Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação
Do álbum de estreia, Louder! (2014), até Postcards from the Black Sun, o Sixty-Nine Crash mostra que não ficou imune a algumas mudanças que modernizaram o hard rock – mudanças que, para ficar apenas em dois exemplos, atingiram bandas como a finlandesa Santa Cruz, em seu segundo e homônimo disco, de 2015; e a sueca H.E.A.T, que também dividiu opiniões com Into the Great Unknown (2017). O novo trabalho do grupo carioca – formado por Jay B Roxx (vocal e guitarra), Davis Ramay (guitarra) e Andy Carvalho (baixo) – deixa o lado festivo do estilo, incluindo as pitadas de sleaze, para cair num lado mais pesado e sombrio, de afinações mais baixas e experimentalismo.
Nada muito radical, no entanto, pois a banda soube trabalhar muito bem a passagem para uma sonoridade mais atual. Se as baladas não podem faltar, o lado mais tradicional se faz presente em Always Love You, enquanto a emotiva Heaven’s Cry vai para um caminho menos convencional – a letra desta última é o principal exemplo de como o álbum foi uma catarse para B Roxx, que escreveu sozinho todas as canções (à exceção de Burning Bridges, da qual Ramay é coautor). O resultado é exatamente o que se espera de baladas hard rock: ambas são muito bonitas. E ao equilibrar as dez faixas entre o conservador e o moderno, o Sixty Nine-Crash acertou ao pesar logo de cara a balança a favor da novidade, digamos assim. We Don’t Need Heroes abre o CD mostrando o que a capa e conceito visual entregam, porque é pesada e carrega nos loops.
E se a ótima Bleeding Heart também apresenta loops e ruídos, além de flertar com o pop moderno, Warfield é mais direta, mas se destaca por um refrão bem forte. As três primeiras faixas têm a companhia da já citada Heaven’s Cry, e é a partir daí que o passado começa a dar as caras. Give Me a Sign ainda carrega doses mais generosas de peso, mas reata com o hard rock tradicional a ponto de Ramay transitar entre o rock’n’roll e o virtuosismo mais melódico em ótimos solos de guitarra. Not Afraid to Die, por sua vez, mostra ao ouvinte uma das melhores características do estilo, seja qual for o rumo que ele segue: um baita refrão com direito a um corinho para ficar grudado na cabeça.
Burning Bridges e Crack Me Open receberam o mesmo benefício, ou seja, a facilidade de fazer o fã cantar, mas ao mesmo fundem o hoje com o amanhã – a primeira tem aquela pegada mais moderna, e a segunda mete mais um baita solo para satisfazer a velha guarda. Propositadamente, o desfecho de Postcards from the Black Sun é com uma música que soa como se fosse oriunda daquela efervescente Los Angeles dos anos 80. Sem concessões, All Lies Are True é viciante até o talo. Tudo isso com uma produção impecável, que faz você jurar que a bateria não é programada – mas nada de MIDI ou de recursos eletrônicos, vale ressaltar. Mergulhe sem medo, porque a viagem é garantida.
Faixas
1. We Don’t Need Heroes
2. Warfield
3. Bleeding Heart
4. Heaven’s Cry
5. Give Me a Sign
6. Not Afraid to Die
7. Burning Bridges
8. Crack Me Open
9. Always Love You
10. All Lies Are True
Banda
Jay B Roxx – vocal e guitarra
Davis Ramay – guitarra
Andy Carvalho – baixo
Lançamento: 01/11/2018
Produção: Celo Oliveira