2018 in review: BR

Ao contrário do ano passado (confira aqui como foi), a retrospectiva de 2018 foi dividida entre discos internacionais e nacionais: os trabalhos de artistas brasileiros saíram do Top 20 para formar um Top 5. A lista, na verdade, teria dez títulos, mas a missão foi abortada porque (i) dois deles foram originalmente lançados em 2017 – os álbuns de estreia do Galactic Gulag, To the Stars By Hard Ways, e do Blind Horse, Patagonia –, apesar de a divulgação de ambos ter sido efetivamente feita no ano seguinte; e (ii) um CD em potencial – Imortal, do Azul Limão – chegou às lojas no apagar das luzes. Assim sendo, entre todos os que tiveram a devida audição da casa ao longo de 2018, os cinco melhores são:

#5 Corsair (LIVING LOUDER) – O power trio paulista continua bebendo na fonte do rock dos anos 60 e 70, e o seu segundo álbum mostra grande evolução um ano depois do homônimo disco de estreia. Nas músicas e na produção (clique aqui para ler a resenha).


#4 Inverno Mineiro (KHADHU CAPANEMA) – Baixista e vocalista do Cartoon, o multi-instrumentista mostra em seu primeiro trabalho solo, bem pessoal, a inquietude musical que faz da banda mineira parte da vida inteligente do rock progressivo (clique aqui para ler a resenha).


#3 Postcards from the Black Sun (SIXTY-NINE CRASH) – Sem medo de arriscar, a banda carioca trocou o lado glam e sleaze do hard rock por uma sonoridade mais pesada e moderna. E acertou em cheio num trabalho denso e contagiante (clique aqui para ler a resenha).


#2 Scourge of the Enthroned (KRISIUN) – Um dos grandes orgulhos do metal brasileiro e um dos maiores nomes do death metal. Pule de dez a cada lançamento, o trio gaúcho voltou aos anos dourados do estilo para uma aula de brutalidade e melodia (clique aqui para ler a resenha).


#1 ØMNI (ANGRA) – Assim como nas eras Andre Matos e Edu Falaschi, o Angra faz na gestão Fabio Lione um de seus discos definitivos. O melhor da banda em 14 anos, diga-se, e com uma convidada que valeu também todo o marketing orgânico (clique aqui para ler a resenha).


MÉTODO DE AVALIAÇÃO

Quebre, Passe longe, Vale a audição, Divirta-se, Pode comprar e Obrigatório. O que isso quer dizer para quem lê as resenhas publicadas visando à retrospectiva 2018 (e todas as outras a partir de agora)? Que o leitor deve decidir por ele mesmo se o CD deve passar batido ou ir direto para a sua coleção. Por quê? Porque a resenha traduz a opinião de quem escreve. Goste ou não o fã, resenha de disco sempre foi, continua sendo e sempre será a opinião do autor. No entanto, como dar nota é algo que nunca foi do agrado da casa, a saída foi arrumar alguns quesitos. Com um toque de diversão.

Quebre é apenas figura de linguagem, obviamente, e Obrigatório não significa necessariamente que o álbum é nota 10. Levando-se em consideração os dois extremos da avaliação, são apenas dicas de que ou o trabalho serve apenas para pegar poeira na estante, no caso de você fazer questão de ter a coleção completa, ou é indispensável para quem curte o estilo e/ou a banda. E as outras quatro categorias? Com as plataformas de streaming, você pode conferir o disco e aí concordar ou discordar. No entanto, sempre que puder, compre o produto físico e original. Quem faz música e vive dela agradece.

The Dead Daisies – Burn it Down

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Quem diria que aquele projeto idealizado pelo guitarrista David Lowy em 2013, ao lado do vocalista Jon Stevens, se tornaria uma das melhores bandas de rock que você pode encontrar por aí. A quantidade de músicos que já passou pelo The Dead Daisies não cabe nos dedos das mãos e dos pés, mas sejamos sinceros: foi com a entrada de John Corabi em 2015 que o grupo subiu vários degraus, porque Revolución coloca no bolso o homônimo álbum de estreia, lançado dois anos antes. É bom demais ver um músico tão talentoso como o ex-vocalista do Mötley Crüe e do Union finalmente bem parado. Aí veio Doug Aldrich (ex-Dio, Whitesnake e um monte de outros nomes) para levar o trabalho de guitarra a um patamar ainda mais alto, afinal, ele chegou para substituir Richard Fortus e também Dizzy Reed (tecladista). E Make Some Noise (2016) fez tanto barulho que rendeu o ao vivo Live & Louder (2017), ambos também obrigatórios.

E houve mais uma mudança de formação, mas a entrada de Deen Castronovo no lugar de Brian Tichy não é a razão de Burn it Down ser um novo passo à frente. O novo dono das baquetas é um gênio, mas o que ele, Lowy, Corabi, Aldrich e Marco Mendoza (baixo) fizeram foi não se repetir para continuar a ascensão com grandes discos. O time de composição permaneceu intacto, incluindo o produtor Marti Frederiksen, e o quarto trabalho apenas pegou o hard rock dos anteriores e o repaginou com um rock’n’roll visceral e mais sujo, sem perder a veia dos anos 60 e 70 que permeia a sonoridade da banda.


Isso pode ser explicado nos covers da vez, a começar na ótima versão de Revolution, dos Beatles, na qual o respeito ao clássico dos Fab Four está na pegada mais pesada comandada por Castronovo e na interpretação de Corabi. E há Bitch, dos Rolling Stones, mas a história é diferente. Ou quase, já que o quinteto se saiu muito melhor do que os próprios autores – o que, convenhamos, não é nenhuma novidade. Que o digam Grand Funk, KISS, Gov’t Mule e Montrose, por exemplo.

O mais legal, no entanto, é saber que se trata de diversão, uma vez que o Dead Daisies é capaz de forjar seus próprios clássicos. Primeiro single, Rise Up já virou hino não oficial da NASCAR em 2018, e o álbum tem caixa para mais, porque Dead and Gone é espetacular de tão grudenta – não é todo mundo que insere ‘yeah!’ num refrão e se dá bem. Mas seria injusto dizer que são as duas melhores canções de Burn it Down, já que a faixa-título é um baita de um hard blues, enquanto Judgment Day dá sequência até se tornar um hard mais pesado. E tudo isso é embalado pelos principais predicados do trabalho: melodias vocais, refrãos para cantar com vontade e um show de Aldrich nas seis cordas (riffs e solos). Contenha-se ao ouvir What Goes Around e Leave Me Alone; abra o sorriso com Set Me Free, bela balada com clima anos 70; e lembre-se de Aerosmith nas destruidoras Resurrected e Can’t Take it With You. Depois faça tudo de novo.


Faixas
1. Resurrected
2. Rise Up
3. Burn it Down
4. Judgement Day
5. What Goes Around
6. Bitch
7. Set Me Free
8. Dead And Gone
9. Can’t Take it with You
10. Leave Me Alone
11. Revolution (faixa bônus)

Banda
John Corabi – vocal
David Lowy – guitarra
Doug Aldrich – guitarra
Marco Mendoza – baixo
Deen Castronovo – bateria


Lançamento: 06/04/2018

Produção: Marti Frederiksen
Mixagem: Anthony Focx

Metal Church – Damned if You Do

O Metal Church conseguiu de novo. “Damned If You Do” fica um pouco atrás de “XI” (2016), talvez porque sua audição não venha acompanhada da empolgação com o retorno de Mike Howe, mas o 12º disco de estúdio do quinteto é matador! E com um detalhe que traz um sabor todo especial: exala anos 80. Não apenas na produção deliciosamente orgânica do guitarrista Kurdt Vanderhoof, desde sempre o líder e principal compositor da banda, mas também em músicas que resgatam aquela década, como as ótimas “The Black Things” e “Rot Away”.

Mas o bicho pega mesmo nas excelentes “Out of Balance” e “The War Electric”, porque, meu amigo, elas são de arrepiar quem gastou os vinis “Metal Church” (1984) e “The Dark” (1986) de tanto ouvi-los três décadas atrás. Elas têm todos os elementos que transformaram estes dois álbuns em clássicos absolutos do heavy metal, mas com a roupagem da segunda e maravilhosa fase do Metal Church, de 1988 a 1995, exatamente com Howe nos vocais.


Sim, os anos antes do primeiro hiato do grupo são fortemente representados em canções que poderiam ter saído dos primeiros três trabalhos com o então jovem vocalista cabeludo e loiro. Mais rápida e com aquele riff palhetado sempre funcional, “Guillotine” parece irmã de Conductor, do infelizmente subestimado “Hanging in the Balance” (1993), enquanto “Into the Fold” poderia ter saído de “Blessing in Disguise” (1989), e “Monkey Finger”, de “The Human Factor” (1991).

“Monkey Finger”, aliás, apresenta todo o groove que a banda ganhou com a entrada de Howe no lugar do saudoso David Wayne (1958-2005). E não deixa de ser curioso que, com “Damned If You Do”, Howe – que sempre foi um favorito dos fãs – passe a ser a maior voz na história do Metal Church: são cinco discos gravados contra quatro de Ronny Munroe, com quem o grupo teve seus momentos menos inspirados, e três de Wayne.

Como se fosse para comemorar a marca, a faixa-título, lançada pouco menos de um mês antes, como primeiro single e videoclipe, já tinha dado uma amostra do poder de fogo. Mas aqui, como abertura do CD, vira um poderoso novo cartão de visitas com seu riff destruidor (Vanderhoof tem uma mão direita de muito respeito) e um refrão para castigar os pulmões.


E como se não bastasse tudo isso, o álbum ainda nos reserva duas das melhores músicas do Metal Church: “By the Numbers”, que já virou clipe (hilário, por sinal), é simplesmente sensacional, com mais um riff contagiante e uma baita linha vocal enriquecida pela performance nervosa de Howe; e “Revolution Underway” traz um instrumental cheio de mudanças e belas passagens, nas quais brilham o guitarrista Rick Van Zandt, o sólido baixista Steve Unger e, principalmente, o batera Stet Howland.

Na banda desde abril de 2017, quando entrou na vaga de Jeff Plate (Trans-Siberian Orchestra, Savatage), o ex-W.A.S.P. é uma usina de força. Depois de vencer um câncer no início deste ano, Howland espanca o kit como se sua vida dependesse disso. E faz bonito.

Fotos: Melissa Castro/Divulgação

Faixas
1. Damned if You Do
2. The Black Things
3. By the Numbers
4. Revolution Underway
5. Guillotine
6. Rot Away
7. Into the Fold
8. Monkey Finger
9. Out of Balance
10. The War Electric


Banda
Mike Howe – vocal
Kurdt Vanderhoof – guitarra
Rick Van Zandt – guitarra
Steve Unger – baixo
Stet Howland – bateria

Lançamento: 07/12/2018

Produção: Kurdt Vanderhoof

Kamelot – The Shadow Theory

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

Se você está lendo esta resenha, então posso imaginar que seja um fã do Kamelot. Sendo assim, pergunto: gostou de Silverthorn (2012) e Haven (2015)? Se a resposta for positiva, pode sair correndo para comprar The Shadow Theory, porque é preciso dizer que Tommy Karevik (vocal), Thomas Youngblood (guitarra), Sean Tibbetts (baixo) e Oliver Palotai (teclados) resolveram abrir mão dos experimentos elementos mais modernos e até industriais, presentes no álbum anterior – o novato Johan Nunez (bateria) completa oficialmente a formação. Ou seja, quem é fã vai abrir um sorriso ainda maior no rosto com esse retorno às raízes. Isso fica latente logo em Phantom Divine (Shadow Empire), com um daqueles refrãos que a banda saber moldar como poucas no estilo, e que aqui ganhou a participação de Lauren Hart (Once Human) tanto no vocal limpo quanto no gutural.

Curiosamente, a canção é uma das várias em que Youngblood nos brinda com solos. O mentor do Kamelot andava bem econômico nesse sentido, mas resolveu usar a mão esquerda para fazer mais do que riffs, tanto que levou Palotai com ele. Há ótimos duelos de guitarra e teclados, o que deveria ser via de regra, em Kevlar Skin, que tem um baita riff mais pesado na parte cadenciada, e The Proud and the Broken, esta com um bonito interlúdio de piano e voz, numa grande performance de Karevik. Em Vespertine (My Crimson Bride), porém, Youngblood e seus dedos dividem os holofotes com os pés e as mãos de Nunez, que mostra personalidade ao fugir um pouco da linha rítmica construída durante mais de duas décadas por Casey Grillo (hoje no Queensrÿche) – em tempo: uma lesão na perna fez Nunez ser temporariamente substituído por Alex Landenburg (Luca Turilli’s Rhapsody).


O desapego em relação aos elementos adicionados em Haven, no entanto, não foi total. Amnesiac e, principalmente, MindFall Remedy carregam um pouco de modernidade em relação ao estilo do Kamelot. E as duas são um contraste: enquanto a primeira tem cara de hit, graças a refrão e melodia vocal mais palatáveis, a segunda traz aqueles ruídos que não assustam, mas que desagradaram a alguns fãs, e novos vocais guturais a cargo de Lauren – e ambas as faixas têm solos, diga-se. E esses toques mais modernos se fazem necessários, uma vez que o conceito de futuro distópico apresentado em Haven ganhou continuidade. Desta vez, com foco no ser humano, partindo da Teoria das Sombras, do psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961).

Ao abordar o lado negro do ser humano, que deve aceitá-lo para não ser totalmente abraçado pela escuridão, o Kamelot fez novamente um disco difícil para mentes preguiçosas – até porque envolve desvios morais e éticos cada vez mais presentes em nosso dia a dia, infelizmente. Mas a abordagem dos temas é feita com uma roupagem musical que resultou no melhor trabalho do Kamelot com Karevik nos vocais. Se não, vejamos: a ótima Static é mais um exemplo, com melodias, incluindo a vocal, que fazem jus ao belíssimo início com piano e orquestração. E a fantástica Burns to Embrace? Um solo bonito e mais melódico; mudanças de andamento com um criativo trabalho de Nunez; e, melhor de tudo, um coro infantil – com participação de Thomas Dalton, filho de Youngblood – que fecha a canção com ar de grandiosidade.

E se é o melhor dos três álbuns com Karevik, o cara que substituiu Roy Khan também tem que justificar mais um pouco a avaliação, certo? Pois bem, ouça a bela Stories Unheard e a excelente RavenLight, esta com arranjos caprichados de Palotai, que ainda mete mais um duelo com a guitarra – braço-direito de Youngblood, o tecladista é o corresponsável pelo ideal clima cinematográfico da introdução The Mission e da instrumental Ministrium (Shadow Key), que fecha o CD. Dito tudo isso, somente In Twilight Hours já valeria The Shadow Theory por inteiro. Com a participação de Jennifer Haben (Beyond the Twilight) num dueto com Karevik, a canção é uma daquelas baladas elegantes que poucos têm a manha de fazer. Manha que o Kamelot levou a outro patamar desde a chegada do vocalista. Vide Song for Jolee e Under Grey Skies. Se você leu a resenha e nunca ouviu o som do Kamelot, pode começar por aí.


Faixas
1. The Mission
2. Phantom Divine (Shadow Empire)
3. RavenLight
4. Amnesiac
5. Burns to Embrace
6. In Twilight Hours
7. Kevlar Skin
8. Static
9. MindFall Remedy
10. Stories Unheard
11. Vespertine (My Crimson Bride)
12. The Proud and the Broken
13. Ministrium (Shadow Key)


Banda
Tommy Karevik – vocal
Thomas Youngblood – guitarra
Sean Tibbetts – baixo
Oliver Palotai – teclados
Johan Nunez – bateria

Convidados especiais
Lauren Hart – vocal
Jennifer Haben – vocal


Lançamento: 06/04/2018

Produção e mixagem: Sascha Paeth

Gioeli – Castronovo – Set the World on Fire

Por Daniel Dutra | Fotos: Johnny Pixel/Divulgação

Vinte e cinco anos depois de Double Eclipse, o disco de estreia do Hardline, Johnny Gioeli e Deen Castronovo voltaram a juntar forças. E o som não fica muito distante daquele exercido em 1992, apesar de a tendência ao AOR ser muito maior… Bom, sabe qual é a gravadora responsável pelo lançamento do CD? Pois é, e a Frontiers acertou de novo em mais uma empreitada do presidente do selo italiano, Serafino Perugino, com a mão de obra de Alessandro Del Vecchio (Hardline e Jorn, ex-Voodoo Circle e mais um monte de bandas) – faz-tudo, o tecladista produziu Set the World on Fire e basicamente compôs quase todo o álbum, à exceção de dois covers e uma música feita por Jim Peterik (sim, o cara que fez Eye of the Tiger, do Survivor).

Mas as canções e o instrumental afiado – aqui cortesia não apenas de Del Vecchio, mas também de Mario Percudani (guitarra) e Nik Mazzucconi (baixo) – são a deixa para Gioeli e Castronovo (responsável pela bateria, obviamente) fazerem de Set the World on Fire um grande trabalho de dois ótimos vocalistas. Para começar, a dupla é ajudada por refrãos deliciosamente grudentos, como fica claro no puro AOR Mother e nas semibaladas Through e Who I Am, esta com um toque ainda mais pop. As duas últimas, aliás, falam da amizade entre os dois, principalmente do apoio de Gioeli no momento mais difícil da vida de Castronovo, quando este chegou ao fundo do poço por causa das drogas.


Recuperado e sóbrio, felizmente, o batera que também canta (e muito) deixa o período nebuloso para trás com uma química de dar gosto com o vocalista de fato. A combinação de suas vozes é igualmente perfeita em Fall Like an Angel, Run for Your Life, Remember Me e Set the World on Fire, todas quatro misturando com maestria o AOR com o hard rock mais tradicional, uma vez que os teclados e as guitarras não tentam roubar a cena – o solo de Percudani em Fall Like an Angel faz bonito sem precisar se estender. Do início ao fim, a preocupação é entregar um álbum de grandes canções enriquecidas por duas gargantas privilegiadas.

E é por isso que a dupla ainda tem espaço para brilhar cada um por conta própria. Castronovo manda ver na hard Ride of Your Life, a canção escrita por Petrik (por isso mesmo, completamente anos 80), e na power ballad Walk With Me. Gioeli, por sua vez, ganhou três canções de presente: as baladinhas It’s All About You, mais uma com belos solos, e Let Me Out, cover do The Veronicas originalmente gravado no homônimo disco lançado em 2014 – diga-se: o grupo é liderado pelas irmãs gêmeas australianas Jess Origliasso e Lisa Origliasso.

A versão com mais ênfase no violão ficou ótima, mas sensacional mesmo ficou a de Need You Now, hit gravado em 2010 pela Lady Antebellum, banda americana de pop country. E como ela pede uma voz feminina para dar vida à letra, Gioeli teve a companhia de Giorgia Colleluori – vocalista italiana que divide o microfone com o compatriota Fabio Lione no Eternal Idol – para um dueto de encher os olhos. Um dos 12 exemplos que fazem de Set the World on Fire um CD que teima em não sair do aparelho – ou de um trabalho que vai ficar em looping na sua plataforma de streaming favorita.


Faixas
1. Set the World on Fire
2. Through
3. Who I Am
4. Fall Like an Angel
5. It’s All About You
6. Need You Now
7. Ride of Your Life
8. Mother
9. Walk With Me
10. Run for Your Life
11. Remember Me
12. Let Me Out


Banda
Johnny Gioeli – vocal
Deen Castronovo – vocal e bateria
Alessandro Del Vecchio – teclados
Mario Percudani – guitarra
Nik Mazzucconi – baixo


Convidados
Manato Raoul Christian Navarro – violão
Giorgia Colleluori – vocal

Lançamento: 13/07/2018

Produção e mixagem: Alessandro Del Vecchio

Ultraphonix – Original Human Music

Por Daniel Dutra | Fotos: Divulgação

“O álbum soa como uma fusão de Red Hot Chili Peppers antigo com King Crimson e Judas Priest. É uma banda superdivertida”, disse George Lynch. “Eu adoro essas músicas, que são muito, mas muito interessantes. E ser muito interessante significa assumir um monte de coisas”, emendou Corey Glover, completando seu raciocínio sobre o Ultraphonix. “Você ouve um pouco de mim e do George, ou do Pancho e do Chris, mas a combinação de nós quatro juntos fazendo acontecer soa bastante particular. Não queríamos fazer uma música que não tivesse características bem definidas, mas também não queríamos fazer um disco do Dokken ou do Living Colour. Queríamos fazer algo que prestasse homenagem ao Dokken e ao Living Colour, mas que seguisse em frente.”

Pronto, curiosidade a mil por hora para ouvir a música criada pelo guitarrista e pelo vocalista no Ultraphonix, com os ótimos Pancho Tomaselli (baixo) e Chris Moore (bateria). E que disco sensacional é Original Human Music! É possível encontrar resquícios de Living Colour na dobradinha Free e Wasteland – esta basicamente uma repetição da anterior –, graças a sua estrutura e letra; ou nas matadoras Take a Stand (mais uma letra da dar gosto) e Ain’t Too Late, ambas com levadas sensacionais, cortesia de Moore, e refrãos para levantar e aplaudir de pé.


Mas o quarteto tem um jeito único de fazer groove. Ouça Counter Culture (anote aí: mais uma baita letra); Baptism, com a sintonia fina entre melodias vocais, baixo e riffs; e a genial Soul Control, na qual Tomaselli e Moore metem um suingue em cima de uma melodia vocal totalmente antagônica, além de uma ponte e de um refrão que levantam defunto. A cozinha do Ultraphonix merece mesmo menção especial, pois consegue se destacar e vez ou outra até mesmo ofuscar quem dá as cartas. Ou seja, Lynch e Glover. Mas a dupla mais famosa brilha em todo o álbum.

O guitarrista detona em Walk Run Crawl, com um solo absurdo e um riff perfeito para acompanhar a levada; e Another Day, com um dedilhado de arrepiar da ponte para o refrão, além de mais um solo de babar. Glover, aliás, também se destaca em Another Day, mas arregaça mesmo na bonita Heart Full of Rain, veículo construído para ser guiado especialmente por sua voz; em What You Say e seu refrão nervoso; e no arrasa-quarteirão Power Trip. E eu falei das letras do vocalista, né? Elas esbanjam inteligência político-social e são uma lição de moral para quem assina embaixo do discurso de ódio e de preconceitos.


Faixas
1. Baptism
2. Another Day
3. Walk Run Crawl
4. Counter Culture
5. Heart Full of Rain
6. Free
7. Wasteland
8. Take a Stand
9. Ain’t Too Late
10. Soul Control
11. What You Say
12. Power Trip


Banda
Corey Glover – vocal
George Lynch – guitarra
Poncho Tomaselli – baixo
Chris Moore – bateria

Lançamento: 03/08/2018

Produção e mixagem: Bob Daspit

The Sea Within – The Sea Within

Por Daniel Dutra | Fotos: Will Ireland/Divulgação

Da teoria para a prática, The Sea Within foi de presente de Natal, no anúncio de sua formação em dezembro de 2017, a responsável por um dos melhores discos de 2018. Que coisa linda é o primeiro álbum do supergrupo formado por Daniel Gildenlöw (vocal e guitarra, Pain of Salvation), Roine Stolt (guitarra, The Flower Kings), Jonas Reingold (baixo, The Flower Kings), Tom Brislin (teclados, ex-Yes) e Marco Minnemann (bateria, The Aristocrats). Para agradar em cheio não apenas aos fãs das bandas principais dos integrantes mais famosos, mas também aos amantes do rock progressivo e até mesmo do prog metal, apesar de o disco homônimo não enveredar pelo lado mais pesado da música.

O primeiro acerto foi dar o microfone a Gildenlöw, e não porque Ashes of Dawn e Goodbye têm um quê de PoS. Com um baita solo de sax, cortesia do convidado Rob Townsend, em cima de uma seção rítmica toda quebrada, cortesia de Minnemann, a primeira escancara essa referência; assim como faz a segunda ao adicionar doses de groove na beleza das melodias. Goodbye, aliás, é a versão mais animada da intimista The Void, cujo andamento mais lento, bem levado pelos teclados, traz mais uma grande interpretação do vocalista. Resumindo, a banda saiu na frente ao colocar à frente do microfone uma cara que antes demais.


A performance de Gildenlöw ainda engrandece duas das melhores faixas de The Sea Within, mas não apenas ele: muito bonita, principalmente no seu refrão, They Know My Name destaca o piano de Brislin e um solo cheio de feeling de Solt; e Broken Cord – a canção mais longa do álbum, com pouco mais de 14 minutos, e participação do ex-Yes Jon Anderson – apresenta uma melodia vocal com forte influência de Beatles ao lado de solos e mais solos, mas nada autoindulgente. Todos baseado em temas e, na melhor escola David Gilmour, com elegância e poucas notas. O principal exemplo, no entanto, é a curta instrumental progressiva Sea Without, na qual predominam os teclados.

O álbum é mesmo produto de um esforço coletivo, que você percebe na maravilhosa An Eye for an Eye for an Eye, um prog mais pop no qual Reingold, Brislin e Minnemann exorcizam seus demônios num longo trecho jazz (tradicional, mesmo); e na emocionante The Hiding of Truth, que ainda tem o piano de Jordan Rudess (Dream Theater) e um dueto vocal com Casey McPherson (Flying Circus). E vale a pena cair dentro da edição especial do disco, que traz um CD bônus com mais quatro ótimas músicas: The Roaring Silence, com uma guitarra funkeada que dá um charme extra; Where Are You Going?, mais uma à la PoS, graças ao tom de dramaticidade que Gildenlöw empresta a ela, fora o bem sacado solo de clavinete; e as belas Time, introspectiva e com backings que funcionam como um coral no refrão, e Denise, emotiva e ainda mais intimista. Se você achar pedante o fato de o supergrupo se autodenominar “a new art rock collective”, saiba que The Sea Within é a confirmação de que eles têm razão.


Faixas
1. Ashes of Dawn
2. They Know My Name
3. The Void
4. An Eye for an Eye for an Eye
5. Goodbye
6. Sea Without
7. Broken Cord
8. The Hiding of Truth
9. The Roaring Silence (faixa bônus)
10. Where Are You Going? (faixa bônus)
11. Time (faixa bônus)
12. Denise (faixa bônus)

Banda
Roine Stolt – guitarra e teclados
Daniel Gildenlöw – vocal e guitarra
Jonas Reingold – baixo
Tom Brislin – teclados
Marco Minnemann – bateria

Convidados especiais
Jon Anderson – vocal
Casey McPherson – vocal
Jordan Rudess – piano
Rob Townsend – saxophone

Lançamento: 22/06/2018

Mixagem: Roine Stolt

Angra – ØMNI

Por Daniel Dutra | Fotos: Henrique Grandi/Divulgação

A entrevista que fiz com Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli para a edição 229 da Roadie Crew, de fevereiro de 2018, deixou uma coisa bem clara: ØMNI é o melhor trabalho do Angra desde Temple of Shadows (2004). Uma opinião deste que vos escreve, claro, mas compartilhada pelos próprios músicos. Por quê? Porque o nono álbum de estúdio da banda é ambicioso do conceito à execução musical – e vale a pena para o amigo leitor conferir no site outras partes do longo papo com o baixista e o guitarrista (clique aqui para ler). Mente criativa por trás da história, Bittencourt esmiúça seu peculiar método de trabalho e dá dicas de leitura para quem tiver interesse em se aprofundar nas questões que permeiam o enredo: viagem no tempo, inteligência artificial, consciência coletiva…

E da mesma maneira que tamanha riqueza de detalhes não coube nas páginas destinadas à entrevista, assim a leitura tem continuação no universo da internet, é preciso ouvir ØMNI com atenção e uma boa quantidade de vezes para absorver todos os detalhes. Porque Bittencourt, Andreoli, Fabio Lione, Marcelo Barbosa e Bruno Valverde criaram uma obra que musicalmente, na discografia do grupo, talvez possa ser comparada apenas a Holy Land (1996). Não que as músicas mergulhem a fundo em ritmos brasileiro, mas pelo fato de o instrumental ir além do que já está habituado um quinteto acostumado a quebrar paradigmas.


O principal exemplo pode ser ØMNI – Silence Inside, que em seus pouco mais de oito minutos é tão complexa que o arranjo de cordas acaba servindo de cama para o instrumental. Há peso e beleza, há elementos progressivos e virtuosismo em passagens e mudanças de tempo de tirar o fôlego. Não à toa a faixa seguinte, ØMNI – Infinite Nothing, que encerra o álbum, é uma instrumental orquestrada que viaja por melodias e harmonias das outras canções. A trilha sonora ideal para você tentar assimilar tudo o que ouviu.

Aquele Angra que os fãs sempre esperam é encontrado em Light of Transcendence e Travelers of Time, que seguem o molde de Rafael (novamente, leia as entrevistas) com uma sequências de ótimos riffs e temas de guitarra. Ou em Insania, com um refrão forte e pegajoso; na rápida e pesada War Horns, que tem a participação de Kiko Loureiro; e Caveman, cujo groove sensacional carrega ritmos brasileiros e parte da letra em português.

E aquele Angra que pensa fora da caixinha, felizmente, dá as caras nas belíssimas The Bottom of My Soul, cantada por Rafael, e Always More, na qual Lione dá uma aula (é brincadeira o que esse cara canta). E como se não bastasse tudo isso, a banda ainda apresenta duas das melhores músicas de sua história: Magic Mirror, uma joia que transita entre o peso do heavy metal e a sofisticação jazz pop de Sting, e Black Widow’s Web, exatamente a canção que traz Sandy e Alissa-White Gluz. E se você torceu o nariz antes de escutá-la, faça isso tendo em mente o conceito artístico, porque o contraste das duas vocalistas ficou primoroso.


Faixas
1. Light of Transcendence
2. Travelers of Time
3. Black Widow’s Web
4. Insania
5. The Bottom of My Soul
6. War Horns
7. Caveman
8. Magic Mirror
9. Always More
10. ØMNI – Silence Inside
11. ØMNI – Infinite Nothing


Banda
Fabio Lione – vocal
Rafael Bittencourt – guitarra e vocal
Marcelo Barbosa – guitarra
Felipe Andreoli – baixo
Bruno Valverde – bateria


Convidados especiais
Alissa White-Gluz – vocal
Sandy – vocal
Kiko Loureiro – guitarra

Lançamento: 16/02/2018

Produção e mixagem: Jens Bogren

Krisiun – Scourge of the Enthroned

Por Daniel Dutra | Fotos: Dirk Behlau/Divulgação

Lembro-me de ter tirado, em cima da hora, Forged in Fury da minha lista de melhores de 2015 enviada para Roadie Crew. Por quê? O disco é excelente, mas usei como critério me ater aos estilos dos quais sou mais fã – apesar de acompanhar o Krisiun desde sempre, e com muito mais afinco a partir de Works of Carnage (2003), o death metal nunca foi uma das minhas prioridades musicais. Três anos depois, o novo álbum não apenas é um dos meus cinco nacionais favoritos de 2018, como também entrou no Top 10 enviado para a revista. Ironicamente, porque o 11º disco do grupo é absurdamente brutal. E não chega nem mesmo a ser um mea-culpa, porque Scourge of the Enthroned virou a trilha sonora ideal do momento que vivemos (e isso basta para bons entendedores).

A intenção de Alex Camargo (baixo e vocal), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) era um retorno às raízes do próprio death metal, e o groove que marcou o álbum anterior deu lugar à velocidade tradicional do gênero. Muito mais velocidade, é bom dizer, porque o Krisiun sempre buscou, sem perder a essência, novos elementos para não fazer o mesmo disco de death metal lançamento sim, lançamento também . E aqui está a beleza de nunca ter se acomodado: a cada trabalho, respeito e admiração de toda a comunidade metal. Scourge of the Enthroned é assim já com a sua faixa-título, cujos primeiros 56 segundos são uma introdução ao massacre que vem a seguir, com o riff servindo de derradeiro convite.


Há partes mais thrash convivendo perfeitamente com a fúria do death, uma que harmonia que ganha ainda mais vida em Demonic III. As partes cadenciadas são tão espetaculares quanto a seção instrumental na segunda metade da música, cortada por solos matadores de Moyses, mesmo os mais curtos, e as viradas insanas de bateria de Max – o Krisiun se encaminha para os 30 anos de vida, e vamos continuar nos surpreendendo por muito mais tempo com esse cara comandando as baquetas. Com blast beats fazendo um contraste sensacional na parte do primeiro solo, e mais uma sequência cadenciada que é heavy metal puro, Devouring Faith fecha os primeiros 15 minutos do CD deixando o ouvinte sem fôlego.

Mais diretas, Slay the Prophet e A Thousand Graves (que riff absurdo o da abertura) fazem, depois do início avassalador, você perceber como a velocidade e a brutalidade do Krisiun soam orgânicas. O ouvido e a técnica de Andy Classen parecem ter sido feitos sob medida para a banda, com a qual ele, como produtor, já havia trabalhado em Works of Carnage, AssassiNation (2006), Southern Storm (2008) e The Great Execution (2011) – quatro discos que dizem muito sobre essa união. Impecável, a produção engrandece as rápidas mudanças de andamento, capitaneadas pela guitarra (tema e solo fantásticos), em Electricide.

A variação se faz presente também em Abysmal Misery (Foretold Destiny), cujo instrumental, que também passeia entre o cadenciado e a velocidade com a precisão de Max, é igualmente cortado por solos de tirar o fôlego de Moyses. E num disco mais curto que Forged in Fury – 38 minutos contra 51 do trabalho anterior, mais uma amostra do retorno ao passado –, a maravilhosa Whirlwind of Immortality ganha contornos de épico com seus quase seis minutos, dando de presente outro riff cavalar e mais uma grande e furiosa performance vocal de Alex. Ainda é possível se orgulhar de algumas coisas originadas no Brasil, e o Krisiun continua sendo uma delas.


Faixas
1. Scourge of the Enthroned
2. Demonic III
3. Devouring Faith
4. Slay the Prophet
5. A Thousand Graves
6. Electricide
7. Abysmal Misery (Foretold Destiny)
8. Whirlwind of Immortality

Banda
Alex Camargo – baixo e vocal
Moyses Kolesne – guitarra
Max Kolesne – bateria

Lançamento: 07/09/2018

Produção e mixagem: Andy Classen