessoa adorável, além de ser um dos melhores do mundo.

David Coverdale (Whitesnake).
Um grande vocalista, com uma veia mais blues rock. De acordo com as mulheres, tem uma voz sexy (risos).

Ian Gillan (Deep Purple).
Ele é fundador de uma escola no heavy metal!

Geoff Tate (Queensrÿche).
Tem uma voz muito forte, é ótimo. Gosto bastante dele.

Glenn Hughes.
Esse cara me assusta! (risos) Ele é impressionante!

Kai Hansen (Gamma Ray).
(Rindo) Eu sabia! (risos) Ele se aprimorou bastante, teve aulas de canto e mostrou que pode tomar a frente da banda também nos vocais.

OK, Ralf. Obrigado pela entrevista.
O prazer foi meu, foram perguntas bem interessantes (risos). (N.R.: falando em bom português) Muito obrigado!

Entrevista publicada na edição 90 do International Magazine, em janeiro de 2003.